Capítulo 79: Isso Não É Ódio
Apesar do Bruno ter prometido que hoje o dia seria nosso, o mesmo saiu meia hora depois avisando que tinha que: "preparar algumas coisas primeiro" Ficando cansada de esperar ele chegar, resolvi dar uma ajeitada no meu quarto para me distrair.
Estava tentando empurrar minha cama quando Ângela entrou.
- O que você está fazendo? Ou melhor, tentando fazer? - perguntou, curiosa.
Parei de empurrar a cama e encarei minha amiga.
- Reorganizando minha vida. - respondi. - Amanhã eu vou no salão dar uma mudada no meu cabelo também.
- Vai pintar uma mecha de vermelho pra combinar com esse seu novo lado obscuro? - questionou, e foi uma provocação.
- Não, pintar o cabelo é com você. - falei, sabendo que não ia combinar comigo. - Pra falar a verdade, estou tentando me ocupar enquanto o Bruno não chega. Ele disse que hoje o dia seria nosso, mas até agora nada.
É bem óbvia minha frustração.
- Ele vai te levar pra sair? Tipo, um encontro?
- Espero que sim. - desejei.
- Isso é bom, vocês estão precisando mesmo. - comentou. - Será que ele vai te levar em um motel? Você disse que faz tempo que vocês não transam.
Verdade, mas é por conta do acidente, minha recuperação.
Estão sendo tempos difíceis.
- Ele não é tão descarado... - dei uma pausa. - Pensando bem, ele é. Mas com tudo que aconteceu, ele vai ser o mais romântico possível.
- Que pena. - suspirou, de forma dramática. - Tinha esperança que uma noite "animada" colocaria seu juízo de volta no lugar.
Sabendo que ela só estava querendo me irritar, sorri em sua direção.
- Vem cá, você não tem nada melhor pra fazer, não? Não vai me dizer que cansou de lamber o chão que a Beatriz pisa? - perguntei.
- Você sabe que ela teve que voltar para o país dela. - respondeu. - Por isso estou aqui te glorificando com minha ilustre presença.
- Me sinto honrada. - falei, e sentei na cama desistindo da mudança no quarto.
Ângela deitou no sofá ficando mais confortável.
- Falando sério agora, onde você acha que ele vai te levar? - questionou.
- Bom, acho que na cachoeira. - apostei. - Faz tempo que não vamos lá, e aquele lugar me faz bem.
Além de ser lindo.
Ouvindo um barulho no corredor, olhei em direção a porta.
Crystal subiu com minhas filhas.
- Elas estão agitadas. - Ângela comentou.
- É que hoje foi dia de passeio no parque. Sabe como elas gostam. - exclamei, já sentindo meus olhos arderem.
- Helena... - minha amiga chamou, talvez notando que eu estava quase chorando.
Levantei da cama e olhei em sua direção.
- Eu estou bem. - falei, tentando parecer tranquila. - Acho que vou deixar a mudança do quarto pra depois.
- Se quiser conversar sobre qualquer coisa, eu estou aqui. - ela disse, sem mais brincadeiras.
- Sei disso, mas é sério, eu estou bem. - afirmei, novamente. - Só quero que o Bruno chegue logo.
Porque eu preciso dele.
Minutos depois, escutei o som de um carro lá fora. Sai do quarto e desci às escadas achando que o Bruno tinha voltado.
Imagina minha decepção quando vi minha mãe.
- Achei que tinha ido. - exclamei, perto dos degraus.
Ela pegou seu celular que estava jogado no sofá.
- Tive que voltar. - e ergueu seu aparelho. - Esqueci isso.
- Pelo menos sabe onde o seu está. - falei, me referindo ao meu próprio celular que continua perdido.
Quando fiz menção de voltar para o segundo andar, lembrei do que o Bruno me disse antes de sair:
"Seja uma boa garota"
Virei novamente para minha mãe e sorri o melhor possível.
- Quer almoçar? Você passou a tarde toda comigo e não comeu nada. - ofereci.
Ela franziu o cenho.
- Está sendo gentil, devo me preocupar? - perguntou, desconfiada.
Justo sua desconfiança.
Fiquei a tarde toda dando sinais que queria ela fora da minha casa, e agora, estou convidando a mesma para almoçar.
- Bom, Bruno acha que estou sendo muito grossa com você. - contei. - Então estou tentando ser menos grossa.
- Ah, então é pelo Bruno.
- Claro que é por ele. Faço de tudo por ele. - fui sincera.
Ela suspirou.
- Helena, eu sei que fui uma péssima mãe, e sei que você tem muitos motivos para me querer longe. - disse. - Mas estou tentando ser melhor agora.
Assim que aquelas palavras saíram de seus lábios, senti uma raiva crescer dentro de mim que foi impossível de controlar.
- Esse é o problema. Você quer ser uma boa mãe agora. Só agora. Quando eu não preciso mais tanto da sua presença, você lembra que sou sua filha. - comecei. - Cadê esse lado maternal quando entrei na minha adolescência? Você nunca ligou pra perguntar como eu estava.
"Eu nunca te contei, mas quando o Bruno quis me assumir anos atrás, meu primeiro pensamento foi rejeita-lo. Porque eu fiquei com medo da sua reação. Achei que se você soubesse, me afastaria de vez da sua vida nova. Eu fiz aquilo por você. Ainda sim, cada movimento seu depois daquilo foi para me machucar"
"Você fazia questão de me ligar e contar histórias dele com a Charlotte. Sabia que eu amava ele e mesmo assim, insistia no assunto. Por isso você não tem o direito de ficar magoada por eu fazer de tudo pelo Bruno. Quando fiz por você, só recebi ódio como resposta."
Um abraço no dia do meu casamento não vai apagar anos de negligência.
- Helena... - falou, e tentou se aproximar.
- O convite do almoço ainda está de pé. - falei, controlando minha voz. - Sabe o caminho até a cozinha.
Bruno chegou meia hora depois da minha pequena discussão com minha mãe. Estávamos agora na estrada com ele dirigindo. Me sentindo pensativa, encostei minha cabeça na janela e fiquei observando o lado de fora.
- Você não falou nada deste que entrou no carro. - meu marido comentou.
- Só estou tentando imaginar porque você demorou tanto. - respondi, não sendo totalmente mentirosa.
- Falei que tinha que preparar algumas coisas primeiro. - explicou. - Você já vai ver.
Me ajeitei no banco quando Bruno entrou em uma rua conhecida.
- Acho que acabei de estragar sua surpresa. - falei, sorrindo. - Sei que caminho é esse.
Ele está me levando em direção a cachoeira. Como eu tinha falado pra Ângela.
- Merda. - fingiu estar decepcionado. - Devia ter te vendado e jogado no porta-malas.
Segurei uma risada.
- Besta. - exclamei.
Ele dirigiu por mais alguns minutos até que estacionou o carro ao lado da trilha.
- Pronta pra melhor noite da sua vida? - perguntou, convencido.
Eu assenti e sai do carro.
Meu marido também saiu e assim que trancou o veículo, fomos até a trilha.
- Se alguém nos flagrar invadindo eu posso falar que você que me obrigou a entrar aqui? - perguntei, e peguei o celular dele para acender a lanterna.
- Não estamos invadindo. - disse. - E, se alguém aparecer você ativa seu modo "má" e causa uma pequena pressão psicológica na pessoa até ela chorar e correr. - disse. - Talvez você consiga só fazer ela se afastar lançando esse mesmo olhar que está me lançando agora.
Ficando ofendida, ergui a lanterna até o rosto dele fazendo o mesmo fechar os olhos.
- Não esquece que estamos perto de uma cachoeira. Qualquer coisa eu jogo seu corpo lá dentro e ninguém vai te achar.
- Perigosa. - disse, e passou na minha frente. - Estou ainda mais apaixonado.
Parei de falar quando o barulho da água ficou mais forte. Isso me deixou ainda mais ansiosa. Quando finalmente chegamos ao local exato da pedra que tava uma vista privilegiada da cachoeira. Eu vi o que o Bruno passou a tarde toda preparando.
Ele decorou algumas árvores a nossa volta com luzes pequenas e douradas. O chão estava forrado com um lençol fofinho e tinha até almofadas coloridas. Reparei também na cesta, e imaginei que tinha comida lá dentro.
Desliguei a lanterna do celular sabendo que as luzes nas árvores já davam conta da iluminação.
- Você fez isso tudo sozinho? - perguntei, maravilhada.
- Deu um pouco de trabalho na parte das luzes, mas valeu a pena só de ver como você gostou. - disse, me olhando.
Sorri e deixei o celular em cima do lençol.
- Eu adorei. - falei. - Ângela disse que você poderia me levar em um motel, mas você pensou em algo melhor. Muito melhor.
- Não seja safada, Helena, aprecie minha tentativa de ser romântico. - exclamou.
- Tentativa apreciada e bem sucedida. - me aproximei dele. - Você é tão... você. - suspirei, me sentindo pensativa. - O que está fazendo comigo?
Ele torna tudo tão fácil, enquanto eu, complico tudo.
Bruno segurou meu rosto e me deu um rápido selinho.
- Por que você não só senta ai enquanto eu pego nossa janta? - disse, e se afastou para pegar a cesta.
Seguindo suas palavras, sentei no lençol e cruzei as pernas colocando uma almofada no meu colo.
Quando ele sentou na minha frente, Bruno tirou um pote com morangos da cesta.
- Então é um piquenique? - perguntei, quando ele abriu o pote e pegou um morango.
Meu marido colocou o morango na minha boca e depois que terminei de mastigar, ele aproximou seu rosto do meu e me beijou.
Retribuí o beijo ficando surpresa por ele não ter feito mais charme antes de finalmente me beijar. Isso por conta da história de mais cedo: "seja uma boa garota" e aquele papo da recompensa.
Quando ele afastou nossos lábios, eu passei levemente minha bochecha na sua sentindo o começo de uma barba.
- Sua barba está crescendo. - comentei.
- Será que vou ficar ainda mais irresistível se eu deixar ela crescer? - ele perguntou, brincando.
Sorri, e senti sua respiração no meu ombro.
- Claro, as pessoas vão até sentir vontade de ajoelhar achando que você é tipo um Deus divino. - falei.
- Como você sente vontade de ajoelhar sempre que me vê? - provocou.
- A ideia de jogar seu corpo no lago ainda está de pé. - exclamei.
Bruno segurou meu rosto novamente e voltou a me beijar. Só que dessa vez, ele mordeu meu lábio inferior.
- Não faz isso. - falei, sabendo que se ele fizesse aquilo de novo, eu ia acabar deixando o jantar de lado pra me jogar em cima dele.
- Que pena, eu pretendo te morder inteirinha hoje. - disse, em um tom baixo. - Senti falta de ter você assim.
- Andei um pouco afastada, eu sei. - exclamei.
- Ei, eu não te julgo. - afirmou. - Ainda mais porque você passou por muita coisa em um curto período de tempo.
Sorri sem humor ao lembrar da minha conversa com minha mãe.
- Eu estou fazendo tudo errado, não tô? - questionei, me dando conta de algo. - Estava hoje mesmo falando pra minha mãe como ela foi péssima comigo, e estou fazendo a mesma coisa com as meninas.
- Não é a mesma coisa. - ele disse.
- Claro que é. As meninas vão me odiar, como eu odeio ela. - falei, e senti um aperto no peito só de imaginar.
Mas como eu posso me aproximar novamente da Sophie e da Alexia se eu só coloco as duas em perigo? Quase bati o carro com elas dentro. E se elas estivessem comigo quando sofri aquele acidente que perdi o bebê? Pior, e se eu tivesse passeando com elas quando o Adam me parou na rua?
Pensar em tudo aquilo tornava tudo pior.
- Você não odeia sua mãe. - ele falou. - Sente falta dela. Percebi isso quando você ainda estava grávida de nossas filhas. Você ficava esperando sua mãe aparecer. Queria que ela se importasse. Que ela ligasse e perguntasse como você estava. Isso não é ódio.
- Então as meninas vão sentir minha falta também. - concluí. - Tem algo de errado comigo, Bruno. Mesmo que eu tente fazer as coisas certas, sempre dá algo errado.
Ele levantou do chão parecendo decidido.
- Ok, levanta. - pediu, e estendeu a mão na minha direção para me ajudar a ficar de pé.
- O que vai fazer? - perguntei, curiosa.
- Levanta e vai ver.
Segurei sua mão e quando fiquei de pé, Bruno deu mais um passo na minha direção.
- Agora feche os olhos. Só quero que escute o som da minha voz.
Confiando nele, eu fechei os olhos e senti seus dedos no meu rosto.
- Me fala o que sentiu quando tocou e viu nossas filhas pela primeira vez. - pediu, em um tom baixo. - Seja sincera. Sem mais brincadeiras.
- O que eu senti? - repeti sua pergunta, e franzi o cenho. - Medo. Senti muito medo. Elas eram tão pequenas e frágeis. Fiquei apavorada em pensar que eu podia machucar as duas se eu segurasse elas do jeito errado. Mas, além do medo, eu senti que faria qualquer coisa por elas. E que apesar da responsabilidade ser assustadora, eu estou ansiosa para ver elas crescendo. Engatinhando, andando pela primeira vez.
É um sentimento que não cabe em palavras. Não tem como eu descrever perfeitamente.
- Agora me fala o que sentiu no dia do nosso casamento. - meu marido pediu novamente.
- Eu achei que fosse cair na frente da igreja inteira. - sorri, lembrando da minha conversa com a Ângela dentro da limousine. - Só que assim que meus olhos cruzaram com os seus, me senti segura. Me senti amada. Amada por você. Que não importa o que aconteça, você vai estar comigo.
Meu casamento foi um dos melhores dias da minha vida.
- E na nossa lua de mel?
- Senti que pela primeira vez, em muito tempo, as coisas estavam bem. - exclamei. - Que não importa quanto tempo passe, eu ainda vou lembrar da sensação que foi sentar naquela praia com você e conversar por horas.
Por isso que eu fiquei tão desesperada em tirar fotos. Queria guardar de recordação, eternizar aquele momento.
- Só teve isso na nossa lua de mel? - ele perguntou, e encostou levemente seus lábios nos meus. - Não sentiu mais nada?
- Seu lado romântico não está tão evidente nesse momento. - falei, brincando. - Agora me fala o porquê do interrogatório.
- Porque, meu amor, esses momentos que eu citei, foram momentos bons. Momentos que vão te fazer sorrir sempre que você lembrar deles. - respondeu, e eu abri meus olhos. - Você viveu tudo isso só sendo quem você é. Ainda acha que há algo de errado com você?
Sumi mesmo, mas voltei com um cap bem grandinho.
Desculpa não conseguir responder todo mundo na adm, mas é muita gente mandando mensagem, fica difícil.
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