Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

(XV). Escuridão total sem estrelas

"Você tem sorte de estar escuro agora" — Lorde

Lisa Manoban (Agosto de 1985)

◦◦◦



Não posso confiar em mim mesma, nas minhas ações, na minha visão, nas minhas mãos e nos meus próprios pensamentos. Me sinto uma intrusa dentro do meu corpo, vigiada a todo momento, sabendo que há alguém escondido nas minhas entranhas tal qual um hospedeiro, vendo tudo o que eu vejo e esperando o melhor momento para emergir. Descobri da pior maneira possível que não tenho controle sobre ela, sobre Lalisa. Ela é uma parte de mim que não posso mais ignorar.

Em algum momento, no começo de 1985, Lalisa tomou o controle e causou tudo isso, causou algo irresponsável que preciso resolver.

Ignorei-a durante muito tempo e sei que posso continuar não acreditando. Posso escolher acreditar não estar dividindo o corpo com uma provável psicopata, acreditar no que acreditei durante toda a minha vida, que os apagões são ocasionais, derivados do estresse e que não podem me machucar, que o resto é só coincidência, a vida é cheia delas. Preciso carregar a bateria de vez em quando, apago, volto, acordo em lugares diferentes, com roupas diferentes e conhecendo pessoas diferentes.

Não explica tudo, claro, não é assim que as pessoas funcionam. Não explica porque não me lembro de ter ido a Taegon, não explica porque Jungkook me conhece, porque Jennie me conhece, porque Jisoo talvez me conheça. Não explica porque Lalisa resolveu matar todos aqueles homens.

Essas respostas estão com ela. Todos conheceram ela. Algo dentro de mim se amedronta com essa hipótese, pois acreditar que ela é a culpada é acreditar que eu sou a culpada. Eu a deixei sair da água, deixei que Lalisa me empurrasse para o fundo.

Mas não posso dizer isso a Joohyun sem que ela me interne no Colônia. Não há um jeito fácil de falar que eu tenho transtorno de identidade dissociativa. Que acho que sou eu a responsável pelo massacre, mas talvez não seja, já que não me lembro, já que Jennie não diz nada e todos parecem guardar tantos segredos nessa cidade dos infernos. Lalisa tem todas as respostas.

Observo Yeri através do vidro da sala de interrogatório. Estou tentada a obrigá-la a dizer a verdade, a dizer tudo que sabe. A minha respiração forma vapor de encontro ao meu reflexo. A sala está quente demais e só consigo pensar "Lalisa... o que você fez conosco?"

Joohyun se aproxima de mim.

— Ela está mentindo, Lisa.

Limpo as lágrimas com o dorso da mão.

— O quê?

— Yeri está mentindo. — Joohyun repete. — Baekhyun desapareceu no dia 12 de julho, ele saiu da faculdade às oito horas, os amigos perceberam seu sumiço as dez. Há uma lacuna de três horas em seu desaparecimento. Eu te peguei invadindo a propriedade da Ruby às nove e você saiu daqui as onze horas... a menos que tenha uma irmã gêmea maligna, não tem como estar em dois lugares ao mesmo tempo. — Ela se afasta de mim e liga o microfone. — Obrigada Yeri, irei te encontrar daqui a alguns minutos.

A menina não parece ouvir, está chorando tanto que soluça, as lágrimas descem pelas bochechas e molham a gola rolê da blusa. Posso ir até lá e consolá-la, mas tenho vergonha de olhar em seus olhos. Joohyun cruza os braços e me encara de forma impassível, novamente parecendo ser a mais alta de nós duas.

— Mas agora é a hora perfeita para você me dizer o que sabe sobre o Divine, Lisa. Estou cansada de fingir que você é só uma psicóloga empenhada e acho que você também está.

Me escoro na parede oposta, tentando respirar corretamente. O choro de Yeri passa a ser um fungar sofrido.

— Estive no Divine há um ano atrás...  e conheci Jennie.— Escolho as palavras cuidadosamente, no que posso ou não dizer e no pouco que sei. — Quando vim trabalhar aqui, esse ano, ela me reconheceu no primeiro dia... foi quando descobri sobre o massacre e... — suspiro, tensa. — É aquele sentimento estranho de tentar entender o porquê uma pessoa que você conhece faria uma coisa dessas.

Irene bufa, incrédula.

— Se conheceram pelo simples acaso? Não me leve a mal, Lisa, mas você não me parece ser o tipo de Jennie.

— Vai me dizer que ela gosta mais das garotas com fardas? — retruco.

Sai mais rápido do que posso controlar e o semblante de Joohyun muda rapidamente. Ela semicerra os olhos e se aproxima de mim, devagar.

— Você não sabe nada sobre a minha relação com Ruby.

— Sei que não a visita há mais de um ano.

O tom de voz dela sobe algumas oitavas:

— E também não tem o direito de se intrometer nisso!

Mordo os lábios, desviando os olhos. Não sei qual o tipo de relação Joohyun teve com Jennie e nem o tipo de relação breve que Jennie teve com Lalisa, mas estou no meio disso tudo. É como estar andando com os olhos fechados.

— Não quero me intrometer — respondo, depois de um tempo, com os ânimos mais calmos. — Mas se vamos trabalhar juntas, preciso entender o que está acontecendo. — Essa última frase não é necessariamente para a policial à minha frente. Coloco alguns fios de cabelo atrás da orelha e volto a olhar para Yeri. Ela encara a mesa sem ao menos piscar. — Yeri não está mentindo. Eu realmente encontrei Jungkook no bar e ele ficou com raiva porque perguntei sobre Jennie.

Joohyun pára ao meu lado.

— Você conheceu Jungkook?

— Vagamente... — respondo.

Irene não parece acreditar na minha resposta. Ela suspira, as pupilas inquietas passeando para todos os lados, para todas as opções tem disponíveis no momento.

— Por isso ele ligou para ela e disse ser você? Por que ficou com raiva?

— Não, não acho que Jungkook faria isso — digo.

Joohyun me analisa novamente dos pés a cabeça, como se eu fosse uma espécie rara. Ainda não sei se ela está me tratando como uma suspeita ou uma ajudante.

— Não fale com tanta certeza o que as pessoas são ou não capazes de fazer sem ao menos conhecê-las, Lisa. — Joohyun me adverte. — Se soubesse como isso é prejudicial nessa cidade, pararia agora mesmo.

— Eu espero o melhor delas — explico. — Preciso ter esperanças.

O olhar de Joohyun, pelo reflexo do espelho, é em uma mistura de cansaço e frustração.

— Ele era um garoto. Jungkook era só um... um garoto. — Sua voz se torna emotiva. — Sei que todos os outros também eram inocentes, mas Jungkook foi o único que sobreviveu... até agora. Esperança é um sentimento bonito na teoria, mas na prática eu já sei o que vou achar... como vou achá-lo. Vou achá-lo como os outros... como Baekhyun e os outros.

Nossos olhares se cruzam. Ela prossegue:

— Precisamos parar quem quer que esteja fazendo isso, Lisa, e precisamos tirar Ruby de lá.

Yeri está estática igual a uma boneca de cera, uma casca vazia. Meus olhos se enchem de lágrimas pois é exatamente assim que Jennie está, uma casca vazia.
Lalisa tem as respostas e a única pessoa que pode acessá-la está ao meu alcance. Seco as lágrimas no canto dos olhos, antes de me virar para Joohyun.

— O que você falou antes ainda está de pé?

— Sobre eu precisar da sua ajuda? — ela pergunta.

Maneio a cabeça em afirmação.

— Quero um perfil psicológico de quem está fazendo isso. Acha que pode fazer? — Os olhos de Joohyun passam uma confiança tão arrebatadora que me vejo bebendo dessa fonte, mais do que tudo, quero confiar nela.

— Sim. — Puxo ar entre os dentes, tomando coragem. — Mas antes preciso que me deixe ver Jennie.





[...]





Para quem esperava ser presa ali mesmo, estou surpresa por sair da delegacia. Ainda procuro respostas enquanto dirijo pelas ruas de Taegon. O dia está nublado, a neve aumenta e o frio é tão traiçoeiro que está em todo lugar, gela os ossos e dificulta a respiração. Há pessoas na praça, no centro — uma avenida larga cheia de bares, karaokê, lojas de roupas, bazar e um cinema antigo.

Os moradores de Taegon não são religiosos, os mais novos não são, a igreja está caindo aos pedaços ao redor da praça. Alguém colocou David Bowie para tocar em uma caixa de som bem embaixo do santuário.

Taegon realmente parece um paraíso intocado. As colinas verdes salpicadas de branco, o povo acolhedor e alegre, barulhento e jovem, mas Rosé tem razão, é artificial, é como uma cidade de brinquedos. Jennie sabe disso, talvez Jisoo e Joohyun também saibam, elas cresceram aqui, estão acostumadas as pessoas e seus segredos. Ninguém fala, mas os universitários vivem chapados de diazepam o dia todo e o Colônia está abarrotado de mulheres que viverão dopadas pelo resto da vida, não porque são loucas, algumas não são. O índice de suicídio aqui é tão alto que parece o pico da AIDS no começo dos anos 80, algo não cheira bem nessa cidade, você sente a fumaça e não sabe de onde vem o fogo.

Eu deveria dirigir mais rápido, mas meu sangue está frio. Estaciono o opala na garagem do Colônia, respiro fundo, uma, duas, três vezes. Fico um tempo no silêncio do carro como se Lalisa pudesse aparecer no banco do carona e me assustar, como se pudesse ser uma parte externa de mim.

Joohyun ligou para o Colônia e autorizou a minha visita a Jennie. Os guardas não falam nada quando me vêem, trêmula e assustada dentro daquele jaleco, e me deixam entrar.

O quarto de Jennie é como todos os outros quartos do Colônia, fede a éter e remédio. As paredes são de um branco amarelado e a cama é de metal. Não há nada além da cama e uma janela pequena com grades enferrujadas. Jennie não levanta a cabeça quando entro, o cabelo está bem cuidado, alguém teve paciência para desembaraçá-los.

— Quero ficar sozinha com ela — peço ao policial, parado na porta.

Jennie levanta o rosto e os lábios se comprimem. Ela se levanta como um touro e parte para cima de mim, mas as algemas a fazem voltar para a cama em um ricocheteio.

O policial me olha, como se dissesse "viu porque preciso ficar aqui?"

— Se eu precisar de ajuda você vai me ouvir gritar — falo, mas ele não se mexe. — Por Deus, ela está algemada! Prometo não chegar perto o suficiente para ter a bochecha arrancada!

Jennie ri da cara do policial e se ajeita na cama, esperando-o ir embora. Ainda tenso, ele nos deixa sozinhas.

O que eu deveria perguntar primeiro? Como nos conhecemos? Como ela conheceu Lalisa? Se ela sabe que não sou Lalisa? Quem matou aqueles homens? Se ela confia em mim? Qualquer coisa, digo para mim, ela finalmente está aqui, o que mais você espera que aconteça?

Escolho ir pelas perguntas mais fáceis.

— Como está fazendo para burlar os remédios? Você me parece melhor do que achei que estaria.

Jennie leva uma das mãos até os cabelos, jogando-os para trás, e as correntes balançam. A pele dela está cheia de pintinhas vermelhas, como pacientes com câncer, mas pode ser apenas falta de vitamina D já que não a deixam sair para tomar sol.

— Depois de um ano aprendi alguns truques... — Ela olha para o teto. A voz é lenta. — Eu escondia na gengiva, mas eles começaram a olhar a minha boca, passei a não engolir e vomitar tudo, alguns descem, outros não... para não desconfiarem eu fico olhando para um mesmo lugar quando estão aqui... fixamente, esperando o momento certo... esperando se aproximarem...

— Como fez com a psiquiatra?

Ela sorri, débil.

— É. — Se limita a dizer.

As algemas machucam as suas mãos, feridas e com cicatrizes fixas, como se fosse comum usarem esse método para prendê-la na cama. Me aproximo, mesmo com medo de ser atacada.

— Por que escolheu me contar a verdade?

Ela dá de ombros.

— Você não é a Lalisa. Não sei como pensei que fosse... — Ela ri de novo, amarga. — Vocês são completamente diferentes.

Preciso de uma pausa para me lembrar de respirar e solto o ar em um jato único. Jennie engatinha na cama até mim, como um gato presunçoso.

— É a primeira vez que nos falamos, prazer, Jennie Kim, mas acho que você já sabe.

Me sento na beirada da cama, as mãos fixas no estrado de metal

— Lisa, mas acho que você já sabe.

Ela sorri mais largo e se senta ao meu lado. Um formigamento atinge meus pés, minhas pernas e minhas mãos, aperto com mais força o metal para não tocá-la. É como se eu não conseguisse segurar meus impulsos, como se Lalisa estivesse se debatendo.

— Eu quero falar com ela. — Jennie leva os olhos até mim, seus lábios quase não se mexem. — Eu quero falar com Lalisa.

Pisco algumas vezes, contendo mais uma leva de lágrimas.

— Não tem um jeito... outro jeito, de fazermos isso sem que ela precise vir?

Jennie me olha por longos minutos.

— Foi bom te conhecer, Lisa, mas meu assunto é com ela. — Sua voz é tão calma e professoral que me sinto uma criança, encolho meus ombros. Lalisa tem as respostas, mas estou com medo e quero falar isso para Jennie e esperar que ela entenda, deixá-la emergir me aterroriza.

— Me desculpe, eu sei, eu sei... mas... — Passo o dorso das mãos nas bochechas úmidas, ainda seguro o estrado de metal, os nódulos dos dedos rijos.

Jennie se aproxima e, com um movimento rápido, agarra a minha cabeça com as mãos. Espero a mordida ou o ataque certeiro, mas ela parece tão sóbria que me assusta. Jennie se ajoelha ao meu lado, de modo que estou com o rosto arqueado, encarando o fundo dos seus olhos.

— Me deixe vê-lá, Lisa.

Tento respirar de forma tranquila, eu tenho o controle.

— E-eu não posso, Jennie.

— ... Lalisa!

— Não! — Meu coração bate mais rápido e todo o meu autocontrole some. Estou arfando, minhas mãos em cima das delas enquanto busco ar, busco alguma coisa para me sustentar, um alicerce, uma âncora que me faça continuar firme, algo que me prenda na superfície, qualquer coisa... estou chorando, chorando e arfando, e presa aos olhos de Jennie, implorando... — Não não não... nãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonãonão....

Jennie aperta a minha cabeça com mais força.

— EU PRECISO FALAR COM ELA!

O policial não entra, ninguém entra. É como se o tempo tivesse parado, como se os segundos se alongassem por horas. Vejo os lábios de Jennie se mexendo lentamente e seus olhos fixos nos meus, as partículas de poeira ocupam o ar entre nós duas, o ar que não chega em meus pulmões por mais que eu o puxe desesperadamente. Preciso de respostas, mas não quero perder o controle, não agora. Porém, a voz de Jennie é como um domador de serpentes, o comando é certeiro. Meus olhos se fecham sozinhos, meu corpo está prestes a adormecer.

Perco a consciência em segundos, estou afogando em um mar azul infinito, vendo os raios de sol sobre as águas ficarem cada vez mais escassos, porque estou afundando. Percebo que não adianta mais lutar, só permaneço quieta e me afundando.

Ela toma o controle.

Lalisa finalmente emerge e me empurra para a parte mais funda e escura, onde não consigo ver nada do que acontece na superfície.

É como se Jennie tivesse aberto as portas para uma catástrofe natural.

Lalisa toma conta e eu sinto, ela está furiosa.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro