XXVIII
Voltei sim!!!!
E pra compensar a demora, esse ficou grande..
Desculpe por isso e boa leitura ❤️
Pra quem curte, uma musiquinha ali em cima, linda maravilhosa ✨
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Os próximos dias foram tão calmos e "normais" que Stiles estava começando a se questionar seriamente se aquilo tudo não passava de um sonho; um limbo no qual ele estava preso durante uma paralisia do sono cheia de arco-iris de esperança purpurinante. Bem, se fosse, ele certamente não queria acordar.
Pela primeira vez em anos estava sendo fácil levar a diante sua escolha de ficar longe de problemas, ficar limpo e se manter no emprego sem problemas.
Ele sabia que muito tinha haver com o apoio que estava tendo, de Scott e Alisson, mais uma vez é claro, também das palavras suaves mas brutais de Kira, sua nova pessoa favorita, e as conversas fáceis com Jordan, e também sua crescente ansiedade pela chegada do bebê de Ali.
Mas principalmente Derek.
Derek Hale era praticamente sua caixa de Pandora. Apareceu do nada, fez o mínimo de perguntas possíveis e aceitou ajudá-lo sem querer demais em troca. Ignoremos o início conturbado nesta parte; naquele momento — nem tão distante assim — Stiles estava a uma altura do campeonato que até mesmo Deus perderia sua paciência se tivesse que lidar com ele, ele admite.
Derek não era perfeito; nem estava tentando ser ou fazer parecer. Ele estava apenas lá, e fazia o que podia, e não forçava nada. Apesar de Stiles ainda estar esperando seu pedido de desculpas. Mas aí já seria muito hipócrita da parte dele cobrar algo assim quando ele mesmo também devia muitos pedidos, a muitas pessoas, e a coragem ainda não havia o alcançado.
Mudança é um processo, não um evento.
Mudança é algo que tem um começo, um motivo, e então lentamente, á passos de bebê, vai tomando forma. O processo é lento, doloroso, e muitas vezes sem esperança, mas o fim alcançado é completamente benéfico.
Derek era sua mudança. Alisson era sua mudança. Scott; o baby; Isaac; Meredith; ele próprio; e até mesmo seu pai: o homem que teve uma grande parcela em sua primeira mudança, e que ainda assim o guiava inconscientemente para um upgrade ainda maior.
Bebês aprendem a andar primeiro se rastejando, então se apoiando, depois indo e mesmo assim caindo, para só então começarem a dar passos firmes. Mesmo assim, depois ainda há o processo de corrida, que também leva mais um tempo e prática. Para todos os efeitos, toda criança aprende a andar, não importa o quão medrosas, gordas ou preguiçosas elas sejam, isso um dia chega a elas.
Neste momento, se Stiles tivesse que escolher um estágio para se colocar, seria o do apoio para uma criança medrosa.
Sempre as piores analogias.
Principalmente usando bebês e grávidas como comparação. A culpa disso era totalmente de Alisson e o Baby Mitch. Era incrível como aquela mulher conseguia agir como se fosse uma irmã mais velha chata ao mesmo tempo que uma mãe superprotetora e carinhosa. Ela era tudo o que Stiles perdera com a morte da mãe, e tudo aquilo que ele nem sabia que precisava até quase ter perdido também.
Ela o acolheu com carinho quando ele precisou, não lhe julgou, e ainda enxugou suas lágrimas naquela noite, deitou-se ao lado dele e acariciou seus cabelos até o dia seguinte.
Na manhã seguinte, não o deixou sair antes de se sentar à mesa e tomar um café reforçado, mesmo que isso significasse que ele se atrasaria para o trabalho. Para seus créditos, ele ficou sem reclamar. O que a encorajou ainda mais e o intimou a comparecer ao almoço de domingo, com a pequena vantagem de ela ter seus olhos castanhos grandes cheios de lágrimas e o forte argumento de que ele devia um jantar de ação de graças a ela.
Bem, ela não precisava ter chegado a tanto para ele aceitar desta vez. Ele iria sem nem precisar de convite agora.
A autoestima realmente faz maravilhas por alguém.
A força de vontade também.
Kira disse algo parecido a ele na segunda semana que ele visita seu escritório/consultório. As palavras dela são mais firmes e certeiras, e tem o efeito desejado quando o atingem. Ele reflete aquilo por dias seguidos.
Sua mudança ainda estava sendo lenta em alguns pontos; é claro, não pode-se esperar que um dependente saia do vício e fique bem de um dia para o outro. Lembre-se dos passos de bebês.
Então alguns dias ele sente aquele comichão infeliz sob a pele, onde ele coça e coça, mas não desaparece. As vezes para no caminho de volta para casa e seus pés tremem para fazer um pequeno desvio de caminho, seguir por alguns becos e ir diretamente a onde ele sabe que pode encontrar um alívio. Mas então ele tira isso de sua cabeça — bater a testa na parede de um prédio ajuda — e continua seu caminho até o calor aconchegante de sua casa.
Sua casa. Estaria mais para seu loft, mesmo que não fosse realmente seu.
A ausência de Derek por ali desde o dia em que Scott apareceu, o deixou sozinho e livre por dias, com a crescente sensação de que equele estava se tornando seu lar de verdade.
Mesmo que isso trouxesse medo.
Para uma pessoa ansiosa e em processo de limpeza como ele, ficar sozinho nunca era uma boa opção. Ele passava o dia no trabalho, o que já era uma vantagem, e o momento em que ficava totalmente sozinho no loft era preenchido com algo interessante que ele encontrasse pela TV, ou preparando alguma receita que há tempos ele não comia, ou lendo algum dos livros que ele encontrou perdidos em prateleiras por alí. Qualquer coisa que ocupasse sua mente para que não pensasse demais e acabasse deixando seu corpo fodido falar mais alto.
Mas então o feriado de Natal chegou.
E com ele, quatro dias de folga.
Ele já estava decidido há um bom tempo que pegaria uma mochila com algumas coisas e partiria direito para a casa de Scott, onde pretendia ficar até o fim do feriado. Mas infelizmente, Scott e Alisson já tinham o plano de viajar para Chicago e passar as festas com a família dela, e Stiles ameaçou nunca mais aparecer se eles cancelassem a viajem deles só pra ficar em casa fazendo companhia para o amigo. Então no dia vinte e três eles partiram, e Stiles teria que se contentar em pular canais por quatro longos dias.
O que ele não esperava, no entanto, era a companhia que apareceu no meio de uma noite de nevasca.
Derek Hale odeia confraternização familiar, você sabe.
Mas nem sempre foi assim. Houve um dia, muito tempo atrás, quando ele ainda era jovem e tinha toda a família de apoio, o fim de dezembro não era só mais uma data comemorativa para se juntar na sala e abrir presentes; era também um motivo de mimar e irritar Der: o bebê de Natal. O apelido com certeza era o que mais o deixava esquentado, principalmente depois de certa idade e ter seus namorados rindo dele, mesmo que não fosse por mal.
A família Hale era grande e passava a maior parte do ano espelhada pelo país, até fora dele, mas sempre faziam questão de estarem juntos nas festas de Natal. Era o feriado mais importante, mais alegre e vibrante daquela família.
E foi exatamente num feriado desse que a pior tragédia daquela família aconteceu.
Trinta e duas pessoas, incluindo idosos e bebês, uma casa média, muita alegria e bagunça e um curto circuito durante a noite foi capaz de fazer a casa virar pó, com a família Hale dentro.
Derek, já na própria casa, estava atrasado para a festa e foi um dos poucos a se salvar. Lydia e Peter estavam fora do país naquele ano, assim como Cora.
Na manhã de Natal, metade do país lamentava a morte trágica da família, enquanto seus membros restantes estavam estarrecidos e sem rumo do que fazer.
Este foi o marco zero na vida de Derek Hale, a primeira tragédia que o levou quase ao fundo do posso e o fez odiar o feriado mais amado do mundo.
Sua queda definitiva ao fundo chegou um ano e cinco meses depois, com a perda da mulher e filho. Mas isso é história para um feriado diferente.
Fugir do tio e das irmãs no fim de ano já era uma rotina naquela altura. O diferencial foi ter alguém pra dividir espaço durante esse tempo.
Seu refúgio sempre foi o espaçoso e sossegado loft que mantinha para estas ocasiões. Fazer dele uma pensão nunca foi seus planos, mas aconteceu e ele tinha que aceitar que teria que mudar a rotina.
Bastou três noite em casa com Cora para ele desistir totalmente e se hospedar em um hotel.
Seus planos eram ficar num bom hotel até depois do feriado de ano novo, quando Cora ia embora e seu trabalho na empresa voltava ao normal. Ele desistiu depois de ouvir os vizinhos de quarto trepando pela segunda noite seguida.
Ele sabia que podia ir para qualquer outro lugar daquela enorme cidade, até passar uma noite em cada hotel de Manhattan, com a companhia que desejasse, mas ele não fez. Tudo o que ele queria de verdade era ir para seu cantinho no bairro calmo e ficar escondido lá por dias. Talvez Stiles nem estivesse lá, tendo saído com o amigo para comemorar; ele não sabia, e nem perguntaria, mas com ou sem Stiles ele iria pra casa.
O garoto também não era uma companhia tão ruim assim, mesmo que fosse em pleno Natal. Eles poderiam conversar, fazer algo pra comer e assistir qualquer coisa. Poderiam falar sobre algumas pontas soltas entre eles ou então jogar cartas como se fossem velhos amigos.
Mesmo que eles não fossem próximos nem trabalhassem no mesmo ambiente, eles ainda assim construíram uma certa familiaridade na convivência — que consistia em Stiles falando e Derek fingindo não ouvir. Ele poderia sustentar isso por algumas noites sem problemas.
O problema mesmo foi a nevasca que atingiu a cidade na noite de véspera.
Derek já estava a caminho do apartamento quando a neve começou a engrossar. Mesmo parecendo um boneco de pano ele sentia seu corpo rígido e arrepiado. O carro estava abastecido de compras e ele já se xingava mentalmente por não ter preferido a entrega ao invés de levar tudo com ele, agora teria que dar no mínimo duas viagens para cima e para baixo até levar tudo pra dentro do loft.
Quando chegou e levou a primeira viagem, teve a confirmação de que não estaria sozinho. Stiles estava esparramado no sofá assistindo televisão numa altura exagerada. O clima dentro da casa estava quente e aconchegante, tanto que Derek estava prestes a desistir de voltar e pegar o resto.
Stiles se assustou ao ver o chefe alí. Estava começando uma tempestade, e era feriado. Ele apenas observou enquanto Derek deixava algumas sacolas de compra na mesa da cozinha, dando um oi sob o volume da TV. Quando Derek se virou para sair outra vez, ele levantou de vez e se ofereceu para ajudar.
Derek aceitou de bom grado e eles desceram para o estacionamento; Stiles andando encolhido e reclamando de não ter vestido um casaco, Derek tentando ir o mais rápido possível para sair logo do frio.
O peso restante pôde ser dividido entre os dois de forma que nenhum precisasse fazer muito esforço com seus membros congelados.
Stiles conseguiu a proeza de escorregar na neve e cair antes de pegar as sacolas.
— Eu odeio o Natal! — é o que o menino exclama com um rangido de dor enquanto sente a neve fria queimar a pele e encharcar a roupa.
— Idem! — Derek concorda e estende a mão para ele, o ajudando a ficar de pé outra vez. — Tudo bem?
Stiles apenas resmunga que não e pega a sacola antes de voltar o mais rápido que consegue pra dentro sem cair outra vez.
Quando estão de volta no aconchego, Stiles ainda está resmungando sobre como não gosta do frio e da neve, mas ele ajuda Derek a guardar as compras nos armários.
Ele para de reclamar quando pega uma sacola pesada demais para ser embalagens de comida. O som de vidro tintalando confirma o que ele acha que é: quatro garrafas de uísque barato de mercado. Um pouco demais para um fim de semana de feriado.
— A melhor forma de espantar o frio — Derek diz e pega as garrafas para guardar embaixo do fogão depois que Stiles passa tempo demais olhando pra elas.
— Claro — é o que Stiles consegue dizer com a garganta seca. — vou trocar essa roupa molhada.
Ele deixa Derek sozinho para terminar de organizar as coisas e pega uma roupa seca do armário, indo para o banheiro se trocar. Seu reflexo no espelho o encara com sinismo.
— Tá tudo bem! Isso não vai ser um problema. — é o que ele repete a si mesmo enquanto muda para uma roupa quente.
Quando ele volta a sala, Derek já saiu de todo aquele agasalho que estava e está penas com uma Henley escura, moletom e meias, já com um copo cheio na mão. A TV está com volume mais baixo agora, e ele olha para ela sem parecer assistir de verdade.
Stiles hesita um pouco antes de voltar para o sofá e se enrolar no cobertor como estava antes. A TV poderia estar desligada que Stiles continuaria olhando para ela como se fosse a coisa mais interessante ali, tudo para não precisar olhar para Derek, ou o copo cheio na mão dele.
Ellen DeGeneres apresentava algum especial de Natal na tv, e a plateia estava toda enfeitada de vermelho e verde e brilho. Eles não falaram nada.
Stiles apenas olha para ele de canto de olho quando Derek bufa e deixa a cabeça cair para trás no encosto do sofá e bufa profundamente. Ele morde a bochecha interna para não falar nada, não perguntar, não quer parecer invasivo, mais do que já é.
— Pode perguntar — Derek entoa, voz baixa, ainda com a cabeça encostada. Stiles da um pequeno pulo de surpresa por ter ele verbalizando seus pensamentos. Talvez ele tenha deixado escapar, ou então era óbvio demais.
— Eu não... Por que você tá aqui? — ele não resistiu: é forte demais — quer dizer, a casa é sua, você pode vir a hora que bem quiser e... Mas hoje é véspera de Natal, então porque não tá em casa com sua família?
Derek suspira profundamente outras vez antes de beber o resto do líquido no copo.
— Eu não comemoro o Natal.
Ok. Ele já teve sua pergunta. Não podia abusar e começar toda uma entrevista. Stiles apenas aceita isso e faz um esforço para conter sua curiosidade. Se Derek quiser falar sobre isso, ele vai.
O homem não fala mais por um bom tempo. Apenas se levanta, torna a encher o copo e volta a se sentar, desta vez um pouco mais esparramado.
Stiles aproveita que ele está novamente de olhos fechados enquanto beberica o uísque e desce seu olhar para ele. É estranho vê-lo fora de seus rotineiros ternos, mas é igualmente satisfatório com aquele moletom que marca perfeitamente suas pernas fortes, a camisa justa que parece a um movimento de explodir. A temperatura até aumenta um pouco.
Stiles se assusta um pouco quando a mão de Derek encosta nele, o copo estendido com uma oferta muda.
— Hã.. não, obrigado.
— Eu posso ouvir você salivando daqui.
Não é pela bebida, mas Stiles não retruca isso.
— Você costumava beber, não é? Deve ser difícil parar assim. — Derek continua falando, o que é um pouco estranho pra ele, Stiles não pode acreditar que apenas um copo já foi capaz de fazer efeito nele. A menos que ele já estivesse bebendo antes. — você está em casa agora, e não precisa trabalhar amanhã, então aproveita.
— A casa é sua. E você é meu chefe. Não acho que seja favorável.
— Tanto faz.
Derek volta a terminar outro copo e Stiles se espanta com a rapidez disso. Sua intuição diz que isso não vai acabar bem.
Ele levanta outra vez e demora mais. Stiles tenta manter a atenção apenas na televisão. Quando é demais, ele fecha os olhos para tentar um cochilo. Derek ainda perdido pela cozinha e em silêncio.
Um tempo depois, Stiles não sabe quanto exatamente, ele acorda. A escuridão em que o loft se encontra é uma indicação de que ele apagou por mais tempo do que deveria. Ele não sabe se Derek ainda estava por ali ou não. Está frio, mesmo com o aquecedor ligado, e por mais que ele adorasse continuar debaixo do cobertor quentinho, ele precisava ir ao banheiro.
Quando voltou, sua barriga deu sinal de vida. Antes de ir para a cozinha, ele acendeu as luzes, fazendo o loft inteiro se iluminar com a colocação amarelada aconchegante das lâmpadas. Ao passar pela janela grande, ele podia ver a rua lá embaixo cheia de neve, os prédios e lojas decorados com luzes coloridas piscantes e bem ao longe na avenida, ele podia ver a ponta da enorme árvore de natal que montaram na praça, ela mais branca do que verde.
Ele se arrependeu de não ter ido lá antes, logo quando montaram ela. Fazia anos que ele não via de perto uma árvore de natal, nem comemorava o feriado, e nem apreciava direito a decoração bonita que aquela época carrega.
Quando sua barriga torce outra vez, ele sai do seu devaneio e vai finalmente para a cozinha, resmungando por ter que preparar a comida antes.
Seu corpo estanca e gela quando ele passa pela ilha que separa o balcão do fogão e pia.
Uma porção de cacos de vidro está espalhado pelo chão, uísque e sangue banhando o piso, e Derek no meio de toda a bagunça, sentado no chão, com a cabeça baixa e em silêncio.
Antes que perceba, Stiles está abaixado ao lado dele, sem tomar muito cuidado com o vidro pelo caminho.
— Derek? — ele chama, mas não tem resposta. Ele pode ver que Derek está acordado, mas não parece muito consciente de si mesmo — Derek, o que foi?
Sem resposta. Nem mesmo o olhar vítreo dele treme. Stiles fica mais nervoso ainda, pra um cara como ele, ficar num estado desses não era nada bom.
O menor começa a procurar pelos machucados de onde o sangue saiu. A maioria estavam localizados nas mãos dele, mas um caco maior estava preso em sua coxa direita. Aquilo doeria no dia seguinte. Naquele momento, Derek não parecia sentir nada.
— Ei! Derek — Stiles ignora qualquer barreira entre eles e avança mais perto, segurando o rosto de Derek entre as mãos. A barba grande dele espera sua mão de um jeito que seria muito agradável em outro momento. — Derek! O que aconteceu?
Os olhos dele entram em foco de novo e ele olha para o garoto abaixado a sua frente. Stiles pode ver que eles estão úmidos, vermelhos e inchados, como se ele tivesse chorado por um bom tempo. Inacreditável.
— Você tem que ir pro hospital — Stiles começa, torcendo para que ele entenda — suas mãos tão machucadas, e tem um caco de vidro na sua perna.
Derek olha para baixo com as palavras dele, parecendo só então notar que estava machucado. Antes que Stiles pudesse insistir mais, ele mesmo tira o caco de vidro da perna e o joga de lado. Não era tão grande e profundo como Stiles temia, mas o sangue escuro deixava a calça dele molhada.
Com os olhos ainda meio perdidos, Derek avalia o caos só seu redor e xinga baixinho. Quando ele não faz menção de que vai se levantar, Stiles intervém.
— Levanta. Vamos dar um jeito nisso — o menino informa enquanto fica de pé, desta vez tomando cuidado para não se machucar também.
Derek é pesado demais para que ele consiga o levantar sozinho; pegá-lo no colo estava fora de questão. Ele se concentra apenas em ser o apoio que o homem bêbado precisa.
Ele sorri discretamente. Era engraçado pensar como as coisas estavam invertidas. Ele sempre pensou que se fosse acontecer, era ele mesmo quem perderia o controle assim. Nunca, em mil vidas, poderia imaginar que Derek, o carrancudo, seria um adepto da fuga momentânea mais fácil do mundo: a bebida.
Aos tropegos, ele carrega Derek até o sofá e o deixa lá falando sozinho enquanto volta para a cozinha na busca dos suprimentos de curativos que eles mantém lá. Quando volta, Derek está quase dormindo, cabeça baixa e quieto, mãos ensanguentadas abertas sobre o colo.
Stiles odeia ver sangue, então tem que fazer um esforço extra para não vomitar enquanto se aproxima das mãos dele.
Com cuidado e hesitação, ele puxa a mão esquerda de Derek, que abre os olhos e observa o que vai acontecer. Stiles precisa respirar fundo três vezes para controlar o tremor que atingiu suas mãos. Se pelo sangue ou pela a atenção de Derek nele, ele não sabe.
O garoto engole a seco antes de molhar um tufo de algodão com álcool e com o máximo de cuidado passar sobre a palma da mão aberta dele. Derek resmunga um pouco pelo ardor, mas Stiles mantém a atenção toda na atividade, segurando mais firme o pulso do outro, com muita atenção em observar se não há cacos ali que precisam ser retirados.
A mão de Derek estava fria. Muito diferente de antes, quando elas passeavam pela pele de Stiles como dois braseiros que pareciam aquecer até a alma dele.
— Eu odeio o Natal — é o que Derek diz enquanto Stiles ainda está concentrado na limpeza de suas mãos.
O menor levanta apenas o olhar para ele.
— Você disse isso — Stiles conversa, baixo para não espanta-lo.
— Não sei porque todo mundo sempre insiste... em comemorar essa droga, eu...
Stiles espera dois minutos antes de dizer mais: — Você... quer conversar sobre isso?
— Eu queria apenas que o natal parasse de existir! Eu queria apenas esquer desse dia maldito! Eu queria nascer de novo bem longe dessa data!
As palavras são agressivas, mas o tom dele é tão baixo e melancólico que mais parece uma oração. Stiles morde os lábios sem saber muito o que dizer. Ele nunca foi o cara que dava os melhores concelhos, essa qualidade era de Scott.
— Então... amanhã é seu aniversário!? — merda! Stiles tem vontade de se estapiar por dizer algo tão estúpido.
— Não! É o aniversário de Jesus — Derek ri da própria piada, claramente fora do seu normal, mas é amargosa — e o pior dia da minha vida.
Desta vez Stiles controla a língua para não dizer mais idiotices. Se ele quiser, ele vai falar, então Stiles mantém a concentração no que está fazendo. Tirando todo o sangue — o que não é realmente muito — passando pomada cicatrizante e enfaixando para que ele não magoe as feridas. Só quando ele termina de fixar a última faixa que Derek fala novamente.
— Minha família morreu no natal, Stiles — a voz dele é baixa e quebrada. Stiles não teve coragem de olhar nos olhos dele, mas apertou de leve seu antebraço para deixar claro que estava ouvindo. — todos eles. Por minha culpa.
Stiles precisa de todo o alto-controle que tem para não dar um pulo para longe, para não dizer a coisa errada e foder com todo o clima pacífico entre eles.
— Eu não sei o que aconteceu... mas tenho certeza que não foi culpa sua, Derek — a risada que Derek solta é sarcástica e feia.
— Exatamente, você não sabe. — o tom dele voltou ao azedo normal de Derek, mas ele não puxou a mão que ainda estava no colo do outro — todos eles estavam lá pro meu aniversário. Todos os anos. Eles estavam lá e o fogo engoliu... A porra da casa inteira. Por causa da droga do MEU aniversário, eles sufocaram até morrer!
Demorou dois segundos para Stiles perceber que Derek estava chorando; e mais dois, que ele mesmo já tinha o rosto molhado.
Droga.
Isso era muito fodido.
— Derek... — ele tenta manter a voz amena e não falar besteira — isso não é verdade. Toda família se reúne nesses feriados. É uma coisa que poderia... ter acontecido com qualquer um.
Derek não diz mais nada, mas abaixa a cabeça e deixa as lágrimas descerem, sem nem mesmo soltar um pequeno ruído.
— É sério, Derek! Não foi culpa sua. Eu sei disso! — Stiles se sente mal por ele — você não pode ficar se culpando assim, isso faz muito mal pra você mesmo.
— Eu sou assim! Eu só sei magoar e machucar as pessoas que estão perto de mim. Não precisa ter pena de mim!
— Não, eu não tô com pena de você. Você tá bêbado e não tá pensando direito. Dorme um pouco que vai te fazer bem.
— Porque você tá aqui, Garoto? Eu falei coisas horríveis pra você. Eu machuquei você. Se você ficar, vai ficar pior. Vai acabar morrendo também. Eu sempre faço is...
— Derek, para! — Stiles levanta a voz na intenção de tirar o outro daquele espiral que parecia ter caído — essas coisas... nada disso é culpa sua. Essas coisas ruins que aconteceram, não foi porque você quis. A minha vida é fodida por que eu fiz escolhas erradas e fui fraco, mas isso... você não pode controlar nada disso. Mas se pensa tão mal assim de você mesmo, então você não é muito melhor que eu.
Derek olha para ele. Verde e castanho se encontrando. Apesar de os olhos dele estarem vermelhos e meio desfocados, o rosto manchado de lágrimas, ele parecia estranhamente sóbrio.
Nenhum dos dois fala mais. Derek volta a olhar para o nada de cabeça baixa e Stiles respira fundo para controlar a respiração irregular.
O que parece ser um dia depois, mas foram apenas alguns minutos, Stiles volta a realidade e se meche para terminar o serviço que fazia.
— Você... pode tirar sua calça? Pra mim poder limpar sua perna.
Derek não responde nada, mas se meche para abaixar o moletom úmido e sujo. Stiles joga para o fundo de sua mente o fato de que Derek estava apenas de cueca ao seu lado, e tenta não perder o controle quando toca na coxa dele para limpar.
O machucado é pequeno e já havia parado de sangrar, então ele se concentrou em limpar e colocar pontos falsos, enrolando uma faixa em seguida. Depois de pronto e Derek não se mexer ou dizer nada, ele vai até o armário e procura uma das roupas dele que estavam guardadas ali e pega um outro moletom seco e limpo para ele vestir.
Derek estava apenas meio consciente enquanto Stiles insistia em colocar a calça nele e o arrastar para a cama. Dá um pouco de trabalho, mas quando ele solta o homem na cama, o cobre com os cobertores quentes e torce para ele dormir logo.
Stiles tem a mão dele agarrada quando estava indo de volta para a sala.
— Fica aqui — Derek fala com a voz áspera e baixa — é mais quente.
— Eu tô bem em ficar no sofá — o menor recusa gentilmente — descansa!
— Stiles — Derek fala novamente, desta vez mais firme — fica.
Stiles pisca três vezes antes de processar qualquer coisa. Ele pretendia dar espaço para Derek, caso ele não quisesse companhia, mas ele também não queria dormir no sofá de novo. Ele decide não pensar em nada, apenas aceita a oferta e volta para a cama em silêncio.
Derek não soltou sua mão mesmo depois de ele se arrumar sobre as cobertas.
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Notaram que mudei a capa?!
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