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Capítulo 03 Encontros e desencontros

Apesar de estranhar um pouco o quarto e a cama, estava tão cansada que dormi profundamente naquela noite. Foi estranho não ouvir a movimentação dos carros pela manhã; agora só tinha galo cantando em coro com os passarinhos. Levantei-me antes do sol nascer e ajudei minha mãe com o café da manhã. Nossa casa, que raramente era silenciosa, estava ainda mais barulhenta com as visitas. Além disso, era o dia em que minha mãe embalava as bijuterias que costumava vender na cidade.

— Jade tem um pretendente — disse tia Shania para minha mãe. — O rapaz é sensato e decidido; acho que pode ser uma boa opção.

— É bom ver os filhos encaminhados — minha mãe respondeu.

Tia Shania era casada com meu tio Ezires, que é irmão mais velho de minha mãe. Eles tiveram cinco filhos: três mulheres e dois homens. Rubi e Lorenzo já eram casados, restando apenas, Ravi, de seis anos, Jade, com dezessete, e Lenya, de doze, que já estava comprometida com o cigano Gael, de quinze. Lenya estava ansiosa pelo casamento, pois foi escolhida por ele, o que causava insegurança em Jade, que ainda não havia sido escolhida por ninguém. Se dependesse dela, já teria se casado com meu irmão, mas ele honrou seu compromisso com Ariane, que, apesar de ter dezoito anos, parecia mais nova do que Jade. Ariane era mais centrada e madura, enquanto Jade muitas vezes agia como uma criança mimada.

Rubi foi morar com a família do marido em outro estado, e Lorenzo com sua esposa Salete morava com minha tia. Na nossa cultura, quando uma moça se casa, deixa de pertencer à sua família e passa a fazer parte da família do marido. O mesmo acontece com Ariane, que em breve seria orientada pela minha mãe e deveria obedecer ao meu irmão. Em outras culturas, isso pode parecer estranho, mas na nossa aprendemos desde cedo a respeitar essas tradições, o que se torna natural para quem decide segui-las.

Falando em seguir e respeitar as tradições, alguns dos nossos jovens, por viverem com garotos e garotas da colônia da fazenda vizinha, acabaram se envolvendo em situações complicadas. Um exemplo é a cigana Natiele, que, aos treze a nos e já noiva, foi flagrada pelo irmão aos beijos com um rapaz no riacho, quase levando ao cancelamento do seu noivado.

Falando em seguir e respeitar as tradições, alguns dos nossos jovens, por viverem com os garotos e garotas da colônia da fazenda vizinha, acabaram se envolvendo em situações complicadas. Um exemplo é a cigana Natiele, que, aos treze anos e já noiva, foi flagrada pelo irmão aos beijos com um rapaz no riacho, quase levando ao cancelamento do seu noivado. Os gadjes sempre foram muito curiosos sobre nós. 

Era comum que as meninas se encantassem pelos ciganos e os rapazes pelas ciganas. No entanto, esses relacionamentos eram proibidos, e nem sempre saudáveis. Natiele foi castigada e, a partir disso, ficou proibida a entrada em nossas terras sem autorização. Os jovens de nosso grupo, também tiveram que se afastar dos gadjes por causa de sua influência.

O beijo de Jade com Alejandro não foi exatamente um beijo intencional, pelo menos da parte dele, e acabou se tornando um segredo nosso. Ela tinha doze anos e, por algum motivo, começou a ver meu irmão de outra forma. Em uma noite de festa, Alê estava sozinho no quarto tocando violão quando ela entrou e o beijou de surpresa. Eu fui pegar alguma coisa que a mãe havia pedido e cheguei no momento em que ele a repreendia...

"Por que fez isso?"

"Eu quero ser sua noiva"

Lembro-me de espiar pela fresta da porta quando ele a segurava pelos ombros.

"Perdeu o juízo, Jade?"

"Eu ouvi sua mãe dizer que te arrumaram uma noiva. Você não pode ficar com outra."

"Não entendo esse teu comportamento."

"Eu vi você beijando aquela menina na cidade."

"São situações diferentes."

"Não, não são. Sou tão mulher quanto ela."

"Ela não é cigana, Jade, e isso foi há muito tempo."

"Outra não vai te cuidar como eu, e..."

"Não posso te escolher, mas o que te deu?"

"Sim, você pode, e sabe disso."

Jade agora estava ajoelhada entre as pernas de Alejandro, que estava sentado na cama, com as mãos apoiadas em seu joelho.

"Fala com seu pai, diz que já tem uma escolhida, não precisa aceitar esse noivado"

"Eu não vou enfrentar meu pai só porque você está insistindo. Que ideia!"

"Eu quero ser sua. Prometo te obedecer, farei tudo o que mandar, mas não me troque por ela."

"Mas, Jade, eu não estou te trocando. Nunca tivemos nada!"

"Me beija".

Ela subiu a mão do joelho até a coxa dele, inclinando-se sobre ele. Alejandro observou aquele movimento com um semblante surpreso, assim como a espiã que vos fala.

"Não podemos, você sabe disso"

Ele virou o rosto quando ela tentou beijá-lo outra vez.

"Não faça isso comigo, Alê."

"Jade, por favor!"

Alejandro engoliu em seco quando ela se aproximou ainda mais.

"Eu juro que nunca vou contar a ninguém, só quero uma lembrança sua."

Eu pensei que não fosse capaz, mas ela o beijou novamente, e agora ele cedeu. Foi um beijo tão intenso que não consegui desvir o olhar; havia química, muita química. Alejandro passou uma das mãos na sua cintura e entrelaçou a outra nos cabelos dela, que o beijava como se fosse sua última refeição em vida. Não é exagero dizer que assisti a aquela cena de queixo caído.

"Pare, isso está errado!"

Ele a afastou e se levantou. Seu olhar era de culpa, e logo imaginei a confusão interna que enfrentava. Meu irmão dizia que, assim que tivesse uma prometida, não tocaria mais em outra mulher. Jade sabia disso, mas não desistiu.

"Você ainda não firmou o compromisso"

Ela tentou se aproximar novamente, mas ele recuou.

"Não, mas você nem deveria estar aqui sozinha comigo. Sabe que não pode."

"Onde será que está?"

Perguntei em voz alta, enquanto mexia em uma gaveta, mas fiz de propósito. Eu queria livrar meu irmão daquela situação embaraçosa, e funcionou. Jade pulou a janela apressada, e Alê se sentou em sua cama, pensativo. Não consegui me conter e contei a ele que vi tudo o que aconteceu. Alejandro estava confuso, disse que a prima Jade nunca foi uma opção para ele, pois preferia uma esposa mais tranquila. 

Em nossa cultura, o casamento entre primos é uma forma de manter a família unida e preservar a tradição, o que pode parecer estranho para outras pessoas. Jade sempre foi pavio curto, se envolvia facilmente e encrencas, e, sem dúvida, esse era um dos motivos de ainda não ter se casado. Ela era uma moça de pele clara, olhos cor de mel, cabelos ondulados e belas curvas. No entanto, os ciganos do acampamento fugiam por causa de seu gênio difícil. Os mais velhos diziam que ela precisava de um marido que a colocasse na linha, e pelo visto, ele apareceu.

Assim que fizemos o nosso desjejum, minha mãe me mandou tratar dos porcos e recolher os ovos, duas tarefas que sempre odiei. Por várias vezes tive que correr de galinhas chocas, assim como algumas que achavam que eu queria seus pintinhos e acabei pegando medo. As galinhas botavam em todos os lugares, pois ficavam soltas; apenas as poedeiras destinadas à comercialização de ovos eram mantidas presas. Assim, eu tinha que sair pelo pasto procurando os ninhos que mudavam de lugar constantemente. 

Quanto aos porcos, o chiqueiro era estruturado, feito de alvenaria, com divisões e piso de concreto, que era lavado diariamente para evitar o mau cheiro. Essa tarefa era sempre realizada por duas de nós, e naquela manhã, minha mãe resolveu me dar esse presente de boas-vindas.

— A primeira que avançar em mim vai para a panela! — falei ao passar por uma galinha carijó, que já se arrepiava.

Toda vez era uma maratona, tinha que procurar por todos os cantos para encontrar novos ninhos, escondidos atrás de montes de tijolos, tábuas e moitas, eu cutucava algumas galinhas com um pedaço de bambu para que me deixassem concluir minha tarefa, que nem sempre era bem sucedida. Como agora que uma delas voou sobre mim me fazendo, no susto, cair sentada.

— Ah, que saudade do tempo em que eu buscava ovos na mercearia da esquina! — resmunguei, de joelhos em uma posição humilhante, recolhendo o que sobrou dos ovos que peguei com tanto sacrifício.

— Algumas coisas nunca mudam.

Meus olhos foram para um par de botas que parou a minha frente, e subiu por uma calça jeans, fazendo meu coração disparar ao concluir o trajeto até seu rosto.

— Samuel?

Ele me olhava com um sorriso tímido e a mão estendida a minha frente. Fiquei sem reação.

— Bom dia, Nat. Estava cuidando das as vacas e te vi por aqui, então... — ele ajeitou o chapéu, com o rosto corado. — Fiquei com saudade dos tempos de criança, quando eu te ajudava a pegar os ovos.

— Eu e as galinhas nunca nos entendemos — respondi, ajeitando a roupa e tirando grama seca que estava grudada.

— Percebi — disse ele pegando os ovos que caíram e colocando e minha cesta.

Olhei ao redor temendo que nos vissem, o cavalo estava preso na cerca lá adiante, e agora ele estava ali em pé a minha frente sem que eu soubesse ao menos o que dizer.

— Preciso terminar aqui, ainda tenho que lavar o chiqueiro. A Jade deve estar me esperando.

— Eu me lembro da última vez que te vi — ele caminhou até o galinheiro. — Foi exatamente ali.

— Foi no dia em que fui embora.

— Foi no dia em que eu te beijei.

— Então, hum — limpei a garganta, sentindo o rosto esquentar. — Você contou a alguém?

— Eu sei que não poderia fazer isso, Nat. Também sei que não posso me aproximar, mas não é tão fácil assim, com você tão perto.

— Minha tia sempre diz que não podemos ter tudo o que queremos. Eu preciso...

Tentei passar por ele, mas ele segurou meu braço.

— Olha pra mim.

Agora, seu rosto estava muito próximo do meu, tão próximo que eu podia sentir o seu perfume, assim como a sua respiração. Sua mão firme em minha cintura e aquele olhar intenso fizeram meu rosto esquentar, e esse calor se espalhou, me fazendo engolir em seco. O que aconteceu com o jovem tímido da noite anterior? Se quisesse manter minha sanidade mental, era melhor eu ficar longe.

— Samuel, eu...

— Olha pra mim, Natacha — ele segurou meu queixo, fazendo com que o encarasse. — Não precisa ter medo, eu nunca te forçaria a nada. Mas se me der uma chance, ficarei muito feliz — Dito isso, ele se foi, me deixando com as pernas bambas.

***

Eu sempre fui uma garota tranquila. Diferente de algumas meninas que conheci, que se interessaram pela sexualidade na adolescência, eu não pulei etapas. Mesmo cercada por relacionamentos e flertes, eu não sabia o que era se apaixonar de verdade. Algumas colegas até riam de mim na escola, dizendo que eu era "muito devagar". 

A verdade é que, por ser cigana, minha realidade era completamente diferente, guiada por tradições e costume que nem sempre entendiam. Enquanto elas viviam a descoberta dos prazeres da vida, eu nutria um sonho diferente: o desejo profundo de ser escolhida por um cigano de bem, alguém que me oferecesse um amor genuíno. Eu almejava um conto de fadas, uma vida simples e harmoniosa, onde o amor seria leve e descomplicado, como as histórias que ouvi nas noites ao redor da fogueira. 

Para elas, eu era uma piada; para mim, eu estava apenas guardando meu coração para algo que realmente importava, mas... reencontro com Samuel despertou em mim uma curiosidade nova. Ele se tornou desejo proibido que minha mente queria explorar, e isso aconteceu apenas um dia depois de eu ter retornado. Eu deveria estar fora de mim; ninguém sente isso tão rápido por alguém. Se bem que, não foi tão rápido. Ele era um amigo de infância que foi se tornando importante na minha vida e, em um dia que nunca esqueci, me roubou um beijo. Até aquele momento, a única boca que beijei.

"Não perca o foco, Natacha", pensei ao me afastar.

Agora eu compreendia minha irmã. O fruto proibido aguça nossa imaginação, despertando anseios que, se não tomarmos cuidado para manter os pés no chão, podem nos levar a agir de forma impulsiva e irracional.

— Tume romale, prima Jade!

— Oi, Nat — ela me respondeu com um olhar distante, logo percebi que algo não ia bem.

— Desculpe o atraso, eu sempre me atrapalho com as galinhas.

— Não te vi dançando ontem. Onde estava? — indagou, enquanto esfregava o chão com a vassoura.

— Eu estava cansada pela viagem e fui dormir cedo — respondi, esfregando o chão ao seu lado.

— Eu te vi conversando com o Samuel há pouco. Você sabe que os filhos do patrão são intocáveis, não sabe?

— Eu estava recolhendo os ovos e acabei caindo. Nem vi de onde ele surgiu.

— Ele vive cercado de meninas, Nat. É melhor manter distância. Inclusive tem uma chamada Brenda que morre de ciúmes dele.

— Quem é Brenda? Não me lembro dela — perguntei, confusa.

— É uma garota que mora na fazenda vizinha. Ela vem todos os dias aqui na fazenda conversar com a patroa — Jade revirou os olhos. — É a nora dos sonhos dela, e há quem diga que é apaixonada por ele.

— Espero que consiga, já que é o sonho da mãe dele — respondi enciumada.

— Nat, isso não é brincadeira. Você sabe que um gadjô e uma cigana não podem se envolver. É melhor se manter longe das investidas dele.

— Ele não está interessado em mim — retorqui, encarando-a.

— Eu vi, Natacha.

— Se você viu, então sabe que não houve nada.

— Ser cigano é viver sem amarras — ela disse, jogando água no chão e voltando a esfregar. — Mas a ilusão também pode se tornar uma prisão. Se cuida.

— Estou tentando — murmurei pensativa. Eu sabia que Jade estava certa. Era essencial que eu firmasse os pés no chão para não cair nas armadilhas da vida. Não era uma tarefa tão complicada; tudo que precisava fazer era evitar a sua presença. Se meus olhos não o vissem, meu coração não teria como desejar. Assim, a decisão se tornava clara: eu precisava me afastar, por meu próprio bem.

Depois de terminarmos de limpar os chiqueiros, abastecemos os animais com água e ração e, finalmente, encontramos um momento para descansar. Jade parecia visivelmente abatida; senti uma pontada de pena por sua situação, mas me via impotente, sem saber como poderia ajudá-la.

— Minha mãe disse que tenho um pretendente.

— Eu ouvi sobre isso. Mas isso é bom, não é? — perguntei, mas eu já sabia a resposta.

— Não estou me opondo ao casamento. Sempre soube que um dia teria que aceitar meu destino, e estou e paz com isso. Parece que o rapaz é de longe, e isso pode ser um alívio. Assim, não precisarei encarar a realidade de vê-los juntos compartilhando cada manhã, enquanto aquela cigana dorme ao lado do meu Alê.

— Nossa, Jade, você realmente gosta dele.

Ela pegou um graveto e começou a desenhar um coração na terra, traçando o nome dos dois dentro dele.

— A mãe me contou que, quando casou com meu pai, seu coração pertencia a outro cigano. Mas, com o passar do tempo, ela se viu apaixonada pela forma como ele a tratava, pelo carinho que ele dedicava a ela. Foi nesse processo que ela percebeu que o amor pode, de fato, florescer onde menos se espera. É nisso que acredito, Nat: quando um casal se aí que ela descobriu que poderia amar outra pessoa. É nisso que acredito, Nat, quando um casal se entende e se cuida, a caminhada se torna mais fácil.

— Você mudou — comentei, lembrando da intensidade que costumava ser a sua presença, algo que, por vezes, se tornava exaustivo. Jade era aquela criança inquieta, que escalava tudo, falava demais e sempre buscava incessantemente a atenção.

— Mudei não, Nat, eu só estou cansada de remar contra a maré.

— E como surgiu esse interesse pelo meu irmão?

Com um sorriso tímido, Jade traçou mais um coração no chão e escreveu: "Me volis tu", que, na verdade, significava "eu te amo".

— Sempre vi o Alê como um menino, bonito, não era como olhava para os outros, eu o admirava — disse ela, desenhando uma flecha no coração com o nome dos dois. — Me lembro como se fosse hoje, estava tendo a festa da padroeira na comunidade São José, e minha mãe me levou consigo para vender bombons, aí eu queria pastel, ela me deu dinheiro para comprar e quando eu voltava o João Pedro, aquele folgado da fazenda vizinha, ele me abordou e derrubou meu pastel. Corri atrás dele e ele foi para trás da igreja — os olhos de Jade se estreitaram como se ela estivesse vendo aquela cena. — Ele me agarrou e levantou minha saia para me passar a mão. O Alê chegou e me defendeu.

— Ele bateu no João?

— Deu um soco, mas o João não teve a chance de reagir; um senhor interveio rapidamente.

— Nunca soube disso — comentei, surpresa.

— Eu quebrei as regras correndo atrás dele para um local isolado. Foi uma sucessão de erros que teriam consequências, então combinamos de não contar a ninguém. Foi desde esse dia que desejei que ele fosse meu marido. Passei por tantas dificuldades, e em nenhum momento outro garoto se levantou para me defender.

— Uau, isso é... eu realmente não sei o que dizer.

— Eu pedi que ele me escolhesse, mais de uma vez. Insisti, convivi com ele todos esses anos, e mesmo assim optou por ela, uma cigana que mal conhece.

— Ele não teve escolha, prima. E nenhum outro cigano tem segunda esposa aqui, desencana disso.

— Um dia você vai me entender, Nat — respondeu ela, com os olhos marejados ao ver Ariane se aproximar com uma cesta de verduras.

— Tume romale, meninas! — exclamou Ariane, com um sorriso meigo, que sumiu ao olhar para aquele desenho no chão.

Jade se levantou, passou sobre o desenho e saiu, nos deixando sem reação.

— Ela não gosta mesmo de mim.

— Impressão sua — desviei o olhar.

— Vejo o modo como ela olha para seu irmão e fico incomodada. Ele nem se aproximou de mim por conta disso.

— Mas, ele não pode, você sabe disso — respondi, tentado manter a calma.

— Com supervisão, ele poderia, mas nem tentou. Será que vai me rejeitar?

— Não! — ri, buscando desviar a preocupação dela. — Ele jamais faria isso.

— Eu não vim de tão longe para deixar outra cigana ficar com meu noivo, Nat.

— Calma, não é assim que as coisas funcionam.

— É sério, Nat. Mal cheguei e já estou lidado com essa rivalidade. Tenho medo de que aconteça algo que me prejudique.

— Não se preocupe, isso não vai acontecer. Acalme seu coração, ela já tem um pretendente.

— Fui criada para honrar e obedecer meu marido. Passei todo esse tempo sonhando com o dia do casamento, com os filhos que um dia terei — ela respirou fundo, como se tentasse conter a emoção. — Eu quero ter a minha própria família.

— Admiro essa empolgação; se fosse eu, provavelmente estaria surtando.

E, na verdade, estaria. A ideia de me ver casada tão cedo era assustadora. Só de pensar nas responsabilidades que a vida a dois acarretaria, um frio na barriga me invadia.

— Por que, Nat, o casamento é uma bênção.

— Você viajou por muitos lugares, deve ter vivido experiências incríveis, eu nunca fiz nada. Até mesmo quando estive fora nunca pude fazer nada, vivia presa em casa.

— Como assim, presa?

— As meninas da minha escola eram tão livres. Elas saíam, dançavam, namoravam, se apaixonavam, não precisavam se preocupar com o compromisso de um casamento imposto pela família. Eu me sentia tão diferente, recebia convites para festa e nunca podia ir. Dormir na casa da amiga? Nem pensar, lanchonete, parque, cinema... tudo era possível apenas com minha tia. Às vezes, me sentia tão frustrada porque queria experimentar um pouco daquelas experiências que pareciam passar tão longe de mim.

— Ah, sim, mas não é nossa realidade.

— Eu sei — suspirei frustrada. — O Alê tem razão, a influência de fora me afastou de nossos costumes. Preciso me reencontrar, antes que me perca de vez.

— Sua mãe disse que estão chegando três famílias para trabalhar na fazenda. Quem sabe um dos rapazes não se interessa por você.

— Vão morar aqui?

— Sim.

— Está repreendido.

— Ué, Nat, tem ciganos solteiros entre eles. Isso não é bom?

— Sim, mas não quero pensar nisso agora.

— Você deveria.

— Deveria, mas não quero. Preciso resgatar o espírito cigano que habitava dentro de mim.

— Que triste ouvir isso.

— Só não comenta com ninguém. Meus pais já tem problemas demais e não precisam se preocupar com uma cigana fora dos trilhos.

— Ah, puxa! Fui pegar verduras para sua mãe e acabei me distraindo. Ela vai me puxar as orelhas! — disse ela, levantando-se apressada. — Asdeulês, Natacha, e obrigada por ser tão gentil.

— Até logo — respondi, me lembrando de que eu também saí para pegar ovos e não voltei. Minha mãe, com certeza, me daria um bom sermão pela minha distração.

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