1. EU, O PIANO E O IMPRESSIONISMO
1. EU, O PIANO E O IMPRESSIONISMO
Tudo que eu fiz foi imergir nas linhas impressionistas de Debussy e em seus fraseados repletos de sonoridade anuviada. O elo com o piano já acontecia antes mesmo dos meus dedos tocarem as teclas, tornando-se inquebrável. Nada complicado. Meu corpo era resultado de horas de ensaio, repetições infindas, marcações feitas a lápis, as respirações musicais, o posicionamento exato das mãos até que tudo estivesse perfeito. Primeiro vinha a segurança, depois a diversão. E era diante de um público que eu encontrava o meu entretenimento. Sempre valeria a pena todo esforço só para desfrutar de instantes como aquele.
Os intervalos dissonantes me ofereciam inúmeras possibilidades melódicas. Do campo harmônico foram extraídos efeitos sonoros representados por uma névoa de sentidos, que por sinal, me distanciavam das estruturas convencionais (exploradas até a exaustão por outros movimentos artísticos).
Dissonâncias bem-vindas. Um atrito inquietante buscava reeducar além dos meus ouvidos.
Eu era uma mera executante, uma humilde intérprete de uma obra de arte, mas, ao mesmo tempo me sentia criadora de algo. Afinal, aquela era a minha interpretação de Estampes.
Com minhas emoções afloradas em sons, eu coloria sem pincéis e tintas. Sonoridades e pinturas. Todas flutuantes e entrelaçadas, assim como eu. Inculpada e etérea. Nada era palpável, porém, tudo era muito real. Eu estava presente por inteiro: de corpo, de espírito e de todo meu coração. Eu tocava com a minha alma, tocava como se fosse a última vez. Eu fazia amor com a música sob os olhares de um pequeno público. Ali eu escancarava tudo aquilo que eu não me permitia ser no dia a dia.
Eu não era uma garota engessada, como a maioria das pessoas diziam. O meu verdadeiro eu se entregava a música como uma louca dominada pela paixão, como uma amante da vida e dos prazeres carnais.
Sem receios e sem barreiras.
A verdadeira Rúbia não tinha medo de exteriorizar seus sentimentos, pois tudo já estava revelado através da arte.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro