Capítulo 48: Me Culpando
Não.
Definitivamente não.
Nem ferrando que eu ia passar meu final de semana discutindo com mais alguém daquela família.
Não mesmo.
- Olha, eu poderia falar algumas coisas bem interessantes sobre a sua filha também. - exclamei, e levantei da cadeira. - Mas tenho coisas mais importantes para fazer.
Ela deixou a taça de lado e sorriu.
- Fugindo? Isso diz muito sobre você.
- Curiosa para saber então o que diz sobre a sua filha que precisou fugir do país.
Vi o momento que ela engoliu em seco.
Sem mais paciência, segurei o ferro do carrinho me preparando para me afastar.
Minhas filhas mereciam companhia melhor.
E mais decente também.
- Charlotte não fugiu. Ela está buscando novos ares, uma vida melhor. - me corrigiu.
- Vocês deveriam seguir o exemplo dela então. - exclamei.
- Depois do que aconteceu ela...
- Sinceramente? Eu não me importo. - resolvi ser direta e sair logo dali. - Não me importo com o que ela esta fazendo ou pensando em fazer. Se ela está feliz ou tendo uma vida miserável. Se vocês sumirem da minha vida hoje, amanhã eu nem sequer vou lembrar que vocês já existiram. Então, façam um favor a vocês mesmo e me esqueçam.
Eu não ia mais perder um segundo sequer com aquelas pessoas.
Naquele momento, minha mãe se aproximou e apesar da grama, ela conseguiu andar perfeitamente em seus saltos.
- Que conveniente. - resmunguei quando ela se aproximou.
- Helena, o que essas meninas estão fazendo aqui? - perguntou, já próxima. - Não está vendo que as crianças ficam na outra tenda?
- Já deu uma olhada no tamanho daquelas crianças? - perguntei, em um tom mais baixo. - Eu não vou deixar minhas filhas lá.
Ela revirou os olhos.
- Não seja boba, tem gente pra cuidar delas.
- Eu cuido melhor.
Ela cruzou os braços atrás das costas.
- O que te deixou nesse humor maravilhoso? - perguntou, com certa curiosidade.
Acenei com a cabeça a direção que a mãe da Charlotte estava.
Minha mãe olhou logo entendendo meu desconforto.
- Flávia, o que faz aqui? - ela perguntou, não parecendo nem um pouco contente.
- Eu recebi o convite. - a mulher respondeu, e encheu um pouco mais da sua taça.
- Não, não recebeu. - minha mãe disse. - Eu mesma que enviei todos os convites e seu nome não estava em nenhum deles.
Flávia riu.
- Pois é, você não me convidou. Queria te agradecer por me deixar de fora.
- Exatamente, Flávia, eu te deixei de fora, não te convidei. - minha mãe exclamou em um tom frio que me deixou surpresa. - Então o que ainda faz sentada ai?
Fiquei feliz por eu não ser o alvo daquelas palavras. Quando minha mãe queria, ela era cruel.
- Não fique tão irritada, foi bom eu aparecer. - Flávia me olhou. - Não me disse que sua filha é tão... áspera.
- Se a questão é nossas filhas, a sua mesmo não é motivo nenhum de orgulho. Então deveria ter mais cuidado na hora de criticar a minha.
Calma ai, ela acabou de me defender e criticou a Charlote?
Que realidade doida era aquela que eu acabei de entrar?
- Escuta...
No entanto, minha mãe ergueu uma mão como se tivesse dando por encerrado sua discussão com a mãe da Charlotte.
- Leva essas meninas para a outra tenda, Helena. Elas vão gostar de brincar com as outras crianças.
- Qual foi a parte que você não entendeu que eu não vou levar?
- Pelo menos então me deixa ficar com elas.
Franzi o cenho.
- É a primeira vez que você mostra algum interesse em ficar algum tempo sozinha com suas netas.
Ela deu de ombros.
- Pois é, se seu humor está ácido o meu está ótimo hoje. - falou. - Me deixa agora com elas e vai ficar com o Bruno, vi ele perto do refeitório. Falando no Bruno, estou curiosa para saber como ele conseguiu entrar.
- Digamos que ele meio que pagou pelo convite. - falei, mas não ia expor a funcionária.
- Não tem como pagar pelo convite. - falou. - Você só entrar se for convidado.
- Ah, mãe, você é casada com o Damon. Sabe melhor que eu como os homens dessa família são.
Ela assentiu me entendendo.
Deixando minhas filhas com ela, me afastei da tenda e comecei a andar pelo gramado em busca do Bruno. Mas, acabei encontrando outra pessoa.
Mesmo sabendo que aquela conversa poderia acabar muito mal, me aproximei do Adam.
O que Sophie me disse aquele dia no carro mexeu muito comigo.
Notando minha presença, Adam sorriu.
- Você começando uma aproximação? Deveria me preocupar com o Bruno saindo de algum lugar com uma faca na mão? - perguntou.
Ignorando sua provocação, cruzei os braços.
- A culpa não é dele. - falei.
- Do que exatamente você está falando? - quis entender.
- Do que aconteceu no passado. A culpa não é do Bruno. - expliquei. - E nem sua... Quer dizer, tirando a parte de me agarrar contra a minha vontade. Nesse caso você teve toda a culpa.
- Parece que meu primo teve uma conversa sobre nossa família com você.
- Não foi ele. - dei uma pausa. - Foi a mãe dele.
Percebi que seus olhos ganharam um brilho diferente que acabou arrepiando os pelos dos meus braços.
- Está dizendo que Sophie está de volta? - e ele não estava mais sorrindo. - Cadê ela?
- Não sei...
- A conversa está ótima, mas preciso resolver uma coisa.
Com essas palavras, Adam se afastou parecendo perturbado.
Ainda confusa com o que tinha acabado de acontecer, só percebi que Bruno estava atrás de mim quando ele perguntou:
- Por que estava falando com ele?
Me virei para encarar seus olhos e meu noivo não estava feliz.
- Estava tentando entender. - contei.
- Entender o que, Helena? Esqueceu que foi justamente por causa dele que você quis ir embora? - continuou, parecendo irritado. - Então por que você foi falar com ele por livre e espontânea vontade?
Eu poderia ter respondido aquilo numa boa, mas com as coisas que tinham acontecido nos últimos minutos, meu sangue estava fervendo.
- Não vem jogar essa merda em cima de mim, não. - falei com ele no mesmo tom. - Por culpa sua estou me sentindo na maldita série You.
- Culpa minha?
- Sim, foi o que você ouviu. - exclamei. - Já conheci a ex psicopata, a irmã amargurada e agora a mãe alcoólatra. Não preciso nem explicar porque não estou ansiosa para conhecer o pai.
Entendendo o que eu estava falando, Bruno deu um passo na minha direção me fazendo erguer a cabeça para encarar seus olhos.
- Eu te contei tudo que meu pai me fez fazer, como ele conseguiu me obrigar a ficar com a Charlotte, e como eu odiei cada segundo daquilo. - disse, sério. - Então, Helena, na próxima vez, não fala que me entende ou que compreende o que eu passei se no final ainda for me culpar por isso.
E, pela segunda vez naquele dia, outro homem da família Renault virou as costas e se afastou me deixando sozinha.
Voltei rapidinho.
Tchau.
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