01. Imprinting
SEUL, 06:30AM | 2017
Sentados ali, diante daquela mesa de café e sendo agraciados com a luz brilhante da manhã. Os dois amigos conversavam. Pelas expressões perdidas — principalmente a do mais novo entre eles — algo havia acontecido. Com seus respectivos copos, um gole generoso do café fora tomado.
Pela fumaça leve, realmente estava fumegante. Assim como os nervos dos dois alfas presentes ali.
— Jungoo-ah, a princípio, não entendi muito bem o que você quis dizer. — Indagou, juntando as mãos em frente ao copo, aquecendo-as. Apesar do sol brilhoso e bonito no céu, o frio ainda se fazia presente. — Bom, você entendeu basicamente suas emoções e as reações do seu coração. Mas, não conseguiu compreender o que isso quis dizer.
O outro ao seu lado confirmou. Os olhos grandes levemente arregalados. As lembranças das horas mais angustiantes e mais nostálgicas de sua vida, passando por sua mente como bombas. As informações desreguladas, os sentimentos presos e os desejos de compreensão presos na própria garganta. Ele sentia que conhecia aqueles sentimentos, aquela pequena angústia no peito, misturada a um sentimento de conhecimento e familiaridade.
Mas, mesmo conhecendo e tendo ciência daqueles sentimentos e que um dia os sentiu. Não se recordava. Era difícil relembrar, entender, organizar.
— Tae, sabe aquela sensação de familiaridade? Como se você já conhecesse determinada pessoa, que numa possível vida a sentiu ou até mesmo se relacionou com ela. Aquele sentimento deturpado, difícil, mas, tragável. Que te acalenta o coração e que você deseja cuidar e proteger determinada pessoa. — Com os olhos arregalados, ele informou. As mãos já se encontravam sobre a mesa e Jungkook apenas pensava. Desesperado pela possibilidade.
Os olhos estavam longe, mesmo que sua mente estivesse presente. Era como viajar. Tae sentia isso no amigo e sorriu. Ele conhecia aquela sensação, tinha plena familiaridade com ela. Não lhe era desconhecida.
— Eu senti isso com Minhee. Somos próximos desde pequenos. Me senti assim em relação a ela, Jungoo. Você sabe que isso é por causa do seu lobo, não sabe? — O outro confirmou, cruzando os dedos e apenas suspirando nas próprias divagações. — São sintomas claros, mas, o que você sentiu quando teve seu imprinting com Yoongi?
— Quente, perdido. Uma sensação intensa de familiaridade. Quando o vi, quis cuidar dele. Senti que poderia ser tudo e muito mais que ele desejasse. Foi algo surreal, ao mesmo tempo que gostoso demais. — Um sorriso surgiu, mostrando os dentes sobresselentes do outro. Que ao mesmo tempo que mostrava olhos confusos, tinha um sorriso inocente. A nostalgia lhe consumindo o peito, apenas por lembrar de um momento tão bonito com Yoongi.
Taehyung sorriu, retribuindo o sorriso do amigo. Tudo estava claro para ele, a única questão era que o outro a sua frente não havia percebido.
— Você já tem a resposta ai, JK. Só precisa se dar conta dela. — Taehyung se levantou, enfiando as mãos nos bolsos. Com um sorriso retangular inocente e divertido. Jungkook o encarava em confusão, os olhos redondos e pretos, ainda mais confusos que antes.
Se Taehyung olhasse muito, seria possível ver uma tela em branco ou uma tela azul refletida na cara do amigo. Ele estava perdido e isso era notável. Mas, por respeito, ele não riu. Parado, encarando Jungkook ele continuou, até que recebeu o par de olhos arregalados em sua direção.
— Imprinting.
Taehyung confirmou. Jungkook levou as mãos a boca, arregalando ainda mais os olhos, deixando o copo de café cair ao chão. E devido ao próprio choque, sequer se importou com o erro cometido que lhe custou um copo de café e alguns centavos.
— É jungoo-ssi, parabéns. Você foi o primeiro alfa a ter dois imprintings por duas pessoas diferentes, deveria ficar orgulhoso. — Piscou para o amigo, que engoliu em seco e negou. — A questão é quem. Quem é o alvo do seu imprinting Jungoo?
ALGUMAS HORAS ANTES.
Início de aulas. Era sempre um grande tormento, não só para os professores, como também para os alunos. Não era algo que você desejava fazer sempre que acordava e encarava o sol bonito e estonteante pela janela. Normalmente, pessoas jovens ou mais velhas, apreciam um bom café e leem um bom livro, mas, para Jungkook era diferente. Ele apreciava desafios, nem se esses desafios fossem dar aulas. Ser professor, para ser mais exato. Mas, há aqueles que gostam da profissão e apreciam com bons olhos ser um mestre. Jungkook era um destes.
O começo das aulas sempre seriam sinônimos de angústia. Principalmente como professor substituto. Parece, que apesar de amar dar aulas, ser mestre e falar sobre literatura, ainda havia aquela pequena porcentagem de ódio em seu coração. Ser lobo alfa, de classe vermelha e lúpus, só contribuía para a frustração matinal. Mas, ainda sim, era algo que o mantinha na linha como nenhuma outra coisa poderia.
Ler, revisar, corrigir provas e mais provas, participar de reuniões e aulas de reforço ajudavam a manter sua mente e seu autocontrole. Era uma das ótimas profissões que havia escolhido, visto que sempre fora muito capacitado para exercer qualquer uma das que lhe propusessem. Responsabilidade e dedicação eram seus sobrenomes, e todos costumavam sair muito satisfeitos quando o tinham por perto.
Entretanto, aulas e provas não eram o maior de seus problemas. Mas sim, os alunos. Aqueles fedelhos espalhafatosos e sem coração. Talvez, ele estivesse exagerando ao pensar isto dos catarrentos, principalmente dos pequenos betas e dos ômegas jovens recém matriculados na parte primária daquele colégio grandioso dentro da Coreia. Jeon só desejava entender, como colégios tão bons, conseguiam aceitar alunos tão sem educação.
Para sua sorte e consequentemente, sorte deles; não havia ficado com a classe primária. Mas sim, com os últimos anos. Primeiro, segundo e terceiro ano do ensino médio. Seria paciente, tranquilo e até um tanto quanto didático lidar com adolescentes prestes a idade adulta. Sua sanidade mental agradecia e muito. Ele conseguia ter paciência com jovens adultos, contudo, sua paciência era escassa com crianças/pré-adolescentes. Enfim, a hipocrisia.
Jeon não entendia muito bem o funcionamento que aquela instituição traria para sua vida. Mas, entendia que apesar de ser professor substituto, tinha feito seu nome e seu currículo. Já que por ser um dos melhores colégios, a possibilidade de ser um professor disputado seria muito maior. E dentro de todas as outras fofocas e bajulações, ficou sabendo dos novos alunos. Os que ganharam bolsas devido as suas notas e méritos. Achou um tanto quanto nobre, bolsas de estudos serem cedidas para alunos mais aplicados. Mas, sentiu-se triste pelos alunos que obviamente não conseguiram as bolsas. O Berkshire Seul High School sempre seria uma ótima opção de colégio, para aqueles que desejavam mais especializações em suas fichas escolares.
Normalmente, mesmo sendo aplicados ou não. Com boas notas ou não. É difícil que sua capacidade seja reconhecida, por estudar em um colégio que não tenha tanto conhecimento. Jungkook sabia que eram poucos os alunos que conseguiam notas e consequentemente, bolsas no Berkshire Seul High School.
Conquanto, não se impressionou ao saber que boa parte dos alunos novos entrariam em suas turmas dos últimos anos. E ao ver caras tão diferentes, suspirou, realmente seria um grande ano.
O tipo de ano que escolheu para si. Mesmo com todas as negações diante da parte orgulhosa e gananciosa de sua família. Ele não queria uma vida com luxos e obrigações sérias o suficiente que pudesse lhe tirar o sono. Apenas queria viver sua vida em paz e ao lado de seu namorado. E ali, em pé, diante do pátio, observando os alunos, ele decidiu que era aquilo que queria continuar sendo. Ser professor, um mestre.
Não apenas por uma questão de autocontrole e paciência. Mas, dentre tantas complicações ao dia e obrigações a se fazer, ele desejava aquela vida monótona e calma. Com gritarias de pequenos alfas, betas e ômegas. E as possíveis brigas dos adolescentes se estranhando com seus respectivos grupinhos.
Era aquilo que queria. E sempre faria questão de repetir isso para si. Gostaria de fazer parte daquilo. Deixar de ser um professor substituto e ser um professor fixo tornou-se uma meta pessoal sua.
Ao passar seu olhar por todos, reconheceu alguns rostos. Viu alguns professores novos e outros já não tão conhecidos assim por si. Não estaria totalmente sozinho ali, principalmente sendo um novato de vinte e tantos anos. Estava às cegas, já que era apenas um bebê no meio de tantos profissionais mais velhos e veteranos na área. Mas, em todo caso, sempre confiaria no seu taco.
Diferente de todos os rostos conhecidos, um em especifico lhe chamou a atenção. Era diferente dos alfas, ômegas e betas ali presentes. Sentada em um dos bancos de concreto, com as pernas cruzadas e um livro em mãos. Os cabelos estavam até meio desajeitados, mas, entravam em um contraste único somente para sua pessoa.
As vestimentas eram mais escuras, e compostas por uma camiseta larga e uma saia preta listrada com suspensório. E em seus pés, coturnos de mesma cor, pretos. Realmente, aquela adolescente não se encaixa nos parâmetros daquele colégio. E diferente do aroma de todos, que Jungkook podia perfeitamente bem captar, o seu era doce.
Então, ele conseguiu perceber de quem se tratava e o porquê seu aroma era tão diferente dos outros. Híbridos. Não eram incomuns naquele meio, principalmente em colégios de classe ABO. Mas, eram aceitos, já que a diversidade estava em todo lugar. E como todo professor atento e dedicado, o Jeon se aproximou da jovem sentada.
Que inerte nos próprios pensamentos e no livro a sua frente, sequer percebeu a chegada do outro.
Jungkook notou a beleza da garota e sorriu leve. Uma beleza doce, mas, arisca. Como um gato — já que seus olhos eram pequeninos e rasgadinhos. Lhe lembravam aos olhos dele — a pele branquinha, bochechas salientes e lábios perfeitamente coincidentes para seu rosto. Encantadora.
Ao perceber ser notada, a garota o encarou rapidamente, com seus olhos confusos e ariscos. Jungkook por sua vez, recuou um passo.
— Oh, mil perdões, não quis atrapalhar sua leitura. — Sorriu o professor, mostrando os dentes adoráveis. Como os de um coelho bebê.
— Não, está tudo bem. Não precisa se desculpar, eu já havia terminado. — Com um sorriso simpático no rosto, ela negou diante da ação do professor. Que foi apenas de se curvar em desculpas. Não havia necessidade de desculpas, nem mesmo de se curvar como ele estava fazendo.
A jovem sorriu. Simpática.
— É a única que está lendo, ao invés de conversar com os novos alunos. Percebi então que deve ser novata. — A menina à sua frente apenas confirmou, o professor sorriu breve.
— Não conheço tantas pessoas por aqui. Digamos que não fiz tantos amigos. — Deu de ombros, ajeitando a postura e cedendo lugar ao lado, para que o outro pudesse se sentar. Paciente, Jungkook agradeceu e sentou-se. — Você é um aluno?
— Pareço um aluno? — Comentou Jungkook, com os olhinhos arregalados. Tornou-se uma mania arregalar os olhos para tudo, isto ele havia percebido.
— Bom, você está natural como todos os alunos. Normalmente os professores daqui usam gravatas. — Riu a jovem, da expressão pensativa de Jungkook que apenas sorriu em agradecimento.
Ficou contente em saber que seria facilmente reconhecido por um aluno. Mas, de todas as maneiras, a maneira que se vestiu para aquele dia tão aguardado por si estava colaborando e muito. Calça jeans, coturno, camiseta clara e sobretudo marrom é o suficiente para deixá-lo ainda mais jovial. Contudo, ainda conseguia se surpreender com tal feito.
— Agradeço. Mas, sou um dos professores. — Encarou o relógio de pulso, vendo que logo as aulas se iniciariam e voltou a encarar a jovem. A menina apenas piscou algumas vezes, encarando o fixamente. E por perceber, o Jeon recuou levemente. — Algo de errado?
— Seus olhos. Estão vermelhos. — Dito isto, Jungkook se alarmou levemente, piscando algumas vezes e abaixando a cabeça. Mais uma vez, seu lobo estava com problemas. Não era comum mostrar os olhos lupinos para alguém, muito menos assim. Poderia ser interpretado com maus olhos. Ainda mais perante a uma aluna.
— Desculpe-me..— Limpou a garganta, sentia-se bastante incomodado. E tentou de todas as formas desviar seus olhos da garota. Que por sua vez, sorria sem compreender ao certo a reação confusa do professor. — Bom, não se atrase. As aulas logo começam. — Levantou-se rapidamente, pretendia fugir o mais rápido possível dali. Mas, teve sua mão segurada pela garota. E isso lhe fez recuar alguns passos para trás, devido ao toque leve e inesperado.
— Como você se chama professor? — perguntou simples, com a voz mansa e paciente.
— Jeon Jungkook. E o seu? — Até lá, o alfa já tinha desistido dos seus olhos. Não adiantava, afinal, ela já havia os visto. Estavam vermelhos e ele tinha certeza.
— Choi Nayeong. — E soltou seu braço, permitindo que o alfa apenas confirmasse. Retribuindo para a jovem um sorriso contido e envergonhado pelo que acabará de acontecer.
Seus olhos vermelhos, em frente de outra pessoa. Seu lobo já havia passado dos limites. Conquanto, não fora vergonha que sentiu ao dar as costas para Nayeong.
Não sabia das probabilidades daquele aperto em seu peito ser um infarto, mas, provavelmente teria um. Já que sentia-se suar frio e uma angústia repentina lhe acometer o peito. Era diferente de todas as coisas que havia sentido, porém, era familiar.
E com as mãos dentro dos bolsos, ele caminhou para fora do pátio. Piscando algumas vezes e tentando se situar onde se encontrava. Realmente era algo diferente do habitual e Jungkook sabia disso. Ele podia sentir.
ATUALMENTE
— Você o quê? — Os olhos de cervo de Taehyung estavam arregalados e Jungkook sequer entendia como havia deixado escapar tamanha informação de seus lábios. Kim Taehyung era fofoqueiro demais, mesmo que conseguisse ser tranquilo. Tranquilidade e descrição eram duas coisas diferentes, e Jeon sabia que estava um tanto quanto ferrado. Já que seu amigo possuía tudo, menos descrição.
— Não é como se eu tivesse de fato, controle sobre quem meu lobo vai se apaixonar. É algo que nós não controlamos, Taehyung! — Derrotado Jungkook suspirou, levantando-se e caminhando junto ao amigo para que pudessem seguir o caminho juntos para casa.
— Mas, não é como se isso fosse correto. Não é Jungkook. — Os passos eram leves, não havia tanta necessidade de se chegar em casa cedo. Então, optaram por caminhar a passos lentos, enquanto o Kim enchia Jeon de sermões.
— Ela é minha aluna, ok? — Suspirou, temendo dizer a outra parte. Tinha certeza que Taehyung teria uma síncope somente por imaginar tal possibilidade. — E bom, ela também é mais nova do que eu. Mas, não é como se eu fosse ficar junto a ela, somente por causa disso. Não vou tentar absolutamente nada. Não é como se eu fosse ter chance.
— Você pode não querer, ou achar que não tem chance, mas, seu lobo é diferente. — Taehyung deu de ombros. Encarando de esguelha o amigo, vendo-o suspirar.
— Eu não imaginava que isso ia acontecer de novo, não comigo. E muito menos com uma garota que eu sequer vi na vida e conheço. Só trocamos algumas palavras, Tae.
— Bom, os motivos não podemos explicar. Mas, que você teve um imprinting, você teve. — Indagou Taehyung, rindo levemente pelo desespero alheio.
— Só não sei como contar ao Yoon. — Jungkook comentou baixo, quase como um segredo. Enquanto retirava as mãos de dentro dos bolsos e esfregava umas nas outras. Estava apreensivo. — Você sabe como é com ele, é diferente.
— Talvez porque ele seja mais perigoso que você? Sim, entendo sua preocupação. Mas, não acredito que o Yoon vá arrancar seu pescoço.
Taehyung riu.
— É tão engraçado, que sinto vontade de rir. Veja. — Jeon debochou, formando a simplista carranca no rosto. — Estou falando sério, Tae!
— Eu também estou! — Riu, com um sorriso calmo. — Mas, veja bem, Yoongi é marcado por você, então, ele vai entender o que aconteceu. Você sabe que compartilham absolutamente tudo, incluindo até o que vocês desgostam. — O Kim tinha razão.
Sua conexão com Yoongi era muito maior que apenas a ligação tida pela marca. Ele sequer poderia entender ou explicar como os dois funcionavam, mas, sabia que existia ligações ali. Sendo Yoongi um lúpus azul, ele conseguiria entender facilmente os sentimentos alheios.
Mas, naquela situação era diferente. Estando ligado por imprinting também a outra pessoa, será que ele colapsaria? E suas indagações sempre se findaram ao fato de cometer atos impensados e somente primitivos, devido a sua classe.
Os vermelhos costumam ser muito mais impulsivos que o normal, então, seria de grande mal que ações impensadas e impulsivas ocorressem. Afinal, ele não tinha ideia do que o lobo poderia querer com a garota.
— Entendo que o hyung pode ser compreensivo, mas, é diferente entende? — Recebeu um aceno do Kim, apenas para que pudesse prosseguir. — Ele pode se sentir mal quanto a isso, Tae. Não sei o que pode vir a ser, mas, não é algo que eu queria que acontecesse. Mas, aconteceu e eu agora não desejo magoá-lo.
— Você costumava ser tão positivo, mas, eu me esqueço às vezes que você é um lúpus vermelho pessimista e chatão. — Jungkook recebeu um tapa razoável na cabeça do amigo. Este que riu de sua tamanha descrença e medo aparente do que poderia vir acontecer. — Estou em momentos de minha vida, que realmente precisam de muito mais atenção minha. Mas, nem por isso puxo meus cabelos e grito aos quatro cantos desesperado. Não é assim que funciona, Jungkook.
— Diga por você, Tae.
— Mas, eu estou dizendo por mim. Você sabe que estou alcançando um momento importante de minha vida e há coisas que preciso fazer e pessoas que obviamente se vão. Não que isso seja decisão minha, pelo contrário, é o correto. — Paciente e direto com sempre, o Kim sorriu. Arrumando os cabelos bagunçados do amigo, que suspirava sem entender uma palavra. — Minhee e eu estamos em situações muito importantes de nossas vidas atualmente. Acho que assim como eu, ela já notou que nossas carreiras são importantes para nós. Então, decidimos dar um tempo. Claro, nossa amizade sempre será a mesma e ter de "abrir" mão dela não era algo que nem ela, e nem eu gostaríamos de fazer. Mas, o ponto é: há decisões que você precisa tomar e outras que os indivíduos que convivem com você terão de tomar. Yoongi conhece você muito bem, ele não vai lhe virar as costas e simplesmente fingir que o que vocês têm não é nada. Ele conhece você. Tempo ao tempo, JK.
— Desde quando você se tornou tão profundo mesmo? — Jungkook riu, ganhando outro tapa na testa de Taehyung que revirou os olhos.
— Apenas ouça e absorva. Chato. — Parou em frente ao portão da casa do Jeon, que riu abobalhado como sempre fazia.
— Obrigado, Tae. — Sorriu, contido e receoso. Mas, de toda forma, agradecido. Apesar das palavras reconfortantes de Taehyung, era impossível não se sentir constrangido e amedrontado. Principalmente ele, um alfa lúpus vermelho que se encontrava encolhido.
Ele era uma piada total para a classe vermelha lupina.
— Disponha coelho. Tô indo e se cuide. Não faça besteiras. — Recebendo um aceno do outro, Jungkook viu Taehyung sumir, depois de subir um pequeno morro.
Logo, se viu sem opções e encarando o portão a sua frente, ele somente fez o que deveria fazer. Entrou em casa.
ALGUMAS HORAS ANTES.
— O que você costuma ler, Jeon seonsaeng-nim? — Nayeong perguntou. Depois de alguns minutos quieta, enquanto estava sentada na primeira cadeira, da fileira à frente. Os olhos atentos ao professor, enquanto este, apenas preenchia alguns papéis de presença de alunos e conferia as devidas redações entregues por outros.
Ela queria se manter em silêncio, mas, sua curiosidade sempre falaria mais alto. Pelo porte do professor, tinha quase certeza que ele era um consumidor ávido de livros. Não era atoa que dava aulas de literatura.
Nayeong era muito questionativa. Dentro de toda a classe, suas perguntas pareciam mais firmes e bem impostas. Era notável que suas notas foram boas o suficientes para que pudesse estar ali, na Berkshire Seul High School.
Mesmo sobre pressão, ela conseguia se manter firme em seus posicionamentos e não era alguém que se pudesse convencer fácil. Dentre todos os sorrisos doces e simpáticos trocados com o professor, ela não parecia a aluna de algumas horas atrás. Que debatia firmemente seus argumentos e impunha questionamentos para os próprios alunos, e até para ele.
Descobriu sem querer, que Nayeong era híbrida de gato. Já que ao simplesmente um ranger de giz no quadro, foi o suficiente para lhe fazer encolher-se inteira com as mãos sobre os ouvidos. Jungkook não era de toda inexperiência lidando com híbridos, sabia da existência deles e como funcionava o mundo de cada um. Era impressionante e diferente; e para os olhos redondos e negros do professor, ele simplesmente não conseguia deixar de se encantar.
E ali, depois de muitos diálogos e as primeiras lições aplicadas do dia, Jungkook percebeu que a mente daquela jovem prodígio era brilhante. Mas, que apenas não se importava em ser brilhante, já que só tinha amor pelos livros.
— Romance, suspense, thriller psicológico. — O professor informou os gêneros, arrancando um sorriso leve de Nayeong. — E você?
— Gosto de romances. Acho fascinante. Suspense é bom, uma grande pena que não encontrei livros bons o suficiente para me prender. — E ao se afastar somente por um segundo para encará-la, talvez Jungkook tenha se arrependido. Viu os momentos exatos dos olhos brilhantes e perdidos, e do sorriso bobo contagiante.
A quanto tempo Jungkook não via alunos assim mesmo? Apaixonados pelas próprias descobertas e pelas descobertas alheias. E que somente por olhar um segundo em seus olhos, era-se possível ver a paixão pelo conhecimento.
Jungkook não era idiota. Conseguia ver isso e muito mais nos olhos de Nayeong.
— Para encontrar um bom livro, uma boa procura basta. — Respondeu, fechando o todos os cadernos e os itens que utilizava para correção. Nayeong sorriu. — Se desejar posso lhe indicar alguns livros para ler.
— Infelizmente não vou conseguir encontrar todos. — A híbrida desviou o olhar do professor. Este que apenas lhe encarou confuso, pela sua indagação. — Mas, aceito que me indique.
Nayeong sorriu. Jungkook por sua vez, confirmou pacientemente.
— Lhe providenciarei os nomes. Caso não consiga achá-los, pode me dizer. Talvez possa encontrá-los para você. — E com os objetos em mãos, se levantou e foi seguido por Nayeong. Que pegou a própria bolsa e colocou nas costas, apenas segurando firmemente na borda da camiseta longa que utilizava.
— Muito obrigada, seonsaeng-nim. — O professor negou levemente. E novamente aquela sensação estranha no peito estava quase lhe fazendo perder as estribeiras.
— Veja como uma forma de desculpas, devido ao acontecimento mais cedo, com o giz. — Nayeong negou com a cabeça, rindo pela lembrança do professor. Passando pela porta da sala e parando em frente ao homem, tão maior que si. Mas, que dali de cima, em sua visão, parecia um jovem adolescente com um sorriso de coelho filhote.
Jeon Jungkook era o professor mais adorável que seus olhos já haviam visto. Nayeong não negaria isso jamais.
— Foi algo passageiro. Barulhos como giz rangendo no quadro doem, mas, não chegam a causar danos aos meus ouvidos. Mas, barulhos mais altos podem causar. — Segurando a mão do professor, que recuou levemente, Nayeong sorriu. — Agradeço pelas desculpas. Mesmo, que não seja necessário.
— Oh, sim. Meu descuidado poderia ter lhe custado a audição, então, peço desculpas. — A híbrida riu, Jungkook sorriu. — Até o segundo horário, Nayeong. — Os calafrios subindo por sua nuca e por seu peito, fizeram as pernas de Jungkook tremerem intensamente. E de fato, ele não sabia o que estava acontecendo consigo.
— Você não tinha como saber. — Riu levemente, mas, sabendo que não poderia prolongar muito a conversa. Nayeong sorriu novamente, completamente simpática, acenando ao professor. — Até, seonsaeng-nim. — E Jungkook sentiu finalmente sua mão ser solta, e ouviu os passos de Nayeong se afastando.
Bom, ele sufocaria, com toda certeza. Só não entendia o porquê tão rápido e tão violento daquela maneira e com uma pessoa que não deveria.
ATUALMENTE
— Quem é? — Foi a primeira coisa que Jungkook ouviu da boca de Yoongi, assim que colocou os pés em casa. De certa forma, ele já estava esperando por aquilo. Já estava aguardando pelos questionamentos, pela simples e direta pergunta: Quem é?
Jungkook nunca havia se sentido tão nervoso, quanto estava se sentindo naquele momento. Desde sua vida inteira, quando era somente um bebezinho, sentiu tanto nervoso. Nem mesmo quando descobriu sua classe e posteriormente, sua sexualidade.
Mas, estar ali, atrás de seu namorado — enquanto este folheava pacientemente uma revista desinteressante — formulando uma resposta, parecia que o universo entraria em colapso. Jungkook sentia que a qualquer momento colapsaria. Não porque estivesse com medo de seu hyung, mas, porque o nervosismo lhe deixava ainda pior.
O que ele diria? Como diria?
— Você sabe que sentimos absolutamente tudo, koo. — Então, como em um passe de mágica, a voz de Yoongi tornou-se calma. Mas, com um fundo de nervosismo ao final.
O Jeon respirou fundo, caminhando para a parte da frente, sentando-se ao lado de Yoongi. Que abaixou a revista e fechou-a. Vidrando seus lumes somente no lobo, que se encolhia a cada momento e parecia que iria chorar como um bebê.
Os olhos felinos do homem à sua frente, ao mesmo tempo que lhe conquistavam a cada dia, conseguiam pacientemente lhe deixar nervoso e nostálgico. Era incrível o poder que os olhos ariscos de Yoongi tinham sobre Jungkook, mas, o outro por sua vez sequer procurava entender isto.
Diferente do esperado, Yoongi o encarou. Sem dizer uma sequer palavra, esperando apenas que o inquieto ali presente tomasse a palavra. Yoongi gostaria de ouvir tais palavras da boca de Jungkook e sabia que ele lhe diria. Mesmo que estivesse perto de ter uma síncope.
— Hyung, desculpe. — Sussurrou Jungkook, depois de algum tempo calado, enquanto pensava no que dizer. Encarando as mãos.
— Está me traindo? — O outro ergueu a cabeça, os olhos já redondos, aumentaram ainda mais de tamanho e este negou assustado devido a indagação infundada. Jungkook respirava fundo, ele iria surtar.
— Claro que não, Yoongi. Pelo amor de Deus, que susto. — disse Jungkook, levando a mão ao peito. Os olhos aos poucos se mantendo menos descontrolados, pelo ponto de vista de Yoongi. Mas, o mais velho quase conseguia ouvir as batidas do coração de Jungkook. Estavam aceleradas, temeu que o namorado passasse mal. Porém, apenas aguardaria suas palavras. — É só que eu simplesmente não sei como te dizer isso.
— Então, você está me traindo mas não sabe como me dizer, é isso? — Novamente, os olhos de Jungkook se arregalaram. Yoongi queria rir, mas, apreciava observar aqueles olhos bonitos arregalados diretamente para si.
— Hyung, por favor. Não me deixa ainda mais nervoso do que eu já estou. — Os olhos de Jungkook realmente estavam diferente dos habituais. Yoongi pode notar perfeitamente as oscilações entre vermelho e castanho, tornando-se um vermelho-acastanhado totalmente diferente do normal.
Era difícil ver os olhos de Jungkook desta cor. Normalmente em seus cios, eles ficavam desta maneira. Mas, somente com a cor completa. Inteiro vermelho, não uma mesclagem de vermelho e castanho. E ao sentir a inquietação de Jungkook, pode perceber que havia algo errado.
Então suspirou, já que sabia posteriormente do que se tratava. Ou talvez, achava que sabia.
— Diga para mim, Jungoo. O que aconteceu? — Viu o outro encarar os próprios dedos novamente. Suspirar, e voltando a novamente encarar os olhos de Yoongi. Nervoso, Jungkook estava nervoso demais.
— Eu tive um imprinting, hyung. — Por um momento, Yoongi achou que fosse brincadeira e uma simples desculpa esfarrapada do namorado. Mas, por via das dúvidas entendeu o que era aquele sentimento estranho vindo de seu peito. Como se algo estivesse faltando, mas, que não conseguisse entender o que deveria ser.
Os olhos de Jungkook apenas pesavam sobre si, devido ao silêncio repentino. Mas, naquele momento, Yoongi não sabia o que dizer. Ele deveria dizer algo? Sentir algo? Talvez, a ideia de dividir seu menino e seu alfa, com outra pessoa, doesse um pouco seu âmago e lhe fizesse se sentir ameaçado.
Ele conseguia sentir o interior de Jungkook se corroendo, a culpa, carregada do medo. Logo, ele segurou a mão do alfa com ternura. Como sempre fez e como sempre faria.
Beijou os nós de seus dedos e mostrou-lhe um sorriso gengival, aquele que Jungkook tanto adorava e temia grandemente perder.
Yoongi sabia que seria difícil para Jungkook, tanto quanto poderia ser difícil para ele. Mas, acima de tudo, tinha absoluta certeza que eles poderiam enfrentar aquilo. Sobreviveram a coisas piores, um segundo imprinting era a menor coisa pela qual já enfrentaram.
— Está tudo bem, Jungkook. — Os olhos de Jungkook se tornaram ariscos, desconfiados.
— Mesmo? Não vai me matar de noite?
— É isso que você pensa sobre mim, sua peste? — Riu-se Yoongi, arrancando um sorriso carinhoso do namorado, que se aproximou de seu hyung como um gatinho assustado.
— Mas, o pior não é isso hyung. — Yoongi se sentiu verdadeiramente preocupado, encarando os olhos do alfa a sua frente. — É minha aluna, hyung.
— Bom, seu lobo olhou a ética e mandou-a para merda, não é mesmo? — Os olhos de Jungkook se arregalaram pela indagação do namorado. Mas, acabaram rindo juntos. — Quantos anos ela tem, Jungkook? — Mantendo a paz interior ou tentando manter, Yoongi respirou fundo.
— Dezessete anos. — Os olhos de Yoongi se arregalaram discretamente, e pela primeira vez em toda sua vida ele se encontrava sem saber o que dizer. Dezessete anos, mesmo sendo uma idade razoável, ainda tinha seus devidos problemas. Por Deus, aos vinte anos, Jungkook estava tendo imprinting com uma garota de dezessete anos.
Ao perceber a reação de Yoongi, Jungkook suspirou. E com um sorriso breve, completou sua resposta com toda paciência do mundo.
— Ainda esse ano ela completará seus dezoito anos, hyung. — Tentou, mas, pela expressão de Yoongi. Jungkook percebeu que não havia adiantado muita coisa.
O que ele poderia fazer afinal? Que culpa ele tinha se o lobo dele era tão doido quanto ele próprio. Infelizmente, eles não poderiam fazer nada a respeito. A não ser esperar.
Esperar as consequências ou as boas ações. Ou talvez um castigo divino. Se é que ele viria.
— Você não vai tentar uma aproximação, não é? Jungkook, isso pode lhe dar muitos problemas. Não pela idade, mas, pela ética. — Paciente, Yoongi suspirou. Mesmo com todo interior revirado, a paciência reinava em sua feição.
Jungkook comprimiu os lábios e apenas confirmou, devagar e cauteloso.
O melhor a se fazer era aquilo. Afastar-se.
— Não sei o que meu lobo vai me levar a fazer, hyung. Eu não compreendo mais nada. — disse Jungkook, os olhos dizendo mais que os próprios lábios. — Mas, eu apenas preciso seguir e não tentar me preocupar tanto. — Sorriu fraco, mas, leve ao mesmo tempo. — É uma híbrida. De gato. Porém, diferente dos híbridos de gato que conheço, ela não possui orelhas ou rabinho. É quase humana.
— Mas, isso não pode acarretar problemas para ela? — Confuso, o Min perguntou.
— Sim, sua audição é sensível a barulho. Ela possui um aroma doce de amora. — E para finalizar, Jungkook suspirou, lembrando-se do ocorrido. — Quase deixei-a surda por causa de um giz rangendo no quadro. Me desculpei, mas, pude perceber que estava tudo bem. Mas, eu não entendo como funciona para híbridos de gato que não tem as características físicas de um.
— De qualquer maneira, ela percebeu quem você é? — Recebeu uma negativa do lúpus vermelho, que soltou o ar, denunciando seu cansaço.
— Não acho que isso vá chegar aos olhos dela. Mesmo que ela seja muito esperta.
Yoongi apenas suspirou, era uma possibilidade.
— Vamos, você precisa tomar um banho e precisamos conversar sobre algumas coisas. — Yoongi ditou, levantando-se e guiando o outro escadas acima. — Sua família.
— Não vamos começar, hyung. Por favor.
O alfa suplicou. Mas, não fora isso que ganhou.
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