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Alexandre e Juliana

O letreiro piscava na cor laranja, iluminando uma abóbora entalhada e os dizeres "Parque Dos Horrores". De longe, era possível ver a montanha-russa horripilante, a casa mal assombrada e uma parte do labirinto do medo. Era tudo gigante e macabro.

Os primeiros visitantes chegavam até a entrada do parque, que iniciaria suas atividades às 20h. Todos os jovens da cidade ansiavam a abertura, inclusive Alexandre de Azevedo.

Ele estava sozinho, recostado sobre uma das árvores que ficava à frente do parque. Tinha o celular em mãos, o olhando com uma expressão preocupada. Esperava uma garota, que, por algum motivo, não chegava. Assim que a fita de inauguração foi cortada, ele suspirou.

— Droga, aquela vadia da Paula me deixou plantado.

Mordeu os lábios e semicerrou as sobrancelhas, bravo. Era a primeira vez que uma menina por quem se interessava não comparecia ao encontro. Desligou o smartphone e o empurrou para dentro do bolso, marchando ao parque. "Se Paula não quer, tem quem queira", pensou.

— Amigas, vocês viram o visual daquela zumbi ali? — Juliana apontou para uma mulher de vestido branco cheio de terra e furos, que tinha uma maquiagem mal feita. — É a noite dos horrores, mas precisava levar tão a sério assim? — Riu.

Milena foi a primeira a se virar e encarar a moça, sentindo um arrepio pelo corpo. Logo ignorou a sensação estranha e voltou os olhos à amiga, rindo junto dela. Íris também encarou a garota e sentiu o mesmo arrepio de Milena. Por ser supersticiosa, gaguejou:

— Não senti boa energia nela, não. Parem de olhar, gente, deixem a menina. — Passou as mãos nos braços, fazendo uma expressão de nojo.

— Nossa, Íris, larga de ser chata. Não vem com esse papo da sua mãe, de energia — Juliana expressou, em tom manhoso. — Se livra da sua energia negativa com aquele atendente gato, que tava de olho em você. Aproveita e compra um suco novo pra mim. — Chacoalhou o copo que outrora tivera um suco de laranja.

Íris se levantou, animada, e se encaminhou até a barraquinha de comida do parque temático, com o dinheiro de um copo de suco em mãos. As duas garotas restantes da mesa ficaram em silêncio, observando o movimento.

— Menina, não olha para o lado agora. Tem um cara que tá te olhando. — Milena avistou um rapaz de aproximadamente um e oitenta, ombros largos e olhos azuis, secando a amiga ruiva. Arregalou os olhos e se empertigou na cadeira, soltando: — Ele é um gato!

Juliana abriu um sorriso malicioso, colocando o canudo do copo vazio entre os dentes. Virou-se discretamente para o lado direito do seu corpo, demonstrando-se interessada no movimento do parque. Assim que seus olhos cruzaram com os do rapaz desconhecido, sorriu para ele, mordendo, delicadamente, o lábio inferior e acenando. Ele, com certeza, a interessava.

Alexandre, percebendo o interesse repentino de Juliana, deixou o banco em que estava e seguiu até à ruiva, calmamente. Cumprimentou algumas pessoas que conhecia antes de alcançar a mesa da mulher que olhava.

— É impressão minha ou você estava mesmo me olhando? — manifestou, em tom brincalhão.

— Acho que to enganada, achei que era você que tava me secando... — Juliana desviou o olhar para a mesa, colocando o copo que tinha em mãos ali. Aproveitou e fez uma expressão para Milena, que significava "some daqui".

Milena juntou suas coisas, levantou-se e piscou na direção da amiga, dando a seguinte desculpa para se retirar:

— Vou ver se Íris precisa de ajuda para trazer as coisas aqui.

Juliana sorriu para ela, balançando a cabeça positivamente.

— Ah, tudo bem. Vou roubar um pouquinho sua amiga, então - Alexandre indagou, puxando a mão da garota ruiva.

Os dois passaram pelas atrações diversas do parque. Ouviram os gritos das pessoas que estavam na montanha-russa, pisaram sob a fumaça que existia na entrada da casa mal-assombrada, compraram algodão doce, tiraram foto com o ator vestido de Jason e zombaram de algumas crianças que berravam "doces ou travessuras".

Quando cansaram de andar, sentaram-se em uma mureta, defronte para uma loja de brinquedos do dia das bruxas.

— Sabe, Ju, nunca saí com ninguém assim. Tipo, encontrei alguém do nada e tive um encontro. Achei fantástico essa nossa conexão. — Ele riu, assim que a garota passou o dedo cheio de açúcar do algodão doce na ponta do seu nariz. — É sério, não me faça rir.

— Rir deixa a gente mais leve, Alê. — Deu uma breve pausa, colocando mais um pedaço de algodão doce na boca e fitando os olhos do rapaz. — Sabe, eu também nunca tive uma conexão dessas com alguém.

Alexandre encarou as orbes pretas de Juliana. Não era à toa que todos diziam que seus olhos eram penetrantes. Ele exalava desejo, sedução e paixão num único olhar. Tomou a iniciativa, se inclinando vagarosamente e visando encostar seus lábios nos dela.

Entretanto, uma voz feminina os obrigou a sair do clima pré-beijo. Os dois se entreolharam, frustrados, antes de se virarem à procura da dona da fala. Nenhum deles havia entendido corretamente o que ela dissera, estavam interessados em outra coisa.

— Desculpe incomodar, mas querem um lugar mais reservado para se beijarem ou fazer outras coisas? Comprem um ingresso para ir ao labirinto do medo. — A mulher fantasiada de zumbi segurava dois ingressos, na direção do casal, com um riso frouxo.

— Meu Deus, era essa a má energia que a Íris disse. Ela já sabia que ela ia atrapalhar meu beijo! — Juliana resmungou baixo, contemplando o céu, com as mãos na cabeça.

— Ah, tá bom, tá bom. Me vê dois ingressos pra essa merda de labirinto. — Alexandre sacou a carteira e estendeu o valor dos ingressos.

A mulher pegou o dinheiro e entregou os papeizinhos. Passou a mão nos cabelos loiros alvoroçados, para encarar o casal. Eram eles a parte do plano que faltava. Um riso brincou por entre os lábios.

— Sabe, nunca conheci um casal tão bonito quanto vocês. É a primeira vez que se encontram? — perguntou.

— É, sim. Obrigado pelos ingressos, viu! — Alexandre a cortou.

— Ah, de nada. Divirtam-se!

Os dois saíram da companhia da zumbi, rindo e zombando dela. Cortaram todo o parque, rumando o labirinto do medo. Estavam deveras ansiosos, sem motivo algum aparente.

Para adentrar na atração, precisaram estrepar-se em algumas ervas daninhas e carrapichos, o que os obrigaram a ir em caminhos distintos. Alexandre seguiu pela direita e Juliana pela esquerda.

— Alê? Cadê você? — ela gritou, recebendo silêncio como resposta. — Droga, como vou sair dessa merda agora?

Começou a andar, apoiando-se nas paredes, que pareciam ser feitas de plantas. Odiava ter apenas a luz da lua como iluminação.

— Se isso é um tipo de brincadeira, eu juro que nunca mais saio com você! — berrou, antes de bater em um espantalho, fincado a sua frente. Levou um tremendo susto. — Filho da puta de um boneco! — Deu um soco na cara dele.

Ficou mais cinco minutos andando, que, para ela, pareceram meia hora. Gritou por ajuda e a procura de Alexandre, que não apareceu. Já desesperada e sentindo a vontade de chorar apertando a garganta, sentou, recostada em uma das paredes.

— Por que eu fui aceitar vir nessa merda? — murmurou, aos soluços.

Subitamente, escutou um galho quebrar não muito distante. Levantou-se, limpou as lágrimas e questionou, esperançosa:

— Alexandre, é você?

— Não, querida. É a mulher que te vendeu os ingressos, onde você está? — A garota de vestido branco acendeu uma lanterna, procurando o rosto de Juliana.

— Graças a Deus. — Fez sinal de agradecimento ao céu estrelado. — Estou aqui! — Deu alguns passos, ficando muito próxima de sua suposta salvadora.

— Ótimo, ótimo. Me dê sua mão, querida. — Estendeu a mão direita para Juliana, com uma expressão encorajadora.

Juliana, querendo sair dali o mais rápido possível, agarrou a mão da mulher. Porém, assim que a tocou, sentiu algo gotejar de sua face. Logo, passou os dedos em seu nariz e olhos, notando que seu sangue escorria. Deu passos vacilantes, visando afastar-se da desconhecida.

— Que é isso? — Tentou estancar o sangue.

— Um acerto de contas, querida. — A mulher sorriu.

Já de joelhos, aos prantos, Juliana pensou com quem poderia ter contas a acertar. Encarou a mulher loira, percebendo, desta vez, os olhos verdes, a boca um pouco torta e o nariz avantajado.

— Dora? Dora, é você? — questionou, com dificuldade. — Mas você não tava morta?

Dora agarrou a mandíbula de Juliana, dobrou os joelhos, mantendo o contato visual, abriu a boca da mulher à força e cuspiu lá dentro.

— Que fique claro que sou eu quem ganhou dessa vez.

Ao fim da frase, Dora empalideceu-se, arregalou os olhos e tombou para trás, desfalecida. Juliana, por sua vez, permaneceu atenta e assustada com os acontecimentos. Mas, vendo-se livre da outra garota, saiu correndo. Parecia que o sangue havia parado de jorrar, sem explicação alguma.

Com o destino trabalhando a seu favor, ela sentiu chocar-se com algo. E, por sorte, reconheceu a voz que proclamou:

— Juliana, onde você tava? Fiquei preocupado!

— Alexandre, graças a Deus! — Abraçou o rapaz, tremendo. — Ainda bem que te encontrei!

— Calma, Juliana, calma. Você achou que tinha me perdido, é? Saiba que vai ter que me aguentar por muito tempo agora! — Gargalhou e deu um beijo nela.

Aliviada, ela retribuiu o beijo, deixando-se esquecer sobre o que havia acontecido dentro do labirinto.

— Mas espera aí. Juliana? Eu te disse que meu nome era Juliana? — Confusa, encostou sua cabeça em um dos ombros dele. — Meu nome é Dora, não sei de onde tirei Juliana!

 
(1574 palavras)

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