
Cap. 11: Uma mãe, um filho, uma promessa e um pai
― Quem é você? – Gintoki perguntou.
― Yamamoto Megumi. – a mulher se identificou após fazer uma mesura. – A Hikari era minha amiga. Eu estava passando e acabei ouvindo a sua conversa com a dona daquele estabelecimento, e acabei me sentindo na obrigação de te falar mais alguma coisa sobre ela.
― Então pode falar. – ele disse enquanto chegavam até um pequeno bar.
― Bom, Yorozuya-san, como eu disse, Hikari e eu éramos amigas. Depois daquela noite, ela me disse que tinha a sensação de que havia deixado passar algo despercebido. Alguns dias se passaram e ela descobriu que estava grávida. E era certo que tinha sido de algum cliente.
Gintoki pediu por uma dose de saquê e ouvia atentamente o que Megumi dizia. Tinha a sensação de que o que ela falava poderia ser muito revelador.
― Eu perguntei a ela se suspeitava de algum cliente em específico, mas não conseguia lembrar o nome do tal cliente. Foi quando pedi para que ela o descrevesse. A primeira coisa que ela mencionou foi o cabelo prateado. Logo eu disse a ela que era você, o "Salvador de Yoshiwara".
― Se ela sabia que eu poderia ser o pai, por que não me procurou?
― Porque ela tinha medo. Tinha medo de ser escorraçada e maltratada. E me fez esconder quem era o pai até o fim. Ela dizia que não queria manchar sua honra devido a sua fama aqui em Yoshiwara. Pelo pouco tempo que ela estava aqui, naquela época ainda não havia ouvido falar de você e nem da sua fama. A Hikari foi levando a sua gravidez adiante e continuava me proibindo de falar sobre o pai do bebê que esperava, me fazendo prometer que guardaria esse segredo a sete chaves.
O Yorozuya bebeu um gole do saquê enquanto continuava com os olhos vermelhos fitando a mulher que lhe falava sobre a mãe do seu filho. E ela prosseguiu:
― Durante esse tempo, ela descobriu que tinha uma doença grave, que sem tratamento a mataria e, com tratamento, o bebê morreria. A Hikari ficou abalada com isso, mas decidiu não se tratar para salvar a vida da criança. Eu disse que ela era tola em fazer isso, mas ela me respondeu que não podia ser egoísta e que o bebê não tinha culpa de ter sido concebido. Disse que o bebê não poderia pagar por um descuido dela. E... Falou que já amava demais aquela criança, antes mesmo de ver o rostinho dela.
― Não entendo por que as mães fazem qualquer coisa pelos filhos. Tem hora que soa muito estúpido.
― Acho que só quem é mãe que entende, Yorozuya-san. E a Hikari estava determinada a se sacrificar pelo bebê. Ela me fez prometer que, acontecesse o que acontecesse, eu entregaria o bebê ao pai logo que nascesse. E só eu deveria fazer isso, porque guardava esse segredo a seu respeito a sete chaves.
Megumi tomou também um gole de saquê e suspirou tristemente. Podia parecer fácil falar ao Yorozuya sobre tudo o que estava falando agora, mas anos atrás teria medo de expor isso ao albino que a encarava com seus olhos rubros.
― Sabe – ela prosseguiu. – A Hikari já estava com a saúde muito precária quando deu à luz ao bebê. A última coisa que ela me disse antes de não voltar mais é que estava feliz por estar nascendo aquele bebê, e... Pediu para eu não me esquecer da promessa que fiz. O médico, após o parto, apareceu dizendo que ela não havia resistido, mas... Que ela viu o rosto do menino e, em seguida, acabou morrendo. Segundo ele... Ela parecia muito feliz antes de morrer... Ela... – Megumi tentou engolir o choro. – Era uma grande amiga que eu fiz aqui, e doeu muito perder alguém tão querido como ela...
Gintoki notou que a mulher secou os olhos bastante marejados. Sabia perfeitamente o que era perder amigos e aquilo também não deixava dúvidas de que o relato dela era verdadeiro. Não disse nada, seria indelicado de sua parte interrompê-la agora que parecia estar acabando de contar tudo o que sabia. E que o ajudaria, e muito, a contar a Ginmaru sobre sua mãe.
― Desculpe, Yorozuya-san... – ela disse com a voz ainda embargada. – É que o tempo ainda não curou isso completamente. A convivência foi breve, mas já nos considerávamos irmãs. Por isso, eu cumpri a promessa que fiz a ela. Pedi informação a uma das mulheres da Hyakka sobre seu endereço, pois eu sabia que elas certamente sabiam disso através da Tsukuyo-san. Com isso, eu mesma levei o bebê até a sua casa.
Após Megumi terminar sua narrativa, um breve silêncio se fez, sendo quebrado pela chuva que continuava a cair lá fora. Cada um estava mergulhado em seus próprios pensamentos, com os olhares perdidos no passado. Gintoki tomou o resto de sua dose de saquê e se levantou, deixando o dinheiro para pagar a bebida tanto dele como da mulher ao seu lado.
― Aonde vai agora, Yorozuya-san? – ela perguntou.
― Para casa. O meu filho tá com febre e eu nem deveria estar perambulando por aqui. Vão me encher o saco quando eu chegar lá. Mas, pelo menos, vou saber o que dizer a ele sobre a mãe. – o albino finalizou enquanto sorria conformado.
― Fico agradecida de ter ajudado, Yorozuya-san. E também por finalmente ter tirado esse peso das minhas costas.
*
Desfez-se das botas na entrada e, ao chegar à sala meio escura, jogou por cima do sofá o quimono branco com a barra molhada. Seguiu até o local que estava iluminado por uma nesga de luz. Vinha do seu próprio quarto, no qual Ginmaru estava num futon ao lado do seu, com uma compressa na testa e dormindo tranquilamente.
― Isso é hora, Gintoki? – era Otose que aparecia à porta do quarto. – Já era para ter vindo antes do Shinpachi ir embora.
― Foi pra isso que eu pedi pra te chamarem, velha.
― Deveria avisar que demoraria, seu irresponsável! Não é hora de ficar farreando enquanto o moleque tá febril e toda hora perguntando de você!
― Eu não estava farreando, velha! – o Yorozuya contestou com veemência. – Como vou ter cabeça pra fazer isso?
― E então o que você estava fazendo em Yoshiwara, seu arremedo de pai?
― Sendo justamente um arremedo de pai! – ele respondeu sem conseguir encarar a senhora idosa à sua frente. – Eu tinha que ir lá depois do Ginmaru ficar assim por minha causa...! Passei oito anos sem saber quem era a mãe dele, o que era a minha obrigação como um pai de verdade! Eu não sou o melhor pai do mundo, mas não quero que o Ginmaru passe pelas mesmas coisas que eu passei na idade dele!
― Então você foi saber mais sobre a mãe dele, não é? E o que descobriu?
― Que ela abriu mão da própria vida para que Ginmaru vivesse.
A voz sonolenta de Ginmaru se fez ouvir logo atrás de Gintoki:
― Você demorou, pai...! Onde você estava?
Gintoki sorriu ante a pergunta do filho:
― Eu fui saber mais da sua mãe.
― É sério? – o rosto do menino se iluminou.
― Aham.
― O que aconteceu com ela, pai?
― Antes de ela morrer, teve uma história triste, Ginmaru. A sua mãe era muito bonita e adorável. Quando você ainda estava dentro da barriga dela, ela ficou muito doente. E teve medo que contassem para mim.
― Tadinha, pai... E o que aconteceu depois?
― Ela tinha uma escolha a fazer.
― Que escolha? – Ginmaru questionou.
― Entre a vida dela e a sua. Se ela se tratasse, você morreria. Caso contrário, você estaria vivo e ela morreria.
― Então ela...
―... Escolheu perder a vida dela pra você viver, Ginmaru. – Gintoki completou, brincando com os cabelos prateados do filho. – Porque ela já te amava antes mesmo que você nascesse.
― Acho que ela não queria que você soubesse pra não te deixar triste, né?
― Por aí. Mas eu acho que ela está feliz por você estar vivo. – o albino mais velho sorriu.
― E você?
― Também.
― E eu tô feliz por ter um pai como você. – o garoto também abriu um sorriso. – Quando eu ficar bom, você me treina? Até agora eu só treinei com o Shinpachi-sensei.
― Tudo bem, Ginmaru. Mas trate de ficar bom primeiro, ok? Agora trate de dormir pra baixar mais essa sua febre.
O garoto deu um bocejo e respondeu:
― Tá bom...! Boa noite, pai...!
― Boa noite.
Gintoki cobriu o filho e colocou outra compressa em sua fronte, para a febre continuar baixando. Levantou-se dali e encontrou Otose ainda próxima à porta do quarto.
― Se quiser ir embora, pode ir. – o Yorozuya disse enquanto passava a mão pelo ombro em sinal de cansaço. – O "arremedo de pai" assume daqui.
Otose sorriu:
― Vejo que você vai deixar de ser apenas um "arremedo" para ser um pai "razoável", Gintoki. E espero que você realmente suba de nível.
Ela deu as costas para o albino e seguiu até a porta, onde pegou seu guarda-chuva. Antes de sair, falou:
― Gintoki, você é um inquilino estúpido. Mas você nunca deve ser um pai estúpido.
Após a velha senhora sair, Gintoki tomou um banho e vestiu seu pijama para dormir. Voltou ao quarto e se deitou no futon ao lado do de Ginmaru. Colocou a mão sobre a testa dele e verificou que ainda estava febril, mas bem menos do que antes.
Por fim, antes de dormir de vez, devido ao cansaço, afagou mais uma vez o cabelo prateado do filho.
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