Ele quer algo de mim.

Em sua maioria todos os homens sentados nas mesas com olhos lascivos que enchem o palco de dinheiro, querem.

Não é preciso explicar em palavras o que desejam porque os olhos normalmente dizem tudo que preciso saber para manter distância. Longe dos clientes e consequentemente longe dos problemas que eles traziam consigo. 

Mas ele me olha diferente de qualquer outro homem que frequenta esse bar.

Falta a depravação característica que estou acostumada, embora ainda haja desejo que infelizmente parece me atrair bastante. Aquela pequena parcela do querer que ele demonstra que não consigo definir precisamente me deixa alerta como também desperta minha curiosidade.

Seria complicado não reparar nele.

Lembro-me da primeira noite, ombros tensos rangendo o maxilar e olhos com raiva intensa e mesmo dançando consigo reparar, certificando-me de quais posso interagir e não ter problemas com um falso senso de intimidade que constroem. 

Seus olhos em confusão e como se tornaram apreciativos, consigo lembrar do toque firme em minha cintura oferecendo-me apoio. Assim como me recordo de suspirar em seu ouvido, conscientemente para provocar. 

Ele pareceu confiável.

— Sempre ameaça seus clientes?

— Somente aqueles que têm um charme diferenciado, do tipo matador.

Ele literalmente engasga com sua bebida tentando esconder o belo sorriso que cresce, olhos brilhantes e outra pessoa se mostra com grande suavidade. Homens como ele não tinham o bastante em beleza? Precisava mesmo desse sorriso? 

— Piada ruim, acho.

— Desculpe, não pretendia levar na brincadeira, mas o jeito que você falou foi engraçado.

— Não sou acusada disso com frequência. 

— De que?

— Ser engraçada.

Eu não estava sendo exagerada sobre, outras palavras eram usadas para me definir e nenhuma delas chegava perto de algo que indicasse bom humor. Essa não era minha missão de vida, sempre seria de Oliver que deixava as pessoas confortáveis e eu mantinha uma distância segura.

Enquanto era a pessoa reservada que normalmente passaria longe de multidões, Oliver as atraia como um imã. Conquistando sorrisos, despejando alegria e tornando um momento simples em uma nova maravilhosa lembrança. 

Independente disso, tinha o feito sorrir.

— Então, quem é Atena?

— E eu acreditando que todos soubessem quem era a divindade da sabedoria e inteligência. 

— Em teoria ela seria protetora de alguns meros mortais — Ele começa esquecendo a bebida e virando para mim. — Você desvia o propósito quando os seduz. 

— A sedução é melhor. Homens podem gostar de quem lhes oferece proteção, mas eles prometem mundos quando cativados o bastante. 

— Você procura mundos?

— Eu cobiço corações.

A intensidade dos olhos me avaliava mesmo sabendo que a resposta estava pronta na ponta da língua prestes a saltar, entretanto seu movimento seguinte resumiu-se em umedecer os lábios com a conclusão presa.

E quando a fervor de seus olhos encontram os meus é o melhor momento.

Eu enxergo o desejo que sensibiliza a derme e dificulta a respiração, trazendo consigo uma sensação inebriante que oscila no ouvido. Somente a proximidade é suficiente para fantasiar sobre seu toque, seu cheiro e sua necessidade.

— Por que não posso te beijar? 

— Porque não te conheço. 

— Você não quis dizer seu nome, não eu. — Brinca inclinando-se para perto, mais perto. — Eu beijo bem.

— O mundo tem sua cota de homens que beijam bem, isso não é artigo de raridade.

— Mas ainda assim, você quer — Um conquistador surge, confiança marcando as palavras deixando Jeon mais belo. — Deixe-me ser exato, você me quer. 

Seu olhar não desvia de mim intensos com curiosidade explícita e de repente não sei se ele quer apenas um beijo.

Ou mais, talvez tudo.

— Tem alguma coisa em você diferente dos outros, um querer diferente do deles — Explico. — Eu quero descobrir o que é, o que significa quando me olha.

— Como os outros clientes te olham?

— Não estou tentando descobrir como eles me olham, quero saber o que você quer quando me olha, Jeon.  

— Por que eu preciso querer algo?

— Os homens sempre querem alguma coisa das mulheres.

— É uma situação onde dois jogam, você não acha? — Pergunta mantendo o sorriso sem notar o leve incômodo que causa. — O que te deixou tão desconfiada?

— Eu não confio nas pessoas, elas são muito... instáveis — Digo seca, porém é a mais pura verdade.

Ele pega em minha mão ignorando o questionamento que envolve meus olhos, continua acariciando com tamanha delicadeza que me deixa desconcentrada. Seu polegar descendo para o pulso adquirindo mais força na hora de tocar e sobe novamente para a palma, desenhando as marcas uma vez, depois outra. 

Enquanto sua fascinação permanece presa ali nos movimentos repetitivos que aceleram a respiração, a minha se fixa no rosto concentrado. Ele não deveria ser atraente em tantas formas é quase injusto. Sua boca se abre levemente e os olhos se enchem de determinação.

Ele é incrivelmente lindo.

— Quer sair comigo?

Eu paro.

— Como?

— Um encontro, as pessoas jantam, uma conversa estimulante acontece e se eu for um homem de sorte — Ele levanta minha mão. — Posso ganhar aquele beijo.

Seu rosto desce percorrendo todo o meu antebraço terminando no pulso onde deixa um selar, o contraste logo é notado. Gelado e quente se misturando e não posso negar a atração que ele emana naturalmente.

— Dama da noite — Adivinha. 

Jeon se mantém perto com o nariz arrepiando minha pele e distraindo-me com seus toques. 

— Não costumo ir em encontros.

— Você não costuma conversar com clientes e ainda assim estamos aqui.

Gosto de como seu sorriso transparece sinceridade, como é sugestivo e encantador.

Gosto da sensação que me traz, mesmo não conseguindo explicar.

— O que pode acontecer de ruim, uh?

— Você pode se apaixonar por mim.

— Não estou procurando relacionamentos, além de tudo não acredito que me deixaria sofrendo.

— Não se engane comigo.

— Por que rostinho bonito? — Diz risonho.

— Tenho um rostinho bonito mas ainda posso partir seu coração.

— Você se superestima.

— Você que investe demais.

— Somente nas coisas que valem a pena — Seriedade envolve seu tom. — E não seriam essas as melhores coisas da vida?

Ele exibe uma promessa implícita nos olhos, uma que homens apenas transmitem e raramente cumprem. Não que minha experiência pudesse ser vasta ou longa, relacionamento ou propriamente interações com o sexo masculino nunca avançavam promissoriamente. 

Era sempre muito do mesmo.

Quando saio eles sempre ficam no mesmo lugar. Você é muito bonita, uma mulher atraente, você não parece ser quieta e calma. Eu não quero sair com alguém que fale o que pareço ou deixo de ser, quero conversar e conseguir falar sobre algo mais relevante do que o papel da mulher na sociedade.

Jeon escuta atento tudo que digo e não parece sempre prestes a me interromper para contar vantagem das suas conquistas que o tornam mais másculo. Ele tem um senso de humor adorável e seus olhos dizem mais do que apenas "objeto" quando me olha.

Mas não é somente isso que me faz aceitar.

É algo mais complexo, seja a maneira que reajo ao seu toque ou aquela coisa indefinida nos olhos dele. 

Tento resistir mas antes de lutar contra mim mesma solto uma leve risada, existe algo nele que me torna curiosa demais; péssima ideia.

— Um encontro, terça à noite. — Digo. — Mas teremos três regras que não podem ser quebradas ou ignoradas, nunca, você entendeu?

— Diga quais são.

— Primeira: não pergunte demais — Ele confirma. — Segunda: não me faça ligações tarde da noite. 

— E a terceira?

Transpareço em meu olhar toda sinceridade e observando-me seu semblante muda.

— Sempre me deixe ir, não importa como ou porquê nunca me peça para ficar.

Continua...

Para quem não sabe, Dama da Noite é uma flor também conhecida como Rainha da Noite, ela exala seu perfume somente de noite é por isso carrega esse nome.

É o perfume da nossa protagonista!

Desculpem a demora pra atualizar, sábado passado tive uma festa e não consegui postar.

Estão gostando?

Beijinhos ❤