capítulo 26 - Clara
— Desde a antiguidade, a amizade é vista como um laço de confiança e lealdade. Os seres humanos se relacionam depositando seus desejos, suas expectativas e suas frustações em um ombro amigo. A grande questão é o que acontece quando não se pode mais contar com esse ombro amigo. Qual a razão para o fim de uma amizade duradoura? Melhores amigos são para sempre? A resposta é não meus caros colegas! E hoje nós iremos explicar o porquê — dei início a apresentação do trabalho.
— Sei que todos esperavam mais uma apresentação sobre o valor da amizade e todo esse sentimentalismo ridículo. Mas nós resolvemos tratar de algo real e infelizmente muito comum. — Samantha deu um passo a frente tomando seu lugar de fala e passou a lâmina do slide — Nós realizamos uma pesquisa aqui na escola, como vocês podem ver através deste gráfico, cinquenta por cento de todos os alunos entrevistados alegam ter se separado de uma amizade duradoura. Sejam por motivos plausíveis ou não, é inevitável que toda amizade um dia acabe.
— Bons amigos são difíceis de se achar nos dias de hoje e a mídia não nos deixa esquecer isso a todo momento. Trouxemos uma lista de filmes que mostram o quanto amigos próximos podem ser completos desconhecidos. Como pessoas que consideramos como irmãos, como parte da família, podem se mostrar completos traidores e egoístas.
— Pearl Harbor, American Pie, A rede social, O talentoso Ripley, O lobo atrás da porta, Ben-Hur, dentre tantos filmes podem exemplificar esse fato. A mídia retrata isso a todo momento. Dois a cada cinco amigos são falsos ou interesseiros.
— A traição nunca é fácil de perdoar, principalmente quando é vinda de alguém muito próximo. As pessoas podem nos decepcionar a qualquer instante e somos vulneráveis a isso.
— Mas, antes de tirar conclusões precipitadas busque a verdade no meio de todos os fatos. Não deixem de acreditar no valor da amizade por conta de dados estatísticos. A vida é feita de aprendizados e cada pessoa que passa por ela é importante para construir o percusso.
— Não se abalem pelas perdas. Nem chorem pela traição.
— Cuidem dos seus amigos e sejam bons amigos também.
— Por fim, parece que essa apresentação apelou um pouco pro sentimentalismo não é mesmo? — disse rindo.
— E encerramos por aqui, pessoal. Tirem suas próprias conclusões. — Samantha completou.
Talvez a gente tenha levado um pouco pro lado pessoal. Só um pouco.
— Um filme inesquecível? — perguntei enquanto levava mais uma colher do sorvete a boca.
— A vida é bela — Gabe respondeu de prontidão.
Estávamos caminhando pela areia da praia enquanto tomávamos sorvete. Eu o obriguei a sair de casa e me levar a algum lugar.
— Acho que nunca ouvi falar — dei de ombros.
— Como você nunca assistiu esse filme?! É um clássico! — ele fingiu estar ofendido.
— Fala sobre o quê? — perguntei.
— É sobre o período da segunda guerra e uma família judia. Não vou dar spoilers, você tem que assistir.
— Vou assistir hoje mesmo!
— Prepare os lenços de papel. Você com certeza vai chorar — ele levou mais uma colher do sorvete amarelo a boca.
— Como tem tanta certeza? — retruquei.
— Clara, você chora toda vez que assiste Marley e eu. Eu chorei assistindo esse filme, imagine você!
— Tá ai uma coisa que eu gostaria de ver: o insensível Gabe chorando por um filme — disse rindo e ele me acompanhou.
— Você pretende fazer o quê quando sair do colégio? — ele perguntou após um tempo em silêncio.
— Ainda não tenho certeza. Esse é o último ano e não sei qual curso escolher — respondi fitando meus pés na areia.
Nós paramos e Gabe se sentou na areia olhando para a água. Eu o acompanhei e fiquei observando o balançar das ondas.
— Por que você não segue o ramo da música? Tá na cara que você ama isso — ele respondeu enquanto tentava desenterrar uma concha ao seu lado.
— Eu pensei nisso, mas o Matheus vive me dizendo que música não dá dinheiro e que eu sou péssima tocando. Ele sugeriu Direito — falei juntando um monte de areia na minha frente.
— Você sabe que aquele garoto é um babaca egoísta, não sabe?! Você toca e canta de uma forma apaixonante, Clara. E sinceramente você não combina com papéis e escritórios — falou com o tom de voz levemente alterado.
— E você? Não pensa em seguir outros rumos? — perguntei tentando fugir do assunto "Matheus".
— Eu inicei a faculdade de contabilidade há alguns anos, mas as coisas lá em casa ficaram complicadas e eu tive que trancar o curso para conseguir um emprego — respondeu fitando o horizonte.
— Foi assim que você veio trabalhar comigo? — ele meneou a cabeça em afirmação e continou olhando fixamente para o mar.
— Quando a Ayla sai de férias? — perguntei tentando quebrar o clima esquisito que se instaurou.
— Ela já tá de férias. A escola dela libera os alunos um tempo antes das outras.
— Ah, que ótimo! Então eu posso chama-la para ir la pra casa? — perguntei um tanto receosa.
— Ela vai adorar. Desde que você foi lá ela não para de falar sobre você — um sorriso apareceu em seu rosto como se o simples ato de pensar na sua irmã o acalmasse.
— Vovó está louca para conhecê-la. Vou ver a data com ela e aviso para você chama-la.
— Eu não me responsabilizo por qualquer dano causado por ela — ele levantou as mãos em sinal de rendição e soltou uma gargalhada, a qual foi inevitável sorrir também.
— Setenta por cento da nota? Ariel me irrita — falei olhando para a tela do notebook.
Ariel liberou as notas do seminário no sistema e nos deu setenta por cento. Aparentemente nós "fugimos do tema proposto". Besteira.
Duas batidas na porta ecoaram pelo quarto: vovó. Eu pedi que ela viesse para conversarmos sobre a vinda de Ayla.
— Clara? — ela abriu um pequeno vão na porta.
— Pode entrar! To deitada! — respondi fechando a tela do notebook.
— Você queria falar comigo? — ela perguntou enquanto sentava na ponta da cama.
— Sim. Gabe disse que a Ayla já está de férias e pensei de trazê-la pra passar uns dias conosco.
— Eu vou adorar! Vou pedir a Olga para preparar o quarto de hóspedes e vou preparar um piquenique pra vocês duas.
Vovó ficou mais animada do que a própria Ayla.
FELIZ NATAL MOREEESSS♡
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