Con†o 14 - Enquanto Deus dormia
Camila, foi uma modelo bem popular antes de ter uma filha, tão popular que ganha dinheiro dos seus patrocinadores mesmo sem trabalhar, se intitula "temente a Deus", Peter, marido de Camila, é um rapaz de boa pinta, ateu e pintor, tem um grande patrimônio devido aos belos quadros já vendidos, mas mesmo assim continua a pintar. Thais, a filha do casal de apenas 13 anos, tão linda quanto sua mãe e tão talentosa quanto seu pai, não talentosa na arte de pintar mas sim em tocar violino, ama tanto seu violino que o carrega pra todo lugar que vai, tão boa que foi convidada pessoalmnte pelo Padre Gabriel para tocar na única igreja da cidade de Santo Rosário, uma cidade arborizada com pessoas ricas e casas grandes com certa distância uma das outras, onde grande parte da pequena população se encontra com frequência na igreja, mesma igreja onde Camila, Peter e Thaís estão indo neste exato momento.
A família se mudou para Santo Rosário apenas há dois meses, Camila era bem vista pelos habitantes religiosos da cidade, pois desde quando se mudaram frequenta a igreja junto de Thaís, já Peter não era muito bem visto por muitos, devido o fato de ser ateu e não frequentar a igreja que disponibiliza para os fiéis uma missa na manhã de domingo e outra na noite de domingo e também, fica aberta durante todo o dia para quem quiser buscar paz de espírito ou apenas silêncio.
- Tchau. - Peter se despede de Thaís com um beijo em sua testa e de Camila com um beijo na boca. - Às 10:00 eu venho buscá-las.
Camila e Thaís descem do carro e vão em direção da imensa igreja, Camila faz o sinal da cruz ao passar pelas duas grandes portas duplas de madeira da igreja já abertas, uma igreja cumprida com bancos longos de madeira em ambos os lados, formando entre eles um corredor coberto por um tapete vermelho que leva até um pequeno púlpito localizado no centro de um altar onde no fundo, se destaca uma enorme cruz de madeira presa na parede. Vão até o altar onde se encontra o Padre Gabriel.
- Bom dia, bem vindas mais uma vez a casa de Deus. - segurando com as duas mãos a mão de Camila e acenando com a cabeça em forma de cumprimento. - E você mocinha, pronta para encantar a todos com seu dote musical? - palavras ditas para Thais, que responde com a cabeça positivamente.
Enquanto Camila se distrai conversando com Padre Gabriel a curiosidade de Thaís faz com que ela vá até um corredor ao lado do altar, um corredor onde de uma das portas um garoto da mesma idade que a dela sai e olha pra Thais com um tímido sorriso, após o breve sorriso uma mão é posta no ombro do garoto, a mão do Padre Lucas, Padre encarregado de dar aulas de catequese para as crianças.
- Olá Padre Lucas!. - Camila aparece e cumprimenta o Padre ao pegar na mão de Thaís. - Vamos filha, você vai acompanhar o piano na música de início da missa, a mesma que você ensaiou.
Camila senta-se no ultimo banco e Thaís se posiciona ao lado do pianista com seu violino posicionado, as portas duplas se fecham e o som do piano é acompanhado pelo belo som proferido do violino de Thaís, a melodia é acompanhada pelo coro dos presentes na igreja, que rezam "Ave Maria" com serenidade em forma de canção, quando o último acorde é dado todos se sentam e Thaís faz o mesmo se sentando ao lado de sua mãe na última fileira de bancos.
- Sejam todos bem vindos a casa de Deus. - diz Padre Gabriel, com os braços erguidos. - Eu gostaria de fazer algumas perguntas pra vocês irmãos e irmãs, mas quero que depois que me ouvirem respondam para vocês mesmos. - todos como sempre se atentam às sábias palavras sempre ditas por Padre Gabriel. - Por que vocês vêm para a igreja? Por que buscam salvação? Por que se sentem bem? Por que acham que têm uma divida com Deus? Medo de ir pro inferno? - o Padre faz uma breve pausa e observa todos na igreja. - Não importa o motivo, tão importante quanto o que vocês fazem aqui é o que vocês fazem lá fora, a igreja é a casa de Deus, mas Deus está em todo lugar, vocês visitam ele, mas ele mora com vocês, lembrem-se disso...
A missa corre normalmente até o celular de Camila vibrar.
- Filha, a mamãe já volta. - Camila diz para Thais após ver a mensagem que recebeu no celular.
Camila passa pela porta dupla e a fecha novamente, vai de encontro à uma viatura estacionada na rua em frente a igreja, viatura onde o policial Victor está encostado fumando um cigarro.
- Humm, não tem nenhum mandamento que diz que se abandonar a missa na metade vai direto pro inferno? -
Policial Victor ironiza ao ver Camila se aproximar.
- Talvez eu precise ir pro inferno. - Camila responde ao se aproximar de Victor com um sorriso malicioso.
Thaís acha estranho sua mãe ter saído assim, então se levanta e abre um lado da porta discretamente e vê tudo o que se passa lá fora sem que alguém a visse.
- Talvez a gente possa fazer um Tour por lá. - com Camila já próxima, o policial à gruda pela cintura e a puxa.
- Para, aqui não. - se desvencilhando dos braços de Victor.
- Mas então quando a gente se encontra?
- Irá ter uma exposição de arte na terça feira e Peter vai, para de me mandar mensagem, qualquer coisa eu te aviso, agora vá embora! - Camila da as costas e volta pra igreja.
Thaís ao ver sua mãe voltando corre e volta pro seu lugar, Camila novamente senta ao lado de sua filha e ambas permanecem caladas até o fim da missa.
O fim da missa chega e, como prometido Peter está esperando sua esposa e sua filha,
- Peter, nós temos uma filha tão talentosa. - diz Camila já dentro do carro pronto para partir. - Todos ficaram admirados.
- É como eu sempre digo, linda e talentosa. - Peter diz olhando para sua filha pelo retrovisor central do carro com um largo sorriso que fora retribuído por Thaís.
- Eu estava pensando em colocar ela na catequese, o que você acha? - Camila pergunta para Peter.
- Eu acho que essa decisão quem deve tomar é ela, não acha? - Peter responde com certo desdém.
- É, tem razão, pode se decidir depois, filha. - Camila diz se virando e olhando para Thais com um lindo sorriso no rosto, sendo retribuído com um leve sorriso no canto da boca de sua filha.
O resto do domingo foi normal como todos os outros assim como a segunda feira, já na terça feira uma febre forte em Thaís fez com que Peter cancelasse o compromisso que tinha marcado com o dono da exposição que aconteceria em uma cidade não muito longe de Santo Rosário. Thaís foi levada ao hospital, foi examinada pelo médico que diagnosticou como virose, foram receitados alguns medicamentos e Thaís foi liberada sobre prescrição médica de repouso e alimentação saudável.
Apesar da febre ainda existir, Thaís se recuperava na medida em que os dias íam passando, tanto é que domingo já estava praticamente boa, boa o suficiente pra mais uma vez acompanhar sua mãe pra missa e novamente tocar a música de início. Assim foi feito, já com as portas da igreja fechadas e todos sentados a canção se inicia, o pianista dedilha as teclas do piano mas assim que Thaís começa a tocar o violino todos olham com certo estranhamento, Thaís toca a mesma música de domingo passado "Ave Maria", porém, movimentava o arco em sua mão de forma bruta, passando o arco do violino nas cordas com uma velocidade inadequada pra tal música, fazendo com que a igreja ecoasse um timbre voraz, depressivo e agudo, todos olham assustados para a garota que ficam mais assustados ainda ao verem sangue saindo do nariz de Thais, sangue que escorre pela boca molhando aos poucos os sapatos da garota.
- Filha!? - Camila se levanta preocupada e corre até Thais
As pernas de Thaís bambeiam e ela desmaia, mas antes que seu corpo desabasse no chão Padre Gabriel a segura, todos na igreja ficam imóveis enquanto Padre Gabriel junto de Camila levam Thaís para a sala onde é dada a aula de catequese. Camila liga para Peter e o Padre Gabriel observa a garota desmaiada, olhando fixamente para seu rosto com um certo receio no olhar.
Peter chega rápido e leva Thaís novamente para o hospital, hospital onde o mesmo médico diz que não há preocupação, pois Thaís não se recuperou por completo da febre que junto do calor podem ter protagonizado o sangramento.
Apesar de calada Thaís parecia bem, entrou no carro quieta e permaneceu quieta até certo ponto da viagem de volta pra casa.
- Pai, o inferno existe? - pergunta a garota com voz baixa.
- Existe, nós vivemos nele. - mesmo sem entender o por que da pergunta, Peter responde o que responderia pra qualquer um que viesse fazer essa mesma pergunta.
- Filha, o inferno é um lugar para pessoas más, não se preocupe com isso, apenas continue sendo essa garota adorável. - Camila diz ao alizar o rosto de Thaís e depois olhar com cara feia para Peter.
- Sabe o que eu acho? - Peter olhando para sua esposa que também o olha. - Eu acho que Thaís não deveria frequentar mais essa igreja.
- Você é engraçado Peter, você vive dizendo que ela deve fazer as escolhas dela e agora você quer que ela pare de ir pra igreja. - Camila retruca com um tom de voz um tanto quanto elevado.
Peter prefere não falar mais nada, pois não quer brigar na frente de sua filha. Já estava entardecendo quando chegam em casa, ao chegar em casa Thaís sobe as escadas e vai para seu quarto, abre a janela e depois de um longo banho deita-se em sua cama que se localiza em frente à uma penteadeira que contém um grande espelho e sem que percebesse pega no sono. Thaís dorme antes do anoitecer e acorda assustada quando já está de noite, sentindo que há mais alguém no quarto, ela observa o espelho da penteadeira na sua frente com medo, como se o espelho estivesse a observando, intrigada com o espelho, pega um lençol, cobre o espelho e volta para a cama, quando o sono novamente chega Thaís sente seus pés sendo agarrados e seu corpo sendo puxado pro chão, Peter e Camila escutam o estrondo e os gritos vindos do quarto de Thaís e correm para ver o que está acontecendo, quando chegam se desesperam com o que vêem. Thaís desacordada caída no chão com os braços abertos, Peter se
ajoelha e ao erguer Thaís nota que
parte da cabeça de Thaís está sem cabelo e o crânio levemente queimado, assim como todo o resto do corpo em contato com o chão, Peter mesmo chocado, apavorado e com nojo do sangue e dos pedaços de pele que iam descolando do corpo de sua filha conforme a levanta para coloca na sua cama, com Thaís já deitada agora podem ver que onde a mesma havia caído de braços abertos existe uma cruz feita com o sangue e parte da pele da garota no chão.
- Peter... - diz Camila assustada ao tirar o lençol que cobre o espelho.
Peter olha e também se assusta, o espelho da penteadeira reflete a cruz feita no chão de ponta cabeça. Peter coloca as duas mãos na cabeça em desespero, não acredita no que está acontecendo, afinal, como um bom ateu nunca acreditou em Deus e nem no diabo, porém, os indícios eram nítidos, sua filha Thais está possuída por algum demônio.
- Camila, temos que amarrá-la na cama. - Peter diz tentando acalmar Camila que está em choque.
Camila segue Peter até a sala e senta no sofá enquanto Peter pega cordas para amarrar a ainda desmaiada Thais, após amarrar Thais na cama, Peter volta pra sala e abraça Camila.
- Eu preciso que você fique aqui, eu vou até a igreja trazer o padre.
- Procure pelo Padre Gabriel. - Camila segura forte as mãos de seu marido. - E volte rápido, por favor. - com voz chorosa.
Peter sai às pressas e chega quando todos estão saindo da última missa de domingo, Peter corre até um padre que está a fechar as portas da igreja.
- Você que é o Padre Gabriel? - ofegante Peter pergunta.
- Não, eu sou o Padre Lucas, acho que eu também posso te ajudar meu jovem, o que acontece?
- A minha filha... - Peter parece querer se recusar a crer que tudo que ele nunca acreditou e até zombou realmente existe, mas seu orgulho não poderia falar mais alto neste momento, não com sua filha precisando de ajuda. - ...ela está possuída.
- Você é Peter, né?! se mudou a pouco tempo pra cá, ouvi dizer que você é ateu e agora vem me dizer que sua filha está possuída, será que eu devo rir?
- Padre, por favor. - Peter ajoelha-se segurando as mãos de Padre Lucas. - Me ajuda!
Com o ato de Peter e o tom de verdade em sua voz, Padre Lucas pede para que Peter se levante.
- Eu vou te ajudar, Padre Gabriel saiu às pressas hoje cedo logo após a missa, pediu pra que eu fizesse a missa da noite pois tinha um assunto urgente com seu tio, um velho bispo que mora em outra cidade, vou passar o número de Gabriel pra você e você fala com ele enquanto vamos até sua casa.
Padre Lucas retorna pra dentro da igreja seguido de Peter.
- Pegue a bíblia que está no púlpito, eu vou pegar água benta e uma cruz. - Padre Lucas fala e vai até a sala onde da aula de catequese.
- Me perdoe. - Peter ajoelhado frente a imensa cruz fixada na parede atrás do altar com a bíblia em mãos e lágrimas deslizando no seu rosto - Não permita que minha filha se vá.
- Vai dar tudo certo. - afirma Padre Lucas com a mão no ombro de Peter.
Já no carro, Padre Lucas passa o número de Padre Gabriel e dirigindo mesmo Peter liga e explica tudo que aconteceu.
- Meu Deus, eu já imaginava que isso aconteceria, só não esperava que fosse tão rápido, eu já estou voltando, chegarei na sua casa o mais rápido possível, - Padre Gabriel desliga o celular e estupra o acelerador com o pé.
Camila que reza ajoelhada na sala se levanta e vai em direção de Peter ao vê-lo entrar.
- Onde está Padre Gabriel? - Camila pergunta ao mesmo tempo que abraça Peter e nota que apenas Padre Lucas está junto.
- Ele vai chegar logo meu amor. - Peter responde retribuindo o forte abraço.
- Onde ela está? - com uma cruz pequena de cristal, um frasco de vidro com água benta e a Bíblia em mãos Padre Lucas se apressa.
- Me siga, ela está amarrada no quarto.
Os três sobem as escadas e vão ate a porta do quarto fechada.
- Vocês fiquem aqui, eu vou ver a situação. - diz Padre Lucas ao entrar no quarto.
Padre Lucas entra no quarto e vê a cruz feita de sangue no chão e a garota com a pele pálida os lábios escuros e rachados amarrada na cama com o lençol molhado de seu próprio sangue.
- Meu Deus. - Padre Lucas apavorado derruba o frasco de vidro com água benta no chão que se quebra. - Quem é você?
- Eu sou apenas uma garotinha inocente de 13 anos. - responde com uma voz singela.
- O que você quer? - Padre Lucas aponta a cruz para a garota. - Responda!
- Eu quero que você faça comigo o mesmo que faz com Felipe, Sônia, Jorge e todas as outras crianças da catequese. - a garota passa a língua entre os lábios. - Vem, chega mais perto, deixa eu sentir seu gosto.
Os olhos de Thaís ficam totalmente negros e a garota começa a sussurrar palavras que Padre Lucas fica paralisado olhando os lábios de Thaís se moverem conforme sussurra, como se entendesse cada palavra daquele sussurro inquietante.
Do lado de fora Camila reza em silêncio confortada pelos braços de Peter, ambos se atentam à porta ao verem Padre Lucas sair do quarto e a fechando de novo. Sem nenhuma pergunta Peter abre a porta e junto de Camila entra no quarto, encontram Thaís sorrindo como se fosse algum outro dia qualquer, quando saem do quarto e fecham a porta se apavoram, pois vêem Padre Lucas caído no chão com sangue na boca e os pulsos abertos, Padre Lucas havia abrerto os pulsos com os próprios dentes, os buracos nos pulsos eram tão fundos que o sangue rapidamente ia ganhando espaço no corredor.
- Meu Deus, mas que... - antes que Camila termine a frase Peter a puxa e a leva para a sala.
- Temos que chamar a polícia. - Peter diz convicto, mesmo completamente assustado com tudo aquilo.
- Mas e o Padre Gabriel, onde ele está? - chorosa Camila pergunta.
- Ele já deve estar chegando. - Peter está tão apavorado quanto Camila, no entanto, tenta acalma-la. - Temos que ligar para a polícia, aconteceu uma morte aqui, isso é o máximo que podemos fazer até que Padre Gabriel chegue.
Peter consegue acalmar um pouco Camila e pede para que ela ligue para polícia.
- Alô, delegacia de Santo Rosário. - quem atende é Katie, policial responsável pela delegacia na ausência do delegado.
- Aqui é Camila, nos mudamos a pouco tempo pra cá, aconteceu algo muito ruim aqui, venha de pressa, por favor. - Camila diz desesperada e com uma enorme angústia.
- Se acalme e me explique o que aconteceu. - serena e plena, Katie conversa com Camila.
- Eu não sei explicar... Apenas venham, rápido por favor.
O telefone é desligado e antes a feição tranquila de Katie é anulada por uma feição de preocupação.
- Quem era? - pergunta feita por Policial Victor.
- Aconteceu alguma coisa ruim na casa da nova família de Santo Rosário.
- Não se preocupe, deixe que eu vejo o que está acontecendo por lá. - já se levantando para sair da delegacia.
- Não Victor, todos aqui sabemos do seu envolvimento com a nova moradora e talvez o motivo do que está acontecendo lá seja justamente por isso.
- Katie, não me de ordens, pois eu sei que o cargo que você exerce hoje foi devido a um caso onde você colocou um inocente na cadeia, e também sei que você transa com o delegado pois ele está prestes a se aposentar e com certeza ele te indicará como a nova Delegada, portanto, não me de ordens.
- Victor, pouco me importa o que você sabe, você não tem provas de nada disso. - Katie olha com raiva para Victor. - Então é melhor você me respeitar como sua superior ou vou vai passar de um lixo fardado pra lixo sem farda, aliás vocês nunca fez nada de útil por aqui, parece que a única coisa que você sabe fazer é dirigir uma viatura. - Katie joga as chaves para Victor. - Já que deseja tanto ir, você vai comigo mas você dirige.
Antes de Victor estacionar o carro já podem ver Peter e Camila esperando do lado de fora da casa.
- O que está acontecendo? - Policial Katie pergunta com certa preocupação ao notar os rostos de Camila e Peter molhados de lágrimas e a feição de desespero de ambos.
- Vejam vocês mesmos. - Peter diz ao entrar na casa. - Lá em cima.
- Tudo bem, esperem aqui, nós vamos lá. - Policial Katie diz empunhando sua arma e junto do Policial Víctor sobem a escada.
- Padre Lucas? - Victor diz ao ver o corpo de Padre Lucas no corredor rodeado de sangue.
- Aqui é a Policial Katie. - Katie imediatamente pega o seu rádio transmissor. - Preciso de mais duas viaturas, Rua Rosas Sagradas, residência 6.
Assim que a Policial Katie desliga o rádio transmissor a porta do quarto de Thaís se abre timidamente, o que faz com que Victor e Katie adentrem o cômodo de forma minuciosa.
- Mas que merda está acontecendo aqui? - Katie se espanta ao ver a cruz feita de sangue no chão e a garotinha pálida como um fantasma amarrada na cama.
- Katie, que prazer ter você aqui. - a garota diz com um largo sorriso no rosto.
- Por que você está amarrada? - Katie ainda assustada pergunta.
- Não sei, talvez meu pai seja como você, gosta de prender pessoas inocentes.
- Como você sabe disso? - Katie diz com voz desconfortável.
- Eu te conheço Katie e eu tenho duas notícias para te dar, uma boa e outra ruim. - Thaís agora com um sorriso de deboche estampado no rosto. - A boa é que o homem acusado injustamente de estupro por você está sofrendo muito na cadeia, já a notícia ruim é que você transou a toa com aquele velho, pois você não será a nova Delegada.
Os lábios de Thaís começam a se movimentar e sussurros novamente são proferidos conforme os olhos da mesma ficam negros, Katie perde sua pose firme e se concentra nos tais sussurros.
- Katie, o que está acontecendo? - Victor em choque pergunta e em seguida aponta a arma para Thais que encerra os sussurros.
- Victor. - a garota gargalha - Dar uma de herói na frente de Katie não vai fazer ela abrir as pernas pra você, ahh é, me esqueci que você prefere as comprometidas, mas acho que você e Katie formariam um belo casal, ambas as almas fedem com a mesma intensidade.
Victor desvia o olhar de Thaís e o direciona para Katie que está na janela com o corpo inclinado para fora.
- Katie!? - Victor corre até Katie mas não consegue impedir que ela se jogue.
Katie se joga de cabeça, que ao se chocar com o chão achata seu crânio fazendo com que seus olhos saltem parcialmente pra fora.
Victor, horrorizado vira-se para trás e da de frente com Thaís, Victor ao focar seus olhos nos olhos da garota ajoelha-se, Thaís se inclina, sussurra no ouvido de Victor e caminha até a porta do quarto e, enquanto a garota passa pela porta, Victor pega sua arma, aponta para o céu da sua boca e atira, espalhando sangue e miolos pelo quarto.
Camila e Peter ao ouvirem o barulho do tiro sobem sem demora, quando chegam se desesperam ao ver Victor morto e a ausência de Thais. Camila sai vomitando pela casa até o banheiro, Peter a segue e a abraça por trás enquanto vomita na privada.
- Eu vou acabar com isso. - Peter chora ao falar, mas se levanta decidido e vai até seu quarto.
Camila se recompõe e encosta em um canto da parede em posição fetal.
- Oi, Camila. - a garota diz entrando no banheiro. - Ou devo dizer mamãe? Vocês formavam uma bela família, mas ao invés de valorizar isso você deu prazer pra pessoas que não valem nada e mentiras pra quem a ama, seu orgulho fala mais alto do que qualquer outra coisa, se a vida de sua filha dependesse da sua morte ela com certeza morreria. - Thaís se agacha e abraça Camila, sussurrando em seu ouvido.
Após o sussurro gelado e inquietante a garota se levanta e caminha para fora do banheiro, ao passar pelo banheiro um espelho cai no chão e se quebra, Camila engatinha até os cacos, observa por 1 segundo seu rosto nos cacos de vidro e segura um dos pedaços com força, com tanta força que o pedaço de vidro repousa nos ossos de sua mão, do quarto Peter escuta o barulho do espelho se quebrando, se apressa em pegar uma arma que nunca pensou precisar usar e corre para o banheiro, chega no momento exato em que Camila enfia o caco de vidro na garganta, as lágrimas de Peter se misturam ao sangue que jorra do pescoço de Camila ao abraça-la.
- Peter?! Por que a polícia está aqui? - Padre Gabriel finalmente chega e diz intrigado ao entrar na casa.
Assim que Padre Gabriel entra na casa e fecha a porta, se depara com Thaís e seus olhos negros, bíblias, cruzes, livros e um vidro com água benta caem das mãos do Padre enquanto ele se ajoelha na frente da garota, garota que se inclina e sussurra no ouvido de Padre Gabriel.
- O que você quer de mim? - Peter aparece atrás de Thaís coberto pelo sangue de Camila.
- Pai? - Thaís se vira, com a pele não mais pálida e com os lábios levemente avermelhados.
- Volte pro inferno e deixe minha filha em paz! - engatilha e aponta a arma na testa de Thaís.
- Inferno? - a garota da um sorriso macabro. - Eu já estou no inferno!
Peter atira, a bala entra na cabeça de Thaís que cai com a cabeça frente aos joelhos de Padre Gabriel, Peter desaba ajoelhado aos prantos, o choro de Peter é tão intenso que ele nem se assusta com a porta sendo aberta com truculência.
- Parado, é a polícia, largue a arma agora!
A polícia invadiu a casa e achou os corpos de Thaís, Padre Lucas, de Victor, de Camila e de Katie, no quarto de Thaís o que antes era uma cruz agora era apenas uma mancha de sangue no chão. Fita zebrada foi usada em todo o terreno da casa para afastar os curiosos, Peter foi algemado e levado para a delegacia, Padre Gabriel em estado de choque foi conduzido para a ambulância.
- Algum deles falou alguma coisa, policial?
- O Padre não fala nada, está em estado de choque, já o outro falou algo sobre diabo, ele parece alucinado. - o policial que interrogou ambos responde o Delegado.
- Clichê, protagonizar um massacre e botar a culpa no demônio.
- Mas delegado, o que dois padres estariam fazendo aqui a essa hora? - o policial questiona. - E além do mais, eu acho meio improvável um só homem matar dois policiais armados.
- As vezes nós humanos somos tão mals quanto qualquer demônio. - convicto o Delegado responde. - Você como policial sabe bem disso, coisas bizarras acontecem em todo lugar, e dessa vez aconteceu aqui.
...
Duas semanas depois.
Hospício psiquiátrico de segurança máxima.
- Olá, eu sou a repórter Sara, estamos no maior e mais seguro hospício do Brasil, hoje teremos uma reportagem exclusiva com Peter, acusado de matar um padre, dois policiais, sua esposa e sua própria filha. - a repórter fala olhando para a câmera, em seguida se vira para Peter algemado atrás das grades de uma cela acolchoada. - Peter, primeiramente queria agradecer por ter aceito falar com a gente, e talvez apenas uma resposta sua já será o suficiente para não ter mais perguntas.
- Pois então faça a tal pergunta.
- Por que você fez tudo aquilo? - a reporter se aproxima das grades para captar com clareza tudo o que Peter teria para dizer.
- Tudo aquilo? Eu não fiz tudo aquilo.
- Os policiais disseram que quando invadiram a casa você tinha acabado de dar um tiro na cabeça de sua filha. - a reporter fala com um tom de voz elevado. - Se for pra você ficar se fazendo de inocente não tem sentido essa entrevista.
- Pois é, vocês só sabem o que os policiais disseram, eu aposto a minha vida que não encontraram minhas digitais no corpo de Padre Lucas que arrancou pedaços dos pulsos com os próprios dentes, aposto que não encontraram minhas digitais no corpo de Katie que se jogou da janela, aposto que as únicas digitais encontradas na arma de Victor eram as digitais dele mesmo, em Camila sim encontraram minhas digitais, pois eu a abracei enquanto ela morria em meus braços. - Peter triste abaixa a cabeça.
- E o que você está querendo dizer com tudo isso? - Intrigada a repórter pergunta.
- O que eu estou querendo dizer? - Peter da uma breve gargalhada - O que eu estou querendo dizer é que o diabo visitou minha casa enquanto Deus dormia.
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