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Primera Cita

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Eu duvido que você consiga fazer o número quatro.

Estella Muniez apertou os olhos escuros na direção de Carlos antes de se colocar em pé em um pulo, deixando sua taça de champagne metade vazia de lado. Blanca dava risada como se aquela conversa fosse a mais engraçada do mundo e Ana apenas revirava os olhos, cansada demais para questionar o que eles estavam fazendo.

Carlos Sainz se mostrou satisfeito ao ver Estella arrumar seu vestido branco no corpo antes de fazer o fatídico número quatro com as pernas que supostamente bêbados não conseguiam fazer. A espanhola ainda piscou presunçosamente na direção do piloto antes de se sentar novamente, em uma poltrona na frente da dele, e recuperar sua preciosa taça de cristal.

Eu duvido que você consiga plantar bananeira — devolveu em direção à Carlos, apertando os lábios em uma fina linha ao vê-lo dar risada. — Estou falando sério. Você não gosta de um desafio?

— Eu vou vomitar se fizer isso — Carlos a advertiu, mas também deixou seu copo de lado para se colocar de pé. Blanca continuava a gargalhar. Ana espumava de ódio, nesse momento. Ninguém gostava de lidar com bêbados quando estava sóbria e isso era algo que certamente Carlos e Estella tinham em comum.

— Não vou limpar vômito de ninguém — Ana apontou para os dois em sinal de aviso, negando com a cabeça. — Juro. Não estou bêbada o suficiente para isso.

Estella achou a solução do problema ao empurrar para Ana a garrafa quase cheia de Dom que eles dividiam. A mais nova deu de ombros antes de dar um grande gole, sentindo nada mais que um gosto amargo e o incômodo na boca do estômago das bolhas do líquido que já não estava tão gelado. Não era mais divertido ou refrescante quanto parecia ser no começo da noite, agora que já amanhecia. Sentia-se exausta mas sabia, pelo olhar no rosto do irmão e da petulância de Estella de querer acompanhá-lo, que não iriam encerrar a noite tão cedo.

Carlos apoiou o peso do seu corpo nas mãos por dez exatos segundos antes de despencar para trás, caindo de costas no chão com tudo, as mãos protegendo seu cóccix de uma pancada maior. Em um primeiro momento, Estella arregalou os olhos, temendo que ele tivesse se machucado. Quando ele começou a gargalhar, porém, ela não teve outra alternativa a não ser fazer o mesmo.

Não achou que aquele idiota fosse mesmo fazer aquilo com uma quantidade considerável de álcool no sangue. Se era difícil para fazer aquilo sóbrio, tinha que considerar que os dez segundos que ele se manteve com as pernas para o ar podiam entrar no Guiness Book.

Carajo, vocês tem três anos — Ana praguejou, se colocando de pé na frente do sofá. — Já deu pra mim, vou dormir. Vocês vem?

Blanca se levantou para acompanhar a irmã mais nova, abandonando sua garrafa d'água pela metade na mesa baixa de vidro que ficava entre eles. Carlos e Estella se olharam por uns segundos, questionando um ao outro em silêncio se deveriam fazer o mesmo.

Ainda havia uma garrafa pela metade e o sol estava prestes a aparecer no horizonte. Talvez ainda não fosse a hora de dar a festa de ano novo como encerrada, apesar das outras duas dizerem o contrário.

Tinham vinte anos naquele virada. Ainda eram novos, podiam se dar a licença poética de encurtar o sono no primeiro dia do ano, certos que teriam tempo de sobra para dormir quando entrassem na terceira década da vida. Não era como se uma noite pudesse mudar suas vidas, certo?

Dios mio, só não destruam a ilha — Ana grunhiu ao perceber que eles não iriam acompanhá-la. Era a mais nova dos quatro, mas se sentia a mais responsável naquele dia. — Vocês são impossíveis juntos, não são?

Nenhum dos dois respondeu e Ana também não esperava ouvir nada lógico deles naquela altura da madrugada. Ajudou a irmã mais velha a entrar em casa e sumiu pela porta de correr que dava acesso da área de lazer à cozinha do chalé da família Sainz em Mallorca.

O silêncio preencheu o lugar assim que os dois ficaram a sós. A única coisa que conseguiam ouvir era o canto dos passarinhos — de longe —, anunciando o nascer do sol no horizonte. Os fogos e a música alta que estavam presentes quando começaram a festejar, quase dez horas atrás, não era mais visto ou ouvido por nenhum lugar da ilha, que dormia em silêncio.

— Se eu acordar quebrado amanhã, me lembre dessa nossa brincadeira — Carlos se jogou no sofá mais confortável, não escondendo sua surpresa quando Estella se levantou para sentar bem ao seu lado.

Tinham sofás e cadeiras suficientes para que eles ficassem o mais distante possível, mas por alguma questão — lógica, ou a falta dela — Estella tinha escolhido ficar perto dele. Seus ombros quase se tocavam e a presença um do outro já não podia ser ignorada. Carlos sentia o calor de Estella queimando ao seu lado e ela, naquela proximidade, já não podia fugir do perfume velho conhecido dele. Era uma distância perigosa de se estar, a madrilena acreditava.

Era uma oposição curiosa, se comparassem o final do último dia do ano com o começo do primeiro que já brilhava a distância. Durante a noite, o barulho era certo na casa dos Sainz. Piñon, um dos cachorros da família, latia em direção ao vestidos longos das mulheres, sem entender o tecido a mais que as seguiam pela área de lazer. Carlos mais velho cantava a melodia antiga que saía dos alto-falantes, contando a Juan uma das aventuras que vivera no Rally. Reyes queria tirar foto de todos e insistia para seus filhos, e para Estella, que sorrisse em direção a câmera que ela tinha em mãos.

Os quatro, porém, não conseguiam ficar quietos. Blanca queria dançar. Ana queria falar com as amigas de Madrid por videoconferência — e o sinal da praia não ajudava — e Carlos e Estella estavam ocupados demais se provocando para posar para fotos. Carlos brincava que Estella não soltava o celular porque estava com um namoradinho novo e Estella insistia que em um ano ele estaria rodeado de modelos, ocupado demais para se preocupar com quem ela trocava mensagem ou não.

(Não era um namoradinho novo que a mandava mensagens, mas Estella preferiu que Carlos acreditasse nisso do que percebesse que ela tinha uma família desordenada esperando-a em Madrid. Tão diferente daquela que a acolhia).

Nem mesmo durante o jantar conseguiram ficar quietos. Davam risadas de histórias antigas, pediam favores quando não alcançavam as travessas que ocupavam toda a mesa e se adiantaram para cumprir todas as tradições de fim de ano. Reyes as levava muito a sério e — pouco antes do relógio indicar meia noite — doze uvas e três pedaços de papel foram entregues a cada um dos convidados.

As uvas da sorte faziam parte de uma tradição centenária na Espanha. Durante os doze últimos segundos do ano, doze uvas devem ser comidas para aqueles que desejavam que os próximos trezentos e sessenta e cinco dias fossem favoráveis. Estella não acreditava muito naquele tipo de superstição, mas Reyes fazia questão que ninguém ficasse de fora — e Estrellita nunca ia contra o que ela falava.

Apesar das risadas e das caretas dos outros dificultarem o cumprimento daquela tradição a tempo, essa era a parte fácil. Difícil, para Estella, era a segunda. Escrever nos três papéis em branco três coisas que ela desejava para o ano seguinte, apenas para queimá-los logo depois que os fogos explodissem no céu.

Sempre perdia tempo demais naquela tarefa. Olhava ao seu redor, procurando uma dica ou ajuda — qualquer que fosse — para escrever seus desejos, mas sempre encontrava todos os outros imersos demais nos seus pensamentos para conseguir ajudá-la. Blanca foi a primeira a terminar, dobrando seus papéis com orgulho antes de seguir para ajudar Reyes a tirar a mesa. Ana apenas a cutucou com o ombro, insistindo que ela escrevesse antes da meia noite. Carlos ofereceu um sorriso em sua direção quando seus olhares se encontraram, no meio daquela bagunça que era o fim de ano da família Sainz.

Ele a olhava da mesma forma, naquele momento. Não havia mais barulho, bagunça ou pressão para que ela cumprisse a tradição a tempo. Só havia silêncio, o sol que começava a aparecer no horizonte, o mar que se chocava com calma na parede de pedras que o cercava, os restos de papéis queimados esquecidos na frente dos dois e os olhos escuros perigosos de Carlos a encarando, como tinha feito por boa parte da noite.

— O que você colocou no papel? — Estella questionou, os olhos descansando em Sainz enquanto esperava uma resposta.

— O sentido de queimar os papéis depois de escrever é exatamente ninguém mais poder saber o que estava escrito — devolveu, com um sorriso nos lábios cheios que entregavam que sua resposta era uma brincadeira. Estella rolou os olhos, desviando a atenção para longe dele. — Ah, Estrellita, o de sempre.

Era uma resposta sincera de Carlos Sainz. Em um deles tinha escrito 'sucesso', como em todos os anos anteriores. Em alguns dias recomeçaria seu treinamento para ter sua estreia oficial na Fórmula 1 pela Toro Rosso, então achou que seria adequado. Seu maior desejo da vida era fazer sucesso e poder correr por vários anos na maior categoria de automobilismo. Se tudo continuasse como estava, sua carreira de ouro começava naquele ano.

No outro, 'coragem'. Não era algo que faltava para Carlos quando estava correndo, mas estava ausente em todos os outros momentos. Faltava coragem para falar sobre seus sentimentos, para ter conversas reais e para assumir novos desafios. Sua mãe não o chamava de pajarito a toa: dizia que ele tinha nascido com asas, mas que ainda não tinha aprendido como usá-las. Continuava no ninho, sem coragem de descer, há vinte e um anos. Apesar de não ser esse o lugar que queria passar o resto da sua vida.

O último quase tinha ficado em branco, mas rabiscara 'felicidade' com sua caligrafia torta, depois de levantar o olhar e se deparar com a atenção de Estella em si. A palavra combinou com aquele momento. Estava feliz de estar ali. Queria que as coisas seguissem da mesma forma no ano que se iniciava.

— Você, Estrellita? O que colocou? — devolveu a pergunta para a madrilena, assistindo-a sorrir sem mostrar os dentes antes de voltar a atenção ao horizonte. Seria mais difícil ser sincera olhando para Carlos.

— Isso aqui — respondeu direta, enchendo seu pulmão de ar. — Mallorca. Não o lugar, mas a sensação. O sentimento. A forma que eu me sinto quando estou aqui.

Qualquer turista do mundo que passasse alguns dias na ilha balear sabia que Palma de Mallorca era especial. Talvez pelos restaurantes caros, pela vida de luxo que oferecia ou pelo azul do mar que podia ser visto a distância. Estella Muniez conhecia toda essa vida, mas não era por isso que aquele lugar era seu paraíso na Terra.

Ela gostava de estar no meio dos Sainz. No meio daquela bagunça, entre os gritos de Blanca e Ana e da cantoria de Carlos pai. Gostava de ajudar Reyes na cozinha e de ir pescar com toda a família no final da tarde. Gostava dos almoços, dos jantares e dos domingos de festa que vivera naquele lugar. Passava seu semestre inteiro esperando o momento que deixariam Madrid para ir para Mallorca, deixando mais que a cidade agitada para trás.

Lá, tudo que parecia pesado era deixado para trás. Distanciava-se da discussão eterna dos seus pais e das brigas na justiça por patrimônio que nenhum dos dois fazia muita questão. Podia respirar tranquilamente, sem se preocupar com os inúmeros folhetos de faculdade que sua mãe deixava na escrivaninha do seu quarto, quase não permitindo que ela tivesse uma opção a não ser seguir os passos da família.

A responsabilidade de Mallorca ser mágica também cabia em parte ao homem sentado ao seu lado, mas isso era um segredo que Estella guardava a sete chaves. Gostava de como as coisas funcionavam com Carlos e do friozinho na barriga que sentia sempre que ele estava presente. Mal podiam se ver em Madrid: ele estava sempre ocupado treinando ou cumprindo suas obrigações como piloto da Formula Renault.

Mas Carlos sempre estava em Mallorca. Ele era como um personagem imaginário para Estella que só se revelava naquele lugar, como se não existisse em nenhum outro plano alternativo. A imagem — e a lembrança que carregava de Sainz — era a de sorrisos largos e cabelos molhados, porque mal conhecia outra versão daquele que estava presente em sua vida há anos. Ele era como a cereja do bolo, a pérola dentro da ostra que só era descoberta duas vezes por ano e um dos motivos dela desejar tanto poder voltar para aquele lugar.

Nada nunca mudava. Podia passar seis meses inteiros sem vê-lo — e isso acontecia com frequência — mas Carlos era o mesmo quando encontrava Estella. Sempre com o cabelo despenteado e uma frase de efeito na ponta da sua língua.

— Sua definição de felicidade é isso, então? — ele a questionou, sorrindo ao vê-la assentir. Era bom saber que ela se sentia da mesma forma que ele naquele lugar seguro.

Estella nunca tinha parado para fazer aquela relação lógica, mas certamente era aquela junção abstrata de coisas que Mallorca simbolizava que a fazia feliz. Aquele emaranhado de sentimentos e sensações que ela se permitia viver naquele lugar, com o bônus de ter areia nos seus pés e sal nos seus cabelos.

Se ele era como parte da imaginação para ela, Estella significava saudade constante para Carlos. Podia viajar o mundo inteiro e conhecer dezenas de pessoas pelo caminho, mas ele também tinha um grande motivo para voltar para Mallorca.

Amava a vida que tinha. Odiava quando o perguntavam o que ele faria se não estivesse correndo, já que nunca fizera algum outro plano se o automobilismo não funcionasse, mas a presença de Estella em sua vida era a lembrança agradável de quem ele era longe das pistas e dos treinos pesados. Antes de ser Carlos Sainz, ele era Carlos. Dos pés na areia. Do cabelo emaranhado após sair do mar. Das risadas fáceis. Dos passeios de lancha no fim da tarde.

Estella era seu primeiro grande amor, antes de Carlos sequer saber o que isso significava. Era ela que ele queria impressionar tentando dar seus mortais na piscina da casa da família. Era dela que ele queria aprovação quando inventava uma nova brincadeira. Era por ela que ele continuava acordado naquela manhã, mesmo que suas pálpebras começassem a pesar.

— Se vamos continuar falando sobre isso, talvez fosse apropriado roubar mais uma garrafa de champagne — Carlos interrompeu o silêncio, receoso de que não conseguiria encarar Estrellita por mais tempo sem beijá-la.

A vontade estava ali — estivera a noite inteira — mas a coragem não estava em nenhum lugar perto dele. A promessa de ano novo ainda não tinha recebido validação.

— Ana está certa — Estella murmurou mais para si mesma do que para Carlos, sorrindo da sugestão dele. — Nós somos impossíveis juntos. Se nos víssemos por mais de três vezes por ano, realmente destruiríamos a ilha.

Carlos, que naquela hora olhava diretamente para o perfil de Estella, sorriu ao vê-la levar a garrafa de champagne aos lábios antes de passar para ele, sem desviar o olhar do horizonte a sua frente. Não podia não concordar com ela. Blanca sempre estava ocupada demais para curtir com eles. Ana era a irmã mais nova que não achava tão divertido estar acompanhada do irmão mais velho.

Carlos e Estella — diferente dos outros — sempre estavam prontos para uma nova aventura quando estavam juntos em Mallorca. Já tinham fugido tarde da noite — quando todos estavam dormindo — em busca de confusão na ilha. Andado de jet-ski fora da área permitida traçada por Reyes e Carlos pai para que não perdessem os dois de vista. Experimentado bebidas da coleção privada da adega da família Sainz quando ainda eram menores de idade.

Não se orgulhavam, naquela altura, de tudo aquilo. Mas tudo tinha virado história, eternizada nas memórias agridoces que tinham dos seus dias na ilha balear.

— Sabe, Estellita, eu duvido que você entre na piscina — Carlos provocou, levando o olhar do horizonte de volta para a mulher sentada ao seu lado, arqueando suas sobrancelhas angulosas.

Aquela brincadeira idiota tinha sido ideia de Carlos — as piores sempre eram ideias dele. Começou ainda no começo da noite, logo depois do jantar ser servido e dos fogos pintarem o céu, notificando a entrada de um novo ano. Carlos tinha duvidado — no seu melhor tom sujo e voz arrastada — que Estella virasse de uma vez o seu copo cheio de champagne.

Assim como todas as outras pessoas que o conheciam, ela sabia que não deveria cair nas provocações de Carlos Sainz. Elas eram muito diretas e quase sempre escondiam uma motivação sórdida. Estella, porém, era a única em vinte anos que sabia que podia desafiá-lo no seu próprio jogo. Tinha esse poder sobre ele.

Eu duvido que você me acompanhe — devolveu em um piscar de olhos, levantando o queixo na direção do piloto.

Ele deu de ombros. Adorava um desafio. Não teria escolhido ser um piloto de Fórmula 1 se não amasse aquela vida de deixar a adrenalina correr livre em seu sangue. Aceitou a mão que Estella ofereceu e caminharam juntos até o azulejo que rodeava aquela área externa.

Ficaram lado a lado na borda da piscina, mas Estella era esperta o suficiente para ter enxergado nos olhos escuros de Carlos Sainz que ele não tinha pretensão nenhuma de acompanhá-la. Esperou até que ele começasse a contagem regressiva mas, antes que ele chegasse no três, ela deu um passo em direção à água, agarrando o braço do piloto ao fazer isso.

Carlos, por não esperar o movimento, não teve força o suficiente para cravar seus pés no chão. Era tarde demais quando seu instinto de reação — atrasado pelo álcool — resolveu aparecer, já embaixo d'água, com os olhos escuros de Estella Muniez bem na frente dos seus.

Quando voltaram a superfície, buscando encher os pulmões de ar, estavam a menos de dois passos de distância e uma das mãos de Estella ainda estava ao redor do pulso de Carlos. O vestido branco dela agora estava completamente molhado, grudado em seu corpo e fazendo um bom trabalho ao contorná-lo. A blusa de botões de Carlos — da mesma cor — era mero acessório que não cumpria sua função em cobrir seu tórax.

— Eu odeio você — Estella começou a falar, usando toda a força que tinha para empurrá-lo pelo peito. Carlos não se mexeu um centímetro na sua frente. — Você ia deixar que eu caísse sozinha na piscina, cabrón. Você não tem um pingo de...

Continuaria falando por horas e se perderia nas próprias palavras se não tivesse sido interrompida por Carlos. Na verdade pela boca de Carlos grudada na sua, cerrando sua voz e acelerando seu coração. Se afastou ao sentir o lábios macios se chocando com os seus, mas deixou a mão espalmada no tórax dele. Sentia, na palma da sua mão, o quão acelerado o coração dele estava. Combinava com o seu.

— Você perdeu a noção — murmurou baixinho, com medo que alguém pudesse aparecer.

Se antes gritavam e brincavam como se não houvesse mais ninguém em um raio de duzentos quilômetros, agora ela tinha receio por visitantes inesperados. Ainda não passava das cinco da manhã. Reyes e Carlos pai deviam estar no décimo quinto sono. Blanca, pela força das suas risadas antes de ir se deitar, não levantaria até o meio dia. Ana já tinha entrado há muito tempo.

O que Estella tinha medo então, se não era ser vista?

Já eram mais velhos agora. Não podiam se beijar — desconfortavelmente — e voltar a brincar no instante seguinte. Isso tinha acontecido quando eles tinham quinze anos. Com vinte, tudo era diferente.

— O que há de errado nisso? — Carlos a questionou com as sobrancelhas arqueadas, as gotas de água escorrendo pelo seu rosto. O sol que nascia refletindo na sua pele. Estella sentiu vontade de tocá-lo. — Estrellita...

— Não — ela o interrompeu dessa vez, apertando os lábios em uma fina linha para controlar o tom da sua voz. Estava possessa. Podia estapeá-lo por deixá-la alterada daquele jeito. — Não venha com esse apelido.

Estrellita — ignorou seu pedido, como sempre fazia. Ah, se ele soubesse o efeito que aquele apelido tinha nela... — Eu duvido que você me beije.

Jugador de mierda — ela murmurou entredentes, paralisada em seu lugar. — Não podemos fazer isso. Não é mais simples assim, cabrón.

Não queria complicar seu lugar seguro. Não queria complicar sua relação com Carlos, por mais especial que aquilo que eles tivessem parecesse ser. Não queria ter que fugir dele, dos olhares e dos encontros. Não queria que ele fosse um dos responsáveis pelo seu coração partido.

Sempre soube que havia algo ali. No fundo, muitas vezes ignorado pela situação que estavam. Mas a medida que eles cresciam, ficava mais e mais difícil fingir que não existia nada além de brincadeiras infantis e provocações sem sentido.

— Me diga um motivo para não fazer isso, Estrellita. Um motivo.

Não conseguia parar de encará-lo. Os lábios avermelhados entreabertos. O cabelo, molhado, jogado para trás, tão preto quanto as pupilas — naquele momento dilatadas — dos seus olhos. O calor do corpo de Carlos que, mesmo no frio do inferno que fazia dentro daquela piscina, a confortava. As mãos dele descansavam na cintura dela mas — quando percebeu que atrás daquela expressão dura, Estella travava uma luta interna — escorregaram para a base das suas costas, como se tivesse se recordado de um ponto fraco que ele já tinha descoberto outra vez.

Esse era o grande problema das coisas entre Estella Muniez e Carlos Sainz. Ela era uma porra de uma trilha que ele não mais precisava de um mapa para encontrar. Sabia tudo decorado. As pedras que devia evitar — os olhos castanhos dela caíram para seus lábios —, a curva a direita que devia fazer para subir até o topo — as mãos dela se posicionaram atrás do pescoço do piloto —, o caminho que deveria seguir quando a estrada de terra se dividia em duas — ela se aproximou.

Não tinha certeza sobre o que estava fazendo. Culpava o champagne por confundir a sua cabeça. Culpava o perfume de Carlos Sainz que agora estava em todo lugar. Culpava ele por estar ali. Culpava seu coração por bater no mesmo ritmo que o dele.

Quando seus lábios se encontraram, Estella entendeu porque evitava tanto que aquele gesto se repetisse. Não se recordava nenhuma outra sensação parecida ao ter os lábios de Carlos pressionados sob os seus, pedindo permissão para aprofundar o beijo na medida que apertava — ainda mais — os braços ao redor da sua cintura. Sentia-se em chamas, mas gostava daquelas chamas e da forma como elas se espalhavam por todo o seu corpo no mesmo sentido que o piloto movimentava suas mãos.

Desejaram que o momento fosse eterno, mas o fôlego, ou a falta dele, obrigou que se separassem e voltassem a se encarar, com mais um segredo a ser escondido do restante do mundo agora. Estella deixou que seu olhar caísse — novamente — para os lábios dele, passando o seu polegar para retirar o resto do seu batom vermelho que a taça de cristal já não tinha tirado.

Carlos desejou que fosse ele a tirar aquele batom a porra da noite inteira.

Somos impossíveis juntos — Sainz murmurou, a voz rouca pela falta de uso tornando o sotaque ainda mais irresistível. — Ana sempre tem razão.

Estella queria retrucar e juntar todas suas forças para sair daquela piscina e deixá-lo para trás. Queria olhar dentro daqueles olhos que conhecia há mais de dez anos e não sentir nada. Queria que os beijos — roubados, emprestados, saciados — que eles trocaram com pouca frequência nos últimos anos tivesse significado apenas isso: beijos. Aqueles sem importância, como os que ela dava em caras aleatórios nas festas que ia na companhia de Ana e Blanca em Madrid.

Carlos era diferente. Todos os beijos que tinha trocado com ele também eram.

— Você está bêbado — Estella desconversou, tirando as mãos do corpo dele e se distanciando como se fosse alérgica a àquele contato.

— Não o suficiente — apressou para respondê-la, segurando em seu braço para impedi-la que ela se afastasse. — Estrellita, eu quis fazer isso a noite toda.

— Mas não deveríamos. Você sabe que se nós começarmos com isso agora...

Não precisou finalizar sua frase. A ideia estava no ar, alta e clara para Carlos ou qualquer outra pessoa entender. Se continuassem, não seriam capazes de parar. Nem os potentes freios de discos de carbono-carbono responsáveis por parar um carro de fórmula 1 a 300km/h em 4 segundos seriam suficientes para afastá-los um do outro se eles se juntassem mais uma vez.

— Não precisamos parar.

Sua família...

— Dormindo, Estrellita, por Deus — logo a interrompeu, levando uma das suas mãos até o rosto dela. Acariciava a bochecha dela com um polegar, assistindo-a fechar os olhos e relaxar os músculos tensos das suas costas. Adorava aquela visão. Adorava a visão de Estella. — Vamos.

Estella levou o olhar para longe dele mais uma vez. Não conseguiu formular um pensamento lógico nesse momento. Seu coração e seus desejos falavam mais alto que qualquer voz racional que gritasse em seu ouvido.

Quando olhou de volta para Carlos, ele a encarava na esperava de uma resposta. Os olhos escuros, pedintes, suplicavam que ela aceitasse sua oferta. Seus lábios, entreabertos, pediam para ser beijados mais uma vez.

Atendeu aos desejos do último, buscando novamente o frio na barriga que aquela ação a providenciava. O piloto não esperava a decisão arriscada dela, mas não perdeu a oportunidade de beijá-la mais uma vez e afundar os seus dedos longos nos cabelos escuros de Estella.

— Vamos.

Estella murmurou baixinho ao se afastar, deixando que Carlos entrelaçasse seus dedos, guiando-a em direção a saída da piscina e, na sequência, em direção ao seu quarto.

Não era como se uma noite pudesse mudar suas vidas.


E vamos com surtinho número 2! Esse capítulo era pra ser curto e apenas para dar um panorama de como os dois eram antes de tudo, mas acabou saindo muito maior do que eu planejava. Fiquei bem receosa se o postaria ou se já pularia pro tempo atual (o próximo é em Monza!!!), mas acho que seria interessante dar essa visão a vocês.
Gente, eu ainda estou em choque com o carinho que to recebendo com essa fanfic. Eu estava morrendo de medo de compartilhar isso com vocês, mas recebi uma enxurrada de comentários e recomendações que me deixam no céu. Vocês são TUDO! ❤
Espero que gostem desse conto e me digam: gostam de ver coisas do passado assim ou preferem que eu me prenda no presente dos dois? Realmente quero a opinião de vocês!
Deixar aqui meu agradecimento especial pra algumas autoras que tão me ajudando muito na divulgação de PE (FAZEM ISSO MELHOR QUE EU!!!): hwllywoodlwtrangerheybellec isamendesw. Lembrando que elas tem histórias incríveis para todos os gostos na F1 (tem Max Verstappen, Charles Leclerc, Daniel Ricciardo e Lewis Hamilton).
Até a próxima ❤

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