Algumas pessoas têm a incrível capacidade de amar, várias e várias vezes, tantas que o significado do amor se perde entre elas. O coração fica danificado demais para reconhecer quando é amor, paixão ou uma simples atração. Tudo isso porque elas não o guardaram.

    Tem outras que o guardam demais, trancado a sete chaves, preso o suficiente para não serem capazes de sentir qualquer emoção boa que seja. Essas são mais difíceis, pois se não houver alguém bom o suficiente para forçar a entrada e cuidar do coração guardado, a pessoa pode viver sem entender o que é amor. Amor é vida.

    Eu tinha medo de me tornar parte desse segundo grupo de pessoas, tanto quanto tinha medo de ser do primeiro, então media bem minhas emoções, guardava meu coração na esperança de entregá-lo a alguém algum dia, alguém que o cuidaria tão bem quanto Deus cuidava. Esse era o plano, eu estava indo bem, em pleno ensino médio não havia ninguém bom o suficiente para isso, eram apenas crianças que brincavam de amar.

     Mas então você chegou, galante demais nas suas botas pretas e camisas xadrez. Perdido demais em um mar de alunos de uma escola pública do Alabama, concentrado demais em uma folha de papel branca que provavelmente era seus horários daquele ano. Eu o vi de longe, assim que pisou na entrada para ser mais exata, mas não só eu o olhava, todos os alunos esticava o pescoço para ver o garoto bronzeado de cabelos castanhos e incríveis olhos azuis novo na cidade.

     Já tinha ouvido falar de você, o Alabama não era lá uma cidade pequena mas as notícias corriam rápido, todos sabíamos da família Taylor, vinda da iluminada Los Angeles para nossa cidade do country. Sabíamos que você tinha uma irmã pequena, Sally, de apenas cinco anos e de seus pais Bruce e Madeline, donos de uma construtora. Você Scott, tinha dezessete anos de pura saúde e era a estrela de futebol da sua antiga escola.

     Minha curiosidade fez essa lista mental enquanto te via caminhar pelo corredor totalmente perdido, estava em dúvida se me aproximava de você ou ficava ali te observando. Nicole foi mas rápida, ela era assim, cheia de atitudes, não era a toa que comandava trocentos grupos acadêmicos e ficava no topo da pirâmide das líderes de torcida, olhando vocês lado a lado, enquanto ela oferecia ajuda simpática e você sorria em alívio, era nítido que ela era o esteriótipo perfeito para você. Loura, alta, de belos olhos castanhos.

     Aquilo me incomodou, tanto que uma cirene apitou em vermelho na minha mente, eu estava deixando meu coração se envolver rápido demais, estava me tornando o primeiro tipo de pessoa e não podia deixar aquilo acontecer. Desviei meus olhos de vocês, terminei de pegar minhas coisas no armário e caminhei a passos largos até chegar na minha sala, mas antes de entrar, me permiti dar uma última olhada por cima do ombro.

     Aquela virou minha rotina sem perceber, eu o observaria de longe enquanto entregava meu coração de mãos cheias, exposto como um nervo, para você fazer o que bem quisesse, sem notar, eu tinha me apaixonado, por um você, um cara inalcançável.