7 - Proposta
Quatro anos atrás
— Meu Deus, eu consegui!
Alana quase saltou diante do computador ao ler a palavra APROVADA, seguida de "BOLSA INTEGRAL".
— Mãe! Pai! — ela gritou, correndo pela casa, os pés batendo feito um terremoto eufórico. — Passei no exame de bolsa! Vou poder estudar Jornalismo na Universidade Augusto dos Anjos sem precisar pagar mensalidade!
Uma chuva forte caía do lado de fora, batendo contra as janelas da sala.
Sentado no sofá, com a perna prejudicava por conta da trombose, seu pai inspirou longamente.
— É a mesma universidade da Sandra, não é?
— Sim... — Alana mordeu o lábio inferior, o coração batendo mais rápido.
— Tem certeza de que você quer deixar Ibirité e ir para Belo Horizonte? A capital engole a alma de jovens como você.
— Eu não sou a Sandra. Não vou seguir os passos dela.
Sua mãe fungou, disfarçando a vontade de chorar enquanto passava roupa.
Eles não falavam sobre Sandra desde que ela abandonara a faculdade, meses atrás. Sabia que seus pais não faziam aquilo por mal; apenas não queria sofrer mais do que sofriam. Sua mãe rezava todas as noites por sua irmã mais velha, para que Deus iluminasse-a e a trouxesse de volta para casa. Alguns amigos diziam que ela estava perdida nas drogas. Outros diziam que Sandra vivia nas ruas, mendigando.
Aquilo ainda era confuso demais para Alana. Sandra nunca sequer fumara na vida. Tanto ela quanto a irmã haviam sido criadas com uma educação rígida. Toda vez que argumentava aquilo com o pai, ele dizia que a capital devorara jovens boas e as transformava em criaturas sem moral.
Haviam tentado encontrá-la, haviam ido até Belo Horizonte atrás dela. Alana vira a irmã acabada com os próprios olhos. Mas Sandra se recusara a voltar e fugira deles. Entrava em contato de tempos em tempos. Fazia um mês e meio desde a última vez que ligara. Mas Alana ainda mantinha esperanças de que Sandra voltaria, de que se trataria. Não desistiria da irmã.
A campainha da casa soou, entrecortada pelo som distante de um trovão.
— Eu atendo — Alana falou quando a mãe fez menção de deixar o ferro e as roupas de lado.
Ela caçou as chaves em cima da mesinha de centro da sala e se dirigiu para a entrada da casa, não deixando que a preocupação do pai estragasse sua alegria te ter conseguido uma bolsa integral para estudar.
Quando estava perto das grades cinzas do portão, enxergou a figura de policial fardado. Com passos cautelosos, ela se aproximou do portão, as sirenes da viatura se refletindo em seus olhos. A chuva continuava caindo sem trégua sobre a calçada.
— Boa noite, mocinha.
— Boa noite — ela respondeu. — No que posso ajudá-lo, policial?
— Esta é a casa da família de Sandra Ramos?
— Sim, sou a irmã mais nova dela. — Nervosismo ensaiou escalar pelas veias de Alana. — Sandra está bem?
— Sua irmã foi encontrada em um beco esta noite, aqui na cidade, sob forte efeito de entorpecentes.
Alana piscou, confusa. As árvores que ladeavam a rua farfalhavam como se estivessem rindo, como se soubessem de um segredo macabro que ela desconhecia.
— Aqui? Em Ibirité? Tem certeza de que é a Sandra?
— Sim. Ela foi levada para delegacia, depois que atacou dois oficiais. Está fora de si. Nós a identificamos graças a um único documento que ela levava consigo.
Relâmpagos iluminavam o céu e a rua; a força do sopro do vento anunciava que a chuva se transformaria em uma tempestade furiosa.
Com o coração aos pulos, Alana tentou travar os tremores das mãos.
"Assuma o controle. Não surte. Respire. Respire fundo".
— Certo. Vou avisar meus pais. Em que delegacia a Sandra está? Vamos para lá agora mesmo.
**************
Atualmente
Alana acordou com o despertador ao som de Lady Gaga. Nada melhor do que uma música energética para arrancá-la da cama.
Ao desligar o alarme, notou que havia uma mensagem de Alex em seu celular.
Sentiu o coração disparar contra sua vontade e mirou a queimadura em sua pele; ele havia sido tão gentil na noite anterior, e a surpreendera de diversas maneiras.
"Assim que chegar na universidade, venha me procurar em minha sala".
Ela mordeu o lábio. Será que era outra alteração que precisaria fazer no artigo, antes de publicá-lo? Bom, descobria quando chegasse lá.
Após tomar um banho rápido e se trocar, Alana enfiou um pão e uma xícara de café goela abaixo, apanhou sua bolsa e correu até o ponto de ônibus. No caminho até a universidade, navegou pelos aplicativos de emprego, procurando por uma vaga em que pudesse se candidatar.
Preciso encontrar alguma coisa, para continuar pagando a clínica de Sandra.
O único problema era que a maior parte das vagas chocava com o horário do seu curso. E parar de estudar não era uma alternativa.
Mas Sandra...
Alana agitou a cabeça.
Era um novo dia. E, como sua mãe costumava dizer, novos dias nasciam com novas oportunidades.
Ao descer do ônibus, repetiu sua costumeira performance de coelho de Alice no País das Maravilhas enquanto rumava para a sala de Alex, ao mesmo tempo em que enviava outra mensagem para Viviane.
"Por que não me responde, Vivi? Ainda está brava? Foi uma brincadeira. Pablo, Renato e eu não tivemos intenção de te ofender. Me desculpa, tá?".
Enfiando o celular no bolso, ela parou diante da porta de Alex e ergueu a mão, pronta para anunciar sua chegada.
Um frio estranho revirou seu estômago.
Céus, pare de agir como uma idiota!, brigou consigo mesma. Sim, seu professor te ajudou na noite passada, mas ele continua sendo seu orientador. Nada mudou. Vocês ainda vão publicar um artigo juntos.
Mais confiante, bateu na porta e esperou a autorização para abri-la.
Assim que entrou na sala, Alana foi atingida por um cheiro envolvente de colônia masculina.
— Bom dia, professor... Quero dizer, bom dia, Alex.
— Bom dia, Alana. Obrigada por vir tão rápido.
Olhou-o; Alex estava em pé, e a luz matinal que entrava pela janela trabalhava a favor dele, harmonizando a tempestade dos olhos, os cabelos fartos e o azul da camisa em uma vibração intensa.
— Sente-se — Alex pediu, apontando para uma das cadeiras.
Magnetizada pelo cheiro forte da colônia dele, ela o obedeceu.
— É sobre o artigo? Preciso mudar mais alguma coisa?
— O artigo está perfeito. — Alex se virou, puxando a cadeira e se sentando diante dela. — Te chamei aqui para falar sobre outra coisa.
Ela tentou ignorar aquele nervosismo que a mordeu, e colocou um semblante impassível no rosto.
— Sobre o quê?
— Assim como você, também tenho meus problemas. E, depois de pensar muito, cheguei à conclusão de que podemos nos ajudar mutuamente. Foi por isso que te chamei aqui. Pare te fazer uma proposta.
Alana anuiu, imaginando que tipo de problema um professor jovem, bonito e rico como Alex poderia ter.
— E qual é a proposta?
Alex inclinou o rosto, os olhos claros cravados nos dela.
— Vamos nos casar, Alana.
Quem se candidata ao cargo? xD
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