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— Então quer dizer que você se encontrou com esse cara — dizia Scott McCall para Stiles um dia depois de sua esposa ter encontrado o melhor amigo e achado o novo endereço fixo dele — ele pagou um hotel cinco estrelas pra vocês; ele foi embora e te deixou, e você simplesmente acho que seria uma boa ideia fazer uma festa no hotel?
— Bom, é mas... — Stiles tentou argumentar, como das cinco últimas vezes mas foi novamente interrompido.
— E então ele foi cobrado por todo o pandemônio que você causou, e como você não tinha esse dinheiro você ofereceu pagamento com sexo — Scott ainda lutava para acreditar naquela história maluca do seu amigo.
— É, mas... — novamente foi interrompido. Ele já podia desistir de tentar se defender. Esfregou os dedos uns nos outros, inquieto.
— Então você teve uma overdose e ele simplesmente resolveu te ajudar, e ainda por cima te colocou pra morar na casa dele — Scott riu, porquê mesmo desacreditado aquilo era hilário — Porra cara, isso parece história de livro!
— É! Mas na real foi um pouco mais pesado que isso!
— Aliás, como você não ficou com sequelas da overdose?
— Também não sei. Fugi do hospital antes de perguntar — ele diz, mais sarcástico do que pretendia.
Stiles encarou o melhor amigo de infância. Ele sentia saudades, faziam uns bons meses que eles não se viam já que o garoto fugia do outro como o diabo foge da cruz. E agora ele estava ali, rindo de toda a situação ridícula em que ele se meteu.
Scott era seu melhor amigo desde que tinham oito anos de idade, então por mais que fosse vergonhoso que ele trabalhasse como prostituta, ele contou tudo dos últimos meses ao amigo.
— Você é mais burro do que eu pensava, Stiles.
— Ah, muito obrigado, melhor amigo! — o garoto respondeu sarcasticamente.
— Você sabe que eu tenho razão — Scott argumentou — Você aceite isso ou não, você só está levando essa vida por escolha própria. Você podia estar vivendo numa boa com a gente, terminado os estudos e ingressado na faculdade. Seria independente e totalmente livre pra ser quem quiser. O mais difícil, que era toda a situação com seu pai, você já deixou para trás a muito tempo. Então por que não segue em frente?
— Não é tão simples assim, Scott! — o garoto disse, contorcendo as mãos no colo.
— É sim! É você quem coloca dificuldade na situação. Eu sei que seu corpo tá dependente, mas você já saiu dessa uma vez, pode fazer de novo. Pode ir pra uma clínica, pode nos deixar ajudar, mas você insiste em se afundar sozinho, porra!
Os dois amigos estavam no loft. Derek ainda não havia aparecido até aquele momento, e Stiles se remoía em uma espiral de auto-infringimento depois que Alisson havia ido embora no dia anterior.
— Só uma pessoa que passa por essa situação sabe como realmente é — Stiles murmurou, magoado com as palavras do amigo.
Scott suspirou.
— Eu sei... Eu sei me desculpa!? — diz o moreno — eu só quero que você fique bem, irmão. Ainda mais agora que vamos ter um bebê.
Stiles sorriu, pois sabia que a única coisa que seu amigo queria era seu bem. Ele queria poder ajudar a si mesmo, mas o caminho ainda era longo e tortuoso até que ele se sentisse pronto para voltar para sua vida normal. Ou algo perto disso.
Novamente ele remexe as mãos, esfregando uma na outra.
— Fiquei muito feliz em saber da novidade — diz Stiles tentando dar logo um basta naquele assunto — Aliás, por que era a Alisson me procurando e não você? É a segunda vez que encontro ela.
— A Ali está louca, irmão! Eu também tô ficando maluco da cabeça com ela. A mulher muda de humor de um minuto pro outro! — ele diz exasperado e Stiles ri.
— Eu acho que são hormônios da gravidez!
— É, a minha mãe disse a mesma coisa. E ela é enfermeira. Mas eu ainda acho que minha mulher tá começando a me odiar — Scott choramingou — Ela não me escuta mais. Faz o que quer e quando quer. Acho que se ela não tivesse te encontrado logo ela ia ter o bebê antes do tempo!
Stiles sorri. Quando adolescentes, a rainha do drama da turma era ele, mas talvez Scott tenha assumido esse cargo nos últimos tempos.
— Relaxa irmão, ela te ama demais pra te largar, isso é coisa dos hormônios — diz Stiles — Eu só acho melhor ela não vim muito por aqui. Eu não sei se posso trazer alguém e também não quero que ela fique insistindo em saber como vim parar aqui.
— Você me ouviu dizendo que ela não me escuta mais? — questionou Scott fazendo Stiles rir novamente — e sobre essa história toda, você sabe que eu vou contar pra ela, né?! Mesmo que eu não queira ela vai me espremer como uma laranja até que eu conte.
— É, eu sei! Mas ao menos não vai ser eu a contar que virei uma prostituta de luxo — ele riu sem humor.
— Cara, para com isso! É horrível ver você se rebaixando assim. Você não é nada disso, só está passando por um momento ruim.
— Me desculpe — pediu Stiles envergonhado. Seus dedos doíam te tanto que ele apertava uns nos outros.
— E eu não garanto nada que ela não venha aqui todos os dias!
— Você é maluco em deixar sua mulher grávida andando sozinha por aí!
— Ahh! Nem me fala.
Só naquele momento Stiles percebeu que sentia muita falta do melhor amigo. Das palhaçadas, do jeito alegre e até mesmo da lerdeza que ele sempre teve. Eles sempre foram como irmãos de verdade. Seus pais também eram amigos e quando as brigas em casa começaram, era Scott e a mãe quem lhe dava abrigo e conselhos; depois que sua mãe morreu, Melissa McCall foi quem fez esse papel. E fez quase tão bem quanto sua mãe. Antes de tudo também, seu pai era na maior parte do tempo um segundo pai para Scott, já que o pai biológico dele havia sumido sem notícias a muitos anos. Então eles eram como uma família de verdade. Juntos a tanto tempo que a linha que dividia uma família e outra era muito tênue.
E só naquele momento Stiles se permitiu pensar em toda a sua vida e sentiu o quão devastadora era a falta que ele sentia do irmão. Porém ainda não estava pronto para voltar a sua antiga convivência.
Com um momento de silêncio, Stiles levantou-se do sofá no espaço maior do loft e se pôs a caminhar pelo espaçoso local de modo inquieto. Desde que acordara naquela manhã ele se sentia daquele modo, ansioso, agoniado. O comichão que fervia por sua pele era agonizante. Ele tentava se distrair e não pensar no que aquilo significava, mas ele sabia exatamente o que queria dizer.
Só depois que o garoto começou a andar de modo impaciente pelo imóvel que Scott percebeu a inquietação do melhor amigo.
— Você está bem, Stiles? — ele perguntou, mesmo que a resposta já estivesse ali.
— Sim! Sim eu estou bem! Eu-eu só preciso tomar um banho. Só isso! — ele respondeu de modo afoito — Você pode ir se quiser! Pode voltar depois. Pode trazer a Alisson. Ou não. Melhor não. Mas eu já te contei tudo. Você pode ir e voltar depois. Eu estou bem não precisa se preocupar.
Ele não queria expulsar o amigo, tampouco ser rude com ele. Mas sua maior necessidade no momento era um banho bem frio e silêncio.
— Tudo bem, eu vou indo — Diz Scott se levantando também do sofá e indo para a saída — Você pode me ligar quando quiser. Pra qualquer coisa que precisar — ele parou o amigo que rodava pela sala e o abraçou apertado — eu amo você, Stiles! E pode contar comigo pra tudo.
Scott então se foi, deixando Stiles sozinho no loft com sua crise a mil, que não demorou em correr para tomar um banho na busca de aliviar a pressão pelo corpo e mente. Não era de grande ajuda, mas ainda assim era alguma coisa.
A abstinência é o pesadelo de todo dependente.
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