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XLVII. A Fé dos Bons

 — Salaam aleikum, jovens... e meus parabéns! — A cansada voz do patriarca Nazari os cumprimentou e ele sorriu, gentil.

Muhammad Nazari já era um homem idoso, mesmo sua aparência acusava a idade avançada. Não sofria de nenhumas condições exóticas, mas já não podia abusar de viagens.

A reunião com a comitiva acabou sendo organizada para ocorrer à noite. Já não era obrigatório ao patriarca atender ao jejum absoluto do Ramadan, mas ele insistia em fazê-lo.

Evitando quaisquer desconfortos, o momento após o jejum e as devidas refeições com seus respectivos familiares seria o ideal para conseguirem ter uma reunião adequada.

Aleikum essalam, senhor. — Luke e Amanda retribuíram.

Marcaram o encontro em um dos restaurantes do grupo Nazari onde não seriam atrapalhados, tampouco sofreriam quanto ao horário — caso se estendessem demais.

O resto da comitiva cumprimentou o homem e todos se sentaram. Muhammad estava acompanhado de sua esposa e alguns homens, seguranças ou parceiros de negócios.

— Tomamos o cuidado em escolher algo adequado para oferecê-los. — O homem tomou a palavra, olhando para o jovem casal. — O casamento foi uma notícia muito agradável e minha esposa escolheu pessoalmente.

Mesmo usando niqab, os traços no olhar da mulher evidenciaram seu sorriso e ela assentiu com a cabeça.

— Ficamos lisonjeados. — Luke lhe sorriu. — Allahu akbar!

— Estamos ao seu dispôr para lidar com a trágica ocasião que viveu com meu filho... jamais imaginaríamos- — suspirou.

— Agradeço. — Amanda sorriu. — Não creio ser preciso nos estendermos num assunto que não é agradável para ninguém.

— Podemos apenas seguir aos negócios. — Luke assumiu a palavra ao notar o extremo desconforto de ambos.

O senhor assentiu, pegando seu copo.

— A situação que enfrentamos é delicada. — O mais jovem dos rapazes que acompanhava Muhammad disse. — Estamos sofrendo com uma divisão que não esperávamos enfrentar...

Amanda e Luke se serviram com algo para beber.

— Com essa rachadura, é provável que soframos uma divisão até mesmo em nossos bens e isso significa que, provavelmente, não poderemos impedir isso de atingi-los.

— Farhad é quem chefia a dissidência? — Luke indagou.

— Sim. Infelizmente, meu irmão é difícil de lidar e não parece disposto a parar. Atribui nossa posição moderada a uma fraqueza da qual não quer participar... isso é terrível! — arfou.

Todos eles acabaram suspirando também.

— Presumo que os mais conservadores se uniram a ele e basicamente essa é a divisão que enfrentam. — Luke disse, recebendo assentimento. — Não sei se é equivocado afirmar que isso significa o maior número do grupo Nazari com Farhad.

— Infelizmente, não. — O jovem lamentou.

— Queremos ajudar. — Amanda disse, compadecida dos semblantes decepcionados. — Deve ter algo com o qual podemos ajudar... não!? — Seu olhar passeou por todos.

— Agora, devemos resistir a calamidade, sem permitir danos aos mais vulneráveis dentre nós. — O jovem disse.

— É bem provável que possamos ajudar. — Luke acabou silenciando todos. — Farhad cruzou algumas linhas que não deveria e, felizmente, tenho provas disso.

O velho homem franziu o cenho.

— Ele agiu contra minha família... por causa dele, fui injustamente detido. Em paralelo a isso, ele usou de algumas pessoas para tentar dominar nossos negócios.

— Isso é pior do que pensei! — Muhammad pasmou.

— Em meio às conversas de nosso casamento, lidamos com a esdrúxula cena onde ele decidiu tocá-la inadvertida e inadequadamente. — A fala tocou os nervos de Luke.

Amanda pousou a mão no ombro de Luke numa tentativa silenciosa e bem-sucedida de pedi-lo para não ficar nervoso.

— Tudo se deu em território brasileiro. — O jovem disse, meneando a cabeça. — Infelizmente, mesmo sabendo do ocorrido com a herdeira Franco, nada pudemos fazer.

— Não é o momento de lamentar. — Luke retrucou. — Meus familiares já querem uma cooperação jurídica entre o Brasil e Arábia Saudita para lidar com os que me acusaram falsamente.

— Pretende... — O jovem franziu o cenho.

— Sim e não... Sei ser impossível incluir o Irã numa cooperação conosco, sauditas, mas podemos agir com dois acordos diferentes. — Luke complementou.

— Ainda será muito complexo. — Muhammad suspirou. — Buscar por alguma imparcialidade quanto à relação com os sauditas já será um enorme desafio.

— Sei disso, senhor... mas, conto com muitas coisas agora e, infelizmente, não posso explicitá-las por serem mero palpite de um jovem matemático — riu.

— Entendo... — O homem assentiu com a cabeça.

— Há uma necessidade de cooperação jurídica entre os países. — O mais velho dos rapazes disse. — O problema é... com o envolvimento de uma família saudita, pode haver confusão?

— Não saberia dizer do quanto isso pode ser usado para incitar animosidade entre os nossos. — Luke suspirou. — Creio que as chances de problemas são mínimas.

— O que te faz crer isso? — Ele desconfiou.

— Há um ponto pacificado entre nós: o cuidado com os nossos é prioritário. Mesmo divergindo dos métodos, não acredito que a nossa situação possa ser usada maliciosamente.

— Ainda haverá discordância ao fim — deu de ombros. — Não difere... não quero desanimá-lo, mas não estou seguro.

— Não objetivaremos debater as punições aplicadas em sua casa, tampouco as aplicadas na minha casa... contudo, há de convir que, antes de pensar nisso, é necessário julgamento!

— Concordo e não creio haver uma forma fácil.

— Em momento algum afirmei que será fácil.

Ao perceber que se deixou levar pela leve divergência, Luke optou por silenciar, mas Muhammad quebrou o silêncio:

— Não sou de divergir com outros por sua origem. Sempre sou a favor da justiça e legalidade... não há outro rumo legal.

— Esse é um jeito turbulento de lidar, meu pai! — O homem que divergia com Luke apelou ao pai. — Sei que não está doente, tampouco morrendo, mas será estressante.

— E os que creem e realizam boas obras, serão colocados nos jardins onde correm rios; lá, para sempre, habitando; purificamo-los de todas as suas impurezas; e os agraciamos com o que há de mais belo — recitou o velho homem.

Solene, Luke apenas assentiu com a cabeça e sorriu.

— Então, faremos como deseja, meu pai. — O filho mais velho se rendeu, decidindo não contestar o pai. — Infelizmente, não sabemos onde Farhad está.

— Tampouco tivemos contato. — Amanda suspirou. — Tomem cuidado e, se precisarem, contem conosco.

— Digo o mesmo. — Luke lhes sorriu. — Não apenas como parte da exportadora, mas também falo em nome dos meus quando presto minha solidariedade.

— Agora, vamos aos negócios? — Muhammad sorriu.

Eles assentiram e se debruçaram sobre seus contratos para lidar com as dificuldades que eles já estavam enfrentando e traçar planos para os possíveis cenários futuros.

Foi duas horas de muito trabalho até se encerrarem.

O casal concluiu estender a viagem até que conseguissem algum avanço no acordo entre os países para iniciar o processo contra Farhad e sua organização criminosa.

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