XI - Parte 2
Então eles conversaram colocando todas as cartas na mesa. Ou quase todas, porquê algumas são tão feias e confusas que não se devem ser conhecidas.
— Por onde quer começar? — Stiles perguntou primeiro. Ele estava nervoso com o que poderia acontecer, tanto que já sentia a ansiedade subindo e sabia que a qualquer momento poderia ter uma contração, ou uma crise.
— Quero que me diga a verdade, não importa o quê — Derek disse.
Stiles assentiu, mesmo sabendo que não seria esse o caso. Estava disposto a continuar naquele lugar, com aquele homem, e não entregaria de mão beijada.
— Você é viciado? — Stiles se surpreendeu com a forma direta que ele foi ao assunto; esperava por essa pergunta mais a frente na conversa.
— N-Não!... — ele tentou não demonstrar nervoso, mas seu corpo era traidor por ser expressivo demais — Não viciado. Eu só uso algumas coisas as vezes, mas só isso — mentiu.
— Não se parece com alguém que só usa algumas coisas as vezes. Se for esse o problema podemos resolver com apoio médico — Derek dizia.
— Não. Eu tô legal! — Afirma Stiles, fazendo Derek o encarar com as sobrancelhas franzidas. O garoto engole em seco por medo de ser pego no pulo mentindo na cara dura.
— Ok — Derek diz finalmente, mesmo não aparentando alguém que acreditou no que o outro disse — Como eu já havia dito antes, eu não moro mais nesse loft então você vai ficar sozinho aqui pelo tempo que precisar. Eu posso continuar comprando mantimentos; e no que mais você precisar é só me avisar que darei um jeito. Você não precisa voltar a se prostituir para ter dinheiro.
Stiles apenas assente com a cabeça novamente e continua calado, apenas escutando as muitas palavras que o outro solta. Era incrível como de um cara de poucas palavras foi para um cara que fala demais.
— E eu posso levar você até sua casa, pra buscar suas coisas.
Stiles pensou em mentir, por um minuto, mas então voltou atrás — Eu não tenho nada lá.
— Como assim não tem nada lá? Onde estão suas coisas então?
— Aqui — o garoto diz simplesmente, fazendo o Hale franzir a sobrancelha em confusão — Tudo o que eu tenho está aqui; é minha roupa e pronto.
Derek ficou sem reação por alguns segundos, tentando processar o que havia escutado.
— Você me disse que era sua casa.
— Não é. Lá só é a casa de uma... conhecida, aparecia por lá as vezes. Era um local bem badalado.
— Então onde você morava? — o Hale insistiu.
— Em qualquer lugar — Stiles disse dando de ombros como se fosse algo normal de se dizer — Pra mim é bem relativo essa questão casa.
— Então estava morando na rua? — questionou o homem sem acreditar realmente naquilo. Sua mandíbula travada.
— É relativo, eu disse.
— E sua família? Porque não está com eles?
— Pais mortos; não tenho tios ou parentes próximos; filho único. Eu posso passar o resto da noite falando sobre isso e nada vai mudar o fato de que estava em situação de rua. Não faz muito tempo também, fui despejado do apartamento depois de perder o emprego. Eu sou um poço de azar, acredite — seu pai estava vivo, mas era a mesma coisa que morto pra ele; e sobre Scott e Alisson, o homem não precisava saber ainda.
Derek suspirou ainda não acreditando na situação que havia se metido. Era pior do que imaginava, mas ele começava a creditar que existia um motivo de força maior que o havia colocado no caminho daquele jovem sofrido.
— Agora você tem um lugar pra ficar. Desde que não faça merda como naquele hotel, você pode ficar o quanto quiser — Derek diz e Stiles quase sorri sem querer, mas segura no último segundo. Não era hora. — Eu pedirei a alguém vim aqui te buscar para providenciar a questão das roupas e acessórios necessários para você — dessa vez Stiles riu, mas sem humor.
— Você está benevolente demais pra alguém que disse não querer fazer caridade — o garoto respondeu azedo.
— Se está achando ruim você pode me pagar — Derek retrucou já sem paciência. Ele para e suspirou duas vezes antes de continuar — Você pode pensar nisso como um empréstimo se preferir, então você me paga depois que se estabelecer e arrumar um emprego. E não pense que aceitarei sexo como pagamento novamente. Esse erro já cometi uma vez.
É, Stiles podia aceitar aquilo. Nada do que ele precisasse seria dado de graça. Era ruim pensar que estaria criando uma dívida tão grande e que poderia se afogar nela depois, mas deixaria para pensar naquilo depois.
— Tudo bem — o garoto disse depois de um tempo — Nessas condições eu aceito. Mas eu vou te pagar tudo depois. Eu juro.
Derek apenas assente em confirmação, mesmo sabendo que não aceitaria dinheiro nenhum do garoto, em momento nenhum de sua vida.
Você pode até penar mau dele, julga-lo pela maneira que estava agindo, mas Derek não se importaria. A única coisa que importava pra ele, além da família, era ter a consciência limpa, e desde o episódio em que havia dito todas aquelas coisas feias para Stiles, havia um verme que corroía seus pensamentos diariamente, lhe fazendo lembrar-se da situação ainda mais humilhante para o jovem que ele havia feito.
Então todos os seus atos eram justificáveis quando se tratava daquele rapaz. Ou era nisso que ele lutava para acreditar.
Os dois ficaram em silêncio por mais um tempo. Processando informações enquanto a quentura da lareira aquecia o ambiente. Stiles nem se lembrava mais da última vez que esteve de frente para uma lareira daquelas.
— Eu posso saber seu nome? — Stiles pergunta timidamente, já esperando uma resposta negativa.
Com um suspiro o lobo responde — É Derek!
— Nome bonito!
— É o seu? — Derek questionou.
— Eu já disse. É Stiles!
— Não! Seu nome de verdade — o homem disse fazendo Stiles sorrir.
— Não é algo impronunciável. Melhor nem tentar.
A resposta de Derek, porém foi um levantar de sobrancelha bem incisivo que fez Stiles se render e sorrindo ditar o nome de batismo:
— É Mieczysław* Stilinski!
— Então, Stiles! — o Hale diz, fazendo Stiles sorrir.
O silêncio retornou. Porém mais leve desta vez. Eles ainda tinham muito para conversar, mas o primeiro passo já havia sido dado, o resto viria com o tempo.
Também já havia dado a hora de Stiles. Ele sentia na pele que mais uma crise se aproximava, não era apenas da conversa que seu coração estava acelerado.
Por um momento ele ficou nervoso de entrar naquela situação na frente do homem. Ele sacaria que ele esteve mentindo e saberia que na realidade ela era mesmo um viciado. Então buscou uma solução rápida.
— Então, eu preciso tomar um banho. Depois conversamos mais, certo?! — o jovem perguntou já levantando do sofá onde estava. Suas mãos já suavam e ele as esfregava impaciente na calça moletom que estava vestido.
— Claro. Também preciso ir — Derek informou antes de catar o paletó sobre o sofá e vestir o sobretudo grosso, e sair porta afora sem cerimônia.
Stiles soltou um suspiro de alívio e se jogou de volta no sofá. Era só questão de tempo para aquilo passar novamente e ele correr até os armários em busca de algo para comer.
•••••••••• ••••••••••
* O nome Mieczysław é de origem Polonesa e a pronúncia em Português-Brasil se assemelha à: Mietislof.
••••••••••• ••••••••••
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro