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capítulo 20 - Clara

Domingos habitualmente são dias ótimos da semana, mas agora estou aprendendo que nessa casa é meio complicado conseguir um dia bom.

Bem, eu não estou mau humorada, longe disso! Eu estou com raiva, fúria, vontade de jogar Gabe pela janela e logo em seguida um piano em cima dele!
O motivo? Obviamente o próprio Gabe.

Basicamente, eu estava no meu sono pleno, o qual eu consegui com muito esforço, dormindo tranquilamente na minha cama quando o ser humano que ainda não sei porquê não demiti, entrou no meu quarto batucando uma colher na panela NO MEU OUVIDO! Onde estão os limites? Onde????

— Acordou? — perguntou se afastando. Pergunta óbvia pra se fazer nesse momento não é mesmo? Gabe eu ainda te mato!

— Não, querido, permaneço dormindo. Talvez você tenha que escolher uma panela maior ou então me jogar para fora da cama — respondi cinicamente.  — ÓBVIO QUE EU ESTOU ACORDADA, IDIOTA!

— Seu humor matinal me encanta!  — disse calmamente.

— Dá pra você me explicar por que me tirou da cama às...  — Peguei me celular para conferir o horário. — SEIS HORAS DA MANHÃ?! GABE, EU VOU TE MATAR!  — levantei num pulo e corri atrás dele.

— Calma, garota! Eu hein, ainda acha que vim te acordar de bom grado! — falou segurando meus braços enquanto eu tentava inutilmente me soltar.

— Por que você me acordou? Hein? Eu poderia estar num sonho importante!

— Olga pediu para te acordar e avisar que você tem visitas. Na verdade acho bom você se arrumar voando porque daqui a pouco o velho desiste de ouvir as histórias de quando sua prima morava em Paris. Aquela garota é ridícula — disse enquanto saía do quarto.

Velho? Qual o velho que resolveria me visitar justo agora? Só me falta ser um amigo do meu pai.
Sendo ou não, tenho que salvar o pobre coitado do martírio de ouvir Cora falar de todos os casacos da Channel que comprou.

— Então, Dr. Juarez, como eu estava dizendo, Paris é um lugar muito receptivo, deveria ir lá nas próximas férias. Tenho ótimas indicações — Cora dizia no momento em que cheguei a sala. Ela estava sentada na poltrona do lado oposto ao sofá onde um senhor de terno estava sentado segurando uma xícara que deduzi ser de café, assim como Cora.

— Cora querida, creio que manteve ótimos assuntos com minha visita. Pode deixar que a partir daqui eu assumo! — disse atraindo a atenção dos dois. O senhor se levantou e veio em minha direção estendendo a mão.

— Senhorita Clara? Prazer em conhecê-la, sou advogado de seus pais e tenho assuntos importantes para serem tratados com você. Podemos conversar em particular? — pediu apontando com a cabeça discretamente na direção de Cora.

— Claro! Vamos até o antigo escritório do meu pai — disse me virando para subir novamente as escadas.

— Senhorita? — perguntou me fazendo parar perto da escada.

— Sim?

— Creio que será de suma importância a presença da senhora Úrsula — falou assim que me virei.

— Úrsula?! — perguntei surpresa. Qual o motivo de incluí-la nessa conversa?

— Sim.

— Está bem. Cora, você poderia chamar Úrsula pra mim? — pedi para ela que estava mexendo no celular.

— Ah! Manda aquele motorista de nome esquisito chamar ela. Tô ocupada! — respondeu sem desgrudar os olhos da tela.

— Cora, eu preciso te lembrar que Gabe é meu motorista e não seu mordomo? Se pedi a você é você e pronto. Se quisesse que ele a chamasse eu teria chamado ele não você!

— Ninguém precisa me chamar! Já estou aqui! Ia trazer esses biscoitos e mais café quando ouvi a discussão. — Úrsula chegou com uma bandeja nas mãos.

— Então vamos logo! — disse subindo as escadas.

— Bem, esse é um dos assuntos que não gosto de tratar, mas como advogado da família sou obrigado a fazê-lo — ele iniciou assim que estávamos no escritório. — Antes do acidente seus pais já haviam feito o testamento caso algo acontecesse à eles.

— Meus pais sempre foram precavidos — falei.

— Todos os bens, incluindo as empresas pertencentes ao grupo Monnes, as quais seu pai, Marcos Albuquerque, é sócio majoritário passam efetivamente para o seu nome — falou estendendo um papel que tirou da pasta em minha direção.

— Porém, como você acabou de completar dezessete anos ainda não está apta para gerir os negócios de seu pai. Por isso os bens serão administrados por um parente próximo a você até que complete a maioridade.

— O único parente que tenho é tio James, irmão de meu pai — respondo analisando o documento.

— Segundo o testamento você tem outro parente próximo e que seus pais intitularam como sua tutora  — falou entregando outra folha a mim.

— Quem? Não tenho parentes próximos a não ser meu tio.

— Sua avó, Úrsula Ferreira.

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