Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

6: A Constelação de Leo

Manoel de Barros diz, em seu Livro Sobre Nada, que o que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.

Sempre que meus pensamentos rodopiavam acerca de qualquer coisa que dizia respeito ao garoto de cachos incendiários, constatava como o poeta estava certo.

Percebi que, quanto mais eu conhecia sobre Leonardo, mais ele me soava como uma poesia inteira, com centenas de versos ilógicos escorrendo por cada paralelo e meridiano que o compunha; inexplicavelmente bonito justamente por não fazer sentido.

Era o tipo de coisa que pairava pela minha cabeça feito uma centena de pássaros silvestres enquanto escorregava o grafite do lápis contra o papel, acrescentando os últimos traços da borboleta que recobria parcialmente a face do rapaz esboçado em meio a um amontoado de planetas e vislumbres de galáxia.

Por mais que tentasse negar, tudo o que eu havia tentado desenhar no dia seguinte à reunião do clube e na madrugada posterior à ele acabou sendo sobre o ruivo, a ponto de ter amassado pelo menos cinco folhas no meio daquela inspiração direcionada - e estranha para burro -, até finalmente resolver ceder e transpor para o meu caderno a imagem que insistia em faiscar por entre os meus neurônios.

Não sabia até que ponto gostava daquilo. Fazia-me sentir meio que um disco rachado - se é que isso faz sentido. Dava vontade de correr sem rumo, girar pelo globo inteiro à pé até o tempo começar a rodar ao contrário e voltar para o início de tudo, quando a Terra não passava de uma grande Pangeia vazia de partes unidas com algum tipo de cola invisível, que se parecia um pouco com o amor na cabeça de um lunático como eu.

Era uma porcaria. Uma chatice só.

Suspirando, escorreguei a palma ao longo do pelo branco-e-preto do Calisto, esfregando de leve suas orelhas pontudas de felino. Ele me observou, deitado preguiçosamente ao lado da minha perna, suas íris verticais irradiando um amarelo-óleo sublime debaixo da luz que minha luminária sobre a mesa cuspia em nós.

Eu o havia encontrado dentro de uma caixa miúda de papelão, no meio da maior chuva torrencial que abalara a cidade em muito tempo, há uns dois anos. O filhote estava debaixo de um coreto, encolhido em uma bola de pelos bicolores, e seu corpo frágil tremia de frio. Olhei para os lados, e, não vislumbrando nenhum possível dono, mergulhei o gato minúsculo no bolso interno do meu casaco e o levei para casa, conversando com ele feito um idiota.

Mamãe não ligou muito para a presença do felino após chegar do trabalho, ao vê-lo assistindo um desenho qualquer comigo no sofá - o que não me surpreendeu. Na verdade, ela não se importava com a maior parte das coisas do mundo.

Demorei um bocado para decidir o nome do bicho, até que, no meio de uma aula de geografia, a professora citou ocasionalmente as luas de Júpiter para nós; sendo Calisto uma delas. E eu soube que seria esse de imediato.

Calisto pareceu ficar curioso, porque, de súbito, levantou e saltou para o meu colo, batucando de leve as patas almofadadas no meu caderno de esboços, como se quisesse dizer algo.

- O que foi? - perguntei, embora estivesse totalmente ciente de que, se o gato respondesse, eu deveria correr para o psiquiatra mais próximo.

Silêncio total. Quer dizer, quase total, considerando que há dias o jardim estava com uma infestação de grilos sinistros para caramba, que adoravam compor sinfonias estridentes durante a noite e me fazer desejar, mais vezes do que seria considerado saudável, ter algum tipo de arma para explodir cada um daqueles insetos.

- Esse é um... garoto esquisito que eu conheci. - Apresentei aquele que tinha desenhado. - É o Leo, que combina com leão, e é o que ele parece com aquele monte de cachinhos bonitos. - Soprei um riso meio tosco. - Não sei bem o que fazer, Cal. Porque... acho que ele me deixa coisado. Você entende o que eu quero dizer?

O animal continuou me olhando, sem piscar uma única vez, como se estivesse captando cada sílaba do que eu dizia. Soprei o ar, um tanto cansado.

Coisar; aquele verbo que dá pra substituir qualquer outra coisa que temos vergonha de dizer, ou não queremos fazê-lo, ou simplesmente não dá para achar palavra que melhor traduza o que se agita dentro de nós. Eu desconfiava que, no meu caso, era a terceira opção, embora o fato do meu peito entrar em colapso gravitacional sob si mesmo ao lembrar da risada de Leo enquanto me via encher as bochechas de batata-frita acusasse outra coisa.

Os olhos do gato permaneceram me observando por alguns instantes, até que ele miou umas cinco vezes, falando alguma coisa para mim no idioma gatês, quase como se estivesse me dando um conselho. Miei de volta, começando uma brincadeira típica nossa, e dei risada da minha própria bobeira enquanto direcionava as vistas para outro lugar.

A parede em frente à minha cama estava abarrotada de pôsteres mesclados a citações de artistas diversos e desenhos meus, em um emaranhado de cores sem qualquer sentido para quem olhasse de fora da minha cabeça, mas que possuía universos inteiros de significado para mim. Minha paleta de madeira estava uma mistura de cores inventadas sobre a mesa, e havia potes de tinta espalhados pelo tampo ligeiramente sujo em alguns pontos com seus tons coloridos.

Limparia outra hora.

Submerso no meu próprio oceano de devaneios sem equipamento de proteção, só estourei as bolhas repletas de pensamentos devaneantes que ondulavam minha cabeça quando vi que já se passava das duas da manhã, o que me fez forçar meu corpo pesado a cair no bolinho de lençóis do colchão feito uma cobertura especial, e tentar dormir.

A biblioteca era, sem qualquer margem para dúvida, o lugar mais incrivelmente inspirador do colégio inteiro. Talvez fosse por isso que gostava tanto de me enfiar lá dentro em qualquer oportunidade que tivesse; todo aquele amontoado de livros que portavam galáxias inteiras no seu interior me enchiam de criatividade e deslumbre, de um jeito que, às vezes, sentia-me quase prestes a explodir.

O último horário fora vago, porque o professor de física tinha contraído algum tipo de virose ultra-contagiosa e não pôde dar aula. A maioria dos alunos da turma já haviam ido embora; entretanto, eu preferi correr para a biblioteca, ficar na companhia dos seus escritos e de Virgínia, a mulher de meia idade que tomava conta de lá.

Ela não falava muito, apenas gostava de ficar ouvindo as notícias do dia que escorriam do seu rádio pequeno por trás do balcão de madeira gasta, embora ainda não soubesse muito bem usar fones de ouvido naquele trambolho e, por vezes, acabava por pedir a minha ajuda com sua simpatia adorável. Entretanto, apesar de ser um alguém indiscutivelmente doce, o que me fez gostar dela de verdade foi o fato de dividir comigo os biscoitos com gotas de chocolate que sempre levava para o lanche, na hora do intervalo.

Os tentáculos de sol perfuravam o vidro da janela imensa, banhando o ambiente com singelos feixes de luz que iluminavam a poeira que cortava o vento como estrelas que vagavam sem rumo pelo espaço, perdidos em algum ponto entre o início e o fim do cosmos. O ar tinha um cheiro ligeiramente áspero de velharia e mofo, que inundava minhas narinas e entorpecia meus músculos.

Estava ajeitando alguns detalhes na minha ilustração, quando, de repente, um baque seco rompeu o silêncio tumbal dos arredores, fazendo-me saltar de susto com o coração palpitando em ritmo frenético. Direcionei as orbes para todos os cantos em um gesto automático, e os olhos de Leo me fitaram de volta, arregalados em uma culpa fervilhante. Ao seus pés, jazia o exemplar de algum clássico em capa dura.

- Desculpa! - pediu, de imediato. - Eu... só vim dar uma olhada no lugar, daí vi você aí, só que estava tão concentrado que eu não quis atrapalhar, só que o livro meio que... escorregou e caiu, e te atrapalhou de qualquer jeito. - As palavras fluíam numa velocidade tão alucinante que mal consegui acompanhar.

- Está tudo bem. - assegurei, deixando um sorriso enfeitar meu semblante. - Pode ficar aqui comigo, se quiser.

- Ah, eu... certo. - Sorriu também, e se pôs a vencer a distância entre nós

Virei a página do meu caderno rapidamente, e me afastei um pouco para que se acomodasse ao meu lado, entre duas prateleiras. Ele deixou que sua mochila azul resvalasse pelo braço, encaixando-a sobre as pernas logo que se sentou contra a parede.

Suas íris caíram para o desenho que ocupava as duas folhas do meu caderno aberto acima do jeans da calça. Era um céu repleto de constelações que eu andara pesquisando.

- Que bonito. - o garoto afirmou, deslumbrado.

- Essa é a mais legal de todas. - Apontei com o indicador para uma em específico. - A Constelação de Leo. Ou... leão. - Comprimi os lábios, tentando disfarçar a pequena carga de embaraço que me atingiu.

Aquele olhar castanho irradiou estrelas nos meus poros, e ele me lançou um sorriso meio tímido.

- Tem uma citação de Van Gogh que eu encontrei ontem. Agora que vi que você desenha, reparei em como ela se encaixa, tipo, muito bem em você.

- Mostra.

Soprando um riso, ele abriu sua mochila e fisgou um pequeno caderno semelhante ao meu, que, assim que se pôs a folhear, reparei que provavelmente o usava para anotar coisas abstratas.

As páginas estavam entulhadas de coisas escritas, muitas se atropelando umas sobre as outras e fugindo da linha em pequenas montanhas flutuantes, em um desarranjo que denunciava a velocidade desgovernada dos seus pensamentos.

- Está em uma das cartas que ele escreveu para o irmão, Téo. - Voltou as orbes para mim e, depois, novamente para o papel, piscando um pouco mais por segundo em meio à sua empolgação. - "Em suma, quero chegar ao ponto em que digam de minha obra: este homem sente profundamente, e este homem sente delicadamente. Porque tenho da arte e da própria vida, de quem a arte é essência, um sentimento tão vasto e tão amplo...".

As palavras se expandiram até a borda de mim, preenchendo-me de deslumbre. E o encantamento que escorria de cada poro de Leo me deixou pensar no quanto era provável que ambos fôssemos feitos de poeira estelar e arte. Eu e ele. Dois possíveis discos rachados.

- Isso é muito incrível! - Despejei um riso fascinado. - Sabe, às vezes eu fico pensando em como seria se hoje em dia ainda tivéssemos os mecenas da Idade Média, que investiam feito loucos na arte e faziam ela ser mais valorizada.

- Seria muito foda. - Seu tom foi convicto. - Seria ingenuidade ou esperança acreditar que isso possa voltar um dia?

- Talvez, um pouco dos dois. - Dei de ombros. - A esperança às vezes tem muito de ingenuidade.

Ele sorriu.

- Meninos, eu vou precisar sair rapidamente... - A voz de Virgínia se sobrepôs aos nossos pensamentos. Direcionamos o foco para frente, e avistamos a mulher em frente às estantes, ajustando os óculos no topo do nariz. - Vocês ficam de olho em tudo? Prometo não demorar.

- Tudo bem, senhora. - Leo respondeu, lançando-lhe um sorriso adorável.

- Muito obrigada!

Em instantes, Virgínia saiu do nosso campo de visão, e o baque sutil da porta esbarrando no trinco ecoou por entre as prateleiras pouco depois.

Saudações, terráqueos!

Aqui jaz um retrato totalmente fidedigno (ou nem tanto) do Calisto:

Acho que ele estava tentando dizer para o Mozart que era para ele lascar um beijinho no nosso ruivo.

Falando nisso, vislumbrem a Constelação de Leo:

Gostaram do capítulo? Um poquito, mediozito ou muitito?

Acham que vai dar bom esses dois sozinhos na biblioteca?

O que será que vão aprontar?

Vejam nos próximos capítulos da novela dos desajustados! Hahaha.

Tenham um ótimo domingo! Beijos de nuvem pra vocês <3

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro