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Cazuza, meu querido conterrâneo

Cazuza, meu querido conterrâneo,

Antes de escrever essa carta, eu parei em frente ao meu computador, fiquei encarando o documento em branco, totalmente vazio, pensando em como deve ter sido difícil ser quem você era — cantor homossexual — em um Brasil que foi marcado pelo autoritarismo e repressão; um Brasil que vivia um violento Regime Militar. Felizmente, meu caro Cazuza, você ao menos viveu tempo suficiente para ver o país conquistar a liberdade de expressão que fora roubada de nossos irmãos de pátria por mais de duas décadas.

Infelizmente, meu caro Cazuza, eu não tenho notícias muito boa do futuro. Trinta anos após a retomada da democracia, voltamos a viver sob a ameaça de sermos silenciados. Pois é, Cazuza, as coisas estão mudando, não para melhor. Ao contrário, vivemos tempos obscuros, tempos de violência, de intolerância. Tempos permeadas de discurso de ódio, que paira sobre nós, ameaçando nos sufocar, nos calar, seja pelo cano de um fuzil, seja por frase tão cruéis que nos matam por dentro.

Lembra do Ato Institucional 5 - AI-5, emitido lá em 1968, que fortaleceu a censura e silenciou todas obras artísticas, que pudessem ser consideradas como propulsoras da subversão da moral ou dos bons costumes? Bem, meu caro, com muita tristeza em meu coração, sou obrigada a lhe dizer que muitos jovens de hoje em dia, marcham pelas ruas desse Brasil, trajando uma camisa amarela da seleção brasileira de futebol, enquanto carregam faixas cujos escritos pedem o retorno da ditadura, bem como do AI-5. Revoltante, não é?

Sabe o que é pior nisso tudo? Muitos são jovens dos anos 1990 como eu, muitos deles sequer haviam nascido quando você morreu. Nenhum deles viveu na porra de uma ditadura. Nasceram e cresceram em um país "livre", em que muitos morreram para que pudéssemos ter a liberdade de andar pelas ruas das cidades, sem temer sermos colocados em um camburão e levados a um porão escuro onde seríamos torturados por irmos de contra as imposições de militares fascistas hipócritas que comandavam um Brasil violento. Enquanto escrevo essas palavras fervorosas, agradeço a todos que foram, para sempre silenciados, que deram a vida para que eu pudesse defender meus ideais, mesmo sabendo que a qualquer momento, nosso presidente que sempre apoiou a ditadura, pode se cansar da nossa democracia em vertigem e instaurar um novo golpe. Temo ser calada a qualquer momento, meu caro. Porém, prometi a todas as vozes silenciadas, que eu gritaria por elas; prometi que não deixaria seus sonhos morrerem. Eu também não quero morrer. Não antes de ver a revolução começar. Então, enquanto eu tiver voz, irei gritar. Enquanto eu puder escrever, colocarei meus sonhos em palavras. Enquanto eu respirar, lutarei para colocar um fim em um sistema que silenciou e ainda silencia muitos sonhos e vida pelo país adentro. Eu ainda estou aqui! Nós estamos aqui.

Cazuza, você já ouviu falar em Auschwitz? Caso não saiba, Auschwitz foi um dos maiores campos de concentração nazista alemão, criado na Polônia na metade do ano de 1940, que se tornou para o mundo um símbolo do holocausto, de genocídio e terror. Por que estou falando sobre isso? O motivo é simples, quero falar da barbárie, sobretudo, sobre um incrível filósofo alemão, de origem judaica, que escreveu um texto deveras interessante, intitulado como a "Educação após Auschwitz". Nesse texto, Adorno faz uma "exigência de que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação". O filósofo nos faz pensar em uma educação voltada para impedir o retorno da barbárie, eu só ainda não descobrir como fazer isso.

Enfim, Cazuza, quando se fala em barbárie devemos nos ater aos princípios do fascismo o quais proclamam discursos de total dominação de certas minorias, o que nos faz lembrar de um certo período obscuro da história brasileira, quando ficamos à mercê de uma ditadura militar. Todos sabemos: a Ditadura matou muita gente. Foi um período sangrento que marcou fatidicamente a história do nosso Brasil. Então por que? Por que, depois de tanto tempo, depois de tudo que vivemos, a sociedade elegeu um presidente que vangloria a Ditadura, que apoia a tortura e sonha com o retorno da barbárie? Como fomos capazes de deixar que o país fosse governado por um ex-militar que proclama discurso de ódio, baseado em falas autoritárias que objetivam reprimir o grupo resistência pelo medo?

Nesse ponto, Cazuza, não podemos deixar nos ater novamente aos vínculos de compromissos morais os quais foram determinantes para que o ex-capitão Jair Bolsonaro assumisse a presidência da República. Seus ideais em relação aos valores da sociedade, fundamentados na tradição, no restabelecimento da ordem moral do país, em falas de repúdio ao tal "kit gay", ou em discursos denegrindo a própria imagem da escola ao afirmar que está encontrava-se com fonte reprodutora de incentivo a sexualidade precoce. Ou quando por meio da aclamação os ideais conservadores da família tradicional brasileira e da defesa dos interesses dos empresários, serviram tão somente para inspirar pessoas que compactuam com a sua ideologia, a se converterem aos seus valores morais. Assim, meu caro Cazuza, faz-se imprescindível eu tecer um comparativo entre as razões que levaram ao resultado da nossa última eleição presidencial, com as motivações que levaram a Alemanha sucumbir a Hitler: o alemão que pregava o fascismo.

O Jornalista Oliver Stuenkel, no ano de 2018, em um artigo publicado para o jornal El País, que fora intitulado "Porque votamos em Hitler", realizou uma análise histórica, salientando sobre os motivos que levaram a ascensão de Hitler ao poder. Segundo o jornalista, um dos primeiros motivos deu-se pelo fato de que os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época. Além disso, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos, o líder fascista usava um linguajar simples, na qual espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo. Outro fator determinante, segundo Stuenkel, é que muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade. Os conservadores, portanto, sonhavam em restabelecer a antiga ordem. Mas, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes, como a de que judeus e gays deveriam ser mortos, muitos acreditavam que ele só queria chocar as pessoas. Hitler também ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos, como o problema da criminalidade. Por fim, o jornalista discorreu, que as elites logo aderiram a Hitler, pois ele prometeu um atraente regime clientelista, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler. Traçando uma comparação com o panorama do político brasileiro, nos parece bem familiar as razões que levaram nosso atual presidente ao poder em comparadas com aquelas que também ocasionaram na ascensão de Adolf Hitler. Se eu estou dizendo que o nosso presidente é fascista? Claro que estou! Eu ainda tenho liberdade para dizer isso, ainda não me calaram.

Cazuza, em uma de suas músicas você expressou "meu partido é um coração partido". Pois é! Sinto que nosso partido é o mesmo, meu coração também se partiu quando vi no que nosso Brasil se tornou. Enquanto arrancam todos os direitos dos trabalhadores. Enquanto pessoas são despejadas de suas casas. Enquanto milhares de pessoas morrem de fome. Em cima do povo, encontram-se os políticos enriquecendo às custas do nosso sangue, do nosso suor. O Estado ceifa mais vida que a própria morte. Somos vítimas de um sistema opressor.

Meus heróis não morreram de overdose. Minha heroína foi assassinada com três tiros na cabeça. Seus sonhos foram silenciados no dia 14 de março de 2018. Era uma noite quente, no Rio de Janeiro, quando assassinaram, Marielle Franco. Todos seus sonhos foram silenciados pelo estrépito sons das balas, que invadiram um carro e arrancaram a vida da mulher que ansiava em transformar o mundo. Até hoje não sabemos quem mandou matar a Marielle. Mas sabe o que nós sabemos? Temos a certeza que nossos inimigos estão no poder.

Quantas Marielles precisam morrer para o Brasil mudar? Marielle cujos sonhos foram silenciados, vive, agora, dentro de mim. Eu não sou uma garota que assiste tudo em cima do muro. Eu tenho uma ideologia que jamais irá morrer. Marielle morreu, mas seu legado permanece vivo, pois sua ideologia era a prova de tiros.

Hoje eu sou todas as vozes da Marielle. Sou todos os seus sonhos e todos os seus desejos. Mariele não foi a primeira, tampouco a última mulher negra a ser assassinada nesse país, que mata pretos como se ainda vivêssemos na escravidão. A todas as Marielles que tiveram seus sonhos silenciados, agora eu lhes dou vozes. Gritem! Gritem até serem ouvidas! Nós temos uma ideologia que jamais morrerá! Nós somos a revolução, ouça-nos chegar.

Respeitosamente,

𝙰𝚙𝚎𝚗𝚊𝚜 𝚖𝚊𝚒𝚜 𝚞𝚖𝚊 𝚎𝚍𝚞𝚌𝚊𝚍𝚘𝚛𝚊 𝚝𝚎𝚗𝚝𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚝𝚛𝚊𝚗𝚜𝚏𝚘𝚛𝚖𝚊𝚛 𝚘 𝚖𝚞𝚗𝚍𝚘

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