Dia 04: Votos, Alvos, Estratégias
Suíte do Síndico - 02:00.
Zarina entrou em seu quarto especial sendo carregada nas costas por Ezequiel que, junto a Helena, Solene e Viviana, entoavam uma marchinha comemorativa em homenagem à vencedora da prova.
"É melhor ficar ligado que Zarina é a nova dona do pedaço"
Era engraçado e tosco ao mesmo tempo. Um momento de descontração perfeito após uma prova estressante.
— Acho que sem querer acabei criando um grupo aqui — comentou Zarina enquanto Ezequiel abaixava para ela descer.
— Acreditem em mim, os caras do quarto verde já estão fechados desde os primeiros dez minutos de programa — contou Ezequiel, jogando-se com tudo na cama enorme da suíte.
Diferente dos quartos comuns, todos os detalhes da suíte eram elevados ao cubo no quesito luxo. Havia doces que não estavam presentes nos armários da cozinha; uma cama mil vezes mais confortável do que as dos quartos normais; assim como também tinha jogos de tabuleiro, quadro de giz, papel colorido e, o mais importante, um banheiro exclusivo para a síndica, que, por alguns dias, não precisaria compartilhar o único banheiro da casa com os demais.
— Nós, do quarto roxo, precisamos ganhar mais provas para podermos ficar nesse paraíso por mais tempo — disse Helena, andando pelo cômodo atenta a todos os detalhes.
— Olha, Z, tem fotos suas com sua família aqui, que fofa essa criancinha, quem é? — apontou Solene para um canto perto da cômoda.
— É meu irmãozinho, Miguel. Filho do meu pai com minha madrasta.
— Você e sua madrasta se dão bem?
— Graças a Deus, sim! — respondeu. — No início foi tudo muito estranho, sabe, pelos motivos óbvios... mas aí, com o tempo, tudo foi se acertando.
— Que bom!
Porém, não só em lazer pensavam suas mentes, também havia jogo. Afinal, articular fazia parte da dinâmica.
— Atenção, meninas, odeio ser estraga-prazer — vociferou Ezequiel, tomando para si toda a atenção —, mas, se somos realmente um grupo, temos que pensar em votos. O pessoal do outro quarto com certeza vai se organizar para tentar ir só um de lá.
— Mas, em teoria, vai um de cada lado, ou não? — questionou Helena. — Até porque eu suponho que a berlinda será dupla.
— Tá, mas e se for tripla? E mesmo que seja dupla, a gente tem que organizar os votos — rebateu o rapaz. — Não é porque é começo de jogo que a gente vai dar bobeira.
— É verdade, eu concordo com o Zack — aquiesceu a síndica. — Já pensou ir dois de nós para o despejo?
O quarto todo ficou pensativo por uns segundos.
— Eu confesso que sou péssima nisso de organizar votos, então, o que vocês decidirem, eu assino embaixo — comentou Viviana.
— Ah, mas você também tem que opinar, dar sua opinião, pontos de vista — retrucou Helena. — Senão fica parecendo que nós estamos, de algum modo, te influenciando. Assim não dá!
— Claro que vou ajudar, eu só não quero ser a cabeça do plano.
— Olha, eu vou propor uma ideia — comentou Zarina. — Cada um cita uma pessoa que não gostou ou que, sei lá, teve algum problema, e aí, no final, a gente faz uma peneira. O que acham?
Todos balançaram a cabeça em concordância.
— Perfeito, então eu começo. Meu voto vai ser o de maior peso, já que vou indicar alguém direto para a votação. O problema é que estou num dilema, quero indicar alguém do quarto verde, mas a única pessoa que me vem à cabeça é a Olívia. Achei ela bem chatinha naquela conversa sobre os quartos.
— É... — assentiu Helena. — Eu fico meio assim de votar nela, já que ela é a única mulher do lado de lá, mas realmente... Não bateu muito o santo, não.
— Mas, gente, calma — pediu Solene. — Se a Z indicar a Olívia, por exemplo, nós vamos ter que votar em outra pessoa, porque ela já vai estar no despejo.
— Sim, por isso que é melhor a gente ouvir todo mundo e no final fazer a peneira — reiterou Ezequiel, aproveitando a deixa para dar sua opinião. — Cara, dos meninos, eu acho que o que menos fui com a cara foi o Leonardo... E o Tobias que tem uma baita cara de enjoado.
— É o Tobias e a Olívia, os dois com cara de enjoados — comentou a gastrônoma, fazendo todos rirem. — Dá vontade de dar um grito só de olhar para cara deles.
— Parece que chuparam um limão — comparou Solene, rindo.
— Estou me sentindo uma anta porque eu achei todo mundo legal... Não sei, não senti implicância com ninguém até agora — revelou Viviana, parecendo incomodada com o teor da conversa.
— Pois é bom apertar o botão da percepção e rápido — aconselhou Helena. — Esse jogo é vivo, tudo muda o tempo todo e se você não procurar se destacar vai acabar ficando apagada.
— Sim, sim... É só que, não sei, parece tão errado falar assim de pessoas que mal conheço.
— A gente sabe, Vivi, mas isso aqui vale dinheiro, né? — rebateu Solene. — A intenção da dinâmica, de certo modo, é despertar esse nosso lado mais competitivo mesmo.
Zarina parou de comer o biscoito para recapitular as informações que eles tinham até então.
— Ok, todo mundo já falou, então até agora estamos assim: Olívia indicada por mim, e Leo ou Tobias por vocês, confere?
— Confere — responderam todos.
Helena, que não conseguia controlar a língua, compartilhou mais um ponto de vista.
— Eu acho que é melhor ir no Tobias, sabe por quê? O Leonardo é a cota bonitão, o cara é bonito, sarado, atlético e tals. E, se ele não fez ou falou nenhum absurdo até agora, não acho que ele sai não, hein. O Tobias parece muito menos interessante, chances maiores de rodar.
— Eu concordo em partes — pronunciou-se a estilista. — Beleza não põe mesa. Eu discordo um pouco que só por ser bonito ele vai ficar, só se o público estiver muito carente. Mas concordo, sim, que comparado ao Tobias, o Leo vence mesmo.
— Eu voto em qualquer um dos dois sem peso na consciência — disse Ezequiel.
— Eu prefiro analisar o dia a dia, nós temos hoje e amanhã ainda para conviver com eles e decidir — disse Viviana. — Não quero ser injusta com ninguém.
— Eu te entendo, amiga — falou Zarina, tocando o ombro da professora. — Mas, infelizmente, injustiças são muito comuns aqui dentro, até porque não temos como saber o que dizem da gente. É tudo na base da intuição.
Os integrantes do quarto roxo continuaram a conversa, assim como os integrantes do quarto verde, que também não pouparam comentários sobre seus adversários.
Olívia entrou no quarto furiosa consigo mesma e com o fato de ela e sua dupla terem terminado a prova em segundo lugar. Tão perto, mas tão longe.
— Se a gente tivesse se apressado e terminado cinco minutos antes aquela vitória teria sido nossa — comentou ela, com os olhos marejados.
— Olívia, se acalma — sussurrou Alan, sentando cara a cara com a parceira de prova. — Faz parte do jogo perder. Não adianta explodir toda vez que falhar em alguma dinâmica.
— Falar é fácil, Alan — rebateu ela.
— Ei, cara, deixa ela esbravejar o quanto quiser, a frustração normal — aconselhou Leonardo. — Se eu, que terminei quase em último, tô mal, imagina ela que ficou tão perto de conseguir.
— Eu sei, eu não estou tentando invalidar o que ela sente, mas também não adianta perder as estribeiras por causa de uma prova.
— O problema é que eu com certeza vou estar na berlinda, Alan, é por isso que eu tô assim — revelou Olívia, chorando muito dessa vez.
Leonardo correu para abraçá-la, enquanto Alan e Tobias assistiam à cena quietos; Nathaniel se levantou e foi até a cozinha pegar um copo de água.
— Por que você acha isso? — questionou ele quando a entregou a gentileza. — Aconteceu alguma coisa?
— Por causa do meu jeito, como sempre — ela comentou, soluçando. — Eu não gostei do quarto roxo, e não fui muito com a cara da Helena, só que eu acabei sendo um pouco antipática, até grossa, quando mudei de lá para cá.
— E você acha que eles vão votar em você? — perguntou Leonardo, pondo as engrenagens do cérebro para funcionar.
Ela assentiu com um balançar silencioso de cabeça.
— Bom, então nós temos que começar a nos organizar — falou Nathaniel, andando pelo quarto. — Como o poder do síndico foi para o lado de lá, a chance de ter dois de nós na berlinda é muito alta.
— É, e confiar no critério do público nem sempre é a melhor solução — comentou Tobias. — A gente nunca sabe o que se passa na mente deles.
— Vocês votam no Ezequiel? — perguntou Leonardo. — Senti que ele me enviou umas farpas.
— Pior que eu gostei do Zack, acho que ainda dá para trazê-lo de volta para o nosso lado — comentou Nathaniel.
— Com a Zarina e a Solene imunes, só sobram Helena, Ezequiel e Viviana... E aí, a gente decide como? No mamãe mandou? — sugeriu Tobias.
— Acho que prefiro enfrentar a Viviana — disse Olívia, enxugando as lágrimas. — Ela é a mais morna até agora, mal ouvi ela abrir a boca.
— Tem certeza que prefere ir com ela? — questionou Nathaniel.
— Vocês gostam do Ezequiel, e não quero fazer vocês votarem em alguém que vocês gostam, e entre Helena e Viviana, acho que a mais fraca é a Viviana — explicou a jovem. — Por mais que eu não tenha ido com a cara da Helena, ela tem perfil de quem vai longe. Fala o que acha sem medo. O público gosta disso. Não quero correr esse risco.
— Então fechou — finalizou Leonardo. — Vamos todos na Viviana.
O quarto verde continuou tentando acalmar Olívia, que acabou desanuviando as preocupações enquanto conversava sobre a vida fora da casa com Leonardo.
— Espera, você recusou um emprego bom desses para entrar aqui?
— Mas é claro — respondeu. — Empregos vão e vem. A chance de participar de um reality show só aparece uma vez na vida.
Ele riu.
— Pensando por esse lado... E seus pais? O que eles disseram?
— Não sabem do emprego e nem do Reality... quer dizer, agora eles sabem.
Entre risadas e mais risadas madrugada adentro, todos da casa foram dormir, a fim de repor suas forças e recarregar suas baterias sociais.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro