Ato 8
Skylar levantou o punho fechado para bater a porta, mas as vozes das duas mulheres que moravam no apartamento lhe penetraram nos ouvidos, forçando-a a deliberar se era uma boa ideia ou não convidar Nina para sair.
— Eu não sei o que fazer por você — Érica bradava. — Conversamos tanto sobre isso, mas você não me ouve.
— Mãe, por favor… — Nina chorava. — Tive um dia muito difícil na companhia. Agora não…
— Filha! Você está se arranhando, não come quase nada e não quer que eu me preocupe? Que tipo de mãe acha que sou?
— Uma mãe que joga pressão nos meus ombros, que quer que eu seja o que você não pôde ser.
— Vai mesmo jogar isso na minha cara?
Parada do lado de fora, Skylar ouvia a discussão de mãe e filha. Verônica não estava totalmente errada ao afirmar que Nina era influenciável pela mãe, sem capacidade de decidir por si só. Após longos segundos de trocas de acusações, Nina chorou e Skylar ouviu o estrondo de uma porta se fechando.
Skylar se convenceu de que não havia clima para convidar a colega para sair e deu meia volta. Hope, Jasmine e Rebecca a esperavam ao lado do carro da neta do rabino Mosh.
— Ela não quis vir mesmo? — Hope perguntou, com as mãos enluvadas dentro dos bolsos do grosso casaco preto.
— Eu não conversei com ela, nem bati na porta — Skylar inclinou a cabeça. — O clima está bem pesado lá dentro.
— Pesado como? — Trixie acendeu um cigarro.
— Está havendo uma discussão. Sem querer, ouvi que a Nina se arranha e sofre de bulimia.
— Eu tenho pena da Nina — Hope também acendeu um cigarro, aproveitando o fogo do que Trixie fumava. — Mas ela não se ajuda! Se a minha mãe fosse como a dela, eu me mudava.
— Isso que me deixa fodida — Skylar por fim entrou no banco traseiro do carro, atrás da Trixie. Hope se sentou no banco da frente. — Todo mundo vê que a garota tem problema, que ela não é feliz com a vida que tem, tudo por causa da Érica. Mas ela aceita!
— Cada um com seus problemas — Rebecca engatou a primeira marcha e arrancou. — Viemos aqui com a melhor das intenções, para tirá-la do casulo e levá-la para conhecer alguns garotos. Não deu. Vida que segue.
Por mais Rebecca parecesse sem empatia, Skylar era obrigada a reconhecer que a colega tinha razão. Nina não era excluída, mas se excluía. Skylar admirava a técnica de dança dela, a dramaticidade que os lindos olhos e os braços dela passavam, mas não conseguia conceber que uma mulher feita não tivesse uma capacidade de autodeterminação, de romper o cordão umbilical e viver sua vida.
A moça de Iowa apagou da mente preocupações que não lhe diziam respeito, mesmo porque Deus nos dá só a nossa vida para cuidarmos.
Quando o carro foi estacionado numa das poucas vagas, as bailarinas saíram sorridentes e chamando atenção dos rapazes que tomavam latas de cerveja do lado de fora da lanchonete.
Hope se desviou na última hora da tentativa que o Homem de Ferro fez de abraçá-la, economizando alguns dólares. Os atores travestidos de personagens da Disney, por mais que parecessem simpáticos, não abordavam transeuntes na Times Square para outro fim senão tirar dinheiro destes. Se você não quiser se deixar tungar, quando visitar Nova York, mantenha uma distância segura desses fantasiados. Lembre-se: o Hulk está ali.
Uma música dançante tocava na lanchonete quando as quatro entraram e Skylar viu que Troy conversava com dois outros rapazes numa das mesas, sorrindo e acenando em retribuição a um aceno que ele deu.
— Olha quem está aqui — Rebecca disse com uma vozinha insinuante no ouvido da colega, que continuava sorrindo para o bailarino.
— Até o destino quer dar uma força para vocês dois — Hope pôs a mão no ombro da garota de Iowa.
— Gente, pára, vai — Skylar soltou o ar por entre os lábios, aborrecida. — Somos só amigos.
— Ele está a fim de você e você dele. Não vejo mal nenhum em vocês se darem uma chance.
— Rebecca, eu não estou preparada para um compromisso sério. E depois… Não sobra tempo para namorar. Tem os ensaios, as apresentações…
— Amiga, você está protelando. Se der bobeira, outra vem e toma o cara de você. Vai lá, ele é um dos poucos bailarinos que não são gays, é bonito, é legal e gosta de você. Quer mais o que?
— Becca, que eu saiba é o homem que toma a iniciativa — Skylar se desviou para um casal passar.
— Isso é antigo, garota — Hope riu.
— Que seja. Quer saber? Cuidem das vidas de vocês, ok?
Rebecca levantou as mãos em sinal de rendição e as quatro bailarinas caminharam em direção à mesa abaixo de um telão de 42 polegadas que transmitia um jogo de futebol americano. Ela não entendia que graça tinha um esporte em que homens com capacetes e acessórios por debaixo das camisas se agarravam enquanto um deles corria com uma bola oval até uma das extremidades do campo.
— Esporte chato! — ela murmurou.
Enquanto Trixie, Hope e Rebecca comentavam sobre os ensaios para o espetáculo de fim de ano, Skylar olhava a furto para Troy. O sorriso dele era lindo, brilhante e discreto. Na verdade, Troy era um homem discreto, e elegante, também.
Meu Deus! Como era possível que um homem como ele não estivesse namorando?
A moça tomou um gole de cerveja, prestando atenção em cada movimento dos músculos faciais do colega. O coração dela batia apressadamente e uma multidão de borboletas voava em seu estômago só de imaginar que Troy sentia afeição por ela.
Skylar odiava se sentir uma adolescente boba que não tinha coragem de se declarar para o garoto de quem gostava, odiava ser tímida. Por que Troy não dava o primeiro passo? Por que ele não agia como um galanteador à moda antiga? Por que as coisas não podiam ser mais simples?
Troy não prestou mais atenção em Skylar depois de um tempo, se concentrando na conversa com seus amigos. Sentindo-se ignorada, a moça entristeceu.
— Vou ao banheiro — ela pretextou, levantando-se da mesa.
— Eu vou com você — Rebecca disse.
— Não. Vou sozinha.
As três não compreenderam o tom ríspido da amiga, permanecendo sentadas.
Skylar saiu da lanchonete para tomar um ar gélido.
Queria ir embora.
De repente, sentiu uma mão apertar seu braço, e ao se virar assustada, a moça viu um homem de quase dois metros de altura dando-lhe um sorriso sádico que evidenciava suas intenções maldosas.
Skylar pensou em gritar, mas o brutamontes a dominou com facilidade e a arrastou para um beco.
Quando sentiu que seria mais uma vítima de estupro, quando suas pernas bambearam, ela ouviu um baque seco ao mesmo tempo que as mãos que a seguravam perderam o vigor.
Ela se virou e viu Troy como nunca viu. Furioso. Pálido de cólera. Embora menor que o brutamontes, desferiu nele uma sequência de socos e chutes que o desnorteou, derrubando-o no chão e assinalando a sorte do agressor.
Infelizmente, o sujeito se lançou para frente, quase caindo de joelhos, e se levantando, fugiu quase derrubando os transeuntes.
— Você está bem? — o bailarino abraçou a moça, beijando-lhe a cabeça.
— Eu estou — ela respondeu, a respiração se normalizando aos poucos. — Obrigada, Troy. Se não fosse por você, eu…
— Não — ele se afastou, segurando-a pelos ombros. — Não diga nada.
Os dois trocaram um longo olhar e de repente, sorriram um para o outro.
Skylar colou seu corpo ao de Troy, cruzando os braços por trás do pescoço dele. Este, pondo uma mecha do cabelo da bailarina atrás de sua orelha, a abraçou pela cintura e a beijou.
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