Ully

Os dias tem se passado devagar, as séries na televisão estão começando a ficar enjoativas,o brigadeiro que antes comia todas as noites me faz querer vomitar agora. Eu sabia o porque eu não via graça em nada,o porque não conseguia me manter focada nos estudos. Preocupação,saudades,tristeza. Acho que todos esses sentimentos contribuem para que eu me sinta tão deixada de lado. Scott e Ebie tem passado um bom tempo juntos,o que é bom. Só não é quando quero Ebie falando pelos cotovelos perto de mim.  Estou sentada no sofá vendo um filme qualquer quando Ebie sai do quarto de Scott chorando me levanto na hora e vou até ela,ou pelo menos tento pois ela está com certa pressa. Muita pressa. Coloco a mão em seu ombro.

- Está tudo bem? Porque está chorando?

- Não quero falar sobre isso agora,Ully. A gente se vê na escola. - faço que sim e ela vai embora. Vou até o quarto de Scott e o mesmo está no mesmo estado de Ebie. Me sento em sua cama e ele não olha para mim.

- Quer falar? - ele balança a cabeça negativamente. - Seja lá o que tenha rolado,Ebie também não está nada bem. Posso perguntar pelo menos o motivo de tudo?

- Ebie quer ficar comigo mas eu não quero. - Ao escutar isso me levanto em um pulo e o encaro séria.

- Por favor,me diz que você não foi um idiota sem coração. Porque Ebie é minha amiga e é uma pessoa muito boa,você não pode...

- Não fui um idiota! Eu espero. É que eu apenas não posso,não dá... - essa confissão me deixa um pouco mais aliviada.

- Olha,se você nãofoi idiota e desrespeitoso com ela,tudo bem. Ninguém pode te obrigar a gostar de ninguém mas vocês fariam um ótimo casal.

- Essa não é a questão,Ully. Eu gosto da Ebie,de verdade.

- Gosta? Então porque você não aceitou?

- Não é obvio? - ele olha para baixo. - O que ela poderia querer com um cara como eu? Agora sou praticamente inutil! Não quero esse peso pra ela. Não quero ser um estorvo na vida de ninguém. - Ve-lo falando essas coisas de si mesmo me deixou tão mal. O meu primo cuja auto-estima sempre esteve tão alta. Culpa.

- Você não é um estorvo pra ninguém,Scott. É um cara super legal,boa pessa e tem um coração tão bom. Eu queria ter metade da compaixão que você tem. Sem contar que é um gato! Todas as meninas da escola falam bem de você! Você é uma pessoa incrível. E eu sinto muito pelas suas pernas. - ele enchuga as lágrimas.

- Me desculpe,prima. Eu não estou falando isso para que se sinta mal,eu só preciso de um tempo. Minha vida mudou de uma hora pra outra e isso assusta tanto. Eu queria poder voltar a fazer as coisas que eu fazia antes,andar por aí,jogar,correr. Coisas que eu não posso mais e me deixam tão...aprisionado por não poder faze-las. Só queria que tudo voltasse a ser como antes.

- Antes de eu chegar. - concluo.

- Não. Eu nunca mudaria sua chegada,tem um gosto horrível pra comida mas não para séries. Isso conta muito. - sorrio e se faz silêncio.

- Scott. Sei que você acha que isso é o melhor pra Ebie mas ela gosta muito de você e tenho certeza que o que ela pensa de você,não é isso. Deixa ela fazer suas próprias escolhas. Você quer ficar com ela?

- Quero. - responde em um sussurro.

- Então vai por mim,você não vai querer ver ela longe. Vai sentir saudade e depois vai ficar triste e vai se lamentar por não ter feito diferente. Passe por cima dessas coisas que você acha que ela não merece e veja o que ela realmente quer e prioriza.

- Acho que você tem razão. Mas você acha mesmo que ela vai gostar de mim mesmo...assim?

- Scott,eu posso afirmar que Ebie gosta de você independente de como você está. Ela se preocupa. Agora me diz,o que disse a ela?

- Que não poderíamos ficar juntos porque ela merecia alguém melhor.

- Ah,Scott. E o que ela respondeu? - ele sorri.

- Que nunca encontraria alguém como eu mas que respeitava a minha decisão. Sou tão idiota. Eu a magoei,não foi?

- Vamos resolver isso. Não se preocupe. Quanto a sua perna... - toco nela. - Eu realmente queria poder fazer algo por elas,se eu pudesse eu trocaria de lugar com você naquele carro. Eu trocaria sem pensar duas vezes. - digo e Scott assente.

- Eu sei,prima mas eu nunca pediria tal coisa a você. - me sento novamente na cama e ajeito os lençois para ele que estavam desarrumados. - Valeu. - ele da uma risadinha. - Você me ajuda com Ebie amanhã?

- Com certeza! - dito isto saio do quarto e vou pegar algo na cozinha mas logo vou correndo para o quarto quando escuto o grito de Scott chamando meu nome. Chego lá o mais rápido possível.

- O que houve?!

- Você vai achar que eu estou ficando louco mas acabei de sentir minhas pernas.

- O que?! Sério? Isso é ótimo!

- Não Ully,você não está entendendo. - ele suspira profundamente e lentamente levanta da cadeira de rodas como se nunca tivesse tido problemas em andar antes. Nós dois nos olhamos chocados. Scott anda pelo quarto todo sorrindo e da uns pulinhos baixos.

- Isso é incrível! - exclamo.

- Não. Isso é um milagre! Eu não entendo,as fisioterapeutas não conseguiram nada e do nada eu apenas ando. Que estranho,mas não estou reclamando! - Ficamos os dois pulando e comemorando a boa notícia mas na minha cabeça eu não parava de pensar em como isso aconteceu. Como Scott ficou bom de repente? Será que foi Deus? Com certeza Scott deve ser muito querido para ele. De qualquer forma,estou muito feliz por Scott. Acho que ele tem uma certa razão. Isso só pode ter sido um milagre mesmo!

Patch

Faille e eu estavamos em uma missão no Canadá quando eu senti,senti algo saindo de mim,como se tivessem pegado algo sem a minha permissão ou coisa assim. No mesmo instante eu compreendi o que estava acontecendo. Ully usou poder,o nosso poder. Me encolho um pouco com a estranha sensação. Era estranho,uma sensação de perda mas ao mesmo tempo de...ligação. Como se estivéssemos unidos,como se ela estivesse comigo aqui,agora.

- O que foi? - pergunta Faille procupada.

- Senti um puxão. Nunca senti isso antes mas acho que tenho certeza que Ully acabou de curar alguém. Sinto como se tivesse acabo de fazer isso.

- Isso é ruim. Isso é muito ruim,vamos voltar pra casa,agora. - seguro Faille.

- O que o Pai fará com ela?

- Não sei. Seja o que for,será necessário. - Não gostei nada de sua resposta.