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(XVII). Cuidado meu bem, há perigo na esquina

"E as aparências não enganam não." — Elis Regina.

Lisa Manoban (Agosto de 1985)

[...]

Eu não me lembro de tudo como as pessoas "comuns" se lembram, com imagens, mas me lembro das sensações. Minha infância é um borrão incongruente e confuso, mas a sensação é nítida: cheiro de carne queimada, morte e cigarro.

Há um ano atrás ou um pouco mais que isso, Rosé queria que fossemos a um festival em uma cidade no interior. Ela disse que seria bom porque poderíamos nos divertir antes de virarmos "adultas" já que era nosso último ano de faculdade. Eu disse: "sem chance" mas me lembro do cheiro. O Divine tinha cheiro de suor, urina e sexo.

Há lembranças que aparecem em lapsos, como quando entrei na casa de Jennie Kim.

Lalisa não consegue esconder tudo de mim.

E quando acordo naquele lugar, tenho um desses lapsos. Estou no Divine, ou pelo menos onde ele foi sediado antes do massacre.

Agora é um descampado enorme e cheio de neve. Algumas plantas lutam contra a massa branca, porém, a maioria é apenas galhos amarelados e retorcidos. As serras rodeiam o terreno, mas está tão escuro que demoro a me localizar naquela imensidão, me levanto, dolorida, como se tivesse corrido uma maratona com chinelos. Minhas roupas fedem a suor e sujeira, meu jaleco sumiu e estou sem uma das minhas jaquetas, de modo que o frio atravessa meu corpo como um soco. Respiro fundo, o vapor se forma e o vento gela as minhas narinas.

As botas impermeáveis estão cheias de lama e fazem um barulho engraçado quando rodo os calcanhares. O cheiro metálico e ocre está presente. Sangue. Minha blusa de mangas compridas está cheia de manchas escuras por toda a extensão, levo-a até o nariz para analisar o cheiro e uma ânsia de vômito remexe o meu estômago vazio, caio em cima dos joelhos e vômito no meio da neve. O sangue não é meu.

Eu deveria ter raiva de Jennie, já que foi ela quem me fez perder o controle, foi ela quem trouxe Lalisa de volta, mas o que eu devo fazer? Contar a polícia? Lalisa me deixou emergir? Ninguém acreditaria em mim.

Minhas lágrimas podem congelar naquele frio, elas escorrem pelas minhas bochechas até o meu queixo. Encaro o horizonte branco sem fim, não há palco, calor, multidão ou música, só há um silêncio e uma escuridão tão densa que meus olhos não se acostumam. Saio daquele lugar e vago pelas casas, mas as luzes estão apagadas e o comércio fechado. É madrugada, não sei de qual dia. Meus pés doem, minha barriga ronca e, finalmente, do outro lado da rua, vejo a casa de Jennie Kim.

Não sei o que me levou até lá, talvez seja o único lugar que sempre quis voltar desde que pisei aqui, o único lugar que me trouxe a lembrança na qual me sustento. Jennie sorrindo, mechas platinadas e um copo de água na mão... Mas há policiais na entrada, uma escolta inteira deles na frente da casa, e a luz das sirenes toma conta da rua.

Meu segundo pensamento é procurar Rosé, meu porto seguro, mas ela está a quilômetros daqui. Penso em Seulgi, mas ainda não é seguro arrastá-la para essa confusão, e o que sobra é Joohyun, ela quer ajudar e eu preciso da sua ajuda.

Ela pode me ajudar a lembrar, pode me amarrar em uma cadeira e me bater até Lalisa aparecer, estou disposta a qualquer coisa. Acredito que ela more perto, quando Seulgi e eu tentamos invadir a casa de Jennie, Joohyun não demorou para aparecer. Jisoo confirmou que a policial e Jennie eram amigas de infância, elas têm que morar perto.

Dou meia volta e saio da rua de Jennie, estou suja de sangue, lama e neve e tudo que Lalisa fez depois que Jennie a chamou. Ando pela rua lateral lendo as caixas dos correios, Moon's, Kim's (muitos Kim's) Park's, Jeon's até parar em frente a casa dos Bae's. Imagino uma família tradicional que, coincidentemente, tem o sobrenome de Joohyun sendo acordados pela madrugada por uma completa maluca descabelada e suja de sangue. "Você está machucada?" eles perguntariam "Quer que liguemos para a polícia?" Então eu teria que dizer que não sei de quem é o sangue e que não posso lidar com as perguntas da polícia agora.

Atravesso o gramado bem aparado e levanto o punho para bater na porta. A casa é como as outras da rua, uma que sempre quis morar quando criança, de alvenaria e com paredes de drywall, mas demoro a bater na porta e meus dedos se endurecem pelo frio.

Respiro fundo e bato rapidamente na madeira, querendo ir embora. O que eu espero? Que Joohyun abra a porta? Ouço passos vindos de dentro da casa, a luz da sala é acesa, o barulho da tranca ressoa e uma senhora coloca a cabeça no vão entre a porta.

— Posso ajudar? — ela pergunta.

Engulo o seco.

— Me desculpe o incômodo! Mas, por acaso, a senhora sabe onde mora a detetive Bae Joohyun? Achei que fosse aqui... por causa da caixa dos correios... mas se não for, tudo bem... acho.

A senhora me olha de cima a baixo, ela acha que sou uma mendiga.

— Ela mora aqui sim, querida. Qual o seu nome?

Suspiro, aliviada.

— Lisa Manoban, prazer.

O rosto da mulher se ilumina e ela abre a porta.

— Ah, graças a Deus, estava preocupada! Entre, entre!

Ela veste um roupão, pantufas e os cabelos estão arrumados em forma de rolinhos, mas sem os rolinhos, só as ondinhas. Ela me convida para entrar como se eu fosse uma amiga íntima de Joohyun, como tivesse ido lá várias vezes para ver filmes depois da escola. A sala é espaçosa e em um tom creme. Não sei como eu imaginava a casa de Joohyun, mas aquela era a de uma família tradicional, com móveis planejados, poltronas e fotos na parede. Os aquecedores estão ligados, o que me faz parar de bater os dentes.

A senhora passa as mãos no roupão repetidas vezes esperando algo de mim que eu não sei o quê é.

Olho para os lados, envergonhada.

— Desculpe perguntar... qual dia é hoje?

Ela me olha com as sobrancelhas juntas.

— 1 de agosto, querida. Quer água, está com fome...? Talvez um casaco?

Aceito o último item, ela vai até o cabideiro e me entrega um casaco com o cheiro de Joohyun. Um silêncio estranho surge enquanto a espero dizer algo como "oh, você quer que eu acorde Irene?" Mas sinto que Joohyun não está em casa. As minhas últimas esperanças é que a senhora ligue para a delegacia por mim ou me empreste o telefone para que eu faça, já que não posso aparecer suja de sangue em uma delegacia e não consigo andar até o Colônia com tanta neve lá fora.

Ela me guia até a cozinha, grande e lotada de chocalhos, fraldas e um bebê dormindo na cadeirinha. A senhora coloca o indicador na frente dos lábios e pega o bebê com o máximo de cuidado possível. É uma menina, ela usa pijamas do Ursinho Pooh e tem muito cabelo, mas a maioria está preso com uma chuquinha na ponta da cabeça.

— É difícil fazê-la dormir nessas horas — a senhora diz.

Tento não parecer surpresa por descobrir que Joohyun tem uma filha. A geladeira está lotada de fotos, Joohyun grávida, Joohyun e a bebê, só a bebê... há uma foto em especial, do casamento dela,
com Joohyun ao lado de um homem, provavelmente o pai da criança. Eles formam um casal previsível. Imagino-a a popular da escola e ele o capitão de algum esporte qualquer, foram coroados reis do baile, e imagino que ninguém ficou surpreso quando eles se casaram depois do ensino médio. Mas alguma coisa aconteceu nesse meio tempo, pois hoje ela não usa nenhuma aliança de casamento.

A senhora pára do meu lado com a bebê nos braços.

— Eles formavam um casal tão bonito... — ela lamenta.

O homem está sorrindo e parece ser do tipo pacífico, Joohyun está inexpressiva.

— Como assim "formavam"? —pergunto.

A mulher arregala os olhos e me fita, chocada.

— Oh, querida! Pensei que Joohyun tivesse te contado, Junmyeon foi uma das vítimas do incidente!

Os moradores de Taegon não comentam sobre o massacre de Divine. Há aqueles que lucram com ele, há os universitários que fazem piada, mas a maioria não fala diretamente, é sempre "o incidente" "a fatalidade" "o que aconteceu naquele ano." Joohyun deveria ter me contado sobre o marido, apesar de não conseguir imaginar como esse assunto surgiria com naturalidade entre nós, mas ainda sim, ela deveria ter me contado.

— Você é a mãe dela, presumo?

— Babá, querida. — A mulher não tira os olhos de mim. O sangue na minha blusa não parece ser sangue, mas meu cheiro não é bom e ela está começando a ficar com medo. — Eu era amiga da senhora Bae, que Deus a tenha... — A babá faz um sinal da cruz. — E também fui babá de Junmyeon, da Joohyun e da... da garota, aquela garota. Eu sempre soube que ela tinha um problema, sabe? Ela era muito pra frente... muito arteira, dava muito trabalho para os avós... ela tinha parte com o capeta, é o que dizem.

— Pode me dar um tempo... um... — Encaro a cozinha, momentaneamente sem ar. — Um copo d'água e um lugar para lavar a mão?

— Claro, claro! A segunda porta à esquerda! — Ela aponta com a mão que não está segurando a bebê e me segue como uma sombra.

A senhora fica na porta do banheiro me olhando lavar as mãos e passar água no rosto, fecho os botões do casaco que eu recebi dela, escondendo a blusa suja por baixo.

— Desculpe perguntar, querida. — Ela recomeça, ainda temerosa. — Irene comentou com você quando ia chegar? Ela me disse que seria rápido e não costuma ficar tanto tempo fora sem ligar para saber da pequena...

Pisco algumas vezes, confusa, e me vem à cabeça porque a senhora tem tanta certeza que sei do paradeiro de Joohyun.

— O quê...?

— Você ligou para Irene mais cedo... Pelo menos foi o que eu ouvi — ela disse.

Meu coração palpita e me aproximo da senhora, ela recua, apressada. Devo parecer um bicho papão de tão assustadora.

— O que você ouviu? — pergunto.

— Nada! Eu juro! Irene não costuma me falar nada sobre as investigações, mas assim que ela atendeu o telefone, disse: "Manoban?" e depois saiu apressada, porque precisava resolver um assunto importante.

Meu coração erra algumas batidas.

— Você tem certeza?

— Sou boa com nomes — ela responde, como se fosse algo para se orgulhar. — Ela disse "Manoban" tenho certeza, e você se apresentou como Manoban, la fora.

Lalisa ligou para Joohyun e se passou por mim? Ela e Jennie  estão por trás disso, não há ninguém além delas. Jennie queria trazer Irene para o Colônia, escreveu o nome dela no papel e me entregou, mas agora trouxe Lalisa de volta para cumprir o pedido...?

Eu estou cheia de sangue. Joohyun sumiu.

— Onde está o telefone? — Não sei como a minha voz soa, mas a senhora não hesita em me levar até a cozinha novamente e me entregar o aparelho pendurado na parede.

Disco para o Colônia, os telefones estão sempre funcionando, até de madrugada. Seulgi está de plantão, mas uma enfermeira atende.

— Chame Seulgi, por favor, sim, eu espero. Obrigada.

Aperto a barra da blusa entre os dedos, o casaco cheira tanto a Joohyun que me causa tontura. Não consigo raciocinar direito, estou arfante. A senhora continua parada atrás de mim e só me deixa a sós tempo o suficiente para colocar a bebê no quarto. A ansiedade dela se soma a minha.

Novata!? Meu Deus, eu estava tão preocupada! Você passou o dia todo fora! — Seulgi exclama.

Me seguro para não chorar, piscando rápido.

— Por favor, Seul, me busque. Eu explico tudo quando você chegar, estou na casa daquela detetive... — A senhora sussurra o endereço para mim e passo para Seulgi. — Venha rápido, por favor.

Vai ser difícil sair daqui agora. — A voz de Seulgi estremece. — Mas vou fazer o possível.

— O quê? Por quê?

Pela minha cara a senhora percebe que algo deu errado e se aproxima, sinto o roçar do seu roupão no casaco.

— Seulgi, me fala! - exijo.

Tá uma loucura aqui, novata... a tarde toda. A polícia interditou o Colônia, ninguém entra e ninguém sai.

— Desde quando? — pergunto.

Desde quando acharam o corpo de mais um garoto e... — Ela prende a respiração e solta em um jato único. — E desde quando Jennie Kim fugiu do Colônia.

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