15. Saúde do Jungkook
Observei o rosto gordinho de Nayeong se afundar ainda mais contra meu peito, o sono aos poucos dominando seu corpo e todo seu interior. A paz verdadeira sendo observada em todas as suas micro expressões ao dormir tão profundamente. Colocando-a sob estado de inconsciência devido a crise de dor intensa que sentiu.
Analisando todas as suas feições ela parecia ainda sentir dor, mesmo dormindo. Sem muito ter para onde ir, relaxei o meu corpo, encarando a porta e a luz por debaixo da fresta. Apesar de me sentir disposto, o sono aos poucos fora me consumindo e breves cochilos consegui dar. Encostando o queixo na cabeça de Nayeong, enquanto seu corpo pequeno se encolhia ainda mais contra mim, buscando abrigo.
Porém, antes que o sono pudesse me consumir inteiro, o meu celular vibrou. E com a mão que ainda me restava vaga, enfiei-a dentro do bolso, puxando de lá o celular. Atendendo de imediato o telefone.
— Min Yoongi? — A voz do outro lado parecia tensa, ao mesmo tempo que um misto de nervosismo lhe consumia.
Observei o rosto de Nayeong, que ronronava baixinho. Então, suspirei, limpando o máximo minha garganta para que não acabasse falando alto demais.
— Ele mesmo. Quem é? — O tom soou baixo, curioso.
— Aqui é do hospital de Seul, o hospital principal. É o doutor Jeong Sanha, médico particular da família Jeon. — Ao que ele terminou de falar, os meus olhos se arregalaram e meu corpo tencionou.
Jungkook.
— O que aconteceu? — Respirei fundo, sentindo que poderia hiperventilar a qualquer momento. Mas, o que me desesperou é não conseguir sentir a marca. Fora toda a sensação de fadiga em meu corpo.
Algo aconteceu com Jungkook.
— Jeon Jungkook deu entrada no hospital, às 20:30 da noite. Ele acabou desmaiando no trabalho. Os funcionários o encontraram desacordado. — A voz do doutor parecia suave, mas, diferente da voz, meu coração errava todas as batidas. — Precisamos que o senhor compareça ao hospital.
— Ele chamou apenas por mim? — Questionei, encarando Nayeong que dormia tão profundamente que eu apenas pude sentir sua paz.
— Chamou pelo senhor e por Choi Nayeong, o senhor conhece? — Acenei, mesmo que ele não pudesse ver.
— Sim, conheço. Não demorarei a chegar. — Informei-o, e logo depois de todas as informações passadas. A luta viria.
Acordar Nayeong, mesmo que não houvesse necessidade da ida dela, já que estava dormindo e profundamente. Contudo, respirei fundo, encarando o teto e pedindo uma calma que até então eu conseguia disfarçar bem que tinha.
Mas, todo o meu interior estava exausto. Esse era um dos efeitos da marca, mesmo que você não tivesse ciência do que estava acontecendo, seu corpo daria indícios do que seria. Com todo desgaste de Jungkook, o meu corpo estava sendo desgastado. Nossa ligação permite que isso aconteça.
Coloquei minha mão sobre a bochecha de Nayeong, sentindo a pele quente. Olhei-a por mais alguns minutos e devagar balancei seu corpo pequeno.
— Nayeong? Acorde. — Chamei-a, perto o suficiente do seu ouvido, para que pudesse ver os pelinhos de sua nuca se arrepiarem. — Acorde, Nayeong.
— Me deixe dormir, Yoongi. — Bateu levemente em meu peito, ronronando baixinho e se encolhendo contra mim. Desviando de minha mão em seu rosto.
— Nayeong, precisamos ir até o hospital. — Disse baixo, e ela negou.
— Você está pra ter um bebê? — Eu neguei, sem entender. — Então não há necessidade de irmos a um hospital.
— Acorda, peste! — Balancei-a novamente e observei seus olhos felinos me encarando. Pequenos e vermelhos, pelo sono.
— Peste é você! Chato!
Os meus olhos se arregalaram pela falta de respeito. Mas, por aquele momento optei por deixar passar.
— É o Jungkook, Nayeong.
Só bastou tais palavras, que toda sua expressão desmontou, assim como a minha já estava desmontada a um grande momento. Vi suas bochechas corarem mais, seus olhos lacrimejarem e seu lábio tremer.
— Não aconteceu nada de grave com ele não né? — A voz soou chorosa, e ela logo se levantou, ficando sentada na cama, com o lençol ainda lhe cobrindo o corpo nu.
— Não, Nayeong. Ele desmaiou, o médico dele disse que ele chamou por nós dois. — Aos poucos desci da cama, olhando para ela que fungava.
Eu também desejava chorar. Com as mãos dentro dos bolsos, respirei fundo, colocando a mão sobre o peito e tentando manter minha calma. Ele ficaria bem, ele tinha que ficar bem.
— Vou me vestir. — Confirmei, devagar. Andando em direção a porta e passando as mãos sobre meu rosto, tentando me manter acordado.
— Coloque roupas quentes, está terrivelmente frio lá fora. — E após dizer, eu saí.
Caminhando em direção ao quarto, procurando a primeira coisa que me aparecesse, para que eu pudesse colocar em meu corpo. Qualquer peça quente poderia servir. Com as mãos trêmulas, quase tive dificuldade de vestir a roupa, mas, com um pouco de esforço, obtive êxito.
Eu estava a poucos passos de chorar, por causa da preocupação fodida que meu peito abdicava. Mordi os meus lábios, puxando os meus óculos e por fim, minha touca preta. Ao colocá-la na cabeça, depois dos óculos, apressei os meus passos para fora do quarto, vendo Nayeong sair também do quarto.
Tão rápido quanto eu, ela se arrumou. Uma coisa que preenche nos dois, na mesma intensidade, é o amor que sentimos por Jungkook e isso jamais vai mudar.
— Yoonie..— A voz receosa de Nayeong preencheu meu ouvido assim que descemos as escadas, caminhando em direção a porta de saída da casa.
Pelo tom de sua voz, eu sabia do que se tratava. Mas, dentre todas as certezas que eu tinha em minha vida, eu sabia que ele ficaria bem. O possibilidade de perdê-lo estava fora de cogitação.
Meu coração estava cansado de perder pessoas, e pensar na possibilidade me fez fungar baixinho. Sentindo o ardor dos meus olhos. Mas, disfarçando bem como eu sempre fiz, sequei os meus olhos.
— Ele vai ficar bem, Nayeong.
Dito isto, entramos dentro do carro.
*
— Como ele está? — Minha voz saiu trêmula. Pude sentir as minhas bochechas esquentarem e todo o desespero aos poucos consumir meu corpo. Ao meu lado, Nayeong apenas absorvia as informações em silêncio, os olhinhos completamente marejados.
A falta de informações estava nos levando ao desespero tão facilmente, que eu poderia desmaiar ali mesmo.
Era raro irmos em hospitais e principalmente desmaiarmos devido a algo. Nas últimas vezes, precisamos ir a hospitais para colocar curativos em nossas marcas. Fora este acontecimento, nunca mais pisamos em um hospital depois disso.
Mas, ao observar o rosto do doutor e ver sua expressão preocupada, fez todos os alertas de meu corpo se alarmarem.
— Eu cuido da saúde do Jungkook desde que ele era pequeninho. Ele jamais parou aqui, era forte e resistente, mesmo sendo um vermelho. Mas, me admira que ele tenha dado entrada no hospital e o diagnóstico seja anemia. — As minhas mãos passaram sobre o rosto e eu me encostei na parede, Nayeong ficou quietinha.
Os olhinhos pequenos completamente amuados. Por um instante, eu respirei fundo.
Não era uma surpresa para nós dois que ele viesse se esgotando daquela maneira, ao ponto de ter anemia. Mas, as vezes é melhor fingir que não vê, do que dar conselhos que jamais serão seguidos.
— Não me é uma surpresa. — Comentei baixo, encarando os olhos do médico que suspirou. — Ele vem trabalhando mais do que o esperado e sequer tem tempo para comer, descansar e até mesmo dormir. Tem dias que ele quase não vem para casa, e outros que ele até dorme no trabalho.
— Eu já imaginava que o menino Jungkook fosse teimoso, mas, não ao ponto de negligenciar a própria saúde. Principalmente ele, que é um vermelho, deve ter cuidado total com tudo. — Eu não me opôs a negar nada, era a pura verdade.
Mas, dizer isso a Jungkook e fazê-lo compreender, era difícil. Sua teimosia queima os neurônios de qualquer pessoa e talvez, apenas talvez, eu e Nayeong tenhamos ignorado.
Porém, ali estava o problema.
— Como ele está?
Depois de um tempo checando a ficha de Jungkook, ele sorriu, breve. Mesmo que seu sorriso não fosse absolutamente nada animador e os meus olhos estivessem aos poucos fechando pelo sono que eu sentia; eu retribui ao seu sorriso, com um totalmente sem graça.
Nayeong ao perceber, riu baixinho. Assim como eu, ela estava caindo aos pedaços de tanto sono. Fora que a cada segundo, mexia as pernas, provavelmente desconfortável ou a dor havia voltado.
— Ele está descansando. Aplicamos remédios para que ele se sentisse melhor e eu estou receitando várias listas do que ele deve seguir, para que possa melhorar. — Comentou, puxando debaixo dos outros papéis, três papéis totalmente diferentes. Mas, que estavam lotados de indicações e receitas. — Uma são os remédios que ele deve tomar, a outra são receitas breves de alimentação e atividades físicas e por último, essa última é a de afastamento do trabalho.
— A única coisa que precisamos fazer é convencer ele a afastar-se. Mate-o, mas, não o afaste do trabalho. — Nayeong disse rindo baixinho, pegando as receitas, assim que coloquei em suas mãos. — Ele é mais teimoso que um gato adolescente.
Eu ri pela comparação e confirmei.
— Vocês terão que obrigá-lo. Ameaça ou por boa vontade. — Nós três rimos juntos. Mas, confirmamos. Seria difícil, mas, não seria impossível.
— De acordo. — Suspirei, me sentindo cansado. — Podemos vê-lo?
Sanha confirmou, afastando-se levemente da entrada da porta.
— Ele passará a noite aqui, para observação. Mas, amanhã já será liberado.
Nós confirmamos, e quando o médico se foi. Entramos pacientemente no quarto.
Boa parte do meu ser tremeu. O meu profundo ódio de hospitais jamais sairia e ali dentro, eu percebi que as lembranças ruins que me assombravam até os dias de hoje não haviam sumido. Sentei-me na poltrona ao fundo do quarto e apoiei minhas mãos nas pernas, respirando fundo para que não surtasse.
Nayeong por sua vez, apenas olhava ao redor. Os olhos redondos capturando cada detalhe do quarto sem graça e de tons brancos. Seus olhos encararam Jungkook, que dormia profundamente.
Sua face parecia abatida, assim como o tom de sua pele que se encontrava ainda mais pálido. E na testa, tinha um curativo. Machucou-se feio ao cair ao chão quando desmaiou. Senti meu peito apertar, então, encarei os meus dedos.
Eu o faria engolir os dentes se não me obedecesse.
— Jungkookie? — Encarei Nayeong assim que sua voz ecoou em meus ouvidos. Ela estava próxima a cama, segurando a mão dele e beijando levemente os nós de seus dedos.
Eu sorri fraco. Me levantando devagar e caminhando em direção a cama e me posicionando do outro lado, capturando a outra mão de Jungkook. Estava fria. Coloquei-a entre as minhas mãos quentinhas e Nayeong parecia fazer o mesmo.
— Ele tá tão gelado que parece que tá morto.
Sua constatação me fez arregalar os olhos e eu encarei-a. Nayeong riu baixo.
— Nayeong, calada.
— Calado você. É apenas uma constatação. — Riu baixinho, beijando os nós dos dedos de Jungkook com total paciência.
— Por Deus, que inconveniente. — Ela me deu língua e eu apenas retribui, infantilmente.
— Mas, analise bem..— Ela passou os dedinhos curtos pelas bochechas de Jungkook, que dormia tranquilo. — A pele dele tá bem fria, fora que ele tá bem pálido e com um machucado na testa. No máximo, eu chutaria um morto vivo.
— Nayeong! — Eu acabei rindo pela forma inocente que ela apontava os próprios pontos, enquanto encarava com os olhinhos curiosos cada detalhe de Jungkook.
— Será que doeu, Yoongi?
— O que? — Pisquei algumas vezes, sem entender. Brincando com os dedos de Jungkook, observando a respiração leve dele. Parecia em paz.
— Quando ele caiu do céu. — Apontou para Jungkook, sorrindo. — Tão bonito, mesmo com um estado meio morto-vivo.
Eu acabei rindo verdadeiramente, colocando a mão sobre o peito.
— Você tá jogando essa cantada pra cima dele, enquanto ele está em estado inconsciente? Nayeong. — Ela ria, tão verdadeiramente quanto eu. — Mas, deve ter dado uma dor mesmo. Pensando por esse lado.
Nós rimos de novo. Mas, como estávamos em um hospital, fechamos o bico.
Voltei a me sentar, logo após deixar um beijo na bochecha de Jungkook. Que estava menos protuberante do que antes. Ao me sentar, olhei ao redor, vendo que apenas tinha uma única poltrona.
— Eu posso voltar para casa. Não tem como dormimos aqui. — Nayeong disse, logo após perceber o mesmo que eu. Eu neguei.
— Já é tarde o suficiente e é perigoso para sair assim. — Ela tentou dizer algo, mas, eu fui mais rápido em negar.
— Eu até cogitei dormir ao lado de Jungkook, mas, ele é todo grandão e ocupa a cama toda. — Suspirou, rindo fraco. Sua postura tornou-se outra devido ao cansaço e as dores ainda recentes.
Mesmo que ela não dissesse, eu conseguia compreender que ainda sentia dores. O calor que recebeu não fora o suficiente para que a dor passasse, e o tempo que ela pegou no sono foi tão pouco. Juntando as duas coisas, é pedir para amanhecer dolorido e completamente de mau humor.
Olhei para cima e apenas respirei fundo, passando as mãos sobre meu rosto.
— Venha até aqui. — Chamei-a baixo e bêbada de sono, ela caminhou até mim. — Sente-se em meu colo.
— Mas, Yoongi, vai incomodar.
— Você acha mesmo que eu iria conseguir me virar nesta poltrona? — Ela negou, ao que analisou a poltrona toda. — Venha, sente-se.
Devagar, Nayeong sentou-se em meu colo, de lado e colocou as pernas sob o encosto de braços da poltrona e deitou a cabeça em meu pescoço. Ajeitei-a em meu colo, buscando que ela ficasse confortável, assim como eu desejava ficar confortável naquela condição. Abracei-a com meus braços, e respirei fundo piscando algumas vezes, completamente perdido de sono.
— Yoonie..
— Durma. Feche os olhos e durma.
— Obrigada. — Disse baixinho. Eu não consegui arrumar palavras para respondê-la, devido à emoção diferente e ao mesmo tempo tão parecida com a qual invadiu meu interior quando estávamos no quarto. Mas, antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ela já ressonava baixinho como um bebê.
E observando-a dormir eu fiquei, assim como zelava pelo sono de Jungkook. Mesmo que meu corpo implorasse por descanso.
Em um meio de sensações inconstantes, eu pude sentir todos os meus gatilhos sendo acionados. Ao meio do silêncio fraco, enquanto os dois dormiam profundamente, as lágrimas quentes e salgadas desciam pelas minhas bochechas, anunciando-me que aquela situação me afetou ainda mais do que eu gostaria.
Olhando para cima, enquanto os meus olhos ardiam terrivelmente, fora impossível não me lembrar dos motivos do meu ódio eterno de hospitais. Talvez, os locais de saúde não tenham culpa pelo meu trauma, mas, de toda forma; ainda é uma dor que precisa ser superada por mim. Mesmo, que durante anos, eu tenha apenas aprendido a suportar.
FLASHBACK
— Fale comigo! Não durma, não durma!
O garoto gritava aos quatro cantos. A situação estava caótica devido ao acidente, que culminou com os choques entre os indivíduos e seus devidos automóveis. Os danos, apesar de poucos, seriam muito maiores para a mente daquele homem.
Este, que segurava o irmão nos braços, enquanto aos poucos, via a expressão dele suavizar em sua frente. A dor era branda em seu rosto, mas naquele momento, ele sequer pensou em si.
— Está tudo bem. — Disse o outro, segurando firme as mãos do irmão. Ele sentia, que aos poucos, a paz ia consumindo todo seu ser. Perguntou-se, se era daquela maneira a sensação de morte. Era assim que a morte era? Em paz e completamente branda.
Aquela sensação de carinho, um abraço apertado ou um beijo na bochecha. É aquela sensação tão boa, que te faz querer sentir ainda mais? Caminhar em direção a luz, que era assim como sempre disseram.
O alfa azul chorava descontrolado, ao observar aos poucos o irmão desfalecendo em seus braços.
— Sangmin, não durma.
— Yoonie, está tudo bem. V-vai ficar tudo bem. V-você vai ficar bem..— Os cantos de seus lábios estavam manchados pelo vermelho do sangue que escorria. Yoongi se desesperou ainda mais.
— Não..— Pausou, enquanto chorava descontrolado. As pessoas ao redor, simplesmente sumiram de sua visão. Não conseguia enxergar nada ao redor, somente o rosto bonito e gentil de seu irmão. — Sangmin, me perdoe. A culpa foi minha. Não durma!
— Não foi culpa sua, maninho. — Baixo, lento, ele respondeu. Um sorriso mínimo brotando em seus lábios. — Não é sua culpa..
O toque das mãos aos poucos fora se tornando leve, as lágrimas de Min Yoongi cada vez mais fortes.
— Sang..— O grito doloroso foi cada vez mais audível. Yoongi sentiu o peito ser pisoteado várias vezes. Soluçou até não conseguir mais parar.
— V-vai ficar tudo b-
Mas, ele não conseguiu terminar a palavra antes de simplesmente se entregar a sensação tranquila e caminhar em direção a luz bonita.
Aos poucos, a morte abraçava o corpo de Min Sangmin. Que morreu nos braços do irmão mais novo, Min Yoongi. Este que por sua vez, observava o rosto do irmão e chamava-o de forma desesperada, para que não dormisse e voltasse para si.
FLASHBACK
A lembrança tão dolorosa me fez fungar baixo.
Não sei por quanto tempo eu fiquei perdido nos meus próprios pensamentos de lembranças tão dolorosas, que ao olhar para baixo, os olhinhos de Nayeong me encaravam.
Ela não disse uma só palavra, tampouco precisava. O meu coração já estava lotado de sensações e lembranças ruins, ao ponto de simplesmente eu não conseguir me intimidar ou sentir medo de mostrar meus verdadeiros sentimentos. Que durantes esses longos anos, nunca pararam de doer. Apenas se tornaram brandos.
Limpei as minhas bochechas, secando as lágrimas recentes e respirando fundo.
— Não está com sono?
— Ainda dói? — Nayeong perguntou.
— O quê? — Questionei confuso.
A princípio, não entendi seu questionamento. Mas, aos poucos, minha mente se clareou e pude perceber do que se tratava sua pergunta.
— Quero saber se ainda dói..
— Todos os dias eu sinto doer. Principalmente agora, dentro de um hospital. — Baixo, eu lhe respondi. Vendo-a acenar devagar. — Parece que tudo volta com mais clareza ainda.
— Não conheço você, sequer sei sobre seu passado..— Pensou, parecendo procurar palavras o suficiente para dizer. — Mas, seja o que for.. não é sua culpa.
— Por que diz isso? Talvez possa ser minha culpa, Nayeong.
E talvez, o meu coração tenha acelerado vários batimentos.
— Porque é algo normal, que acomete todos os humanos, principalmente quando algo acontece com alguém que amamos. A gente se culpa, por algo que não temos culpa. — Acenei devagar para suas palavras. Piscando tão atordoado, nem tive capacidade de mencionar alguma coisa. — Então, seja o que for, não foi sua culpa.
— Por que acredita tanto que talvez não tenha sido minha culpa?
— Vendo pelo meu lado, e pela nossa relação conflituosa, eu não acredito que você seja uma pessoa cruel — Eu revirei os olhos. — Ao ponto de culminar para que algo de ruim pudesse acontecer com alguém que ama. Você só é insuportável comigo, mas, é isso.
— Se sua tentativa foi me animar, parabéns.
— Disponha. — Eu ri, fraco. Enquanto revirava os olhos.
Ela apenas ronronou baixinho.
— Agora durma.
Dito isto, ela fechou os olhos. E mesmo com aquela sensação estranha, que sempre insistia em aparecer quando ela estava por perto, eu fechei os meus olhos. Dormindo ou cochilando.
*
Aos poucos eu acordei com os barulhos baixinhos de risadas. Sentindo a dor fodida nas minhas costas e em todo meu corpo. Mas,tampouco tive ânimo de levar o olhar até onde vinha as risadas.
Mas, eu tinha plena certeza de quem seriam. Um sorriso fraco surgiu em meus lábios, mesmo com os olhos fechados e cogitando abri-los. Apenas para dormir um pouco mais.
— Jungkookie, você já pensou em ter filhotes? — O assunto em si me chamou a atenção, mas, me mantive quieto e fingindo estar dormindo.
Pelo silêncio, Jungkook parecia formular as próprias respostas. Eu quis rir, já que o assunto criança nunca foi um tópico pautado por nós dois. Era normal que ele estivesse pensando, mas, de toda forma, sempre pensei que ele gostaria de ter crianças. Mesmo que eu nunca fosse um grande fã.
— Isso não é um assunto para termos outro dia?
— Eu só tô perguntando, alfa chato. — A voz de Nayeong indicava que ela estava irritada. — Não vou te pedir filhotes, só quero saber se você quer ter.
Os meus olhos aos poucos foram abrindo. Pisquei por uns momentos, devido a claridade intensa que ofusca minha visão. Conforme abro os olhos e a cada leve piscada, a imagem a minha frente se torna mais clara.
Nayeong está sentada atrás de Jungkook, ele está entre suas pernas e suas mãos curtas fazem cachinhos nos cabelos grandes dele. Por sua vez, Jungkook está de olhos fechados, apreciando do carinho.
Eu sorrio breve. Ajeitando minha postura na poltrona, suspirando tão baixo, que sinto meus pulmões doerem. O cansaço estava realmente me corroendo os ossos.
— Sempre quis ter filhotes, Nayeong. Mas, Yoongi não é grande fã de crianças.
— Crianças são tão doces. — Ela sorri, um sorriso tão genuíno, que aquele incomodo novamente me aparece. Eles estão tão perdidos nos próprios pensamentos, que sequer notam os meus olhos em direção a eles.
— Sim, amor. Crianças são doces, mas, nem todos os adultos desejam ter bebês. Isso não é uma regra. — Com os dedos entre os cabelos de Jungkook, Nayeong apenas bagunçava os fios. Após dizer, o semblante dele se encontrou totalmente pensativo.
— Mas, se eu viesse a ter um desejo de ter filhos, você me daria?
A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa, assim como pegou a mim.
— Talvez?
— Talvez não é resposta, Jungoo.
— Crianças não são como livros, que você simplesmente pode ter e depois colocar ao canto. Como se não fossem nada. Filhos são responsabilidades, Nayeong. — Minha voz soou arrastada, e os olhos dos dois focaram em mim.
Pareceram assustados, e eu sorri. Mínimo.
— Não é bem assim, eu só perguntei irritadinho.
— Não acho que Jungkook te negaria um filho, mas, mesmo que isso ocorresse. As coisas deveriam ser bem planejadas. — Vi ela confirmar, pensativa. — Contudo, voltando a você..
Apontei para ele, que se encolheu nos braços de Nayeong. Olhando ao redor, se fingindo de desentendido.
— Ele quem? — Tanto os meus olhos, quanto os olhos de Nayeong se arregalaram. Eu quis rir, mas, desejei ainda mais apertá-lo pelo pescoço.
— Não se faça de desentendido, Jungkook-ah! — Nayeong acertou-o um tapa na testa, e ele se encolheu. Eu ri.
— Acha mesmo que sua saúde não ia clamar por ajuda? E vejamos, olha onde você está. — Jungkook suspirou, sabia que a bronca viria.
— Sem sermão agora, hyung. Por favor. — Sua voz parecia cheia de tédio, ao mesmo tempo que cansada.
— Acha mesmo que você vai escapar dessa garotão? — Ri, em escárnio. Recebendo o olhar de Nayeong. — Você quer sermão depois que as coisas se tornarem ainda piores ou você morrer?
O vi respirar fundo, Nayeong abaixou a cabeça. Ficando em silêncio.
— Acha mesmo que eu vou passar a mão na sua cabeça, sabendo da merda que poderia ter acontecido? — A minha voz começou a se elevar, e eu respirei fundo. Tentando manter a minha calma. Porém, só a possibilidade de pensar que algo poderia ter acontecido com ele.
O meu estresse aumenta.
— Não achei que passaria. — Respondeu baixo.
— Ainda hoje você terá alta. E acredite Jeon Jungkook, se você acha que vai sair por aquela porta para trabalhar, está muito enganado. — Me levantei paciente, respirando fundo. Gemendo pela dor nas costas, porém, recebi silêncio.
E assim seria. Tanto ele, quanto eu, nos calamos quando sabemos que fizemos merda. Não há argumentos para serem debatidos e ele sabia bem daquilo.
— Vou buscar algo para beber. Quer alguma coisa Nayeong? — A vi negar devagar, então respirei fundo. Passando as mãos pelo meu rosto e saindo daquele quarto, antes que eu simplesmente surtasse por motivos desconhecidos.
*
NARRADOR
Enquanto Nayeong dormia na poltrona, completamente encolhida. Jeon Jungkook aguardava deitado, sua alta demoraria já que o médico optou por colocá-lo mais algumas horas em observação.
Jungkook vinha apresentando um quadro breve de piora e melhora. Seus sinais vitais ainda estavam fracos e mesmo que ele se sentisse disposto para voltar para casa, Sanha — médico da família Jeon — optou por deixá-lo mais algumas horas em repouso.
Caso apresentasse melhora relativa, ele voltaria. Já que em casos de vermelhos, isso é perfeitamente normal.
Diante das horas que passavam, Yoongi não deu as caras no quarto. O alfa sabia que era devido ao estresse de Yoongi por não ter suas horas benditas de sono e aos traumas recorrentes ao acidente de Sangmin, irmão mais velho de Yoongi.
Ele tinha plena ciência de que Yoongi nunca gostou de hospitais, e ao entrar ali, seus gatilhos foram despertados, junto com a sensação horrível de perdê-lo. Naquele momento, acordado e consciente, ele sentia seu alfa e sabia que ele não estava nada bem.
Na mesma situação que ele se encontrava.
Jungkook respirou fundo, passando as mãos sobre o próprio rosto.
Observou a janela ao lado. O céu estava escuro, provavelmente choveria.
Novamente passou as mãos sobre o rosto, aos poucos, afastou os lençóis das pernas e devagar se levantou. Sentindo uma vertigem breve, mas, precisava exercitar-se.
Aproximou-se novamente da janela, vendo a pouca movimentação nas calçadas e o trânsito parcialmente lento. Estava tudo aparentemente tranquilo do lado de fora, mas, sentiu-se estranho já que dentro de si parecia ter a mais perfeita tempestade de emoções.
A passos lentos, o alfa se aproximou da poltrona onde estava deitada Nayeong. Observou a menina dormir, ressonando baixinho como um gatinho filhote. Sorriu pela visão adorável e mexeu nos cabelos bonitos e longos de Nayeong. Beijando-lhe as bochechas rechonchudas e admirando a beleza da namorada.
Até que a porta se abriu.
Jungkook, percebendo que estava fora da cama, tratou de voltar rapidinho ou receberia uma bronca de Yoongi por estar com os pés no chão. Mas, quem passou pela porta não fora Yoongi.
— Olá, irmãozinho.
Continua no próximo capítulo.
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