Capítulo 77: Quem Você É
Um tempo depois...
Ficar sozinha no cemitério àquela hora da noite com certeza não é uma boa ideia, mas ainda sim, eu estava parada na frente da sepultura do Adam.
- Isso tudo é até melodramático demais. - exclamei, como se ele realmente pudesse ouvir. - Eu de roupa preta, cerveja na mão e esse clima de morte.
Eu sinto que tinha que transferir um pouco da raiva que eu estava sentindo por dentro. E, como ele é o culpado, nada mais justo que lhe fazer uma pequena visita.
- Aqui estou eu conversando com um corpo morto. Aliás, é assim que eu me sinto agora. É assim que você me deixou. Morta por dentro. - suspirei. - Que indelicadeza da minha parte não te oferecer nada para beber.
Coloquei a garrafa de cabeça para baixo fazendo o líquido dela cair em cima da lápide do Adam.
- O que está fazendo aqui? - uma voz masculina perguntou.
- Desejando que ele esteja queimando no fogo do inferno. - murmurei, e me virei dando de cara com o pai do Adam. - Com todo o respeito, claro.
- Não devia estar aqui, Helena. - falou, parecendo irritado.
- Seu filho não devia ter feito tanta coisa e ainda sim ele fez. A vida não é justa, né?
- Vá embora agora. - mandou.
- Ah, não fique tão estressado. - exclamei, e me aproximei dele. - Eu até ia te oferecer essa cerveja pra você se acalmar, mas seu filho tomou tudo, acredita?
Ele segurou meu braço com força, só que mesmo assim, não me afastei.
- Não sabe com quem está mexendo. - disse, em tom de ameaça. - Nunca mais chegue perto do local de descanso do meu filho.
Nesse momento, um homem se aproximou e pelo seu uniforme, ele trabalha no local.
- Está tudo bem aqui? - perguntou, notando o clima pesado.
O pai de Adam me soltou e eu continuei encarando seu rosto.
- Estamos sim, não posso falar o mesmo do resto. - murmurei, me referindo as sepulturas. - Adeus, Michael.
Arrependida.
Eu estava arrependida da ter entrado naquele bar. Escolhi passar minha noite ali achado que encontraria muito barulho, mas no fim, só escuto o som de copo batendo e uma música de corno tocando baixinho na caixa de som.
Deixei a garrafa vazia de cerveja em cima do balcão e acenei para a garçonete.
- Quero outra. - falei, e consegui sentir meu celular vibrando no bolso da minha jaqueta. - Que venha gelada dessa vez.
A mulher pegou a garrafa vazia.
- Já é a terceira, não acha que bebeu demais?
- Fazer esse tipo de pergunta faz parte do seu trabalho?
A mulher pareceu um pouco sem graça. E, antes de se afastar totalmente, consegui ouvir a mesma resmungar:
- Vadia.
Peguei meu celular e atendi a ligação sabendo que o aparelho não ia parar de tocar.
- Aonde você está? - perguntou, Bruno.
Olhei em volta avaliando o estabelecimento.
- Em um campo florido. - respondi, e encarei o teto notando algumas manchas. - Na verdade, estou apreciando o céu nesse momento e a lua está linda.
- Não, você não está.
Após sua resposta, ouvi o barulho da porta e nem precisei me virar para saber que meu marido tinha acabado de entrar naquele bar decadente.
A garçonete me entregou a cerveja e se afastou não querendo mais conversar.
- Quando vai aprender a me dar espaço? - perguntei, ainda sem olhar em sua direção.
- Vem sentar comigo. - e ele encerrou a ligação.
Suspirei e guardei meu celular. Peguei a garrafa de cerveja e levantei do banco.
Depois de olhar em volta, encontrei Bruno sentado em uma mesa perto da porta.
- Como me achou? - perguntei, quando me aproximei.
- Digamos que você é muito previsível quando quer se isolar. - disse.
- Olha, eu já ressuscitei mais que Jesus Cristo, então mereço tomar uma cerveja sem que você venha me encher o saco.
- Ai que você se engana, eu também estou aqui para beber. - disse, e esticou suas pernas assumindo uma postura relaxada.
Sentei perto dele não confiando em suas palavras.
- Até parece. - murmurei. - Você não se diverte Bruno, você nem amigos tem.
Ele cruzou seus braços na mesa e se inclinou na minha direção.
- Agora quer me afetar? Pode rosnar e até arranhar meu amor, você sabe que eu gosto.
Sua perna tocou a minha por baixo da minha e eu ignorei o arrepio que senti no corpo todo.
- Eu só odeio quando você fica me seguindo por ai como se eu fosse uma criança que precisa de supervisão.
- Parar de agir como uma ajudaria muito.
Encarei seus olhos notando que apesar do Bruno estar calmo por fora, por dentro, ele fervia.
- Não devia ter vindo.
- Crystal disse que você não chegou perto das meninas hoje. - falou.
- Culpa da minha energia negativa, não quero transmitir pra elas. - falei, e quando fui beber, Bruno pegou a garrafa. - Vai começar?
- Depende de você. Vai de boa vontade pra fora ou vou ter que te carregar?
Larguei a garrafa e levantei da cadeira me sentindo contrariada.
- Paga a conta.
Me afastei dele e fui para o lado de fora. Por conta do vento gelado, precisei fechar a jaqueta.
- O que fez a tarde toda? - Bruno, perguntou quando me seguiu pra fora.
- Fui fazer uma visitinha ao Adam. - respondi.
- Entendi, então você "conversa" com o Adam, mas não conversa comigo?
- O que posso fazer, ele é um bom ouvinte. Quase não escuto a voz dele quando estou falando. - exclamei, já sentindo o efeito do álcool.
Bruno andou até parar na minha frente. Tive que erguer a cabeça para encarar seus olhos.
- Uma hora você vai ter que parar de fugir. - falou, em um tom mais baixo.
- Fugir? Acho que estou fugindo? Todo mundo pode fazer o que quer comigo, mas eu não posso escolher como vou agir?
- Nada do que aconteceu é culpa sua. - afirmou.
- É culpa do jeito que eu era. Você sabe disso.
Ele segurou meu rosto me fazendo engolir em seco.
- Eu sou completamente apaixonado por você, Helena, e posso afirmar que não tem nada de errado em ser quem você é. - disse. - Dói muito ver você assim porque você não conversa comigo, não me deixa te entender. Fala comigo, meu amor.
Me sentindo cansada, deitei minha cabeça em seu peito sentindo o calor da sua pele.
Bruno tem razão, eu estou fugindo, mas não posso parar.
- Eu odeio ele. - falei, sentindo meu peito pesado. - Odeio ter sido tão inocente e ter deixado ele se aproximar. Odeio ter entrado no carro dele pela primeira vez, odeio ter confiado tão rápido.
Eu agi da mesma forma em relação a Charlotte.
- Não importa quantas vezes você fale que a culpa não é minha. Eu sei que é.
Voltei rapidinho.
Até.
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