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capítulo 30 - Sam

Esta foi de longe a semana mais curta da minha vida.

Meus pais viajaram na segunda pela tarde e eu fui para casa do Art.

Sinceramente, agora eu entendo o estresse da tia Arlete. Conviver com Natasha e Arthur na mesma casa é uma tarefa mais que complicada.

Gabe já estava ciente de como tudo iria ocorrer e nós já haviamos acertado todos os últimos detalhes.

— Pensar na festa de amanhã me traz  mais calafrios do que o vento que está passando aqui — respondi a pergunta de Arthur enquanto fitava a grama pouco iluminada.

Assim que tia Arlete saiu para o plantão mais cedo, eu resolvi ficar no jardim para me acalmar.

— Você não devia se preocupar tanto, Samantha — ele sentou ao meu lado e me entregou uma xicara idêntica a sua com líquido quente.

— Como não, Arthur? Minha vida tem estado em torno disso há meses! — levei a xícara a boca sentindo o gosto do chá de camomila.

— Aí está o problema — ele bebeu um pouco do chá. — Você esteve tão focada em ajudar a Clara que acabou se perdendo no caminho.

— Me perdendo, como? — virei levemente o corpo em sua direção.

— Você está tão interessada em arrumar a vida dela, que esqueceu de arrumar a sua — deu de ombros. — Você deixou de perceber até os mínimos detalhes, Sam.

— Não concordo. Me prove! O que eu não percebi?

— Ainda precisa perguntar? É sério mesmo, Samantha? — ele riu sem humor.

— Claro, Arthur! Eu não deixei nada passar nesses dias, isso é impressão sua.

— Claro, porque você não ter percebido que eu estou apaixonado por você foi apenas impressão minha.

— Claro que percebi isso! Está vendo só?! Eu percebi sim que você está apai...

O QUÊ?! Eu ouvi direito?

Ele riu mais um pouco e depois de beber o restante do chá se virou pra mim.

— Eu disse, Sam. Você deveria ter percebido há muito mais tempo, mas estava tão focada na vida da Clara que se perdeu na sua — ele segurou minha mão entre as suas.

Minha mente ainda não havia processado o que ele falou e nada saia da minha boca.

— Tente relaxar, Sam. O que tiver de ser, será! — ele beijou minha mão e se levantou.

— Art, espera! — chamei depois de alguns segundos.

Por impulso me levantei e fui em sua direção. Sua expressão era indecifrável, e isso era bom. A última coisa que eu queria no momento era decifrá-lo.

Ele colocou a xícara na cadeira ao lado e se aproximou. Seus olhos pediam permissão para chegar mais perto, e ao fechar os meus ele entendeu.

— Como hoje todo mundo resolveu colocar os podres pra fora, eu vou contar o que está acontecendo — Nat se sentou no tapete logo depois de abaixar o volume da televisão.

Eram dez da noite, eu estava no sofá com a cabeça recostada no ombro de Arthur enquanto assistiamos Marley e eu.

— Até que enfim! Eu não aguentava mais ter que criar paranóias para descobrir! — Arthur se ajeitou ao meu lado, me obrigando a fazer o mesmo.

— Vamos ver por onde eu começo...

— Pelo início! — Art revirou os olhos.

— Aquieta o fogo, garoto! Parece que nasceu de sete meses, eu hein! — ela arrumou a blusa da Katniss que estava vestindo e nos encarou. — Minha mãe me ligou naquele dia para me contar uma coisa. Eu achei esquisito, até porque ela não costuma me ligar muito, só quando demanda urgência.

— Tia Shirley é igual a Samantha nesse quesito — Art interrompeu.

— Continuando, ela começou a falar sobre como foi a sensação de me segurar no colo pela primeira vez e todas essas melosidades de mães. Acontece que depois de tudo isso, ela me contou que eu não sou filha dela. — Sua voz saiu quase como um sussuro.

Arthur alternava o olhar entre mim e o corpo inerte no tapete bege.

— Você é adotada?! — Essa foi a única coisa que saiu da minha boca.

— Não. Eu sou filha do meu pai e da primeira esposa dele, a qual eu nunca soube da existência.

— Espera, o tio John já foi casado antes? Por que a mamãe nunca comentou nada sobre isso? — Arthur se levantou e começou a andar pela sala.

— Se você não sabe, imagine eu — ela riu sem humor.

— O que mais você sabe sobre essa história? — perguntei.

— Nada muito além disso. É por esse motivo que no fim do ano eu vou para Suiça — ela suspirou.

— Você vai morar com o seu pai? — Art voltou para o sofá.

— Sim. Eu preciso que ele me conte tudo que aconteceu, não dá pra me esconder mais nada!

— É por isso que eu nunca vi nenhuma foto da tia Shirley grávida, ou escutei ela contar algo relacionado a isso.

— Pelo que eu consegui entender, a minha mãe biológica morreu pouco depois do meu nascimento. Depois de alguns meses ele começou a namorar com a mamãe e como eu não havia sido registrada ainda ele colocou o nome dela na minha certidão.

— Isso está parecendo aquelas histórias do Wattpad — comentei.

— Nem me fale! — Nat gargalhou.

— Já arrumamos tudo? — perguntei checando as fantasias novamente.

— Essa é a milionésima vez que você pergunta isso, Sam! — Arthur falou segurando minhas mãos que insistiam em analisar as fantasias.

— Eu já liguei pro Gabe, tá tudo confirmado. Vai dar tudo certo, relaxa! — Nat me abraçou.

— Nós vamos chegar lá, entrar naquela sala de música e acabar com aquele metidinho de meia tigela! — ela disse se desvencilhando do abraço.

— Vai ficar tudo bem, Sam. E se não ficar, nós estamos do seu lado — Arthur falou e logo depois nos puxou para um abraço coletivo.

Talvez amanhã seja o dia mais estranho da minha vida.

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