
Capítulo 31: Operação Sukonbu - Parte I
Mais três dias se passaram com o Distrito Kabuki sitiado pelo cerco feito pelo Mimawarigumi e os soldados alienígenas da Junta. Tudo aparentava estar como os líderes do cerco esperavam. A energia elétrica, a internet, o sinal de telefonia e até o fornecimento de água potável haviam sido cortados e as entradas e saídas estavam fechadas. No mesmo horário, nos últimos dias, havia uma rodada de negociações entre duas duplas de negociadores. Do lado do governo, Nobume e um alien de pele alaranjada e longos cabelos negros penteados para trás, chamado Kalad – comandante dos soldados de farda amarela. Do lado de Kabuki, os negociadores eleitos foram Kondo e Gintoki.
Conforme combinado, o comandante aposentado do Shinsengumi e o Yorozuya foram até a entrada principal do distrito. Mesmo indo desacompanhados, não estavam necessariamente sozinhos. Em cada esquina, estavam homens do Joui e do Shinsengumi, liderados respectivamente por Katsura e Hijikata. Caso houvesse qualquer problema, eles protegeriam os dois escolhidos como negociadores.
― Ei, Gorila, por que mesmo eu tenho que vir com você?
― Tudo faz parte do plano, Yorozuya. Está lembrado?
― Ah, sim, claro... Mas por que tem que ser EU? Não aguento mais ver aquele cara de cenoura!
― Relaxa! – Isao deu uns tapinhas nas costas do albino. – Eu também não aguento eles, mas nos indicaram pra isso! Um bom negociador e o cara que eles acham que lidera Kabuki.
― Mal lidero a Yorozuya! – o faz-tudo reclamou enquanto enfiava o dedo mindinho no nariz para sua habitual limpeza de salão. – E eles acham que eu sou o "Rei do Distrito Kabuki"... Não gosto nem de ser um dos Reis Divinos no lugar da velha, fui forçado a isso!
Avistaram a entrada principal, cujo arco luminoso há algum tempo não via energia elétrica para ser aceso. Naquele horário, início da manhã, normalmente os sensores daquele arco com o nome do distrito fariam com que suas luzes se apagassem. E tal como um arco apagado, Gintoki não escondia que preferia estar dormindo a acordar àquela hora. Não teve o menor pudor em bocejar escancaradamente diante dos negociadores do governo.
A última proposta para que o cerco terminasse e não houvesse necessidade de usar a força mediante a invasão do distrito consistia na rendição. Os líderes da resistência se entregariam para serem exilados para outro planeta. Os dois pediram um prazo até o dia seguinte para poder se reunir com os demais para decidir algo...
... Mas tudo já estava decidido e combinado, a reunião era apenas uma desculpa para desviar a atenção dos governistas do que realmente planejavam fazer.
― E então? – Kalad logo questionou, posicionado ao lado de Nobume. – Fizeram a reunião?
― Sim. – Kondo respondeu. – Estivemos analisando a proposta de vocês e confrontando com o que queremos.
― Então têm uma contraproposta?
― Na verdade, estamos pensando justamente nisso.
― Sim – Gintoki interveio na conversa massageando as têmporas. – Só que meus neurônios não processam nada enquanto tô moído na ressaca. Não tem como as próximas rodadas de negociação serem mais tarde não? De preferência, depois do almoço.
Kalad e a Imai se entreolharam enquanto Isao pigarreava para chamar a atenção dos dois para ele, em vez do albino.
― Ah, sim, na reunião de ontem à noite nós decidimos sobre a proposta de vocês o seguinte... – ele disse até Gintoki novamente interromper.
― Decidimos que não vamos aceitar essa proposta. Não. Nunca.
Fez uma breve pausa dramática para depois finalizar debochada e vagarosamente, para seus lábios serem lidos por quem quisesse fazê-lo:
― Nem a pau, Juvenal.
Um breve instante de um constrangedor silêncio pairou entre os quatro na entrada principal do Distrito Kabuki. O Yorozuya sentiu os olhares dos três como se o queimassem, mas buscou ignorar. Já estava aborrecido demais e sua cabeça não parava de latejar de dor devido à ressaca. Na noite anterior se empolgara um pouco além da conta para espantar o tédio à luz de velas e tanto ele quanto seu alter ego mais jovem encheram a cara no bar de Catherine, para depois serem arrastados escada acima no final.
Se bem que, na verdade, havia enchido a cara pra não precisar acordar cedo para aquela negociação chata, mas não adiantou. Até tentou fazer com que Tatsuma fosse em seu lugar, visto que sempre fora bom em barganhar. Porém, Sakamoto não poderia se revelar. Permanecer oculto aos olhos do governo também era parte do plano, pois ele e o Kaientai eram os fornecedores secretos dos distritos de Kabuki e Yoshiwara, para que ninguém passasse fome durante o cerco... Além de apoio para qualquer eventualidade.
Deu as costas para os outros e seguiu sua caminhada para casa, despedindo-se num aceno:
― Amanhã trazemos o resultado da reunião de hoje à noite. Tchau!
*
Do Distrito Kabuki saía um túnel subterrâneo bastante extenso, através do qual era possível ver que outros estavam interligados, sobretudo vindos de lugares como uma antiga cadeia, além das delegacias de polícia e o Shinsengumi. Não era raro que criminosos fossem descobertos cavando túneis para as fugas, mas apenas as entradas e saídas eram vedadas, enquanto as passagens em si não sofriam alterações. Para saber por onde passar na intrincada rede de túneis e chegar até o destino desejado, apenas um mapa poderia dar a localização certa.
Um GPS ajudaria? Certamente, mas o sinal poderia denunciar quem desejava burlar a segurança inimiga, e aqueles que compunham a resistência que defendia o distrito não seriam loucos de se deixarem ser descobertos...
... A menos que a pessoa com o mapa em mãos fosse alguém com preguiça e sem a menor paciência de ficar lendo mapas.
― Toma, Pattsuan. – Gintoki passou o mapa ao companheiro de Yorozuya. – Você lê o mapa e a gente te segue.
O garoto revirou os olhos, mas recebeu o mapa das mãos do albino enquanto ouvia Kagura mascar uma tira de sukonbu. O túnel pelo qual caminhavam, nesse início, até tinha uma altura razoável para que andassem, até começarem a andar curvados. A Yato, mais baixa, não precisava se abaixar tanto, mas em compensação o faz-tudo, por ser mais alto, caminhava logo atrás do par de óculos ambulante com a postura mais encurvada do que os outros dois.
― Eu espero não ficar travado quando chegar lá. – queixou-se.
― Pelo mapa – Shinpachi afirmou. – Nós não vamos ficar encurvados na hora que chegarmos lá, Gin-san.
― Por quê? – Kagura questionou.
Shinpachi encarou seus companheiros com o olhar totalmente cético, para depois responder:
― Vamos ter que terminar o caminho rastejando.
Caminharam por mais alguns minutos e se detiveram no que seria o trecho final do túnel que os levaria à base inimiga. Aquela era a primeira parte da chamada "Operação Sukonbu", nome dado em referência ao petisco favorito de Kagura. O objetivo inicial era destruir de uma vez por todas o Projeto K1... Cujo nome também estava relacionado à ruiva, devido à letra "K" no início de seu nome.
Apesar do que parecia, o Trio Yorozuya não estava necessariamente sozinho. Haviam se enfiado no túnel primeiro, para que chegassem ao território inimigo sem alarde. Alguns minutos depois, entrariam reforços para dar suporte. Era uma missão extremamente arriscada, mas necessária, pois Kagura era a peça essencial para tal. E Shinpachi e Gintoki sabiam onde era o laboratório que fabricava os Yatos artificiais, após a breve estadia durante o resgate de Hijikata.
Os três rastejaram por mais alguns metros, com Kagura reclamando de estar sujando sua roupa vermelha e seu guarda-chuva roxo e Gintoki se queixando do quanto seu yukata branco ficaria encardido. Shinpachi avistou uma pequena claridade, percebendo que ela vinha de cima. A julgar pela umidade daquela parte, percebeu que era uma espécie de ralo e que a abertura era obviamente muito pequena para que pudessem atravessar.
Não havia espaço suficiente para que pudesse sacar a bokutou que trazia consigo, tampouco para que Gintoki conseguisse passar por eles para poder quebrar o tal do ralo. Entretanto, sentiu que alguém se rastejava por cima dele, após ouvir as reclamações de Gintoki. Sentiu também uma mão forçando a sua cara contra a umidade do solo do túnel e o barulho de uma pancada forte, seguida pela queda de cacos de cerâmica, concreto e do ralo metálico. E, para completar, sentiu os pés pequenos de Kagura o pisoteando para subir.
Quando tentou se levantar para subir pelo buraco que a Yato abrira graças a uma forte cabeçada, alguém se rastejou por sobre si e também o pisoteou para subir pelo buraco. Pelo peso e pela forma como tinha dificuldade de se movimentar em um espaço tão reduzido, só poderia ser Gin-san, que estendeu-lhe a mão. Após ser içado por seu chefe, correram de fininho até atrás de algum lugar mais escondido para não serem notados.
O garoto de óculos abriu novamente o mapa que havia guardado na manga do seu quimono e começou sua caminhada cautelosa até o destino demarcado naquele papel. Gintoki e Kagura o seguiam com a mesma cautela, até ficarem a alguns passos de onde se localizava a porta do laboratório.
― Eles reforçaram a vigilância depois que saímos. – o Shimura murmurou.
―Claro que reforçariam – o mais velho respondeu no mesmo tom. – A gente fez omaior caos! Mas precisamos de uma ideia pra driblar esses caras...
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