Capítulo 33: Por Que Agora?
~ Bruno ON ~
Confesso que quando mais novo, esperei muito por aquele momento. Que um dia eu fosse chegar da escola e minha mãe estaria na sala da mansão me esperando. Só que com o tempo esse pensamento se tornou menos frequente, e anos depois, aceitei que ela não ia voltar.
Mas eu estava enganado.
A mulher parada perto da janela da sala da minha casa é minha mãe, e eu não sabia como reagir.
Notando minha presença, ela parou de encarar o jardim e finalmente me olhou. E senti como se tivesse levado um soco no estômago.
- Bruno. - ela exclamou, em um tom baixo, parecendo receosa.
Exatamente como eu me lembrava, seus cabelos são grandes e loiros, e seus olhos, eles tinham as mesmas cores dos meus. Do meu pai eu só puxei a altura, porque o resto eu parecia com minha mãe. Assim como minhas filhas se parecem comigo.
- Meu pai sabe que está aqui? - consegui perguntar, finalmente.
Ela sorriu de forma fraca.
- Não, vou falar com ele depois. - respondeu, e deu alguns passos hesitantes na minha direção. - Você deve estar cheio de perguntas para me fazer.
- Por que agora?
Era essa pergunta que mais rondava minha cabeça.
Parando na minha frente, fiquei quieto enquanto ela erguia uma mão em direção ao meu rosto. E, assim que seus dedos tocaram minha bochecha, me senti um menino de novo.
- Desculpa ter demorado para voltar, eu só não queria complicar sua vida. - exclamou. - Você merecia crescer sem todos os problemas que eu com certeza iria te trazer.
- Que tipo de problema?
- Helena não falou com você? - disse, e tirou a mão do meu rosto. - Então ela quer que eu mesma conte.
- O que contou para minha noiva?
- Noiva. - sorriu, parecendo sincera dessa vez. - Você fez uma ótima escolha. Ela é uma boa pessoa, e te deu belas filhas.
Só observei quando ela se afastou e andou até sentar no sofá parecendo cansada.
- Seu pai e eu nos casamos muito jovens. Cresci rodeada de amor e privilégios. - começou. - Então quando perdi alguém pela primeira vez, não consegui lidar. Fiquei sem rumo.
Franzi o cenho sem entender.
- Quem você perdeu?
- Você era muito pequeno, não me espanta que não se lembre. Eu perdi minha mãe, sua vó.
Eu lembrava um pouco dela. Era uma senhora bem simpática que adorava apertar minhas bochechas, mas as lembranças estavam falhas.
Como se tudo não tivesse passado de um sonho.
- Você foi embora por que sua mãe morreu? - questionei, me negando a aceitar aquele motivo.
Ela balançou a cabeça de forma negativa.
- Não, meu filho.... - suspirou. - Fui embora pelas coisas que fiz, pelas atitudes que tomei quando sua vó faleceu.
Me aproximando, sentei no outro sofá para escutar melhor sua história.
- É difícil confessar isso para você. Apesar de passar anos imaginando como seria essa nossa conversa, ainda é difícil. - falou, e passou a mão no cabelo colocando uma mecha loira atrás da orelha. - Eu tentei arrumar um jeito de fazer a dor que eu sentia por ter perdido minha mãe parar. E foi por isso que acabei me envolvendo com drogas.
Sentindo um frio na barriga com essa última palavra, encarei seus olhos ficando surpreso.
Eu pensei em muitos motivos para ela ter ido embora. Mas aquilo? Nunca aquilo.
- Foi por isso que meu casamento com seu pai desgastou. Eu fui me afundando e de algum jeito estava levando vocês comigo, e isso era algo que eu não podia permitir. - disse, e vi seus olhos brilhando.
Ficando inquieto, levantei enquanto tentando pensar direito.
- Então você se internou?
- Sim. Seu pai não sabia onde era a clínica e foi melhor assim.
Sorri sem humor.
- Melhor pra quem? Éramos uma família por que não nos deixou te ajudar?
- Você era muito novo, Bruno. Não entendia o que estava acontecendo.
- Podia ter voltado depois do tratamento. - exclamei. - Eu teria te ajudado.
Também ficando de pé, Sophie caminhou mais uma vez na minha direção.
- Não posso mudar o passado, ou voltar atrás nas escolhas que fiz. - ela segurou minha mão e eu não tentei me afastar. - Mas a gente pode recomeçar de novo.
- Como?
- Não vai ser fácil eu confesso, mas eu quero ser sua mãe. Quero ser a vó das suas filhas, e a sogra da sua noiva. - falou. - Quero fazer parte da sua vida de novo, Bruno.
E, foi olhando em seus olhos que eu senti meu coração bater mais rápido no meu peito. Aquela mulher é a minha mãe. Quanto tempo eu desejei por aquilo? Por aquele momento? Apesar de uma parte minha ainda estar desconfiado, a outra que só queria minha mãe falou mais alto.
Foi ela que eu ouvi.
Parecendo tomar coragem, Sophie passou seus braços pelo meu corpo me abraçando. Seu contato me trouxe boas lembranças, e foi por isso que retribui.
Nós vamos tentar de novo, e dessa vez, enfrentar tudo como uma família.
xxxxx
Um tempo depois, entrei no meu quarto e vi Alfredo sentado na cama. Hoje o dia tinha sido tão corrido que pela primeira vez, não me incomodei. Me aproximando do gato, sentei do seu lado fazendo o mesmo miar.
- Não abusa. - falei, quando o animal tentou pedir carinho.
Desistindo, Alfredo deitou no colchão me deixando em paz.
- Ok, o que está acontecendo? - Helena, perguntou, quando entrou no quarto e me viu ao lado do gato. - Você não vai ameaçar ele ou algo assim?
Quando não respondi, ela se aproximou e tirou o gato da cama. Mesmo não parecendo feliz, o felino caminhou calmamente para fora do quarto.
- Então... - Helena, sentou ao meu lado me encarando com preocupação. - Falou com ela?
Dei de ombros.
- Um pouco. Ela disse que quer me encontrar amanhã na mansão. Quer conversar comigo e com meu pai ao mesmo tempo. - falei, lembrando da última coisa que Sophie disse antes de ir embora.
- Acha que seu pai consegue lidar? - ela perguntou.
Não, mas meu pai ia fingir que sim. Ele não gostava de mostrar para o outros suas fraquezas. Ainda mais quando o assunto era minha mãe. Amanhã o dia seria interessante.
- Vou descobrir amanhã. - respondi.
Helena olhou em direção a porta quando ouvimos um choro. Pelo escândalo que minha filha estava fazendo, já sabia que era a Alexia. Sophie costumava ser mais calma.
- Pode ir lá? - minha mulher perguntou. - Vou tomar banho, Alexia se mexeu tanto quando fui dar a mamadeira que caiu leite na minha blusa.
Olhei para baixo e sorri quando vi uma grande mancha na sua blusa.
- Está achando engraçado? Quero ver quando essa garota crescer e começar a agir como você quando era adolescente. - disse.
Segurando seu rosto, beijei levemente seus lábios amando sentir como ela se entregou.
- Vai lá. - falei, depois de me afastar.
Levantando, Helena entrou no banheiro e eu saí do quarto. Quando cheguei no quarto das gêmeas, vi Sophie quieta no berço e Alexia ainda chorando.
- O que foi, em? - perguntei, depois de pegar minha filha. - Sua mãe é um pouco doida mas ela te ama. Ama vocês duas.
Parando um pouco de chorar, Alexia encostou sua cabeça no meu ombro me fazendo dar um beijo em seus cabelos.
Enquanto eu tentava acalma-la, minha mãe ainda rondava meus pensamentos, assim como o encontro de amanhã.
Feliz ano novo e que em 2021 minha criatividade não falhe e eu continue postando capítulos para vocês.
E sim, estou escrevendo a cena do espelho, mas não vai ser no próximo capítulo. Talvez.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro