11. Linha tênue
SEUL, 21:40 | 2020
Linha tênue. Na teoria, algo frágil, de pouca espessura, difícil de perceber, imperceptível. Uma linha tênue entre duas coisas, tais quais: o amor e o ódio. Ética e moral. Medo e coragem. É uma proximidade entre dois conceitos divergentes.
Mas, naquele momento, a minha linha tênue era entre a razão e a emoção. Controle e impulso, nervosismo e calma. A água na banheira ainda estava quente e meu corpo pegava fogo, a temperatura estava ainda mais alta que o normal. Claro, não me incomodava em absolutamente nada. Alfas lúpus são quentes, é a genética que ajuda.
Questão de sobrevivência.
Mas, nenhuma genética foi imposta em nós, em como reagir ao sentir a proximidade de estranhos. Nossa genética não nos ajuda a lidar com o fato de ficar travado ao sentir outro corpo humano sobre você, se aconchegando em seus braços e sentindo seu calor.
Com Jungkook era diferente. Mas, ao observar Nayeong dormir encostada em meu corpo com meus braços circulando-a, me senti travado. Os meus pulmões ficaram pesados e era como se todo ar não existisse. Eu tinha ciência que a cor dos meus olhos estavam diferentes, mas, não conseguia entender os motivos. Meu lobo é um dos quais eu nunca conseguirei entender.
Ele é ainda mais complexo que minha personalidade tapada e antipática. Talvez, apenas talvez, eu consiga sentir algo além de desejo de sumir ou de me esconder. Consigo ser eu mesmo, apenas com Jungkook. Mas, com os outros, é como pedir para colocar em mim um alerta.
Porém, ao observar a coisinha gritar de dor e mostrar-me os olhos pequenos e rasgadinhos, meu lobo simplesmente me empurrou até si. Em outros casos, eu simplesmente ignoraria e a deixaria se virar. Afinal, ela não havia me dito que já era gente grande?
Um trocinho pequeno, de bochechas rechonchudas, cabelos tão escuros quanto os de Jungkook e uma boquinha malcriada. Quase tão arisca quanto um gato que deseja arranhar qualquer estranho que tente tocar suas pelagens. Mesmo sendo híbrida, ela tem hábitos fortes e característicos de um gato.
Ronronar e esfregar-se, já que era exatamente aquilo que ela estava fazendo em meu corpo ao simplesmente dormir em meus braços. Eu poderia simplesmente empurrá-la para longe, mas, ao observar o rosto da coisa, não consegui.
Era como acordar Jungkook de um sono profundo. Onde ele tem as bochechas coradas e uma maneira de dormir completamente adorável, que beirava ao melancólico de tão bonito. Nayeong é parecida com Jungkook em diversos aspectos, desde dos olhos rasgadinhos e a maneira que eles se arregalam quando está irritada ou com ódio.
E o sorriso. Principalmente o maldito sorriso.
Não, ela não tem um sorriso de coelho bebê, mas é tão doce quanto. E boa parte de mim se sente revirar. Não sou capaz de ficar pensando tanto nessa garota, quando tudo e todas as coisas estão dando errado devido a sua chegada.
Mesmo que não seja culpa dela, boa parte de mim deseja culpá-la. No recinto de um lobo, intrusos são apenas intrusos e ela é uma intrusa. Uma intrusa que consegue confundir meus instintos e principalmente, nublar meus pensamentos.
Observei seu rosto sereno, enquanto o sono lhe acometia de maneira intensa, depois de tanta dor que sentiu. E que confesso, que tal crise de dores, me deixou perdido.
Nunca, em todos os meus anos de vivência, passei por isso. Era um tanto quanto difícil lidar algo daquela proporção, mas, sempre soube que coisas quentes poderiam ajudar até a mais ferradas das crises.
Respirei fundo ao sentir seu aroma leve e menos intenso. Jogando água sobre sua testa, esperei que sua expressão ficasse ainda mais relaxada. Seja o que fosse, ela ainda sentia dor.
Mesmo sentindo um turbilhão de coisas, não sou ruim ao ponto não fazer nada quando uma pessoa chama pelo meu nome. Talvez, eu seja apenas um tantinho difícil, mas, não sou o monstro que todos acreditam que eu sou, somente porque sou silencioso demais.
De olhos fechados, encostei as minhas costas no encosto da banheira e respirei fundo. Por que era tão difícil? Por que tinha que ser tudo tão difícil? Por que meu coração parece não me obedecer, principalmente meu lobo.
Por que a cada dia, meu lobo parecia sentir mais feição por uma garota desconhecida? Não deveria ser assim, eu não deveria me sentir assim. Eu sequer sinto algo por ela.
Ao me desvencilhar levemente dela, ouvi seu ronronar manso, e senti-a se encostar novamente em mim, esfregando-se levemente. Por Deus, será que todos os híbridos são assim?
— Venha, Nayeong. A água já está ficando fria. — Comentei pertinho de seu ouvido, empurrando-a levemente para frente, para que eu pudesse levantar. Mas, o troço foi mais para trás. — Nayeong, não me faça gritar com você.
— Por que você é tão mau comigo? — Choramingou, indo para frente levemente. O corpo cansado e os olhos inchados de tanto chorar e pelo sono. A voz até estava brava, mas, naquele instante eu não soube o que dizer.
— Apenas venha. — Ao sair da banheira, parei em frente a borda. Ela ergueu os braços para mim e eu morri um pouco mais.
— Não seja um lobinho mau, pega vai! — Balançou os braços e eu respirei fundo, pegando-a nos braços. Sem demora, ela entrelaçou as pernas em minha cintura e repousou a cabeça em meu ombro. Estaria ela se aproveitando da minha boa vontade ou eu somente acredito que esteja?
— Está se aproveitando da minha boa vontade, troço. — Ouvi-a resmungar e não dizer absolutamente nada em seguida. Segui para a bancada que há dentro do banheiro e a coloquei sentada sobre a mesma.
Seus pés sequer bateram ao chão e ela os balançou, assim que soltou meus ombros.
— Vou pegar algo para que você possa vestir, tente não cair.
Ele me mostrou o dedo do meio e eu revirei os olhos. Mal educada.
Tentei não molhar tudo ao andar pelo quarto, mas, a cada pisada, uma cachoeira de água saía de mim e eu suspirei fundo, entrando no closet. Tirei de lá as peças mais quentes, incluindo suas peças íntimas. Optei por não reparar tanto, mas, foi impossível não perceber as peças pequenas que continha dentro da gaveta. Cores e tamanhos únicos.
Engolir em seco foi minha única reação. Para logo entrar no banheiro novamente parando na frente dela. Olhando-a de cima a baixo, soltando um suspiro cansado.
Ao que Nayeong percebeu suas peças íntimas em minha mão, tampou o rosto.
— Consegue se vestir? — Um leve aceno. — Se precisar de algo, estou no meu quarto. Logo passo aqui para ver como está.
— Oppa..— Segurei levemente em sua cintura fina, colocando-a no chão. Vendo que ela conseguia ter estabilidade nas pernas e respirei fundo, passando as mãos molhadas sobre o rosto, voltando minha atenção até si novamente.
— Sim?
— Obrigada. — Acenei pacientemente antes de sair do banheiro e caminhar em direção a saída do quarto. Tudo de repente ficou pesado, e eu só queria respirar. E foi ao bater a porta do meu quarto e observar as paredes pintadas de um azul clarinho, que eu me senti em paz.
*
— Nayeong? — Bati na porta calmamente, antes de empurrar a mesma e entrar de uma vez no quarto. Mas, parei de abrupto ao perceber que ela dormia tranquilamente na cama, enquanto seus braços abraçavam um travesseiro fofo, este pelo qual ela enterrava o rosto e esfregava levemente a cabeça enquanto dormia.
Tentei fazer o mínimo de barulho e farejei o ar, estava leve. Ela estava em paz. Me virei novamente para sair, tomando um susto ao dar de cara com Jungkook na porta.
Os olhos redondos arregalados, enquanto a cor vermelha tomava conta. Exatamente como uma assombração.
— Jesus! Que porra! — Os meus olhos se arregalaram pelo susto recente. — Eu quase acertei a sua cara, seu idiota! Que susto do caralho, Jungkook! — Levei a mão ao peito, respirando fundo. Ele acabou rindo, mas, sua expressão continuava a mesma.
Eu fiquei tão perdido com Nayeong, que sequer consegui sentir Jungkook direito.
E ao que eu fiz, pude sentir a angústia. Coloquei minhas mãos em seu rosto, fazendo-o olhar para mim.
— Ela tá bem? Por que você tá aqui? O que aconteceu com a gatinha? Hyung? — Tentou passar, mas, bloqueei sua frente. — Hyung? Está me deixando ainda mais nervoso, pare de fazer isso!
— Se acalme. — Ele rosnou. Os meus olhos se arregalaram. — Você rosnou para mim, alfa? Como se atreve!
— Desculpa, eu só tô nervoso. Eu senti algo estranho, então, eu fiz tudo o mais rápido possível para poder vir para casa. — As bochechas coraram e eu sorri, adorável. Mas, ainda sim, nervoso. — Eu senti que algo aconteceu, o que aconteceu hyung?
— Nayeong passou mal. As dores por causa do cio foram fortes hoje. — O vi fungar, os olhinhos cada vez mais magoados e angustiados. Por Deus, eu poderia morrer exatamente agora. — Mas, eu a ajudei e a coloquei na banheira com água quente. Ela já está na cama, dormindo.
Um suspiro aliviado saiu por seus lábios e eu senti sua calma. Acariciando suas bochechas, me aproximei, beijando-lhe levemente os lábios. E como um gatinho, ele desmanchou inteiro. Me abraçando logo em seguida.
Senti seu aroma gostoso de chocolate e sorri, afagando suas costas com calma.
— Eu senti que tinha algo errado. — Pude ver suas bochechas ainda mais coradas quando ele se afastou. — Então, eu vim correndo pra cá. — E gradativamente vi seus olhos se enchendo de lágrimas. — Eu não sei o que pensar, hyung.
— Eu só quero que você se acalme. — Acariciei suas bochechas lentamente, dando o espaço necessário para que ele pudesse ver Nayeong deitada na cama, completamente encolhida e aconchegada aos lençóis.
Quando ele viu, soluçou. Eu o senti como nunca antes, mas, não fui capaz de deixá-lo me sentir. E ao notar isso, as lágrimas caíram ainda mais por suas bochechas. Um aperto indescritível pegou meu coração e eu me mantive indecifrável como sempre.
Estava sendo tão difícil. Ainda mais quando jurei que jamais faria isso novamente.
Aos poucos ele se desvencilhou dos meus braços, caminhando lentamente para dentro do quarto. As mãos caídas ao lado do corpo, assim como os ombros largos estavam caídos, a postura totalmente diferente da postura habitual.
Devagar ele se ajoelhou no chão, apoiando os braços na cama, enquanto fitava Nayeong dormir. Vi seus ombros levantarem pelo suspiro longo que deu, e eu me encostei no batente da porta.
— Você tá fazendo de novo..— Pisquei algumas vezes sem entender — ou melhor, fingindo não entender. — E passei as mãos sobre meu rosto. — Para de fazer isso, Yoongi.
— O que eu estou fazendo, Jungkook? — Ele riu anasalado, me olhando levemente por cima do ombro, ao virar a cabeça de lado.
— Está me privando de sentir você, de novo. — A voz saiu magoada e meu coração acelerou ainda mais. — É como se eu não fosse marcado, é como se não existisse nada.
— Mas, existe Jungkook. — Ele negou.
— Existe, existe o meu amor por você. Mas, também existe o vazio que eu sinto por não poder te sentir assim como você sempre me sente. — As bochechas se avermelharam ainda mais. — A marca é uma das coisas mais bonitas que existe entre nós. Mas, ao mesmo tempo que eu tenho uma, eu não posso sentir. — Ele já chorava, a cada palavra dita ele chorava.
Eu pude sentir o quanto estava quebrado. E vê-lo daquela maneira, por minha culpa, me quebrou ainda mais.
— Jungkook..
— Eu amo você, droga! — As bochechas ficaram ainda mais vermelhas e eu solucei, percebendo que minhas bochechas estavam molhadas. — Amo você, e te disse isso quando saímos de Daegu, juntos. Quando decidimos abrir mão de nossas vidas lá, para construir uma vida aqui. Eu disse que te amava e que te amo, porque pasme, eu amo você. E não importa quantas vezes eu tenha que te dizer, eu sempre vou te dizer isso. — Cobri meu rosto com as mãos.
Não evitei me sentir envergonhado, mas, era simplesmente muito mais forte que eu.
— Não faça isso.. — Comentei baixo, quase como um sussurro. — Você me conhece tão bem quanto ninguém nesse mundo todo. Então, não faça isso.
— Não faça isso você! — Rebateu, os olhos ainda mais vermelhos, quase escuros. — Eu conheço você e é por conhecer, que eu confio em você como nunca confiei em ninguém. Compartilhamos da mesma confiança, e isso é raro. Aos meus 20 anos, eu tinha medo. Você sabe disso, porque sempre me sentiu. Eu sempre tive medo, e quando Nayeong apareceu, eu tive ainda mais medo mesmo sentindo todas as coisas que senti. — Jungkook secou as bochechas com as costas da mão, voltando sua atenção a Nayeong.
Mas, assim como ele sentia medo aos seus 20 anos. Eu sinto medo agora. Medo, receio. Mesmo sabendo que há uma linha tênue entre tantas coisas. A minha linha tênue era aquela. Confiança e insegurança. Amor e ódio. Raiva e tristeza.
— Eu sabia e sei que há algo muito errado acontecendo com nós três. Mas, não podemos continuar assim. Eu sei que o que eu fiz foi imaturo e impensado, propor algo como o que eu propus a Nayeong..— Fungou levemente. — Mas, eu não consegui evitar minha impulsividade e cá estamos nós. Eu só quero entender o que aconteceu conosco.
— Muitas coisas aconteceram conosco, Jungkook.
Ele riu, e eu inspirei. Tentando me manter calmo.
— E muitas dessas coisas resultaram em nosso afastamento. Assim como a insegurança que ainda cerca nos dois, e principalmente ela. — disse baixo, mexendo nos cabelos de Nayeong, que ronronava tão baixinho, que se não fossem os ouvidos bons que temos, quase não seríamos capazes de ouvir. — Eu posso não saber de muitas coisas, mas, a única coisa que eu tenho ciência é que eu amo você e amo a ela na mesma proporção, na mesma intensidade. Se você pudesse me entender e entender a felicidade que eu sinto, somente por vê-los todos os dias, saberia como é.
Se levantou pacientemente, enfiando as mãos nos bolsos, virando o rosto me encarando.
— Eu amo vocês dois, hyung. Eu não sei como, não sei o porquê, não sei os motivos, mas, eu os amo. Os dois. Única e completamente. E me dói, dói, todas as vezes que eu vejo vocês brigarem e dói saber que não vou me envolver mais nisso. — Observei seus olhos novamente, a cor aos poucos voltando ao normal. Até eu não sentir mais nada.
Nada.
Incluindo ele.
Acho que nem mesmo se eu conseguisse ver os meus olhos e a minha expressão eu conseguiria descrever o que eu senti.
— O que você fez? — Ele sorriu, fraco.
— Fiz a mesma coisa que fez comigo. — As lágrimas escorriam pelas bochechas dele com força. — Eu amo vocês dois, mas, eu sei que isso não será o bastante enquanto vocês dois continuarem na mesma estaca zero de sempre. Muitas coisas aconteceram, eu sei que sou culpado, mas não posso fazer nada a respeito disso.
— Jungkook, porr-
Mas, ele me cortou.
— Já fazem semanas que estamos nessa. Eu sabia que não seria fácil, sempre soube que não seria fácil. Mas, eu só queria tentar, porém, não posso tentar se vocês dois não estiverem dispostos a isso. — Com toda a dureza que existia em si, ele secou os olhos e encarou os meus. — Se está disposto a se banir de mim, também o farei de você.
— Você não pode exigir isso de mim, Jungkook. — O meu choque fora tão grande quanto qualquer outra coisa. — Você não pode simplesmente tomar uma decisão dessas e achar que é fácil. Eu não te deixo sentir o que eu sinto, porque não confio em mim o suficiente para fazer isso.
— Somos um casal, porra! Eu prometi estar ao seu lado independente de tudo! — Suas bochechas ficaram coradas ao que gritou baixo. — Eu confiei em você quando contei sobre Nayeong, quando contei sobre minha vida, meus medos, sobre quem eu sou. Eu confiei em você. Mas, está fazendo tudo de novo, mesmo tendo ciência de que me prometeu que não faria mais. — Eu funguei, cada vez mais aborrecido. — As coisas são diferentes agora, não só conosco, mas na nossa vida.
— Então, você decidiu isso sozinho? — Eu ri, irônico. — Meus parabéns, Jeon Jungkook. Quando ela chegou aqui, tudo se tornou diferente. Não somente nós dois, mas, eu, você e ela. Eu tolerei isso tudo, porque eu não podia simplesmente forçar você a não ter esse imprinting. Isso vai muito além do que a confiança que nós temos um no outro. Eu tenho as minhas inseguranças, Jungkook e não consigo expor elas para você. — Pausei, sentindo o meu rosto se avermelhar e esquentar. — Estou fazendo isso de novo, porque eu não consigo. E você sabia que coisas assim podiam acontecer e eu sei que podem! Mas, me pedir para aceitar isso, sabendo que meus sentimentos estão uma confusão, é demais pra mim.
— Tá agindo como se eu estivesse traindo você. Mesmo com todas as suas inseguranças, tá agindo como se eu tivesse feito algo errado pelas suas costas. — Seus olhos se arregalaram.
— Quer mesmo que eu seja sincero, Jungkook? — Vi seus olhos se arregalarem levemente e ele suspirar. Acenando positivamente. — Eu sinto como se estivesse me traindo. — Então ele parou, eu recuei e me arrependi do que disse. Olhei os meus pés e respirei fundo.
— Não importa quantas vezes eu te diga, você jamais vai compreender os meus sentimentos. E eu vou fazer questão de tentar esquecer o que você acabou de me dizer, porque eu jamais trairia você. — Não ousei olhá-lo, sua voz estava cortada demais. Quebrada. Magoada. — Eu amo vocês e não vou ficar presente quando estiverem brigando. Isso é demais. Há uma linha tênue entre o amor e a dor, e dor é o que eu sinto quando ouço vocês se ofendendo. Mesmo que não se gostem, devem ter respeito um com o outro e se nem isso querem, pelo menos comigo. — Respirei fundo, a cada palavra dita. — Eu sei que seu lobo é arisco, mas, gentileza gera gentileza.
— Terminou? — Voltei a encarar seus olhos. E completamente exausto, ele acenou positivamente.
Eu sabia que teria tempo para pensar, principalmente depois de toda essa discussão que abordou absolutamente tudo que estávamos guardando a tempos. Mas, eu me sinto confuso e absorto o suficiente para não conseguir pensar.
Depois de tudo que aconteceu hoje, não sou capaz de entender as coisas que sinto. É uma confusão muito maior que todas as certezas que eu já tive em minha vida. Ao entrar nesta situação, eu não previa os danos, não previa as consequências e por achar que seria fácil, se tornou difícil.
Talvez eu seja idiota por acreditar em mim mesmo e acreditar que seria capaz de compreender toda a situação.
— Jungkookie..— E no meio de tanta confusão, a voz dela nos tirou da divagação. E só aí percebemos que estávamos nos encarando por alguns segundos. Jungkook se virou, e eu permaneci na mesma posição.
Nayeong sorriu. Um sorriso tão idêntico ao de Jungkook, que pude sentir meu coração falhar várias batidas e minhas pernas tremerem. O que estava acontecendo comigo? As bochechas dela estavam coradas, e a felicidade resplandecia em seu olhar sereno.
— Oi gatinha. — Nayeong sorriu ao ouvir suas palavras. Ela ainda não tinha me notado ali, então, mantive silêncio. — Você está bem?
— Estou bem sim, Jungoo. — O sorriso se tornou ainda mais adorável e Jungkook sentou-se na cama, colocando as mãos em suas bochechas e beijando sua testa.
— Tem certeza?
— Tenho sim. Yoongi-oppa cuidou bem de mim. — Então, eu fui pego de surpresa. Não havia feito nada demais, porém, sua maneira de falar fora como se eu tivesse feito algo grandioso.
— Ele cuidou? — Nayeong confirmou, com um sorriso satisfeito. — O que ele fez?
— Ele ficou comigo na banheira, até que a dor passasse. Ele me abraçou, Jungoo. — Eu pude sentir minhas bochechas coradas. Esse trocinho, aish! — Mesmo que boa parte das vezes Yoongi seja um lobinho muito mau, ele até que é bonzinho.
Jungkook riu e eu deixei um sorriso ladino escapar. Passando as mãos pelo rosto.
— Eu nunca fui ruim com você, trocinho. — Nayeong voltou seu olhar até mim, me dando língua.
— Foi sim, nanico. — Jungkook riu e eu fiquei ainda mais surpreso pela afronta.
— Você, essa coisinha pequena, tá me chamando de nanico? — Ri irônico, e ela me deu um sorriso ainda mais fofo. Talvez eu estivesse com ódio por achá-la tão fofa.
— Mesmo com toda essa harmonia, vocês são dois gatinhos ariscos que se arranham. — Jungkook comentou, rindo com a paz que residiu o ambiente. Eu suspirei. — Mas, de toda maneira, você precisa dormir.
— Eu não sou um bebê. — A coisinha negou e eu ri. Depois ela queria ser tratada como adulta. Fazendo toda aquela manha, com certeza eu a trataria como adulta.
— Não, você é o meu amor. — E assim como ele, ela desmanchou toda. Eu ri. — Agora deite.
— Jungkook-ah, eu não tô doente. — Jungkook empurrou-a levemente, para que se deitasse e ela assim fez.
— Mas precisa descansar, sabe disso Nayeong. — Ao fim, ela suspirou derrotada.
— Não vai me dar nem um beijinho? — Meu estômago revirou levemente. Mas, eu não entendi o que aquela sensação queria dizer.
E devagar ele aproximou-se, colocando as mãos nas bochechas dela, dando-lhe um beijo calmo.
Pisquei algumas vezes, sem entender, mas, respirei fundo admirando a cena.
— Agora tente descansar.
E assim ela concordou. Ele se levantou, vindo até mim e os olhos de Nayeong ainda me encaravam.
— Boa noite, Nayeong.
— Durma bem, Yoonie-oppa. — Acenei levemente, sorrindo contido e sai do quarto, caminhando em direção ao nosso. Com uma sensação diferente no meu peito, mas, não menos difícil de engolir.
Mas, assim como a sensação difícil de engolir, senti outra além da minha. A dele.
E logo em seguida, senti seus braços me cercarem e seus lábios beijarem a minha bochecha de uma maneira tão terna, o suficiente para acalmar meu coração acelerado.
— Obrigado. — Sussurrei, baixo ao senti-lo novamente.
— Preciso que me sinta, para que saiba como eu me sinto agora. Não conseguiria me bloquear de você e sabe disso. Mesmo com toda a chateação que ainda sinto. — Suas palavras saíram quentes ao pé do ouvido, e os meus olhos se fecharam assim como os suspiros escaparam pela minha boca. — Eu amo você, hyung. E mesmo que não me deixe te sentir, vou esperar. Mas, você sabe que dói não poder sentir você.
— Sinto muito, mas, está tudo tão confuso. Que deixar você me sentir, tornaria tudo ainda mais confuso. Não quero que fique como eu estou, Jungkook-ah. — Ele me abraçou mais forte e eu sorri fraco.
— Tudo bem, hyung. Está tudo bem. — Mas, antes que eu pudesse esperar. Senti suas mãos por dentro da minha camiseta e eu ri.
— Jungkook, não faça isso..— Ele riu, beijando-me o pescoço, sugando a área sensível atrás pertinho da orelha.
— Apenas relaxe, hyung. — Eu relaxei o suficiente ao ponto de sentir suas mãos adentrarem a minha calça, e brincarem com a minha sanidade, enquanto seus dedos tocavam a ereção que se formava. — Não é tão difícil para você relaxar, não é hyung?
Sua voz soou rouca e arrastada. Seu quadril se encostou em mim, e eu pude sentir a ereção aparente em suas calças.
Maldito.
— Eu vou fazer você chorar, Jungkook. — Alertei e ele riu, apertando o meu pau de uma maneira tão gostosa e torturante, que os meus dedos beliscaram sua cintura; fazendo-o rir.
— Vai mesmo hyung? — Confirmei e ele suspirou. — Graças a Deus. Mas, me faz chorar de um jeitinho gostoso. Você consegue alfa?
Ordinário, não?
E tirando as mãos de dentro da minha calça, ele correu de mim como o diabo corre da cruz.
— Jeon Jungkook! Isso não se faz! Volta já aqui! — Correndo atrás dele, ouvi suas risadas. Demorei alguns segundos até conseguir parar. Fora que a ereção em minhas calças tornou-se ainda mais insuportável e a cada passo, formigava ao ponto de doer. — Maldito seja você. Você provoca e corre? Achei que fosse mais corajoso, lobinho.
— Há uma linha tênue entre a coragem e o cansaço, hyung. — Ouvi sua fala de dentro do banheiro do quarto assim que passei meu corpo para dentro dele. — 'Tô cansado o suficiente ao ponto de desistir de gozar.
Eu comecei a rir.
— O cansaço faz isso com as pessoas, mas e eu? — Desta vez, foi a vez dele rir.
— Deus te deu duas mãos, faça bom uso.
Eu arregalei os meus olhos, sentando-me com dificuldade na ponta da cama. Ele tava brincando, não é mesmo?
— Jungkook?
— Você não vai morrer por ficar um diazinho sem gozar. — Sua voz parecia tão calma que eu apenas revirei os olhos.
— Você me paga.
— Pago, pode ter certeza que eu pago. — Ouvi sua gargalhada de dentro do banheiro. Mimimi, seboso.
— Crédito ou débito? — Perguntei, ouvindo-o rir ainda mais alto.
— Boquete. — Sem nenhum tipo de vergonha ele disse.
— Mudamos o estilo de pagamento e nem sabíamos, temos um avanço. — Nós rimos. Como dois idiotas e eu me levantei, entrando no banheiro e me sentando na privada enquanto o observava tomar o banho.
— Hyung? — Com os cabelos molhados e os braços cruzados, ele me encarou. Dei-lhe um "Hum", como resposta e ele sorriu. Passando a mão levemente sobre o vidro embaçado para que eu pudesse ver seu rosto. — Acha eu conseguirei passar o cio de Nayeong com ela?
Observei ao redor, tentando buscar palavras para dizer algo e respirei fundo. O que eu deveria dizer?
— Você sabe que seu lobo está ansioso para tê-la. Mas, seria perigoso passar este cio com ela. O aroma se torna cada vez mais intenso, dependendo da intensidade do cio e isso confunde os sentidos. — Comentei. — Seu lobo está muito forte. Talvez, passar o segundo cio com ela seja o aconselhável, já que será o mais brando e você conseguirá manter seus sentidos atentos.
— Por causa do aroma? — Confirmei. — O aroma nos deixa descontrolados, é como uma provocação.
— Exatamente isso. E o aroma dela é totalmente diferente quando o cio chega ou quando está alertando ela que o cio está próximo. É simplesmente ainda mais doce e mais forte. Não é como o aroma normal. Que é mais sutil e mais leve. — Senti aos poucos o incômodo nas minhas calças passarem e eu respirei fundo, colocando a mão em cima. Falar sobre coisas sérias me deixa tenso.
— Então não, não é? — Ao que eu afirmei positivamente, ele suspirou. Ligando o chuveiro novamente e enfiando a cabeça embaixo da água. — Não quero vê-la sofrer, e muito menos aguentaria vê-la passar o cio com um estranho.
— Até lá podemos pensar no que fazer, Jungkook. — Ele suspirou alto, negando.
— Pode ser a qualquer momento, hyung. — disse, e me encarou com um sorriso triste.
— Até lá, ainda temos tempo para pensar. Se acalme. — Deu de ombros e focou em tomar seu banho. Mantendo-se de costas para mim e eu sorri, observando sua bunda arrebitada e branquinha.
— Vou indo dormir. — Me levantei e suspirei, passando as mãos sobre meu rosto e tentando me manter acordado até chegar na cama. E ao chegar, me joguei sem sequer me importar em tirar as sandálias.
Apesar dos sentimentos ruins, e das coisas que dissemos um ao outro, aos poucos as coisas seriam colocadas aos seus lugares. E ali, deitado, prestes a dormir, eu percebi que havia sim uma linha tênue..
Entre a tempestade e o arco-íris. Depois da tempestade, sempre iria vir o arco-íris, e fora a isso que eu me agarrei a partir do momento em que fechei os olhos.
Continua no próximo capítulo.
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