TRANCADO PELA MENTIRA
" Amei-te com tudo que tinha,
na sua traição levou consigo tudo que um dia fui."

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         O som de asas de pássaros batendo, o calor cálido que entrava por uma fresta do teto. O ar fresco vindo de uma janela quebrada a minha direita. Quanto tempo estou aqui esquecido? Não sei. Num tempo perdido que nem sequer me dei o trabalho de contar. Teias de aranha, madeiras quebradas e danificadas, pedras com visgos... As plantas invadiram por todos e quaisquer caminhos. Ratos fazendo do meu lar sua morada, correndo perto dos meus pés. O cheiro de mofo, velho e tão esquecido quanto eu, deste velho castelo que já viveu tantas glórias.

        O som de vidro quebrado, por meninos corajosos ou procurando-a e enfrentando as lendas que cercam o lugar. Já res a lenda de um castelo fantasmagórico que já foi de pura beleza, mas amaldiçoado foi, se tornando no castelo das ilusões. Por tanto tempo estou aqui dentro, carregando no peito a culpa é daquela que um dia jurei amar.

        Em minha desilusão, a dor da traição, preferi mergulhar-me em silêncio, no aconchego dos sonhos de um tempo bom. Mas sons invadiram meus sonhos, sons de passos apresados. Ecoando sonoramente por todo o corredor que leva ao meu quarto. Um instinto infeliz me trazia a certeza de quem era, é um instinto amaldiçoado, desejando sumir para virar apenas mais um história. Mas no meu caminho sempre me traziam ela que abrindo a porta e sendo iluminada pelas luzes vindas das janelas, parecia um anjo. O motivo da minha alma se ferir, se partir e meu eu se corromper.

        Seus cabelos loiros como de um anjo, seu sorriso cálido e sempre tão amável, era impossível não ama-la. Contudo, não poderia ser ela, pois está morta. Vestiasse como um menino, de calças e com uma coragem sem tamanho. Vista séculos atrás nos melhores cavaleiros!

        Não se passou tanto tempo assim, para que anjos viessem a terra, em sua existência sem sexo. E um deles tivesse piedade desta alma, para me salvar e me levar do tormento?

        Não venha puro anjo, não se aproxime. Sou uma besta fera preza a tanto tempo que não poderei conter-me. Seu puro coração, não escuta o meu pedido. Vindo até mim tirando do meu peito a estaca, que eu mesmo encravei e próximo as minhas costas, a cruz de prata, banhada na sagrada água santa. Toda fé nela posta me manteve aqui, o padre não reclamou quando pedi. Cruzes nunca foram o problema, mas sim a fé devota, dos seguidores do pai dos vivos.

       Criatura tola, anjo para que veio? De sangue quente, virou minha refeição tão rapidamente me libertou, quanto rapidamente estava quase em sua última gota de sangue. Neste momento o meu instinto se controlou e reconheci o seu cheiro. Dos meus olhos começaram a brotar lágrimas de sangue. Seu ultimo suspiro, foi apenas uma curta frase que condenaria-me por toda eternidade. Ansiando pelo fim da minha existência, mais uma vez.

“ Resnasci, meu amor. Apenas para te reencontrar e o salvar. Já que na última vez morri antes de poder o fazer. ”

         Não poderia acreditar no que meus ouvidos, ouviram. Seu sangue estava em mim, assim como suas memórias. Suas emoções. Uma na dor que invadia a minha alma negra, e a ferida. Mesmo pensando que em meu coração já não existia, a ferida se alastra, me corrói e me atormenta.

         Nada mais importava, nada se não a ilusão de uma traição, que não existiu. O amor entre uma bruxa e um imortal. Não que muitos soubessem, mas a trama foi feita, por aquele que pedi ajuda em meu aprisionamento. Quando vinha para mim, foi sequestrada, morta com pedras amarradas em seus pés e jogada no rio. Sua traição foi Balela contada por um homem que se dizia temente a Deus. Um deus que nem era meu e ainda sim acreditei.

        O culpado já não existia nesse mundo e nem ela. Não existia outra pessoas que desse-me vida que não fosse você... E se não era você, não me importaria. Me vingaria por ti amor, mas o culpado dessa vez foi eu. Sou um ser absurdo, que não morre nem a luz do sol. Minha maldição não é como dos demais, minha maldição era viver, até que a vida no mundo se extinguia. Para mim viver não era uma dádiva, mas foi a melhor coisa enquanto você estava viva.

          Reviverei a glória deste castelo, manterei viva as memórias dos seus sorrisos. Pois de um passado feliz, que poderíamos ter tido. Nas flores que você amou, na luz que sempre foi em terra. Será lembrada em meio a beleza do "castelo das ilusões."

       A felicidade e a dor, estarão lado a lado, jamais esquecidos e sempre lembrados. Para mim este monstro carnal, aberração sem nome. Resta-me desta vez, procurar a sua próxima encarnação. Garantir que viva, mesmo que te zele a distância. Sofrendo de um amor que não mereço ter.

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