Capítulo 8
O fim de semana passou mais rápido do que a gente realmente queria, já era manhã de segunda-feira, mamãe entrou na penúltima semana de gestação. Eu estava uma pilha de nervos! Fazia frio e chovia muito. Eu estava me aprontando para ir à escola. Vesti o uniforme. Era branco e azul. Escolhi um suéter vermelho com bolinhas amarelas, e uma jaqueta azul marinho bem quentinha. Fui até a última gaveta do meu armário para encontrar um gorro que combinasse. Eu e mamãe tínhamos quase uma coleção deles! Eu escolhi o amarelo de orelhinhas de urso. Olhei meu reflexo no espelho e eu estava feliz e aquecida. Corri até a cozinha e pedi a mamãe pra passar um batom de brilhinhos nos lábios, e a resposta é claro foi:
- Não, Amy. – Sorriu mamãe. – Você é uma menininha realmente muito insistente! Todos os dias você me pede a mesma coisa!
- Ah, mamãe. Você sempre diz que quando eu crescer eu vou poder usar, e eu tenho certeza que estou maior, acabei de ver no espelho! Além disso, minha calça já está bem mais curta.
- Sim, minha querida. É verdade! Você está crescendo muito rápido. E isso às vezes me deixa triste, porque minha menininha está se tornando uma moça. Mas meu bem, você só tem oito anos ainda. Venha, agora vamos tomar nosso café e terminar de se arrumar. Está quase na hora!
Mamãe me levou de carro por causa da chuva, quando chegamos a abracei bem forte e disse a ela o quanto eu gostaria de ir junto com ela e papai na consulta do médico. Ainda mais agora em que estávamos na reta final!
- Não se preocupe meu docinho. A mamãe vai ficar bem... E logo, logo teremos nossa Sar. Estude bastante querida. Logo, logo estaremos juntas novamente! Amo você, Amélia.
- Tchau mamãe. Também amo você. – Beijei o rosto dela e acariciei a barriga. – Fique bem Sar. Je t'aime!
Assim que cheguei na sala de aula o sino já havia tocado, eu raramente chegava atrasada, e quando entrei, corri os olhos pela turma, e encontrei quem eu queria. Sorri ao ver Abigail. Nós sentávamos juntas desde o primeiro dia de aula.
- Oi Melie. Que bom que você veio, eu já estava triste aqui nesse canto sem você!
Abigail era a única que me chamava de Melie. Estávamos sempre juntas. Conhecemo-nos no jardim. Ela sempre me defendia quando me chamavam de cenoura ou cabelo de salsicha. Abigail tinha os cabelos bem escuros e ela tinha uma pele caramelo. Nós duas formávamos um belo contraste. Éramos inseparáveis. Nos momentos difíceis era ela que estava do meu lado. E era com ela que eu dividia minhas alegrias e meus biscoitos. Tínhamos apenas 4 meses de diferença, ela era a mais velha, e isso a motivava a sempre cuidar bem de mim.
- Crianças, vamos ver quem acertou a lição de casa?! – Disse a professora. – Aquele que não tiver feito, vocês sabem que temos um cantinho especial! – Apontou ela para o canto da lousa na parede.
Essa era uma das razões de eu ter pavor da lição de casa. Uma vez eu havia esquecido de fazer a tarefa no final de semana, e eu passei mais de 20 minutos em pé na frente da classe inteira de castigo. Todos riram e me fizeram sentir a pior pessoa do mundo, só porque eu não havia colorido o jogo dos sete erros. Passei o resto do dia chorando, e Abigail ficava do meu lado me abraçando e dizendo a todos que parassem de rir. Foi uma maneira um tanto forte de aprender, mas eu nunca mais esqueci de fazer a lição de casa. Mas também aprendi a jamais rir de quem for que estivesse esquecido também. Coisas assim machucam e nos faz sentir inferiores. Realmente era como esmagar o coração aos poucos.
Durante a aula naquele dia eu e Abigail não soltamos uma única palavra, porque sabíamos o quanto a professora detestava que conversássemos entre uma lição e outra. Finalmente o sino tocou e era hora do lanche. Todos se levantaram e correram para a porta de saída, e eu estava morrendo de fome. Mamãe mandou cookies de chocolate branco com suco de laranja. Eu e Abigail sempre compartilhávamos o lanche, e nesse dia ela levou salada de frutas em um potinho vermelho do Mickey Mouse, ela sempre tinha apetrechos temáticos. Sua mochila e lancheira era da Bella e a Fera, e todos seus matérias escolares eram de algum personagem. Às vezes brincávamos de ser alguma princesa, e eu sempre escolhia ser Cinderela, mas todas as meninas diziam que eu jamais podia ser Cinderela, a menos que trocasse de cabelo e usasse maquiagem para tampar as sardas. Isso me deixava muito triste. Abigail sempre era Bella. E quanto a isso ninguém questionava, porque sua aparência combinava com ela. Alguns meninos chegavam a dizer que como eu sempre estava ao lado dela, eu mesmo poderia ser a Fera. Incontáveis vezes voltei da escola chorando por rirem do meu jeito. Mas mamãe sempre me consolava. Ela dizia que eu podia ser quem eu quisesse, desde que usasse a minha imaginação. E isso eu tinha de sobra, e para sempre vou me orgulhar disso. Eram eles que não sabiam brincar de verdade!
- Sua mãe é a melhor em fazer cookies com chocolate branco! – disse Abigail.
- Eu pedi a ela pra fazer porque sei que você ama!
- Meninas vocês sempre trazem lanches diferentes e gostosos, a mãe de vocês realmente capricha, não é? – comentou a professora, que veio ao nosso encontro.
- Sim, elas são as melhores – afirmei orgulhosa.
- Mas acho que as mães de vocês deveriam intercalar mais as escolhas de lanchinhos. Querida Amélia, sua mãe alguma vez já pensou em lhe levar em alguma nutricionista? – perguntou a professora em tom sarcástico. Eu não estava entendendo o que ela queria dizer.
- Acho que não, na verdade sei que ela já foi uma vez quando estava doente... Mas, eu estou bem. A senhora acha que estou doente? Pareço pálida?
- Não, não minha querida. Apenas acho que você está um pouco gordinha, acima do peso... Talvez fosse bom falar com a sua mãe, seria interessante você trazer salada de frutas ao invés de Abigail. – disse isso com um leve sorriso no canto da boca. – Mas é apenas uma sugestão, querida Amélia, afinal seu rosto é lindo!
- Certo. – Comentei um tanto pensativa. – Vou falar pra ela.
- Isso! Você ainda é bem nova, amada. Uma simples dieta fará você ficar linda e saudável!
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