Interlúdio 2: Último Ato do Destino
Data de publicação: 23/08/2024
Palavras: 5.189
Com o imperador de Partum ausente, o império foi lançado ao caos. Os invasores, como abutres famintos, aproveitaram a oportunidade para saquear e pilhar sem misericórdia. Relíquias sagradas, acumuladas ao longo de eras, e montanhas de ouro foram tomadas sem hesitação. A glória e a riqueza de Partum estavam sendo desmanteladas, peça por peça, por mãos ávidas e corações sem escrúpulos.
Mas, enquanto o império caía no desespero, o que acontecia com o imperador Reuel Ashford-Valet nas profundezas do domínio de MORS?
Na morada sombria de MORS, Reuel descansava. O cansaço que envolvia seu corpo era um reflexo do peso que sua alma carregava. Sua mente, antes afiada, estava agora enevoada, perdida entre lembranças fragmentadas e sombras de um passado esquecido. Por um tempo, MORS permitiu que ele descansasse, mas esse repouso não poderia durar para sempre. A entidade sombria sabia que precisava moldá-lo, forjá-lo novamente.
- Chegou a hora, Reuel - MORS sussurrou, sua voz ecoando pelas paredes escuras da morada. - Não posso deixar que você permaneça assim, um mero reflexo do que um dia foi. Preciso que se lembre, que recupere a grandiosidade de Jhon Frederick.
Com isso, o treinamento começou. MORS, implacável, exigia de Reuel uma força e disciplina que ele mal podia suportar. Cada sessão era um mergulho profundo em sua própria essência, uma luta para arrancar do fundo de sua alma as memórias de um tempo em que ele era mais do que um homem. No entanto, por mais que ele tentasse, os fragmentos de seu passado celestial permaneciam dispersos, como peças de um quebra-cabeça impossível de montar.
O tempo passava, e a frustração de MORS crescia. Ela podia sentir o poder latente dentro de Reuel, mas as memórias que o tornariam completo, que restaurariam sua verdadeira identidade, permaneciam fora de alcance. Finalmente, ela percebeu que o treinamento físico e mental, por mais intenso que fosse, não seria suficiente.
- Há coisas que você precisa ver, Reuel, coisas que você construiu antes de ser condenado a essa forma mortal - disse MORS, sua voz tingida de uma determinação fria. - Venha, está na hora de encarar seu legado.
Com um gesto simples, MORS abriu um portal, uma fenda entre mundos que pulsava com uma energia antiga e poderosa. Reuel hesitou por um momento, sentindo uma estranha mistura de temor e curiosidade. Mas o olhar de MORS, intenso e inabalável, não permitia dúvidas. Ele atravessou o portal, seu coração batendo com uma nova expectativa.
O que ele encontrou do outro lado era algo além de sua compreensão. Construções grandiosas, erguidas por suas próprias mãos em um tempo esquecido, se revelavam diante dele. Cada pedra, cada detalhe, era um testemunho de sua antiga glória, de um poder que ele mal conseguia compreender agora. As memórias começaram a se agitar em sua mente, como fantasmas despertando de um longo sono.
- Isso... eu fiz isso? - Reuel murmurou, sua voz carregada de incredulidade.
MORS apenas observava, um sorriso frio nos lábios. Ela sabia que essa era apenas a primeira de muitas revelações que ele enfrentaria. O caminho para recuperar suas memórias estava apenas começando, e cada passo o levaria mais perto de se tornar o que ele realmente era: um celestial, um ser de poder inimaginável.
Mas, por enquanto, Reuel estava preso entre dois mundos, lutando para reconciliar o homem que era com a entidade que ele sempre foi. E, enquanto ele caminhava por entre os monumentos de seu passado, o verdadeiro destino de Partum começava a se desenrolar, guiado por mãos invisíveis e por um poder que estava além do controle de qualquer mortal.
Foi então que MORS decidiu arriscar tudo. Sabia que os métodos tradicionais não estavam surtindo efeito, então optou por uma abordagem mais ousada. Ao invés de mostrar a Reuel Ashford-Valet uma construção ou um artefato, ela o levou ao local onde ele havia encontrado sua morte em uma vida passada, um sacrifício que salvou todos os universos.
- Está na hora de você ver algo mais profundo, Reuel - murmurou MORS, suas palavras ressoando com uma gravidade incomum.
Com um gesto elegante, ela abriu um portal, revelando um vasto vazio. Ao atravessar, eles emergiram em um ponto distante do espaço, um lugar que os celestiais consideravam um cemitério vazio. Era um universo que sucumbiu ao caos e à destruição, uma vastidão escura e silenciosa, onde até as estrelas pareciam mortas.
Quando Reuel Ashford-Valet pôs os olhos naquele lugar, algo dentro dele se agitou violentamente. Era como se uma dor antiga, há muito enterrada, tivesse sido despertada. Seu coração acelerou, e uma fúria ardente começou a crescer em seu peito, irradiando por todo o seu corpo. O vazio ao redor parecia refletir o vazio em sua própria alma, como se algo crucial estivesse faltando, algo que ele não conseguia identificar.
Ele tentou respirar fundo, mas o ar parecia pesado, quase sufocante. A memória desse lugar, mesmo que distante e nebulosa, era poderosa o suficiente para rasgar as camadas de sua mente que mantinham suas lembranças enterradas. Cada fibra de seu ser gritava para sair dali, para escapar daquela dor insuportável.
- MORS, tire-me daqui! - Reuel implorou, sua voz carregada de angústia e desespero.
MORS o observou por um momento, suas feições imperturbáveis, antes de acenar com a cabeça. Ela sabia que pressionar mais poderia quebrá-lo de um jeito irreparável. Com um simples movimento, ela os levou de volta à morada sombria onde ela residia.
Assim que voltaram, o corpo de Reuel relaxou, mas o peso emocional ainda estava lá, pendente sobre ele como uma tempestade iminente. Ele se sentou, cobrindo o rosto com as mãos, tentando acalmar a turbulência dentro de si.
- O que você sentiu lá? - MORS perguntou, sua voz suave, mas com uma curiosidade calculada. Ela precisava das respostas certas, precisava que ele se lembrasse.
Reuel permaneceu em silêncio por um momento, seus pensamentos uma confusão caótica. Quando finalmente falou, sua voz estava quebrada, repleta de uma dor que ele não conseguia compreender completamente.
- Aquele lugar... trouxe uma dor imensa, como se minha alma estivesse relembrando algo que minha mente ainda não consegue alcançar. É como se eu soubesse o que aconteceu, mas não consigo... não consigo me lembrar.
MORS permitiu que um leve sorriso tocasse seus lábios, um sinal quase imperceptível de satisfação. Ela sabia que esse era um avanço, um pequeno passo em direção ao despertar das memórias de Jhon Frederick.
- Isso é um bom sinal, Reuel - disse ela, seu tom agora ligeiramente mais caloroso. - Sua alma está começando a se lembrar, mesmo que sua mente ainda lute contra isso. Estamos mais perto do que você imagina.
E assim, MORS permaneceu ao lado de Reuel, ciente de que o processo seria lento e doloroso, mas também sabendo que cada passo os aproximava do que ela mais desejava: trazer de volta o celestial que um dia havia sacrificado tudo para salvar o universo.
Depois daquele dia fatídico, Reuel Ashford-Valet se isolou em seu quarto por seis dias inteiros, afastando-se de tudo e de todos. A tormenta em seu coração era avassaladora, uma mistura confusa de emoções e fragmentos de memórias que ele não conseguia entender completamente. A solidão do quarto parecia ser a única companheira que ele desejava naquele momento. Enquanto o mundo lá fora continuava a girar, Reuel mergulhava cada vez mais fundo em suas lembranças durante o sono, na esperança de encontrar respostas para o vazio que sentia. Contudo, cada vez que se aproximava de algo concreto, algo o impedia de avançar, como se uma barreira invisível estivesse mantendo suas memórias mais preciosas fora de alcance.
Em seu último "mergulho" nas profundezas de sua mente, ele se encontrou em uma sala antiga, um espaço etéreo onde os nomes de todos os filhos que ele havia criado em sua vida passada estavam inscritos nas paredes, como marcas indeléveis na pedra do tempo. Um nome, no entanto, brilhou com uma intensidade incomum, chamando sua atenção: Violet. Ao pronunciar o nome em sua mente, uma onda de calor e familiaridade o envolveu, como se um laço invisível fosse reativado. Curioso e ansioso, Reuel acessou as memórias associadas a Violet, sentindo uma mistura de conquista e alívio invadirem sua alma enquanto a última lembrança com ela se desdobrava diante de seus olhos.
Memória com Violet:
Jhon Frederick estava concentrado, martelando cuidadosamente uma espada em sua forja, o calor do metal sendo moldado por suas mãos experientes. Cada golpe era preciso, carregando não apenas força, mas também um propósito maior, um significado que apenas ele compreendia. Era como se cada batida do martelo estivesse alinhada com os ritmos do universo.
De repente, Violet apareceu na entrada, seu rosto pálido refletindo a urgência de sua descoberta. Seus olhos, normalmente tão serenos, estavam agora cheios de preocupação.
- Meu pai, eu encontrei! - disse ela, sua voz carregando uma mistura de alívio e apreensão.
Jhon Frederick parou o que estava fazendo, erguendo o olhar para sua filha com um interesse renovado.
- Então fale, Violet - respondeu ele, sua voz firme, mas com uma ternura reservada apenas para ela.
Violet deu um passo à frente, hesitando por um breve momento enquanto organizava seus pensamentos. Ela sabia que o que estava prestes a dizer poderia mudar tudo.
- Na linha do tempo... e no próprio destino... você não existe em nenhuma delas. - A voz de Violet tremeu ligeiramente ao pronunciar essas palavras, como se o peso da revelação fosse demais para suportar. - É como se você fosse um ponto fixo, imutável no destino. Impossível de alterar. Você não possui um destino... justamente porque você não tem um.
Houve um breve silêncio, onde as palavras de Violet ecoaram pela forja, mesclando-se ao som das brasas que crepitavam lentamente. Jhon Frederick sorriu por um momento, um sorriso enigmático que não revelava nem medo, nem surpresa.
- Ainda não possuo um destino, Violet - disse ele, sua voz profunda e cheia de mistério. - Mas tudo mudará após a minha morte. É só então que os meus planos começarão a ser colocados em ação.
A expressão de Violet endureceu, seus olhos se estreitaram em descrença e preocupação. Ela sabia do que ele falava, mas não conseguia aceitar. Seu coração começou a bater mais rápido, a ansiedade tomando conta de suas palavras.
- Pai, isso é loucura! - Violet exclamou, dando um passo à frente, sua voz tremendo com a mistura de raiva e medo. - Você não pode simplesmente sacrificar tudo... sacrificar a si mesmo por um plano tão... tão incerto! Entrar no locus primordial? Isso é suicídio!
O sorriso de Jhon Frederick desapareceu, substituído por uma expressão de seriedade implacável. Ele sabia que sua decisão era difícil de compreender, especialmente para alguém que ele tanto amava.
- Eu sei que é difícil, Violet. Mas o que estou fazendo é necessário. Só ao entrar no locus primordial poderei garantir que o universo siga o caminho que deve seguir. E só posso fazer isso após minha morte.
Violet balançou a cabeça, recusando-se a aceitar aquelas palavras. O medo em seu coração transformou-se em uma fúria desesperada, uma necessidade de proteger seu pai do que ela via como uma loucura inevitável.
- Eu não posso aceitar isso! - Ela gritou, sua voz ecoando pela forja. - Eu... eu não vou ajudar você a se destruir, pai!
A tensão no ar era palpável, o confronto entre pai e filha carregado de emoção. Violet, com o coração apertado e lágrimas não derramadas, deu as costas a Jhon Frederick, incapaz de suportar a ideia de perder seu pai para um destino tão sombrio. Ela saiu, deixando Jhon Frederick sozinho com seus pensamentos, o som da porta se fechando atrás dela ecoando como um prenúncio da separação iminente.
Jhon Frederick ficou em silêncio por um longo momento, seu olhar fixo na espada inacabada em suas mãos. Ele sabia que o caminho à frente seria solitário, mas a determinação em seus olhos não vacilou. O destino que ele ainda não possuía estava se desenhando, e ele estava preparado para pagar qualquer preço necessário.
Reuel Ashford-Valet, após visualizar aquela memória devastadora, finalmente compreendeu a razão por trás da recusa de Violet em vê-lo. O peso dessa revelação pressionou sua mente, trazendo um turbilhão de emoções que ele mal conseguia controlar. No entanto, Reuel, sendo impulsivo e determinado, tomou uma decisão arriscada. Ele sabia que precisava de respostas e estava disposto a enfrentar qualquer risco para obtê-las.
Decidido, ele começou a conjurar uma magia proibida, uma que lhe permitiria falar com seus antepassados. Era uma arte antiga e perigosa, conhecida por consumir até mesmo os mais poderosos. Mas Reuel não hesitou. A sala em que ele estava se encheu de uma energia pulsante, densa e avassaladora. O ar tremulava com a pressão mágica, e os objetos ao redor começaram a vibrar e a se deslocar, como se temessem o poder que estava sendo invocado.
MORS, sentindo essa energia anormal, soube imediatamente o que estava acontecendo. O temor atingiu ela em cheio, pois conhecia o perigo daquela magia, especialmente nas mãos de alguém como Reuel. Num ato desesperado, MORS se teleportou para o quarto de Reuel, a tempo de ver os últimos fios de energia se entrelaçando, prontos para completar o feitiço.
- Reuel, pare! - MORS gritou, sua voz carregada de urgência. Mas era tarde demais.
No instante em que MORS chegou, a magia foi finalizada, e Reuel entrou em transe. Em uma fração de segundo que parecia uma eternidade, ele se viu frente a frente com uma versão antiga de si mesmo, um fragmento do poderoso ser que ele costumava ser. O olhar de seu antigo eu era intenso, quase como se perfurasse sua alma, e em um sussurro grave, a entidade lhe deu as respostas que ele tanto ansiava, revelando verdades sobre o poder que corria em suas veias e o destino sombrio que o aguardava.
MORS, percebendo o que estava em jogo, interveio com todas as suas forças, rompendo o transe de Reuel. A conexão foi cortada abruptamente, e Reuel foi lançado de volta à realidade com uma dor aguda atravessando sua cabeça.
- O que você pensa que está fazendo? - Reuel rugiu, seus olhos faiscando de raiva. Ele se levantou, encarando MORS com uma fúria intensa. - Você me interrompeu no momento mais importante!
MORS, ainda abalada pela gravidade da situação, manteve a compostura, mas sua voz estava carregada de seriedade.
- Você não entende, Reuel. Essa magia... - Ele fez uma pausa, tentando encontrar as palavras certas. - Não deveria ter sido usada, especialmente por alguém como você. Agora, eles sabem onde você está. Os verdadeiros inimigos de Jhon Frederick sentiram sua presença.
Reuel congelou por um momento, sua raiva sendo substituída por uma onda de medo e compreensão. Ele sabia que havia cometido um erro grave. Mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar o que havia aprendido naquele breve instante de conexão.
- Eu precisava das respostas - murmurou Reuel, sua voz agora mais contida, mas ainda carregada de frustração. - E agora sei o que devo fazer, MORS. Mas a que custo?
MORS o observou por um momento, percebendo o conflito interno que se desenrolava dentro de Reuel. Ele sabia que não poderia protegê-lo de tudo, e que, eventualmente, Reuel teria que enfrentar seus inimigos, armado apenas com as verdades que acabara de descobrir.
- O caminho à frente será difícil, Reuel. - MORS disse, sua voz mais suave agora. - Mas você não precisa enfrentá-lo sozinho. Tome cuidado. Agora, mais do que nunca, eles estarão à sua procura.
Reuel assentiu, ainda sentindo a fúria ardendo sob a superfície. Mas agora havia um novo sentimento se formando dentro dele: a determinação de enfrentar o que viesse, sabendo que estava mais preparado do que antes.
- Vamos ver quem encontra quem primeiro - Reuel sussurrou para si mesmo, virando-se para sair da sala, deixando MORS para trás, refletindo sobre o que o futuro traria.
MORS, com o semblante severo e os olhos cintilando de irritação, aproximou-se de Reuel Ashford-Valet, sua voz carregada de uma frieza cortante enquanto começava a revelar a verdade que o trouxera até os domínios dela.
- Reuel! - chamou ela, sua voz soando como um trovão abafado. - Já que você parece ter uma inclinação tão forte pelo perigo, acho que está na hora de lhe contar a verdade por trás do motivo de trazê-lo até aqui.
Reuel franziu o cenho, desconfiado, tentando decifrar o que se escondia nas palavras de MORS.
- Como assim, MORS? - perguntou ele, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e apreensão.
MORS suspirou, como se estivesse prestes a carregar um fardo pesado, antes de continuar.
- Tudo o que lhe disse era verdade - começou ela, sua voz agora mais sombria, quase como se estivesse admitindo um pecado. - Mas deixei algumas coisas de fora. Os reinos do mundo inteiro estavam se preparando para atacar seu império, e você não podia estar presente para defender sua terra. Eles possuíam um artefato capaz de roubar seus poderes. Se estivesse lá, eles o teriam destruído, e com você morto, o império cairia.
Reuel, ao ouvir essas palavras, sentiu um fogo crescente queimando dentro de si. Seus olhos, antes cheios de desconfiança, agora ardiam em fúria.
- Você os deixou destruir meu império? - rugiu ele, a voz reverberando pelas paredes, quase como um animal encurralado. - MORS, leve-me de volta! Agora!
MORS, mantendo-se firme apesar da tempestade de ira de Reuel, balançou a cabeça lentamente, sua expressão carregando uma calma inquietante.
- Ainda não é a hora certa, Reuel - respondeu ela, sua voz mantendo-se firme, mesmo diante da fúria de Reuel. - Há mais em jogo do que você pode ver agora.
Reuel encarou MORS, seu coração dividido entre a necessidade urgente de voltar e a amarga compreensão de que MORS, por mais traiçoeira que pudesse parecer, estava de algum modo protegendo-o de um destino pior.
Com Reuel Ashford-Valet preso nos domínios de MORS, ele se debatia em busca de uma saída. Tentou de tudo: usou sua força para derrubar barreiras invisíveis, procurou brechas nas sombras que envolviam aquele lugar, mas tudo era em vão. Cada tentativa frustrada só aumentava sua angústia, e a percepção de que estava em uma prisão sem portas o deixava à beira da loucura.
MORS, observando-o de longe, mantinha-se em silêncio. Ela sabia que o desespero de Reuel apenas cresceria, mas não poderia revelar o verdadeiro motivo de sua reclusão, um segredo sombrio que ele desconhecia: Will, o lado oposto de Reuel Ashford-Valet. Para ser mais preciso, Will era a antítese de Jhon Frederick.
Will era uma entidade que compartilhava a mesma aparência de Reuel, porém com olhos vermelhos carmesim, que irradiavam uma malícia pura. Sua aura, densa e maléfica, fazia o ar ao seu redor tremer. Anteriormente, Will havia ajudado Jhon Frederick em várias ocasiões, mas a reencarnação de Jhon Frederick como Reuel Ashford-Valet alterara profundamente o equilíbrio entre eles. O que antes era uma relação de aliança tensa, agora se transformara em uma tempestade de ressentimento e ódio.
- Por que ele teve que mudar tanto? - Will resmungava em fúria, enquanto percorria os corredores escuros do império de Partum. Cada passo seu fazia o chão sob seus pés parecer encolher-se de medo. - Esse novo Reuel... ele é fraco! Ele deve ser eliminado!
Se Reuel Ashford-Valet e Will se encontrassem, o confronto seria inevitável. A tensão entre os dois atingiria seu ápice, e as probabilidades não estavam a favor de Reuel. MORS sabia disso, e por isso o mantinha em seus domínios, onde ele estaria seguro, pelo menos por enquanto.
- Eles não podem se encontrar, - murmurava MORS para si mesma, observando Reuel de seu trono sombrio. Seus olhos, frios e calculistas, acompanhavam cada movimento dele. Ela já sabia que Will havia se infiltrado no império de Partum, e a simples ideia de um encontro entre os dois a deixava apreensiva. - Não importa o que aconteça, Reuel não pode sair daqui... não agora.
Reuel, ainda ignorante das forças que o mantinham prisioneiro, continuava a lutar contra sua clausura, sentindo a cada segundo que algo terrível estava à espreita. Algo que nem mesmo seus poderes podiam enfrentar sozinho.
Porém, Will não estava completamente desvantajado. Havia uma sombra que pairava sobre ele, uma figura que o atormentava mais do que qualquer outra coisa: Penélope. O ódio de Will por ela era visceral, mas misturado com um medo que ele mal conseguia disfarçar. Só de pensar em sua presença, o corpo de Will se retraía em pavor. Lutar contra ela, ou até mesmo estar perto dela, era algo que ele não podia suportar. O terror que Penélope lhe inspirava era tão profundo que corroía até suas intenções mais sombrias.
Enquanto vasculhava os corredores frios e opulentos do palácio de Partum, a frustração de Will crescia, fazendo seus passos ecoarem com força pelo mármore. Sua busca por Reuel Ashford-Valet estava sendo mais árdua do que imaginara, e a tensão se acumulava como uma tempestade prestes a desabar.
- Que merda! - rosnou ele, seus punhos cerrados, quase perfurando a pele de suas palmas. - Já vasculhei esse maldito império de ponta a ponta. Só falta esse maldito palácio... e mesmo assim, não há nenhum rastro daquele desgraçado!
Sua voz reverberou pelos corredores vazios, carregada de uma ira que beirava o desespero. Will estava claramente irritado, seus olhos vermelhos ardendo com uma fúria intensa, mas era mais do que isso - era o medo que o empurrava para frente, uma necessidade desesperada de encontrar Reuel antes que Penélope se tornasse uma ameaça real.
Cada fracasso em sua busca parecia alimentar sua raiva, mas, ao mesmo tempo, revelava a vulnerabilidade que ele tanto tentava esconder. A sombra de Penélope estava sempre presente em sua mente, e ele sabia que, se ela aparecesse, sua força e determinação poderiam ruir diante daquele medo paralisante.
Will, com o coração pulsando de raiva e medo, continuou sua busca incansável por Reuel Ashford-Valet. Ele rastejava pelos corredores escuros do palácio de Partum, cada sombra se tornando uma possível ameaça, cada canto um esconderijo. Seu olhar frenético examinava cada detalhe, mas seu instinto o alertava constantemente do perigo iminente.
Enquanto investigava uma sala adornada com tapeçarias antigas, Will ouviu passos pesados se aproximando. Seu corpo se enrijeceu, e ele rapidamente se escondeu atrás de uma coluna de mármore, mal conseguindo respirar. Do outro lado da sala, ele viu Virtus, uma figura imponente e intimidante, atravessar o espaço com a expressão severa, completamente alheio à presença de Will.
- Virtus... - pensou Will com desprezo, observando o guerreiro com desdém. - Esse bastardo se acha tão justo e leal... mas tudo que ele faz é seguir ordens cegamente como um cão de guarda. Ele não passa de uma marionete, um fantoche nas mãos de quem o controla.
Will aguardou até que Virtus desaparecesse pelo corredor antes de continuar sua busca. A tensão em seu corpo era palpável, e ele sabia que precisaria ser ainda mais cauteloso. Não estava mais apenas caçando Reuel; estava tentando sobreviver.
Enquanto se movia silenciosamente por uma série de corredores sinuosos, Will quase se chocou com Balthazar, o mestre das sombras. O ar ao redor de Balthazar parecia vibrar com uma energia sinistra, e Will, instintivamente, se atirou contra a parede, fundindo-se com as sombras para não ser notado.
- Balthazar... - pensou ele, reprimindo um calafrio de repulsa. - Um carniceiro, sempre envolvido em batalhas sangrentaz. Ele se acha intocável, mas no fundo, não passa de um covarde, escondido em suas próprias sombras.
Will permaneceu imóvel, observando enquanto Balthazar se afastava, desaparecendo na escuridão. Seu ódio por aqueles que encontrava só aumentava, mas com ele, também crescia o medo. O palácio estava se revelando mais perigoso do que ele previra.
Continuando sua busca, Will entrou em uma grande sala repleta de armaduras antigas e relíquias de guerra. Foi então que ele viu Azaryon, o guardião das chamas eternas, cujos olhos brilhavam como brasas vivas. Will, sentindo o calor irradiar da presença de Azaryon, rapidamente se abaixou atrás de uma grande estátua, suprimindo o impulso de atacar.
- Azaryon... - pensou Will, com um olhar carregado de desprezo. - Sempre tão imerso em suas chamas, como se isso o tornasse especial. Um tolo que acha que o fogo é a resposta para tudo, mas na verdade, ele não passa de um louco, obcecado por poder destrutivo.
À medida que o tempo passava, a frustração de Will aumentava, mas também sua percepção de que continuar aquela busca no palácio era uma ideia suicida. A presença de Virtus, Balthazar e Azaryon indicava que Penélope poderia estar por perto, e o medo de encontrá-la começou a dominar sua mente. Cada passo que dava parecia trazer à tona a certeza de que a qualquer momento ele poderia ser confrontado pelo seu pior pesadelo.
- Droga, esse lugar é um maldito labirinto, e cada curva só aumenta as chances de eu ser descoberto por ela, - resmungou Will para si mesmo, a voz carregada de raiva contida. - Preciso ser mais esperto do que isso. Se Penélope estiver aqui... preciso sair antes que ela me encontre.
Com essa terrível constatação, Will começou a considerar recuar. A busca por Reuel estava se tornando uma armadilha mortal, e ele sabia que enfrentar Penélope significaria sua provável destruição.
Will, agora ciente do perigo que o cercava, tomou uma decisão arriscada. Ele sabia que, se Reuel estivesse escondido em algum lugar do palácio, o andar dos quartos nobres seria um dos locais mais prováveis. Reunindo toda a coragem que ainda lhe restava, começou a subir a longa escadaria que levava àquela parte mais reservada do palácio.
Cada degrau que Will subia parecia aumentar o peso em seus ombros. O corredor que se estendia à sua frente estava silencioso, quase opressivo, como se o próprio ar estivesse denso com a tensão que pairava sobre o lugar. As paredes eram adornadas com tapeçarias suntuosas, e o chão coberto por um tapete vermelho escuro que abafava o som de seus passos.
Ao chegar ao andar dos quartos nobres, Will começou a abrir as portas com cuidado, uma a uma. No primeiro quarto, encontrou apenas uma grande cama de dossel e móveis luxuosos, mas nenhum sinal de Reuel. O segundo quarto, no entanto, guardava uma surpresa que ele jamais poderia ter antecipado.
Quando Will empurrou a pesada porta de carvalho, o que viu fez seu sangue gelar nas veias. Dentro do quarto, de costas para ele, estava Penélope, em meio a uma conversa com Elara. A visão da figura de Penélope foi suficiente para fazer o coração de Will disparar em um terror quase paralisante. O som de sua voz, suave e autoritária ao mesmo tempo, o atingiu como um golpe mortal.
- Elara, não podemos subestimar a situação. Reuel ainda está preso nos domínios de MORS, mas não podemos baixar a guarda. - Penélope falava calmamente, mas com uma firmeza que mostrava sua total confiança.
Elara, que estava sentada em uma poltrona próxima, acenou com a cabeça em concordância. - Sim, Penélope. Estamos preparados para qualquer eventualidade.
Nesse instante, Will, completamente petrificado pelo choque, deu um passo involuntário para trás, seu pé batendo contra o batente da porta. O som, embora leve, ecoou no quarto. Penélope se virou bruscamente, seus olhos escuros como a noite fixando-se na entrada, e, por um segundo, os olhares de Will e Penélope se cruzaram.
O susto que Will levou foi tão grande que seu corpo reagiu por instinto. Ele soltou um grito abafado, como se sua garganta estivesse sendo estrangulada pelo próprio medo, e pulou para trás, quase tropeçando ao fazer isso. Sem sequer pensar duas vezes, virou-se e começou a correr, o pavor tomando conta de seus movimentos. Cada batida de seu coração soava como tambores de guerra em seus ouvidos, e ele mal conseguia respirar enquanto descia os corredores em disparada.
Penélope deu um passo à frente, como se fosse atrás dele, mas então parou, um sorriso frio se formando em seus lábios.
- Covarde... - murmurou ela, o som mal se fazendo audível para Elara, que apenas ergueu uma sobrancelha, sem entender exatamente o que acabara de acontecer.
Enquanto isso, Will corria desenfreadamente pelos corredores do palácio, como se estivesse fugindo da própria morte. A visão de Penélope, e a simples ideia de estar tão perto dela, foi suficiente para quebrar sua determinação. Ele atravessou o saguão principal e saiu do palácio, sentindo o ar frio da noite envolver seu corpo suado.
Finalmente fora, Will parou por um momento para recuperar o fôlego, ofegante e em pânico. Ele sabia que continuar sua busca ali seria suicídio. Penélope estava no palácio, e ele não tinha a menor chance contra ela.
Com um último olhar para o imponente palácio de Partum, Will desapareceu nas sombras, decidido a traçar um novo plano - um que o mantivesse o mais longe possível daquela mulher que o aterrorizava.
Will correu pelas vastas terras do império de Partum até que os altos muros do palácio desapareceram de vista. O pavor que o havia dominado enquanto fugia começou a dar lugar a uma fúria avassaladora. Cada passo que dava para longe do império era acompanhado por uma torrente de pensamentos sombrios, seu ódio por Penélope queimando como um fogo inextinguível.
Ele finalmente parou em uma floresta densa, longe dos domínios de Partum, onde as árvores torcidas e a escuridão total ofereciam um refúgio temporário. Will, ofegante e suando frio, chutou violentamente uma árvore próxima, rachando sua casca com o impacto.
- Maldita Penélope! - rugiu ele, sua voz carregada de ódio e frustração. - Como pode uma única pessoa arruinar todos os meus planos com sua simples presença?
Ele apertou os punhos até que seus nós dos dedos ficassem brancos, sentindo a fúria borbulhar dentro de si como lava prestes a explodir. Cada vez que imaginava o rosto frio de Penélope, o medo e a raiva se misturavam em sua mente, criando uma tempestade que ameaçava consumir sua sanidade.
- Eu estava tão perto... - sussurrou ele, mais para si mesmo do que para qualquer outro, o tom de sua voz agora tingido de amargura. - Tão perto de finalmente confrontar Reuel... e aquela mulher destruiu tudo!
Enquanto isso, nos domínios de MORS, a entidade observava tudo com um olhar sereno e calculista. Do seu trono sombrio, MORS sentia o alívio que a partida de Will trazia. A presença dele no império de Partum era uma ameaça que ela não podia ignorar. Mas agora, com Will afastado pelo medo que Penélope inspirava, a situação havia mudado completamente a seu favor.
- Finalmente... - murmurou MORS, um leve sorriso curvando seus lábios pálidos. - Com Will fora do império, nada mais impede que Reuel Ashford-Valet retorne ao seu domínio.
O momento que MORS aguardava chegou.
MORS se levantou, seus movimentos graciosos e fluídos, como se fosse feita de sombra líquida. Ela sabia que Reuel Ashford-Valet precisava voltar para o império, mas no tempo certo, no momento em que ele estivesse mais vulnerável, mais suscetível a suas manipulações.
- Que comece o próximo ato, - disse MORS para si mesma, enquanto começava a traçar os próximos passos de seu elaborado plano. Ela não tinha pressa, pois sabia que cada movimento precisava ser feito com precisão cirúrgica. Reuel estava prestes a ser libertado, mas a verdadeira batalha apenas começaria.
Enquanto isso, Will, ainda perdido em sua raiva, vagava sem rumo, incapaz de aceitar o fracasso de seus planos. Ele sabia que precisaria se recompor, mas no fundo, o medo de Penélope ainda o perseguia, uma sombra que não conseguia afastar, não importava o quanto tentasse.
E assim, o tabuleiro estava pronto para a próxima jogada, onde cada movimento poderia selar o destino de todos os envolvidos.
Caso você tenha gostado da história, não deixe de curtir e seguir. Seus comentários são extremamente valiosos para mim, então sinta-se à vontade para compartilhar suas opiniões e impressões.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro