Quando finalmente chegamos ao topo da montanha já era quase hora de almoçar. A vista era incrível, o céu azul contrastava com todo o verde ao nosso redor. As árvores de hibiscos estavam todas floridas e deixava o cenário ainda mais especial. O sol lá em cima brilhava como nunca, fazendo com que meus cabelos longos e ruivos se destacassem ainda mais. Todos achavam estranho o fato de eu ser ruiva e ter sardas. Afinal, minha mãe tem os cabelos louros e meu pai castanhos. Isso não era um problema pra mim, na verdade eu até gostava. Papai dizia que meu cabelo era como fogo, e aquecia o coração das pessoas ao meu redor. E eu realmente acredito nisso.

- Queridas, o que acham de comermos antes de começarmos a brincar? – Perguntou papai.

- Eu acho uma boa ideia. Amy, mamãe trouxe a sua sobremesa favorita! – Disse mamãe me pegando em seus braços. Ela é o tipo de mulher que ama fazer de tudo para agradar.

Esticamos uma toalha xadrez vermelha no gramado, sentamos e comemos até a barriga doer. Hoje sinto saudades da época em que comer era simples e confortante. Um momento que era só de amor, paz e prazer.

- Florzinha, nós temos uma novidade para contar para você – Papai disse em tom de suspense. O que me fez querer que ele contasse logo. Papai não era de muitos segredos. E também não era de fazer rodeios. O que era bom, mas isso me deixava nervosa, porque quando ele dizia nesse tom, era realmente importante.

- Acho que você irá gostar, Amy. Já perdi as contas de quantas vezes você pediu isso pra nós. – Disse mamãe.

- Hum... Finalmente vou poder deixar de fazer as tarefas da escola? – Perguntei como se fosse a melhor notícia que eu pudesse receber.

- Não, querida – Disse papai sorrindo. – É algo BEM melhor!

- Não sei o que poderia ser melhor do que passar as tardes sem dever de casa! Eu realmente acho que perco meu tempo sabe...

Na minha infância havia duas coisas em especial que eu achava ser uma total perca de tempo. Fazer tarefas e dormir. Parecia haver tanta coisa melhor a se fazer, que não havia motivos para fazer coisas tão supérfluas. Mas é claro que, logo eu descobri que isso também era importante. Principalmente dormir. Hoje, talvez, eu até já gaste mais tempo dormindo do que deveria... Minha mente já estava lá na frente, e mal sabia eu que o que eles diriam a seguir mudaria minha vida completamente, na verdade ela nunca mais seria a mesma!

- Ah minha pequena, há sim, coisas bem melhores! – Disse mamãe, com um sorriso enorme estampado no rosto. Anos depois eu me perguntava como ainda não tinha percebido que algo estava diferente naquela casa. Papai estava explodindo felicidade, e mamãe também. Sem contar o fato de que ela havia engordado e sentia muitos enjoos. Mas como eu ainda era tão criança, tudo estava normal.

- Filha, senta aqui pertinho da mamãe. – Eu sentei bem no meio entre mamãe e papai. – Agora coloque sua mãozinha aqui. – Ela segurou minhas mãos e gentilmente a colocou sobre sua barriga. – Aqui dentro está a sua pequena irmãzinha. – Quando ela pronunciou essas palavras foi o momento mais alegre da minha vida. Eu não podia acreditar! Lembro-me de meus olhos marejarem nesse momento, e a minha primeira reação foi sair por aí pulando, feito a criança mais feliz do mundo. Papai abraçou mamãe e nos disse: - Agora não vai ser mais apenas nós três, a família vai aumentar Amy. E você vai poder ter alguém para brincar e ser sua companheira para o resto de sua vida! Uma pessoa especial para dividir as suas histórias incríveis. - Querida, papai e eu decidimos que você vai poder escolher o nome da sua irmã. Sabemos que você tem as melhores ideias do mundo! – Exclamou mamãe.

- Sério? Oba, Oba! Espera! É uma menina?! Ah, meu Deus esse é o dia mais feliz da minha vida! Deixe-me pensar... Hum... Keithie? Ou Amanda? Talvez Emma? Que tal Elizabeth? Ai, são tantas opções!

Papai e mamãe sorriram, eles irradiavam alegria, qualquer um podia perceber isso de longe. O dia que já era pra ser perfeito, ficou ainda melhor. Depois do almoço tiramos algumas fotografias, brincamos e até dançamos. Papai pegou mamãe no colo e eu tirei uma foto. E naquele momento eu percebi que aquele era o meu lugar. Não importa em que parte do mundo estivéssemos eles sempre seriam meu lar. Um refúgio. Nunca a palavra família foi tão clara para mim. Os olhinhos de mamãe estavam levemente úmidos ela segurou minha mão. O sol estava se pondo. E assim com toda a sua grandeza ele foi diminuindo seu brilho, dando lugar para as estrelas e a lua brilharem, aos poucos o céu foi ficando em um tom rosado. Um vento frio tocava meu rosto. Nós três nos abraçamos e tocamos a barriga da mamãe, e eu disse:

- Seja bem vinda, minha irmãzinha, a melhor família do mundo!