Capítulo 4
Ully
Ao abrir os olhos me deparei com ele,tinha a pele levemente bronzeada,olhos escuros como a noite e cabelos pretos levemente bagunçados como se tivesse passado os dedos por ali muitas vezes. Eu não entendo. Reparo em suas asas negras abertas se movendo como se levadas pelo vento.
- Eu estou morta? - pergunto confusa. A princípio ele apenas fica ali me olhando tão intensamente que eu não consigo raciocinar direito.
- Ainda bem que não. O que você estava pensando? Pulando desse prédio assim no meio da noite? Não vê que há pessoas aqui se sentiriam a sua falta? - ofego surpresa com seu surto,esse estranho estava mesmo me dizendo que eu estava sendo egoísta por tentar tal coisa. Eu não estava estendendo mais nada,isso tudo deve ser um sonho ou provavelmente já estou morta e apenas fantasiando um caminho alternativo de minha vida. Só podia ser isso.
- Me ponha no chão,por favor. - digo constrangida e um pouco irritada com toda a situação.
- Me prometa que não vai mais fazer isso de novo. - diz o anjo em um tom de preocupação. Se eu realmente estivesse viva o que a presença dele significava para mim? Será que foi Deus quem o enviou? Mas ele nem me respondeu quando orei para ele. Eu não mereço isso se foi coisa dele. Ainda estou chocada com o ser celestial a minha frente,ele realmente era lindo e suas asas negras pareciam tão macias que eu por um segundo pensei na possibilidade de toca-las para comprovar se eram mesmo.
- Eu não compreendo,porque você está aqui? Séria melhor para todos se eu simplesmente me fosse. Porque não me deixou ir?! - gritei a última frase exasperada. Nem para isso eu era útil.
- Não volte a repetir um absurdo desses! - esbravejou o anjo com raiva.
- E por que não? É a verdade,Deus nem se importa comigo,ele não está nem aí, eu tentei falar com ele e olha só! Nem uma resposta. Porque ele mandaria você? - dessa vez o anjo fica calado sem ter uma resposta. Eu sabia,ele não tinha explicação para isso porque realmente não sou importante.
- Está vendo! Então não venha me dizer o que fazer. - digo caminhando até a beirada do prédio de novo. - ele corre até mim e me segura pelo pulso me impedindo.
- Eu não vou deixar você fazer isso. - diz em um tom duro com os olhos semicerrados.
- Me solta,me deixa ir,por favor. Eu não quero mais sentir dor. - peço em suplica.
- Isso não vai fazer a dor parar,você só vai estar indo para um lugar aonde sentirá muito mais dor do que pode imaginar. Eu vou ajudar você a ficar bem de novo. Eu vou te ajudar,você só precisa confiar em mim. - ele pede seus olhos brilham como em súplica. Me ajudar? Como ele iria fazer isso? Será que um dia eu poderia voltar a ser feliz? Será que um dia eu poderia parar de me sentir como se um trator tivesse passado por cima do meu coração? Havia esperança? Eu queria descobrir. Esse anjo misterioso poderia me ajudar a ser a Ully feliz e extrovertida de antes de tudo isso? Eu queria saber. Olho para suas mãos em meu pulso,olho para a cidade lá em baixo para os carros passando e as pessoas andando despreocupadas.
- Tudo bem. Vamos tentar. - digo baixinho,ele solta um suspiro aliviado e solta meu pulso lentamente.
- Vamos,eu vou te colocar na cama. - diz pegando minha mãe e me conduzindo para as escadas lá em baixo. Notei que ele sabia exatamente aonde era o meu quarto,fico pensando como ele sabe dessas coisas,os anjos ficam observando agente? Será que isso é o tempo todo? Que loucura a minha vida está se tornando.
Um anjo está segurando minha mão e quer me ajudar a ser feliz de novo,o quão louco isso pode ser? Será que isso acontece com as pessoas o tempo todo? Eu não sei mas acredito que não,se não alguém teria contado a história, certo? Eu devo estar ficando louca de vez.
Tio Eddie vai me internar no hospício e com razão. Chegamos ao meu quarto e ele arruma os lençóis para eu me deitar. Eu me deito e ele me cobre até a cintura. Eu me sinto tão estranha com tudo isso como uma criança sendo posta para dormir mas de algum modo é tão... bom. Ele dá um sorriso cheio de dentes brancos e perfeitos para mim e me pega de surpresa me dando um beijo carinhoso na testa. Eu apenas fico ali parada o observando totalmente fascinada.
- Agora vá dormir. Eu estarei te observando. - diz de pé ao lado da minha cama. Porque ele está fazendo isso se não foi Deus quem o mandou? Uma curiosidade repentina avassaladora bate em mim e estou cheia de perguntas para fazer a esse ser celestial fascinante.
- Eu tenho que ir agora. - ele diz se virando para ir embora.
- Você vai voltar? - Pergunto percebendo que eu não queria que ele fosse tão rápido. Ele voltaria,certo?
- Eu vou sempre estar cuidando de você, Ully. - e assim num segundo ele evapora de minha visão,assim tão rápido quanto ele chegou,ele também se foi. Ele não respondeu a minha pergunta de verdade mas eu esperava que ele cumprisse sua promessa de me fazer voltar a ficar bem de novo.
Acordo com o sol incomodando meus olhos e imediatamente me lembro de tudo que aconteceu antes,eu me joguei do prédio! E um anjo veio e me salvou e ficou comigo e me trouxe pro meu quarto. Eu não tenho provas de nada do que aconteceu. Olho ao redor vasculhando todo canto do quarto,acredite eu olhei até em baixo da minha cama mas não havia ninguém, ele não estava ali.
Será que foi tudo fruto da minha imaginação?
Foi apenas um sonho ou ele realmente esteve aqui ontem?
E se fosse real,ele iria voltar e ver como eu estava?
Eu nem sei o seu nome,mas ele parecia saber o meu.
O anjo voltaria por mim?
Eu esperava que sim.
Patch
Nem acredito que consegui a convencer de me deixar tentar consertar as coisas,estão tão aliviado que poderei ajudar ela. Ver ela em carne e osso assim tão de perto era diferente,estar ali fisicamente para ela era uma coisa que eu nem poderia explicar. Mas agora eu preciso resolver outra coisa,está na hora de voltar ao céu e receber minha punição, afinal eu tinha desobedecido a uma ordem do Pai. Eu não sei o que me aguarda.
Assim que pouso no céu Candriel e Faille vem ao meu encontro.
- O que você fez,Patch? O Pai deve estar furioso! - diz Faille sem nem me deixar falar.
- Fiz o que era preciso. - digo em um tom duro para ela. Sei que só está preocupada comigo mas não poderia ficar parado esperando Ully se jogar daquele maldito prédio.
- O Pai quer falar com você, irmão. Eu te avisei. - diz Candriel me olhando com certa tristeza.
- Aconteça o que acontecer,eu não me arrependo de nada. - digo deixando os dois chocados.
- Então você é mais imprudente do que eu temia. - diz Faille bufando.
Vou ao encontro do Pai que está sentado em seu trono como de costume.
- Pai. - o comprimento abaixando a cabeça.
- Você desobeceu a uma ordem minha,filho. Porque fez isso? Agora não terei escolha a não ser puni-lo.
- Eu compreendo meu Pai mas não me arrependo de salva-la.
- Muito bem,você descumpriu uma das minhas ordens porém salvou uma vida humana inocente e por isso eu o sentencio ao exílio por 6 meses. - Se eu não tivesse que voltar para ela,eu teria ficado grato por isso já que eu deveria ter sido expulso do céu por desobedecer a ele mas o desespero me toma porque ela vai achar que eu menti,que não me importo com ela.
Vai pensar que não vou mais voltar.
Só posso esperar que ela fique bem até lá.
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