Na Avenida dos Exibicionistas, próximo ao bairro das Futuras Estrelas, em um estúdio de televisão grande e chamativo, estavam sendo dados os toques finais para a estreia ao vivo de mais uma temporada de um dos Realities Shows mais populares do país: PARALELO. Milhares de pessoas se inscreviam todos os anos e apenas dez foram escolhidas para participar da dinâmica que envolvia provas de raciocínio, habilidade, resistência e sorte, além, é claro, dos obstáculos diários proporcionados pela convivência.

A produção estava trabalhando a mil por hora, garantindo que os participantes continuassem animados para a disputa — eles temiam que a pressão do confinamento e o julgamento do público os influenciasse a desistir da competição. Por sorte, todos pareciam bem dispostos. O prêmio final, para o ganhador, e as demais recompensas menores, que poderiam ser adquiridas ao longo do percurso, eram atrativas. Tudo muitíssimo bem pensado para gerar dúvidas em quem sequer cogitasse desistir da experiência.

Anoiteceu depressa. Talvez porque todos estavam nervosos demais com a possibilidade de alguma coisa não sair como esperado. Muito dinheiro tinha sido investido pela emissora, como sempre, afinal, não há ganhos sem investimentos. Patrocinadores ansiavam pelo momento em que seus produtos finalmente aparecessem na tevê, pagavam valores exorbitantes pelo máximo de tempo de tela possível.

A alta cúpula da emissora queria altos números de audiência e por isso contratou os melhores publicitários e jornalistas para espalharem conteúdos sobre o reality pela internet. Já o público, esse estava indeciso, incerto se valia a pena gastar tempo assistindo, torcendo e votando pelos seus personagens favoritos. Na dúvida, a maioria decidia dar uma chance, assistir ao primeiro episódio para sentir a energia da temporada e determinar se os personagens da vez teriam carisma suficiente para prender sua atenção.

Quando enfim o relógio marcou nove horas da noite, inúmeros olhos curiosos voltaram-se para as televisões em busca de imergirem seus cérebros em um conteúdo capaz de entretê-los.

O estúdio estava cheio. Ficou acordado entre a produção que todos os dias haveria plateia, para que assim o público de casa tivesse ainda mais a sensação de "programa vivo", e não de conteúdo gravado.

No centro do palco estava o muito seguro de si, Tony Bandeira, o charmoso apresentador que liderava as listas de popularidade do país. Por ter começado muito novo na televisão, com seu jeito espontâneo e carismático, logo ganhou o carinho dos telespectadores.

— Olá a todos, sejam bem-vindos ao PARALELO, o Reality Show mais popular do seu lar! Hoje, nossa equipe preparou um programa especial para você aí de casa, tenho certeza que vocês vão adorar!

A plateia aplaudia sempre de modo energético, motivada pelos comandos que apareciam em uma tela invisível aos olhos das pessoas de casa. Vários rostos conhecidos povoavam as cadeiras espalhadas pelo estúdio de meia-luz, empolgados para ver o que de bom sairia daquela empreitada.

Duas outras pessoas foram apresentados como comentaristas, seriam o suporte de Tony ao longo da temporada. A ideia era não sobrecarregá-lo no decorrer dos cinquenta episódios previamente encomendados pela emissora — esse número poderia aumentar, diminuir ou se manter o mesmo, tudo dependeria de como a temporada em questão seria recebida pelo público.

A primeira comentarista, uma mulher alta de longos cabelos cacheados pretos, apresentou-se como Gina. Era a simpática, sua função era defender os participantes das confusões em que eles se metessem.

A segunda, uma mulher loira de feição sisuda, era a incisiva. Chamava-se Ceci. Seu papel era provocar os participantes da dinâmica, de modo que conseguisse extrair declarações comprometedoras que dessem o que falar dentro e fora do jogo. Afinal, não era por isso que as redes sociais clamavam? Polêmicas?

Com toda a equipe apresentada, por fim os participantes foram introduzidos ao público de forma oficial. Ninguém sabia quem eram os verdadeiros confinados, até porque todo o processo exigia descrição máxima. Alguns nomes até chegavam a vazar em sites de fofoca, o que, infelizmente, era inevitável. Eram tantas etapas e processos, passando por tantos profissionais, que inevitavelmente algum nome vazaria.

Os nomes foram chamados um a um, em ordem alfabética. Assim que determinado membro do elenco se apresentava, deveria ir em direção à porta dourada no fim do palco e entrar na casa.

Aplausos irrompiam pelo estúdio a cada novo rosto que aparecia; ao fundo, músicas pop da cantora Ari Big tocavam com o intuito de animar o ambiente.

Cada um dos concorrentes pelo prêmio de R$ 3,000,000 deveria dizer seu nome, idade, profissão e qual emoji representaria sua torcida nas redes sociais. Essa última era uma maneira lúdica de angariar torcidas na internet, conseguir mutirões e, consequentemente, levar engajamento ao programa.

*Os emojis são escolhidos pelos próprios participantes.

01.

Nome: Alan Mendes.

Nascimento: 25/11/1998.

Idade: 25 anos.

Profissão: Surfista.

Emoji de torcida: Surfista loiro 🏄🏼‍♂️

"Lá dentro eu vou ser como sou aqui fora. Bem tranquilão, mas sincero. Sinceridade, para mim, é indispensável no jogo, na vida, em qualquer lugar."

02.

Nome: Ezequiel Teixeira.

Nascimento: 11/11/1990.

Idade: 33 anos.

Profissão: Contador.

Emoji de torcida: Dinheiro 💵

"Muita acidez, com certeza. Eu sou meio linguarudo, sabe?! Tenho mania de comentar tudo que vejo pela frente com altas doses de veneno."

03.

Nome: Helena Ribeiro.

Nascimento: 26/08/1988.

Idade: 34 anos.

Profissão: Gastrônoma.

Emoji de torcida: Cozinheira de cabelo preto 👩🏻‍🍳

"Ai, eu sou chata. Chata, chatérrima. Não sou de muitos amigos, abraços, essas coisas. Sou bem caseira até, tenho mania de limpeza... É, vai ser dureza, mas o que a gente não faz por dinheiro, né?"

04.

Nome: Leonardo Albuquerque.

Nascimento: 30/09/1995.

Idade: 26 anos.

Profissão: Modelo.

Emoji de torcida: Espelho 🪞

"Cara, eu quero aproveitar ao máximo essa experiência. Quero beber, beijar, principalmente beijar. E, claro, quero me tornar o mais novo milionário do pedaço."

05.

Nome: Nathaniel Pinheiros.

Nascimento: 10/08/1998.

Idade: 25 anos.

Profissão: Advogado.

Emoji de torcida: Maleta 💼

"Acho que o fato de eu ser advogado pode, sim, ser uma vantagem dentro do jogo. Eu sou muito observador, e enquanto eu tô lá de olho, meu cérebro tá a mil criando argumentos, estratégias..."

06.

Nome: Olívia Moreira.

Nascimento: 19/09/2001.

Idade: 22 anos.

Profissão: Publicitária.

Emoji de torcida: Azeitona 🫒

"Eu tenho certeza que, de cara, uma galera já não vai gostar de mim. Sou meio introspectiva e fico até um pouco sem jeito quando chego em um lugar novo, então com certeza eu vou ser mal interpretada."

07.

Nome: Solene Vasquez.

Nascimento: 12/03/1995.

Idade: 28 anos.

Profissão: Estilista.

Emoji de torcida: Sol ☀️

"Eu não sei o que é que acontece, mas, em todo lugar que eu chego, as pessoas costumam gostar de mim de graça. Isso é bom, né? Vou tentar usar isso ao meu favor no jogo, para ganhar tempo e também a confiança das pessoas."

08.

Nome: Tobias Lacerda.

Nascimento: 27/12/1992.

Idade: 31 anos.

Profissão: Fotógrafo.

Emoji de torcida: Câmera 📷

"Eu sou da diversão, da zoeira. Podem esperar que eu vou ser a alma das festas, do dia a dia. Ninguém vai poder votar em mim dizendo que sou chato, isso vocês podem ter certeza."

09.

Nome: Viviana Figueiredo.

Nascimento: 14/07/1997.

Idade: 26 anos.

Profissão: Professora.

Emoji de torcida: Maçã vermelha 🍎

"Eu sou muito compreensiva. Isso, ao mesmo tempo que pode ser uma vantagem, também pode ser uma armadilha, porque podem errar comigo lá dentro e eu simplesmente entender, não guardar raiva. Acho que vou ter que mudar isso em mim se quiser sobreviver lá dentro. Ser menos boazinha."

10.

Nome: Zarina Goulart.

Nascimento: 02/04/1996.

Idade: 27 anos.

Profissão: Nutricionista.

Emoji de torcida: Concha 🐚

"Sagacidade é meu nome do meio. Hiperatividade também. Não consigo ficar quieta, quero sempre conversar, falar, ouvir, deixar tudo sempre às claras. Vejo isso como uma vantagem dentro da competição."

Com a entrada do último participante, a plateia voltou a aplaudir, e Tony Bandeira os fez a pergunta de três milhões de reais: para quem vai a torcida de vocês à primeira vista?

A câmera mudou o foco nesse instante, mostrando agora os ratinhos de laboratório dentro da casa, interagindo entre si. Todos estavam com sorrisos deslumbrados no rosto, compartilhando abraços, piadas e frases com data de validade como: "é um prazer te conhecer!". Todos, dentro e fora da casa, sabiam que eles estariam falando mal uns dos outros em menos de vinte e quatro horas.

A câmera ficou sobre eles durante uns cinco minutos, revelando com detalhes a estrutura da casa. Cada cômodo possuía paredes pintadas de uma única cor vibrante, a ideia era que, com o passar dos dias, os participantes surtassem. A sala, ampla, com sofás, puffs e uma televisão enorme na parede, era vermelha, a cozinha, azul, o quarto A era roxo e o quarto B, verde, essa era a principal diferença entre eles, pois até o número de camas era o mesmo. Também havia uma área lá fora, cercada por muros, onde tinha uma piscina, uma jacuzzi e algumas plantas meio opacas que pareciam estar sem vida. Artificiais, supus.

Quando Tony voltou ao foco, ele anunciou que, por aquela noite, eles tinham chegado ao fim do primeiro dia, o que produziu um longo "Aaaaah" de desapontamento da plateia. Mas, de imediato, acalmou o público, garantindo que estaria de volta no dia seguinte, no mesmo palco, horário e canal.