005#Amélia
POR TUDO QUE SE TORNARIA
" Posso ver o seu pequeno rosto inchado, de quando nasceu e a primeira vez foi entregue aos meus braços. Se soubesse que isso aconteceria, teria fugido para bem longe com você, sem dar satisfação para ninguém... Um absurdo? Não e você verá o porquê. " - Mamãe.
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O dia estava quente e você me pediu para irmos ao parquinho. Hoje já que não estava chovendo, poderia brincar sem que eu brigasse que iria se sujar. Concordei, afinal, com sua pequena boca esperta, como poderia negar?
O dia realmente estava quente, a vesti com seu lindo vestidinho branco, sua sandália de princesa favorita. Passei em ti o seu batom cor de rosa, pois já é uma mocinha, não é? Em seus delicados cabelos loiros duas chiquinhas e coloquei um chapeuzinho para proteger do sol. Tão fofa a minha menina, minha linda Amélia. Tiro fotos em meu celular, enquanto você se olha no espelho toda contente.
— Olha, mamãe! Estou tão bonita! — Diz sorrindo e segurando a barra de seu vestido.
— Sim, você está! É uma moça grande já! — Digo rindo enquanto guardava o celular. — Já já terá namoradinhos.
— ECA! Mãe! Meninos são nojentos! — Responde fazendo careta.
— Ah! Como eu queria... Queria tanto que pensasse assim para todo o sempre! — Digo entre risos me abaixando e ficando da sua altura para a abraçar.
— UE! Mãe! Tô falando! Vou pensar assim para sempre! Sabe o Guilherme? Ele enfiou o dedo no nariz e comeu a meleca! Eeeca! Depois veio querer segurar a minha mão! — Então me mostra uma cara de repulsa tão grande, que me faz querer rir mais ainda. Ela não diz que os dois são inseparáveis. A não ser, claro, quando falamos de namoradinhos.
Descemos o elevador e você como sempre, parece se divertir tanto enquanto descemos. O parque é do outro lado da rua, então você sai animada na frente, enquanto eu, como sempre, fico correndo atrás de você, brigando para não ir, sem me dar a mão. Menina de opinião, debate dizendo que é grande e que sabe atravessar a rua, não precisa que eu lhe segure a mão.
Chegando ao parquinho você brinca até cansar e vir sentar-se ao meu lado ofegante. Lhe ofereço a sua garrafinha de água e você a pega imediatamente para beber, falando o quanto é legal vir ao parquinho. Como se escolhesse o momento certo, o rapaz que vende algodão doce resolve aparecer, chamando sua atenção e já sabia o que iria fazer.
— Mamãe! Mamãe! Quero algodão doce! — Diz com olhos tão brilhantes e uma expressão tão feliz que, preferiria arrancar um braço do que lhe dizer não.
— OK, como está cansada, quero que você fique aqui. Não fale com estranhos, não saia daqui. OK? — A divirto mais uma vez para que tenha certeza. Quando concorda me apressando antes que o homem vá embora.
Foi curto o tempo em que sai do seu lado, olhando para trás quase que toda hora, quando alcanço o homem e peço o bendito do algodão. Me distraío, pegando o dinheiro, dando a atenção ao seu algodão cor de rosa, que certamente é a sua escolha.
Foi tão rápido, foi apenas um som abafado, um balão voando e o seu sangue manchando o seu lindo vestido branco. Meu olhar recaí sobre você, distante, caída no chão. Uma mulher que tão bem conheço, a esposa do seu pai. Ela tinha uma arma na mão, sua mão tremia e suas lágrimas molhavam sua face.
Foi tão rápido, um descuido... Sua vida foi roubada. De mim você foi tirada e por tudo que você seria um dia, por tudo que poderia ser e não será. Por sorrisos, que não verei outra vez. Faço uso da arma que nunca usei fora do trabalho, com meu coração em frangalhos, minha alma partida, partiria e daria adeus a sua vida, com a mesma impiedade que tirou a da minha menina.
Eu, que no mundo tinha apenas ela. Eu, que não sabia que ele era casado, não quis nada, somente a minha menina. Sem pensão, sem participação e sem o apoio de ninguém. Desde o meu ventre, quando foi fecundada, eramos nós duas contra o mundo. Na minha cama, mais ninguém, se não seus loiros fios de cabelos espalhados pelo travesseiro, entre nós sua boneca predileta e na televisão, os seus desenhos repetidos. Sem se importar, sem piedade, sem misericórdia... Tiraram de mim, a minha linda menina. O meu anjo, meu amor e minha vida.
Com a minha arma, neste momento rompo com o meu juramento, de proteger e servir, dentro da lei. Atiro na cabeça da mulher, que nunca entenderia a dor da perda de um filho, a mulher recentida, magoada e rancorosa que descontou em uma pobre criança a dor de não poder dar ao marido um filho. Filho, que ele teve com a amante. Uma menina, uma linda menina, a luz da minha vida. Amélia.
Culpar a mulher, não posso, ela foi traída, humilhada, não foi abandonada, mas praticamente levou um tapa sem esperar. Tão enganada quanto eu fui, mas Amélia era inocente. Um anjo, isento da maldade do mundo e não merecia pagar. Seu erro e o seu fim. Só queria ver minha filha, meu bebê, meu anjo, minha pequena menina crescer. Coisa que nunca vai acontecer, sua chance roubada, sua vida ceifada.
Um tiro levou a vida da minha menina. Um tiro levou a vida da sua assassina. Sem saber que sou uma policial, um policial em patrulha só viu uma menina, uma mulher perto dela e uma mulher armada. Ele não pensou em mim como sua mãe, pensou em mim como a mulher revoltada.
Não pensei viver isso, não imaginei que tudo resultaria neste fim. Três corpos, um anjo de branco que até minutos antes estava brincando feliz. O mesmo anjinho que me pediu feliz um algodão doce... Num descuido, num tempo tão curto, perdi minha vida duas vezes. Ao menos, não viveria para sofrer, a dor de poder não ver, o que ela seria algum dia.
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