Hopkins fechou a gaveta da cômoda quando ela entrou no quarto.

Ele sabia direitinho o que viria a seguir. Clark se aproximaria como uma gata, abrindo lentamente os botões da blusa, sussurraria palavras em seus ouvidos e ele, incapaz de outro gesto, se deixaria guiar por ela.

No início Hopkins se perguntava o que Clark possuía, qual fator o deixava tão louco por ela. Agora ele aceitava que estava diante de uma força da natureza. Agora ele entendia o porquê de todos os desastres terem a honra de carregarem o nome de uma mulher.

Quando ela o empurrou para a cama, rindo, e sentou-se em seu colo, Hopkins engoliu em seco. Oito meses sem vê-la, sem ouvir o som de sua voz. Ela riu contra os lábios dele, descendo as mãos por seu pescoço. Antes que ela descesse mais, Hopkins segurou seus pulsos. Sentia a boca seca e o rosto dolorido pelos socos do capanga.

— O que estamos fazendo? — perguntou ele num fiapo de voz.

Ela, como sempre, riu.

— Você quer que eu descreva, Liam? Esse é um lado seu que eu não...

Ele apertou com mais força os pulsos dela.

— O que estamos fazendo, Clark? — repetiu ele. Ela pareceu confusa. — Você me abandonou e me fez ser preso pela terceira vez. O que. Estamos. Fazendo?

— A terceira vez é um charme. — Ela sorriu e tentou beijá-lo. Hopkins recuou. Clark franziu os lábios. — Eu achei que vocês estavam mortos, caralho. E quero transar, é isso o que estamos fazendo. Oito meses, Liam. Oito meses é uma eternidade.

O silêncio se alongou. Ele afrouxou o aperto que fazia nos pulsos dela.

— Não é isso, Liz — Liam sussurrou. — O que estamos fazendo com a nossa vida?

— Sobre o que é tudo isso? — Clark inquiriu. Ele olhou nos olhos verdes dela e esperou. A sombra sinistra de um sorriso amargo abateu-se sobre o rosto dela. — Veja quem está abandonando quem agora.

Ela tentou se erguer do colo, mas Liam a abraçou e disse, pela primeira vez, que a amava — apesar de desconfiar de que Liz já soubesse. Ela sempre sabia, sempre estava três passos à frente de tudo.

Hopkins beijou o queixo de Clark e evitou, como pôde, olhar em seus olhos. Ficaram tanto tempo em silêncio, abraçados, que ele perdeu a noção do tempo. Sabia que Spankin' estava no quarto ao final do corredor, que a manhã não demoraria a chegar, mas nada disso importava.

Elizabeth Clark suspirou e devolveu-lhe um meio sorriso cansado.

— Vamos dormir um pouco, Liam.

Triste, ele sorriu de volta e assentiu. Era a maior declaração de amor que arrancaria dela.