Fazia três meses que eu havia decidido mudar meus hábitos. Fiz uma lista e coloquei na geladeira. Entre eles estavam:

- Acordar cedo todos os dias.

- Estudar francês todas as noites.

- Comer menos.

- Ler 5 capítulos de um livro todos os dias.

Minha motivação era realmente boa. Eu estava determinada a estudar mais e melhor. Queria fazer da leitura um hábito regular. E tinha a alimentação. Devo lhe dizer que jamais fui de pular refeições, viver de doces ou algo assim. Minha alimentação era como a de qualquer outro. Café da manhã, almoço e jantar. Exageros? Às vezes. Mas nada além do comum. Eu comia salada. E comia batata frita. Havia feito inúmeras dietas ao longo da minha adolescência; Dieta da Lua, da sopa, lowcarb, jejum intermitente e por aí vai. Mas a verdade é que segui-las sempre foi um verdadeiro desafio. Eu amava comer. E para mim, esse era o grande problema!

Mas esse ano era de alguma forma, diferente. Eu estava prestes a me formar, logo me tornaria maior de idade, eu seria adulta! Também queria arrumar um bom emprego e viajar. Achei que já passava da hora de "me cuidar". Na época pareciam motivos validos para enfim, ter o corpo perfeito.

Hoje me pergunto o que é esse tal corpo perfeito. Na época eu achava ser: pernas e braços finos, barriga "negativa" e um rosto em formato de V. Cuidava da pele do meu rosto como ninguém. Máscaras faciais todos os dias. 8 produtos de skin care diferentes a cada noite.

Eu parecia estar realmente feliz afinal, eu estava aplicando o passo a passo da minha blogueira favorita. Meu Instagram agora mais parecia um blog de vida fitness do que qualquer outra coisa. Passei a seguir todos os perfis que incentivassem o "autocuidado". Comprei revistas de receitas leves, e meu novo passatempo era estudar alimentos. Eram horas dedicadas a nutrientes. Era divertido, admito. Porque tudo que entrava no meu corpo eu sabia qual era o benefício e o malefício. Minha estante de livros passou a ser um acervo de nutrição. Eu estava realmente empolgada. Era um novo estilo de vida.

Faltando duas semanas para a minha festa de formatura - que na verdade não seria bem uma festa, seria um jantar em casa com amigos e familiares – eu estava com 9 quilos a menos. Sentia-me bem, e as pessoas ao meu redor me faziam sentir perfeita. Qualquer lugar que eu fosse, e qualquer conhecido que encontrasse o assunto era sempre o mesmo: "Amélia, você está belíssima como nunca!" "Amélia querida. Está perfeita!" "Amélia, me ensina seu grande segredo?!".

Aquilo me dava tanto orgulho! Finalmente meu valor estava sendo reconhecido. Minha beleza era reconhecida. Meu esforço estava dando resultados. E aquela Amélia gorda, era coisa do passado.

Gostaria de contar cada detalhe de como foi o meu processo de "vida nova" e "verdadeira felicidade", mas a verdade é que me dispus a escrever tudo isso um bom tempo depois de acontecer. E vai por mim, não quero lhe ensinar a grande besteira que fiz em minha vida. Acho que não preciso lhe dizer o que é fazer uma dieta. Eu aprendi fácil, fácil. Na verdade estou aqui para servir de alerta, e não de incentivo. Quero lhe mostrar que essa 'nova vida' foi realmente bem nova, e assustadora. Que a 'felicidade verdadeira' estava totalmente oposta onde eu achei estar. Achei que seria mais fácil contar o trajeto, afinal é a minha história. Achei que as palavras fossem fluir facilmente. No entanto, agora, ao descrever minha vulnerabilidade me sinto fraca. Sinto-me culpada. Exposta. Isso não tem sido fácil.