22: Ferdinand, por Scott J. Sheppard
A luminosidade resplandecente que se diluía na lateral do meu rosto em um cobertor solar não foi a principal responsável por ter me acordado.
Uma sequência de risadas irrompia de algum canto da casa que não consegui identificar, parcialmente abafadas pelas camadas de concreto das paredes. Os timbres semelhantes das minhas irmã e mãe soavam no ar, mesclando-se ao cheiro de açúcar e o calor do café que se derretia por entre as partículas de oxigênio.
Minha pálpebras se abriram em meio às notas de surpresa que irradiaram pelo meu sistema, as quais cintilaram com ainda mais intensidade quando me dei conta da presença de Mozart na cama. Julgava ter sido somente um sonho quando senti seu corpo se unir ao meu durante a madrugada, feito as metades opostas de um ímã especial que espargiu iridescência por toda parte, espetando a camada densa do sono que embaraçava meus sentidos.
Confirmar que fora real me fez sorrir.
Sua bochecha estava contra o travesseiro, e um dourado sutil com vislumbres de girassol se derramava nos paralelos e meridianos do seu rosto, inflamando os poros até alcançar a bagunça de mechas pretas que o seu cabelo estava.
Observando a aura quase etérea que Moz exalava em seu sono debaixo das centelhas de luz que abraçavam sua pele, pensei em como chamá-lo de anjo soava uma metáfora que fazia sentido — embora soubesse que ele provavelmente negaria até a morte esse tipo de coisa, e insistiria em dizer que era bagunçado demais para ser comparado a algo tão puro e inefável como um ser celestial.
Então, lembrei-me vagamente de ter dito as benditas três palavras para ele pouco antes de pegar no sono. Recordar isso trouxe ardência ao meu rosto, mesclada à consciência gélida de que não deveria ter feito aquilo. Não naquele momento. Não tão cedo.
Droga! Moz com certeza deveria ter pensado que eu era um filho da mãe emocionado para cacete!
Mordi o lábio inferior com força, repetindo com furor na minha cabeça que não tinha como ele se lembrar de algo que sequer escutara.
Estava dormindo quando eu falei aquilo, não estava?
Tomara que sim.
De súbito, a melodia constante do despertador do seu celular ecoou de dentro da mochila ao longe, e seus cílios se abriram, trêmulos, revelando as íris dissonantes.
Meu rosto ferveu diante da constatação de que tinha sido pego o observando, trazendo o ímpeto de desviar o foco para qualquer outro ponto do quarto, mas o esticar dos seus lábios em um sorriso preguiçoso me manteve preso no seu semblante sonolento, como se uma espiral hipnótica turgida de todas as cores tivesse me deixado em transe.
— Eu esqueci de fechar a cortina quando entrei, não foi? — Seu timbre permeado de rouquidão alcançou meus ouvidos, o nariz se torcendo em uma careta que denunciava sua certeza da resposta positiva.
Acenei com a cabeça, soprando um riso diante da percepção do quanto ele ficava adorável ao acordar.
— Você... Conseguiu dormir? — quis saber, jogando o tronco para frente até se sentar.
Sua mão viajou rumo aos olhos, esfregando-os. Então, ficou de pé e caminhou meio trôpego até a mochila abaixo da janela, enfiando a mão no bolso menor. O alarme parou de soar rapidamente.
Livrei-me do lençol abafado que recobria minhas pernas e as deslizei para fora da cama, levantando sobre meu par de meias xadrez meio desbotadas. Tateei a cômoda em busca dos meus óculos, e, após tomar os aros por entre os dedos, encaixei-os no rosto.
— Um pouco. E você?
— Bom, metade da minha noite foi na praia. — Riu de leve, virando-se para mim. — Mas... a outra metade foi mais legal.
— Por que dormiu na praia? — Arregalei os olhos, ajustando a ponte metálica no topo do nariz. — Não teve medo de ser comido por caranguejos? Ou da maré subir demais e te levar junto? Ou de algum bandido-psicopata roubar seu fígado?
Seu riso ecoou novamente, e alguns passos o conduziram pelo chão até estacionar à minha frente. Ele estava uma bagunça, com a camisa do colégio amassada e o cinto que falhava na tarefa de manter sua calça suspensa, deixando que o jeans pendesse meio desleixado ao longo do quadril magro. Mas, ainda assim, estava irremediavelmente bonito. Bonito de um jeito que enxugou todo o ar dos meus pulmões assim que ficou perto demais. Bonito de um jeito que não o tocar parecia tão difícil quanto enxergar as luas de Júpiter entre as estrelas sem um telescópio sequer.
— Na verdade, foi meio... involuntário. Eu só não queria voltar para casa. — respondeu, infiltrando a ponta dos dedos na base dos meus cachos desfeitos.
Seus olhos contra os meus eram uma colisão de galáxias, e seu toque imprimia poeira cósmica cintilante nas minhas veias.
Puxando fôlego, apertei as pálpebras e enlacei sua cintura, pressionando-o contra mim. Seus braços me agarraram com a mesma urgência, como se o universo estivesse em colapso e não houvesse nada além de nós. Meu nariz resvalou pela lateral do seu pescoço, sorvendo a textura morna da pele que fervia, e seu suspiro ardeu contra meu lóbulo.
— Desculpa por ter fugido ontem. Eu fui um idiota, uma besta quadrada, um completo sem noção... — E continuou listando adjetivos recriminatórios para si mesmo, enquanto eu me punha a flutuar sete passos acima da nebulosa de Hélix, pairando além do sol na gravidade zero inundada de sentimentos que ameaçavam esmagar meu peito.
Em uma das minhas pesquisas astronômicas motivadas por todos os minutos incontáveis que eu passara mirando o espaço do meu telescópio, descobri sobre a existência de Ferdinand. Em resumo, é o satélite mais distante de Urano, que o rodopia seguindo uma órbita ligeiramente inclinada e de alta excentricidade. Porém, após ter sido observado pela primeira vez em 2001 e posteriormente em 2002, Ferdinand foi considerado como perdido por um tempo, até ser avistado novamente em 2003 por Scott J. Sheppard.
Ali, engolfado pelas nuvens mornas que emanavam da pele de Moz, podia jurar que ele era um pouco como Ferdinand; perdido, mas não irrecuperável. Não para sempre. E pensar nisso era, de certa forma, reconfortante.
— Tudo bem, idiota. Agora, fica quieto e só me abraça. — murmurei.
Suas palavras cessaram por um momento, na proporção que a tensão dos músculos se desmanchava em um oceano de calmaria.
— Eu poderia ficar aqui por mais tempo do que provavelmente vou viver, mas... meio que tô muito apertado para ir no banheiro. — sussurrou no meu ouvido, tão baixo que parecia estar me contando que roubou uma das pirâmides do Egito e a escondeu no seu quintal.
Ri um pouco, afastando-me levemente.
— À vontade. — Gesticulei para a porta do quarto.
Sorrindo de canto, ele foi até o retângulo de madeira e o abriu, deixando-me sozinho com os raios mostarda do sol e toda aquela poeira miúda que esvoaçava para todo canto junto às metades da cortina diáfana.
Com um suspiro, fui até o terrário do Donatello e estacionei em frente ao aquário de vidro.
A rã estava demasiadamente quieta nos últimos dias. Não a observava comer, e a coloração verde-vibrante que antes tingia sua pele havia dado lugar a um tom fosco, desbotado. Recusava-me a pensar muito acerca do que aquilo significava, porque já sabia.
Não eram animais feitos para viverem muito.
Torcendo os lábios, deixei o quarto para trás e ganhei o corredor, imerso em uma nuvem vaporosa de devaneios. Apoiei-me ao lado da porta fechada do banheiro e levei o polegar à boca, mordiscando a lateral da unha distraidamente.
Até que ponto eu poderia confiar que o arrependimento de Mozart significava que ele não voltaria a desaparecer no ar feito éter?
— A propósito, você ronca. — Sua voz ecoou juntamente com o ruído da porta do banheiro sendo aberta. No entanto, não saiu de lá.
— O quê? — Meu ceticismo se fez audível. — Claro que não! Isso é o tipo de coisa que só é permitido fazer depois dos, sei lá, trinta e cinco anos!
— Parece o motor de um Celta dando partida em loop infinito... — cantarolou, provocação evidente enfeitando seu tom sobre o reverberar do fluxo de água da torneira que acabara de abrir.
Rolei para o lado e adentrei no banheiro, erguendo a sobrancelha para suas feições divertidas que o espelho logo à frente refletia.
— Vai se ferrar. — praguejei, comprimindo os lábios para não rir.
Ele gargalhou, fechando a torneira, e eu venci o pequeno espaço entre nós.
— Sabe que eu estou brincando. — Um sorriso torto enfeitou seu semblante. — Na verdade, se parece mais com um avião.
Acertei uma cotovelada no seu braço, sem conter o riso que subiu pela minha garganta.
— Como você é chato. — Simulou irritação, esbarrando o ombro no meu.
Ri ainda mais, e só então meu olhar se desvencilhou dele. O espelho diante de nós replicava o emaranhado caótico de fios de Mozart que caíam em ondas por trás dos ombros coberto pela camisa, cujo tecido roçava na manga da amarela que eu usava.
Minhas mechas ruivas também escorriam rumo a todas as direções, repletos de frizz em alguns pontos e precisando urgentemente de uma boa dose de creme. Havia um pequeno fiapo preso por entre as mechas, que provavelmente se enroscou ali enquanto dormia. Moz deu um peteleco no miúdo pedaço de tecido, fazendo-o voar feito um floco de neve rumo ao chão.
— Parece que tem um ouriço gigante dormindo na sua cabeça. — ele brincou, bagunçando ainda mais as madeixas com a palma. — Se ouriços fossem coloridos.
— E parece que você foi eletrocutado. — rebati, erguendo de leve o nariz.
— Ainda bem que você não é meu namorado. Sei lá, acho que eu morreria do coração depois de algumas semanas acordando ao seu lado... — Caprichou na expressão inocente em meio à brincadeira, e eu o acertei com mais uma mini cotovelada no braço.
— Ainda bem que você não é o meu namorado. — enfatizei. — Seria um horror acordar e receber esse seu bafo horrível no rosto todos os dias! Fora ver essa sua... cara de urso panda muito assustador logo cedo! — Minha eloquência se reduziu à de uma criança de cinco anos.
Moz, em contrapartida, aproximou o rosto do meu e soprou um pouco daquele bafo horrível de enxofre que ficou fermentando na sua boca à noite toda na minha cara.
— Seu.... seu... — Inflei as bochechas feito um esquilo raivoso, cerrando os punhos.
O infeliz riu tanto que se curvou sobre a própria barriga. Faíscas de raiva pipocaram no meu sistema, impelindo-me a rolar os olhos.
— Desculpa. — Despejou um sorriso derradeiro. — É só que... é bom estar aqui. Muito bom. E eu com certeza não tô sabendo muito bem como agir.
Meus lábios se esticaram.
— Acho que sei por onde começar. Aqui tem farinha de trigo. E ovos. E leite. — soltei, esperando que fisgasse a sugestão no meu tom.
Para a minha felicidade, aconteceu. Descemos para o andar de baixo e, pegando-me de surpresa, a cozinha estava vazia. Havia somente os fragmentos distantes do perfume da minha mãe e o que já sabia muito bem ser de Marcelina. Foi então que me dei conta do fato de que, nas manhãs de sábado, minha progenitora e o meu pai iam às compras semanais, e minha irmã certamente se aproveitou disso para pegar carona para o seu trabalho de meio período.
Vicente havia ligado para ela na tarde do dia anterior. No entanto, por algum motivo, Mar não pareceu estar minimamente animada para voltar para o seu apartamento após a conversa. Parecia até mesmo um tanto decepcionada; sentimento que só minou dos seus olhos enquanto jogava damas com o papai ontem à noite.
Iria conversar com ela assim que possível, para tentar entender, ao menos um pouco, o que poderia estar deslizando pelos seus neurônios em profusão.
Observei Mozart capturar os ingredientes que nos renderiam alguns bolinhos aleatórios que sabia fazer no armário, de cima do balcão em que eu estava sentado. E, antes que pudesse me conter, meus pensamentos voltaram a ondular as órbitas de todas aquelas indagações à respeito dele.
A consciência de que provavelmente só conseguiria respostas com o passar do tempo me fazia sentir dentro de uma navezinha mixuruca no vácuo prestes a adentrar no horizonte de eventos de um buraco negro. Na verdade, sentia-me quase o próprio buraco negro, considerando que eles surgem no cosmos quando a matéria, em uma determinada região, entra em colapso sobre si mesma.
Colapso. C-o-l-a-p-s-o. Testei a sonoridade da palavra na ponta da língua para me distrair, soletrando-a de frente para trás e de trás para frente em um labirinto impermeável que tornou todo o resto dissonante.
— Leo, você está me ouvindo?
Voltei para a superfície em um puxão, caindo nas elipses daquele par de olhos bicolores pressionados pelas sobrancelhas cerradas em dúvida.
— Estou! Desculpa. Quer dizer, o que estava dizendo?
Pude vê-lo torcer o nariz em uma micro-careta quase imperceptível, e seu polegar perpassou pelas pontas dos dedos rapidamente. Era notável que uma pequena dose de impaciência o atingira, mas fez de tudo para não deixar transparecer.
Talvez eu devesse contar para ele o que estava rastejando pela minha cabeça, mas a ideia me deixava meio apavorado. Quer dizer, e se me achasse meio ridículo? Ou paranoico demais? Ou percebesse o tanto de parafusos soltos que estalavam pelo meu cérebro confuso?
— Nada demais. — Soprou. — É só que minha mãe nem ao menos ligou para saber de mim. Quer dizer, às vezes eu só... sinto que se eu desaparecesse, ela não se importaria muito.
— Eu acho que se importaria bastante, sim. Tipo, ninguém é feito de pedra. Ela com certeza se importa, só talvez, não... não saiba como demonstrar muito isso. — teorizei.
Pude ouvir seu suspiro, os ombros subindo e descendo rapidamente.
— Já cogitou a possibilidade de existirem pessoas realmente ruins no mundo, Leo? — Não parecia se referir mais à sua mãe, mas à humanidade em um contexto geral.
Torci os lábios.
— Acho que ninguém é cem por cento ruim, nem cem por cento bom. — Dei de ombros. — Somos pura dualidade.
Um momento de silêncio se seguiu, sendo embalado pelo ressoar das nossas respirações.
— É... admirável isso em você. Essa coisa de sempre escavar os outros em busca de coisas boas. — Sua entonação ficou mais baixa.
— Acho que é uma das coisas que ajuda a nos manter vivos. Procurar a bondade e o amor em todos os lugares, coisas e pessoas.
Sua cabeça pendeu para trás, e um sorriso se esticou em seus lábios, direcionado a mim. Seu olhar parecia feito do oceano mais profundo do cosmos, entretanto, ele não falou nada; somente se pôs a prestar atenção novamente na mistura que estava prestes a fazer.
— Posso te emprestar uma camisa. E você pode tomar banho. — sugeri.
Pude ouvi-lo soprar um riso.
— Gostei da proposta. E estou começando a achar que daqui a algumas semanas vai ter mais roupas suas no meu guarda-roupas do que minhas.
— Eu particularmente iria adorar.
Rimos de leve juntos, deixando que o calor das nossas almas se mesclasse ao cantarolar melodioso dos pássaros que tingiam o horizonte além da janela acima da pia. Fragmentos fugidios de sol perpassavam o vidro, inflamando de leve os pelos miúdos que se espargiam ao longo dos braços de Mozart.
Queria que ele ficasse ali por milênios inteiros, até que todo o combustível do sol se esvaísse e a síncope da Via Láctea fosse inevitável.
Quando terminou a sua receita particular de panquecas, deixou-as esfriando sob uma camada generosa de brigadeiro de panela e voltamos para o meu quarto, onde eu pesquei uma camisa aleatória de cogumelos e lhe entreguei junto a uma toalha limpa. Assim que saiu à caminho do banheiro, fui até a minha estante e tateei os discos em busca de algum que fizesse sentido.
Elvis era uma boa pedida. Encaixava-se em qualquer coisa. Retirei o vinil da capa desbotada e o ajustei sob a agulha da vitrola, deixando-me embalar pelo rock clássico com a capacidade única de entorpecer meus sentidos.
Distraído em balançar a cabeça no ritmo da melodia e batucar os dedos na escrivaninha, demorei para notar a presença de Mozart no quarto ao retornar do banho, fazendo-o somente quando estendeu a toalha úmida para mim com uma sobrancelha erguida e diversão notável reluzindo nas orbes multicoloridas.
Com o rosto queimando, capturei a peça e corri para pendurá-la no meu suporte fixo na parede, sob o ecoar da sua risada banhada em descontração.
— Não ria de mim! — reclamei, virando-me para fitá-lo.
Ele riu um pouco mais, seus dedos alcançando as mechas molhadas e aparentemente infestadas de nós em uma tentativa de penteá-los. Um estalo me ocorreu, e trilhei caminho até o meu guarda-roupas, capturando o pente reserva que sempre deixava por entre as minhas coisas.
— Eu faço isso. — Ofereci, aproximando-me dele a passos um tanto instáveis pela incerteza.
— Não vou reclamar. — Sorriu de canto, dando-se conta das minhas intenções, e girou sobre os pés descalços até ficar de costas para mim.
Sob a melodia abafada que se dissipava da vitrola, recebi seus fios na minha palma como o litoral faz com as ondas etéreas do mar, e escorreguei as cerdas do pente por cada uma das mechas com uma calma premeditada para não machucá-lo de nenhuma forma.
Sua respiração compassada se unia às notas rebeldes que flutuavam ao nosso redor em uma mistura dissonante, mas que, de algum modo, dissolveu nuvens mornas de conforto sob a minha epiderme. Era como estar em um mundo à parte daquele, onde corações em combustão eram uma realidade palpável e o céu parecia estar se desmanchando na minha pele; infiltrando seu azul narcótico por cada átomo incendiário que, em toda a sua desordem, me fazia ser quem era.
Não demorei muito para terminar. Ao final de tudo, descemos para a sala e comemos as panquecas inundadas de chocolate jogados no sofá, assistindo uma maratona interminável de desenhos animados de qualidade duvidosa, que foram suficientes para diminuir a frequência em estática dos meus pensamentos acerca de tudo o que poderia acontecer dali em diante.
Saudações, terráqueos!
O que acharam desse capítulo bônus?
Aproveitem bastante, porque estamos quase na reta final da história.
Teorias sobre a Marcelina?
As coisas darão certo para o Moz e o Leo daqui para frente?
Ser ou não ser, eis a questão?
Espero que tenham gostado! Beijos de nuvem pra vocês :D.
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