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9: Entre Condritos e Magritte

Às vezes eu me perdia debaixo de toda a névoa de devaneios que pairavam acima da minha cabeça, pesando o ar cinzento que se enovelava aos meus sentidos.

Li em uma matéria, certa vez, que aquele que a tinha escrito era fascinado por coisas miúdas chamadas condritos, fragmentos de asteroides. Ele dizia que, ao se observar pedaços desses amontoados frios e duros de poeira espacial acumulada debaixo das lentes de um microscópio, era possível ficar tão deslumbrado como quando visualizamos pinturas de artistas abstratos.

Era inspirador, de certa forma, pensar em como a depender do jeito que se olhe, é possível enxergar beleza até mesmo nas coisas mais hostis.

Entretanto, na maior parte dos casos eu não conseguia entender o lado radiante de toda a bagunça de pensamentos que se entulhavam debaixo do meu crânio, feito mariposas que viviam batendo as asas e se expandindo sem qualquer fagulha de direção.

Era só... esquisito, e me fazia sentir ainda mais desajustado do que o normal.

Por vezes, pensava sobre como tudo o que eu era não passava de um punhado de átomos que, sem razão explicável, foram se unindo e formando outras substâncias não aleatórias. Também ponderava que, se algumas coisas surgem sob estímulos que não compreendemos ao certo, será que eu mesmo não já fora o estopim para alguma coisa ser criada? Talvez, pelo simples ato de tocar uma folha, ou uma palavra revolucionária que soprei ao vento e alguém pegou...

Não sabia. E isso só me fazia sair de órbita um pouco mais.

Era como eu estava enquanto Mozart tagarelava ao meu lado sobre alguma coisa indistinguível logo após sair do seu banho: sentado no sofá da sua sala, e, ao mesmo tempo, flutuando.

Ele estava dentro de uma calça de moletom e uma camisa preta recém posta, que replicava o quadro do cachimbo de René Magritte acerca da ilusão das imagens. Ceci n’est pas une pipe, estava escrito em itálico abaixo da ilustração. Isto não é um cachimbo, traduzido para o português. E aquela frase se pôs a martelar incessantemente por entre os meus neurônios faiscantes, se repetindo e repetindo de novo feito o trecho dissonante de um disco rachado.

Moz falava algo sobre si mesmo que eu adoraria prestar atenção para absorver mais de quem aquele garoto era, mas nada conseguia fazer muito sentido para mim. Seus lábios se moviam em um amontoado de peças desconexas que eu não conseguia encaixar, como se estivesse vendo o mundo em terceira pessoa ou de dentro de um sonho.

Alisson estava terminando de fazer a pipoca e um lanche a mais para forçar o anfitrião da casa à comer — que, de acordo com ela, era a sua especialidade culinária.

— Leo? — O moreno tocou minha bochecha de súbito, espalhando pontos de luz na minha pele que me fizeram despertar. — Tudo bem? — Apertou ligeiramente os cílios, em análise.

— Tudo. — garanti. — Só me distraí.

— Não ouviu nada do que eu disse, não é? — A pequena centelha de decepção mesclada a um vislumbre de impaciência no seu timbre me fizeram sentir ainda mais culpado.

Ele estava doente, e eu havia ido à sua casa justamente para deixá-lo o melhor possível, não acrescentar mais motivos para que seu desânimo perdurasse.

Era uma porcaria sentir que não possuía controle o suficiente de mim mesmo para não machucar as pessoas em dados momentos.

— Desculpa, eu... Eu tentei, juro. Não foi por falta de interesse. — falei, quase suplicante.

Um suspiro lhe escapou, as íris bicolores fixas no meu rosto.

— Tá tudo bem. — assegurou, com um sorriso mínimo.

— Você... pode repetir o que estava falando, por favor? Um pouco mais... devagar. — pedi, baixo.

— Ah, não foi nada demais. É só que eu ando tendo um sonho recorrente bem sinistro.

— E como é?

— É meio que o fim do mundo desencadeado por um exército de mortos-vivos que me perseguem incansavelmente. Só que não tem só isso. — Torceu o nariz em uma careta. — Tem um momento em que eu subo uma escada e chego em algum lugar alto, tipo o cômodo de uma casa. Mas é assustador ficar lá em cima, porque parece que o chão vai se abrir a qualquer momento e eu vou cair no vazio. Um vazio que eu sinto que tem alguma coisa lá que eu não posso ver, mas me assusta.

Assenti, sorvendo o máximo possível das suas palavras.

— Eu costumo sonhar que estou caindo, mas a queda não me assusta tanto, porque... sinto que preciso cair. Talvez, não deva ter tanto medo da queda. O que está lá embaixo pode ser ruim, mas não vai te matar mais do que o medo que sente apenas... cogitando hipóteses. — falei, sem saber ao certo se as frases que me escapavam estavam fazendo o menor sentido.

Ele soltou um murmúrio em concordância, estreitando as sobrancelhas como se pensasse acerca de tudo o que eu dissera.

Sonhos às vezes costumam carregar simbolismos para coisas que entulham algum canto da nossa cabeça e nem sempre conseguimos perceber, mas estão lá, nos submergindo de dentro para fora em suas águas turvas que carregam ácidos capazes de nos corroer até os ossos. Comecei, então, a considerar que Mozart poderia estar temendo algo; possivelmente, aquela coisa que se acendia por trás do seu castanho-café-e-azul-celeste-cor-de-coisas-fantásticas sempre que olhava para mim.

Porém, não dava para ter certeza. Talvez, apenas estivesse... feliz com a possibilidade de um novo amigo. Não sabia. Não o entendia muito às vezes, em meio às suas mudanças súbitas de humor e atitudes meio indecifráveis.

Suspirando, desviei o olhar para o lado, e voltei a fitar os porta-retratos espalhados ao longo da estante da televisão. Na maioria das fotos, Mozart estava sorrindo à contragosto ao lado da mãe, e a outra parcela era composta por registros da sua genitora ou dele quando pequeno.

— Seus pais são divorciados? — indaguei, sob a percepção da ausência de uma figura paterna nas fotografias.

Suas orbes nublaram um pouco.

— Meu pai morreu.

Assenti, optando por não postergar esse assunto.

Pouco depois, Alisson adentrou na sala com uma tigela de plástico repleta de pipoca caramelada e um prato cheio até a borda de miojo, quase tropeçando no Calisto no meio do caminho rumo ao sofá. O gato não saía dos pés dela desde quando tínhamos chegado, em uma espécie de adoração mais grudenta do que chiclete tutti-frutti.

— Essa é a sua especialidade? — Mozart riu, assim que ela estendeu o recipiente na sua direção.

— Eu não disse que sabia cozinhar. — Deu de ombros, com uma diversão evidente perpassando suas orbes. — É simples, mas fiz com carinho. Agora, come.

— Mas eu não tô com fome...

— Se você não comer, eu te faço engolir. Com o prato e tudo. — A brincadeira foi entoada com uma convicção tão grande que o garoto arregalou os olhos, levando a palma à garganta rapidamente, como se investigasse a possibilidade de um prato do tamanho do seu antebraço passar por lá.

— Diante dessas palavras tão doces, o que mais eu posso fazer? — ironizou com divertimento, capturando o recipiente de vidro.

— Ótimo! — Alisson bateu palmas, com um sorriso imenso se esticando nas suas feições. — Já decidiram qual filme a gente vai assistir?

Ainda não fazíamos ideia. Tive a impressão de que Moz comentara alguma coisa sobre o filme do Freddy Krueger, antes de começar a falar sobre o seu sonho com zumbis. Talvez, fosse o que ele estava mais inclinado a ver.

— A Hora do Pesadelo. — respondi.

Mozart estatelou os olhos para min, como se eu tivesse acabado de dizer que tinha uma nave de alienígenas matadores de humanos estacionada na sua garagem.

— Ah, filme antigo? A maioria é tão besta! — Alisson comentou, fisgando o controle da televisão no estofado.

— Tenho a impressão de que esse não é. Nem um pouquinho. — O moreno ao meu lado afirmou, encolhendo-se um pouco contra as almofadas que colocara nas costas.

E, realmente, não era. Percebi nos minutos iniciais daquele clássico cinematográfico que dormir provavelmente não seria a mesma coisa por um bom tempo, e tive certeza mais do que absoluta disso conforme a sequência de cenas sanguinolentas nas quais o Fred ceifa a vida das pessoas através dos seus sonhos se transcorria.

Alisson parecia imune à tudo aquilo, entretanto. Tão imune que começou a cochilar antes da metade do filme, deixando eu e Mozart à mercê das garras gigantes daquele velho-psicopata-elevado-à-oitava-potência, mais feio do que um peixe-bolha. E peixes-bolha são bem horríveis. Tipo, muito mesmo.

Em dado momento, comecei a ser preenchido por uma corrente de euforia que não me deixou continuar a manter o foco. Minhas células pareciam cheias até a borda de uma eletricidade que não conseguia extravasar somente batucando os pés no chão.

Comecei a roer as unhas para tentar conter o ímpeto de levantar e rodar por aquela sala inteira, até meus músculos doerem de cansaço e meus pulmões desesperados por oxigênio me obrigarem a estacionar. Só interrompi o tique quando o gosto metálico de sangue se dissipou pela minha língua, fazendo-me perceber que a unha do meu indicador já chegara ao tronco há muito tempo, e a ponta do dedo estava em carne viva.

Pressionei a pele com o polegar e me levantei, caminhando o mais rápido possível até onde julgava ser o banheiro. Chegando lá, mergulhei a digital no fluxo de água corrente, e mordi o lábio inferior com força debaixo da ardência que arrebentou contra minhas células.

Em seguida, sequei com um pouco de papel higiênico e fisguei um dos inúmeros band-aids que sempre deixava no bolso, circundando a área lesionada com ele.

— Você está bem? — A voz mais rouca do que o normal de Mozart irrompeu da porta, logo que terminei de fazer o pequeno curativo.

Ele estava apoiado na soleira, com as mãos nos bolsos da calça e os cílios pendendo para fechar em frente às íris de diferentes tons fixas em mim. Parecia cansado.

— Acabei machucando o dedo. — Ergui o indicador para ele.

— Correção: Você se machucou. — Seu olhar para mim foi permeado de significados ocultos. — Isso... acontece com frequência?

Baixei as vistas por um instante, voltando a encará-lo após um segundo ou dois.

— Às vezes. Mas... está melhor do que antes. — Fui sincero.

Ele balançou a cabeça devagar, assentindo.

— É bom saber disso. — Levou a mão à nuca, sacudindo seus fios longos. — Eu... quero que saiba que estou aqui, caso queira... não sei, conversar sobre como se sente. Você não precisa fingir comigo. Quando for para o mundo das nuvens enquanto eu estiver falando sobre algo, pode me pedir para parar, e... repetir, que eu repito quantas vezes forem preciso. Se... ficar inquieto no meio de alguma atividade estática que estiver fazendo comigo, pode me dizer, que eu... tento pausar o filme, ou deixar para depois o que for, ou... não sei. A gente vai arrumando jeitos. — Seus lábios desenharam um sorriso tímido, na proporção que suas bochechas eram preenchidas por um vermelho-vivo.

Não reprimi o ímpeto de sorrir também, imerso em encantamento diante de tudo o que dissera, que nunca havia sido pronunciado por mais ninguém além dele. Era... especial, como quando me mostrou a Constelação de Leo e falou sobre como era a mais legal de todas.

— Obrigado por isso. — Foi a única coisa que consegui dizer.

Suas pálpebras se fecharam em uma piscada lenta, que denunciava toda a sonolência que entorpecia seus músculos.

— Eu só quero me deitar agora, mas... acho que não quero ficar sozinho. — murmurou. — Quer dizer, não é que eu esteja com medo de dormir e ser morto pelo Freddy, é só que... O filme foi bem intenso, e... Não que eu tenha medo de filme de terror, é só que na minha infância esse cara me deixava apavorado, e a Alisson ainda não acordou, só que você ainda tá aqui...

— Eu posso ficar com você um pouco, se quiser. — sugeri em um sussurro, pela dose de embaraço que preencheu meus átomos.

— Ah, sim, claro, tudo bem... — entoou, rapidamente.

Assim que minhas meias tocaram o piso do seu quarto e o ar morno do ambiente me abraçou, deixei que minhas orbes escorregassem pelo cômodo de forma involuntária.

Vi, de imediato, o conjunto de camisa, cinto e calça jeans jogados de qualquer jeito na cadeira em frente à sua mesa repleta de trambolhos, com folhas amassadas sobre o tampo de madeira, resquícios que sobram do lápis depois de ser apontado e objetos que parecia ter mania de colecionar, como diversos cristais de cores diferentes, botões e conchas em um pote de vidro.

Ele se jogou na sua cama de solteiro, e eu fiz o mesmo, acomodando-me ao seu lado com uma perna em triângulo. Torci os dedos dos pés dentro do meu par de meias tingidas com estampas destoantes — bolinhas e xadrez —, e puxei o ar com força.

Suas paredes cor de chantilly possuíam amontoados de citações, desenhos embebidos de significado e recortes aleatórios de personalidades ilustres que ele certamente admirava. Tudo naquele lugar era Mozart; cada negócio inusitado, inspirador e por vezes confuso que preenchia o cômodo. E isso era para lá de extraordinário. 

Talvez, no fundo, fôssemos como dois vinis arranhados em lugares diferentes, que, quando tocados juntos, entoavam a melodia mais bonita do mundo.

Fui desperto dos meus enleios ao sentir seus dedos alcançarem minha bochecha, o polegar resvalando até as proximidades do meu nariz e me trazendo de volta ao momento presente.

— Se eu começar a me debater, você me acorda para não deixar o Freddy me matar? — quis saber, parecendo genuinamente assustado com a possibilidade.

— Acordo, sim. — Sorri.

Foi só então que ele fechou os olhos. E, dentro de uma fração de tempo, os movimentos solenes do seu peito denunciaram que pegara no sono.

A visão do seu semblante adormecido, tão etéreo e vulnerável por entre os contornos relaxados do rosto sob algumas mechas desgrenhados do cabelo, arrancou-me um sorriso.

Levei as costas da mão à sua testa, e a temperatura amena da pele se mesclando à minha me fez soltar um suspiro aliviado. Ele não estava mais com febre.

Saudações, terráqueos!

Mais um capítulo com misto de emoções para vocês.

O que sentiram lendo?

Gostaram da atitude do Moz e da sua fala para com o Leo?

Contem-me suas impressões dos personagens, vou adorar ler cada uma delas! :D

Tenham um ótimo final de semana! Beijos de nuvem pra vocês <3

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