3
Os dias se passaram mais rápido. Faltava apenas três meses para acabar o ano letivo, então de repente faltava dois e em um piscar faltava um.
Eu percebia sua atenção em mim, Scott. Percebi os olhares nas aulas, percebi suas tentativas de aproximação todas as vezes que vinha em minha direção e eu mudava minha rota instantaneamente. Percebi quando você mudou de atitude ao evitar o máximo a prática de bullying na escola colocando o time de castigo todas as manhãs para correr por vários minutos ao redor da quadra. Percebi quando você tentava tirar alguma atenção minha nas apresentações de seminários, mas eu simplesmente o ignorava.
Dereck me disse algum tempo depois da cena do estacionamento que você se desculpou com ele parecendo realmente arrependido, segundo Dereck.
Mesmo sendo fria e o ignorando por completo, não consegui deixar de gostar de você. Parecia uma praga, Scott, você aparecia como um fantasma em meus sonhos e perseguia meus pensamentos como um cachorro bravo. Eu estava enlouquecendo. Mas não podia ceder. Por dois motivos.
Um: Você não entendia a minha fé, então nós nunca entraríamos em sintonia. Dois, você precisava entender que errou ao mexer com Deus, e você nunca entenderia isso se conseguisse tudo o que quer.
Talvez eu esteja sendo exagerada nessa última parte. Talvez você só estivesse se corroendo em arrependimento e quisesse consertar as coisas. Foi com esse pensamento que decidi ir até você. Era intervalo e notei que você não estava ali, te procurei pelos corredores e salas, até na biblioteca, um lugar que você raramente ia.
Estava quase desistindo quando lembrei de algo importante, você é atleta, o lugar que você se sente confortável não é em uma sala fechada, é no campo. Corri até a quadra confirmando minhas espectativas, você estava lá. Deitado na arquibancada com fones de ouvido encarando o céu, completamente perdido como no primeiro dia de aula, mas dessa vez em pensamentos. Era tão estranho te ver sozinho, normalmente você era cheio de pessoas a sua volta, o que me fez pensar, você estava sozinho por que queria ou aquilo era a consequência de suas atuais ações? Como eu queria saber a resposta.
O vento naquela tarde estava mais forte que o normal embaraçando meu cabelo, mas estava mais interessada no seu. Os fios castanhos tinha um reflexo amarelo pela claridade, o sol lambia a pele do seu rosto mostrando o quão branca era. Lembro de ter ficado maravilhada com a cena, você parecia um pouco perturbado, mas até nisso poderia ser notada a sua beleza.
Mãos envolvem minha cintura enquanto lábios deixam um beijo em meu ombro nú pela regata. Abaixo a folha para o encarar, seus olhos azuis estavam com um brilho diferente, algo que não consegui identificar.
— O que foi? – Descanso a cabeça em seu ombro. Ele me puxa mais contra seu peito de forma que apoio todo o meu peso nele.
— Nada. Continue. – Seu nariz faz uma trilha imaginaria no meu pescoço, sentindo o cheiro dos meus cabelos.
Chacoalho a cabeça em uma péssima tentativa de me concentrar e procuro rapidamente a parte que parei.
...Não fiquei nervosa como das outras vezes ao me aproximar dele, eu estava tão calma que não tropecei nos degraus como achei que faria. Subi com passos de fada e sentei um degrau a baixo do seu.
Vi quando seus olhos desviaram do céu azul para mim. A surpresa se instalou no seu rosto antes dele arrancar os fones de ouvido e se sentar rapidamente. Ele ia começar a falar quando o impedi.
— Eu te perdôo. – Falo tão baixo como a serenidade daquela tarde. — Dereck o perdôo, eu também te perdoei. Mas ainda falta alguém a que você deve pedir desculpa, a mais importante.
Suas sobrancelhas se uniram em confusão.
— Quem?
Sorri para ele, pela primeira vez. Seus olhos acompanharam os movimentos dos meus lábios quando disse.
— Deus.
Aquilo não era apenas para lhe dizer que o tinha perdoado, aquele era um teste. Observei sua reação atentamente, esperava que ele risse e negasse com a cabeça dizendo que sou louca. Mas foi o extremo oposto. Ele assentiu com a testa franzida.
— Você... – Hesita por um instante. — Pode me ajudar? – Você morde o lábio em um ato nervoso antes de sorrir a coçar a nuca. — É que eu nunca fiz isso. – Merda, Scott! Você estava tão amável naquele momento, chega a ser golpe baixo.
Sorri meu abobalhada, estiquei as mãos e segurei as suas, ignorando completamente o choque que meu coração levou.
— Seja sincero. Peça perdão por o ter ofendido, o trate como um amigo mas sem esquecer que ele é Deus. – apoio as mãos no queixo soltando as suas. — Ele te conhece melhor do que ninguém, então seja sincero. — Repeti. Aquela foi a última vez que o vi.
Estávamos na semana da formatura e eu fazia parte do comitê de organização. O que queria dizer que nos próximos dias eu estava atolada em trabalho, mal conseguia pensar em tudo o que tinha para fazer ,mas sempre achava um momento para pensar em você, Scott, em cada minuto de cada dia. Me perguntava como você está, se tinha conseguido fazer a oração, se estava indo bem nas provas. Queria saber tudo sobre você e entendi aquilo como um sinal de que tinha te perdoado totalmente.
Mas eu estava me despedindo agora, me despedindo da escola, de Clarisse e Becky que iam para a Columbia. E me despedindo de você. Fiquei sabendo que um olheiro de Havard tinha se interessado em você e te dado uma vaga no time, eu estava tão orgulhosa. Ao mesmo tempo triste por saber que aquela seria a última vez que o veria, estávamos indo embora, na verdade, só você. Eu ganhei uma bolsa na universidade do Alabama, então ficaria aqui, bem pertinho de casa.
Esperando você voltar.
Mesmo que soubesse que isso não ia acontecer. Você é uma estrela, Scott, uma bem grande, que não cabe no céu do Alabama. Você entraria para a NBA e estaria longe demais. Aquele era o meu adeus.
O baile tinha chegado e foi um completo sucesso, eu estava graciosamente vestida de tule branco parecendo a noiva cadáver de acordo com meu carinhoso irmão mais velho, tinha demorado horas no salão da mãe de Clarisse e mais alguns longos minutos na frente da penteadeira da minha mãe, enquanto ela mostrava seus dotes em maquiagem. O resultado disso tudo se deu na garota sorridente com o olhar triste que me encarou do espelho.
Meu acompanhante daquela noite foi Dereck, íamos como amigos e nos divertiríamos muito segundo ele, eu concordava plenamente embora no meu interior eu preferia você. Tiramos centenas de fotos no carro de Dereck antes de entrar no salão decorado com estrelas, o tema noite estrelada saiu de um filme antigo que Nicole, a líder do comitê de organização, amava.
Ela estava certíssima no final, o resultado estava incrível e todos pareciam hipnotizados.
Dereck havia saído para cumprimentar alguns amigos quando Clarisse e Becky me abordaram com seus respectivos pares, elas já estavam alegres demais o que me indicou o início da festa bem antes de chegarem ali. Logo elas já estavam arrastando seus pares para a pista de dança enquanto eu apenas ria.
— Não vai dançar? – A voz grossa que eu tanto conhecia veio repentinamente me fazendo dar um sobressalto.
Você estava mais lindo do que eu me lembrava alguma vez te ver. Seus cabelos estavam estrategicamente desgrenhados enquanto uma camisa social preta delineava seu peito, as calças jeans sob medida se escondiam no sapato social preto e um cheiro amadeirado refrescante como saído de um belo banho quente hipnotizava meus sentidos. Tão perfeito.
Você é alguns centímetros mais alto que eu, mesmo com saltos de uns bons dez centímetros das minhas botas. Então eu inclinava a cabeça levemente para trás para o encarar.
— Não. – Sorri. — Não faz meu estilo.
— Sério? Country? – Você riu em sarcasmo. — Pensei que todos do Alabama gostassem de country.
— Eu não sou do Alabama! Sou do céu. – Sorrio devolvendo seu sarcasmo. Você ri abertamente me dando o privilégio de ouvir sua risada, tomei isso como um presente de despedida.
— Claro, claro. – Acena com a cabeça.
— Você não vai dançar? – Pergunto apenas para acabar com o silêncio que ficou. Você me olha de canto com um sorriso torto ameaçando aparecer no seus lábios perfeitos.
— Que tal darmos o fora?
Aí meu Deus! Você só podia estar ficando maluco.
Estava tão incrédula com sua proposta que comecei a rir, rir exageradamente chegando a ser feio. Eu estava morrendo de vergonha e aquela era a minha reação. Não tive coragem de te encarar depois do meu acesso de loucura, então apenas encarei os jovens adultos bêbados na pista de dança.
— Você está brincando né?
— Não, não estou. – Sua resposta veio firme de imediato. O encaro buscando algum tipo de brincadeira no seu rosto, mas só o encontro sério.
Arqueio as sobrancelhas dando de ombros, cedendo.
— Onde vamos? – Seu sorriso foi tão grande que iluminou o meu rápido demais.
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