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XXX. Planejando um Sonho

 Amanda teve folga por dois dias.

No primeiro dia, Luke a acompanhou em casa por todo o dia, mas voltou à noite, partindo junto ao retorno de Roberto para casa após um longo dia de serviço.

— Conversei com Muhammad. — Roberto disse no jantar. — Ele sentiu pelo ocorrido, afastou Farhad da liderança do grupo e queremos conversar sobre o futuro de nossa relação.

— É muito necessário, não? — Amanda assentiu.

— É um caso delicado... queremos marcar uma viagem ao Irã pelo fato de ele estar impossibilitado de viajar. Não indaguei, mas está provavelmente relacionado à saúde.

— Lastimável. Não soube que estava doente... — A moça lamentou. — Posso ir com essa comitiva? — pediu, incapaz de olhar na direção do pai ao falar.

— Ainda não há uma certeza dessa viagem porque preciso que minha presidente decida se iremos ou não. Se minha presidente não quiser, encerramos os contratos e seguimos.

Amanda arregalou os olhos, fitando o pai.

— Não podemos perder esses contratos, meu pai!

— Não, minha presidente. — Roberto meneou a cabeça. — Nós não podemos perdê-la. Não quero que saia de casa para se reunir com alguém que provavelmente consegue fazê-la sentir medo... e um medo que eu nunca conhecerei.

A moça abaixou a cabeça, perdendo as palavras.

— Eu não posso perder minha filha. Aceitando que ela se sujeite a engolir o que a faz mal por alguns papéis — deu de ombros. — Não quero que se sujeite e não deixarei!

— Não mereço um pai tão bom. — Ela sorriu acanhada.

— Merece um pai melhor!

— Lidei com Muhammad por pouco tempo, mas ele sempre foi um homem formidável. Não merece pagar por um erro que não é necessariamente dele. — A moça olhou o pai.

Roberto sequer assentiu com a cabeça, receando influenciar as próximas decisões da moça de alguma forma.

— Não foi assim que o senhor ensinou, não farei assim! — suspirou. — É provável que Luke queira acompanhar... caso eu realmente componha a comitiva para o Irã.

— Tenho certeza que sim! — riu. — Conversei brevemente com Ibrahim e ele deixou seu intento claro no sentido de enviar alguém para dar suporte à nossa comitiva.

— Tramando!? — A moça brincou.

— Sempre estou! — gargalhou. — Ibrahim sugeriu a ideia da comitiva primeiro... achei interessante, mas não o faria sem consultá-la, sem contar com sua participação nisso.

— Agradeço muito pela confiança, meu pai.

— Não agradeça por algo que eu não lhe dei. Você conquistou... comemore! — sorriu largo.

Hm... então brindamos? — riu.

— Brindamos!

Eles pegaram sua taça de vinho e brindaram.

— Minha filha já sabe o que vestirá ao casar?

— Ainda preciso pensar no que vestir para o noivado! — A moça riu. — Se começar a pensar no look do casamento agora, eu não vou dormir até lá!

— Entendo! — riu. — Consultei alguns dos nossos e soube ser normal uma troca de presentes nessa tal reunião para estabelecer o contrato. Já estou cuidando disso.

— Ah, pai... obrigada! Eu não fazia ideia.

— Planeja realizar tudo conforme os costumes dele?

— Depende do senhor! — deu de ombros. — Não sou tão religiosa. Nunca sonhei com uma missa e festa cara, sabe!?

— Não sou eu quem casará. — Ele riu. — Se quer uma sugestão, faça segundo o que vocês dois querem, como querem.

— Ele tem toda uma ideia... sonhou muito com isso.

— Então, conversem e ponham em prática o que decidirem. Não se preocupem comigo! — sorriu-lhe.

— Sim, senhor! — A moça assentiu com a cabeça.

— Pronta para ser professora do seu marido? — riu.

Amanda franziu o cenho, não entendendo a pergunta.

— Ele me parece completamente inexperiente.

— Ah! — A moça riu, acanhada. — Pai!

— Infelizmente, não pude te dar uma mãe... logo, preciso fazer os dois trabalhos, meu amor! — gargalhou.

— Que horror! — Amanda riu. — Sei que sou a mais experiente de nós... o que é bem diferente do que jamais vivi!

— Não sou o melhor para sugerir, mas... se ele tem tantas ideias românticas, não deve ser difícil agradar na lua de mel.

— É incrível, meu pai. Ele cresceu no bairro vizinho e parece que vivemos realidades completamente diferentes, falando apenas da forma de Luke enxergar o mundo!

— Você ainda teve outras experiências e ele sempre esteve sujeito a uma rígida criação. Acompanhou parte dessa criação e sabe o quanto lhe era cobrado comprometimento.

— Verdade, é bem diferente. — A moça assentiu. — Não me sinto tão nervosa... é estranho lidar com a gentileza dele.

— Sempre imaginei que acabariam namorando algum dia — riu. — Ele te chama habibti há tanto tempo... Nunca se privou de estar ao seu lado nos bons e maus momentos...

— Ah, mas o senhor e a Luiza também são assim! — A moça deu de ombros. — Nem por isso acho que casarão.

— Somos realmente grandes amigos, mas... apesar de tratá-la com muito carinho, amá-la muito, tive tempo para aprender o papel de Luiza em minha vida.

— Namoraram, pai? — Amanda sorriu de canto de boca.

— Não — riu. — Ela já era nossa amiga antes. Sempre fui louco por Clara... Luiza ajudou muito para eu conseguir pedi-la em namoro quando ainda estudávamos.

Hm... mas, poderia ter namorado, não fosse a mãe?

— Talvez, quem sabe? — deu de ombros. — Na adolescência, tudo pode parecer amor bem rápido. Sendo tão próximos, não seria muito difícil... o negócio é: quanto tempo duraria?

— Complicado mesmo — assentiu, pensativa.

— Aos vinte e três, na sua idade, pode ser complicado. Imagino ser o momento onde os amigos estão namorando, tendo filhos, casando... o que também pode dar carência.

— Não vivi isso, mas consigo entender...

— Fico feliz em saber que não viveu isso... o que pode significar que esse não é motivo do seu casamento agora. — O homem observou a filha com muito cuidado.

— Não, não é isso! — riu. — Não começou assim, como uma paixão... mas virou uma paixão bem mais rápido do que eu jamais esperaria. Bastou eu tentar enxergá-lo como homem.

— Entendo. Como começou? — arguiu desconfiado.

— Com as pressões Nazari... pedi Luke em casamento enquanto bêbada. Ele ficou preocupado e conversou comigo no dia seguinte... Eu achava que era só um sonho!

— Nossa, minha filha! — O homem gargalhou.

— Fiquei com vergonha, mas reafirmei o pedido... e ele ficou de pensar. Como leva o assunto casamento muito a sério, falei para tentarmos... levar a sério.

O homem assentiu com a cabeça.

— Realmente quer isso? — Roberto a indagou. — Quando for deitar ao fechar os olhos, imagine o dia do seu casamento, se imagine na frente dele... e reflita sobre o que sentir.

— Sim, senhor, meu pai. — A moça sorriu, acanhada.

As batidas do coração aceleraram e ela fugiu o olhar. Sentiu um frio na barriga, mas suspirou para voltar a comer.

A refeição seguiu sem maiores problemas e, ao deitar, Amanda realmente aceitou o exercício do pai. Acabou dormindo e sonhando com o fatídico dia do casamento.

Foi, de longe, um dos sonhos mais felizes que já teve!

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