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XLVI. Um Sonho Chamado Família

Considerando o absoluto jejum, o casal optou por ter um motorista. Era uma viagem de uma hora e meia à capital que Luke usou para apresentar às organizações a quem doaria.

A melancolia do dia anterior passou, Luke era um filantropo entusiasmado e a chegada no evento mostrou a proporção da caridade nos dias do Ramadan para Amanda.

Eram muitos!

Diversas organizações estavam presentes para prestar contas aos doadores e captar mais recursos às suas causas.

Apesar das muitas pessoas endinheiradas caminhando pelo local, também haviam os mais humildes e o ambiente tinha beleza, mas não ostentava riquezas.

— É lindo! — Amanda sorriu largo.

Luke assentiu com a cabeça, sorrindo. Seguiu com a moça até representantes que já conhecia. Ele não somente entregou os montantes às organizações, mas também recebeu notícias de indivíduos — que Amanda nunca ouvira falar.

As organizações que cuidavam de crianças tinham as fotos das crianças, exibindo um antes e depois do resgate, fosse estando num orfanato ou já compondo uma família.

Uma mocinha de catorze anos correndo feira adentro foi o que surpreendeu Amanda, principalmente ao abraçar Luke. Ela usava um hijab bem rosinha e Luke sorriu ao retribuir.

Salaam aleikum, pequena... como está?

Wa aleikum essalam! — cumprimentou animada. — Estou bem... muito bem! — sorriu largo, olhando para Amanda.

— Essa é Amanda, minha esposa.

— Casou!? — Apesar de não ser possível, o sorriso da mocinha pareceu alargar. — Parabéns!

Habibti, essa é Najra... ou a pequena! — riu.

— Estou quase do seu tamanho. — A mocinha retrucou.

— Quase... — brincou, rindo.

— Olá, Najra... — Amanda a cumprimentou.

— Imaginei que não estivesse por aqui. Talvez adotada, não sei. — Luke olhou para a moça.

— Sempre venho... Fui adotada, mas voltei... ele queria me casar. — A mocinha pareceu bastante chateada. — Está tudo bem agora... ele não me machucou, nem nada.

— Que bom! — Ele lhe sorriu. — Tome sempre muito cuidado... e, qualquer coisa, sabe que pode ligar... aquele número não mudou, nem mudará!

— Obrigada! — A mocinha sorriu largo.

— Como estão os estudos? — Luke mudou o tom, falando de forma muito mais animada e até contagiante.

A mocinha começou a narrar sobre os estudos dos últimos dias, se empolgando mais a cada nova palavra e, subitamente, Amanda nem podia ouvir o que ambos estavam falando.

Distraiu-se, observando Luke se relacionando com a menina com um cuidado quase paternal e sua mente foi longe, viajou por entre os sonhos de paternidade de Luke.

Habibti... — Luke chamou sua atenção.

— O-oi... desculpa... me distraí! — A moça riu.

— Podemos ir? — sorriu-lhe.

— S-sim, claro... Até logo, Najra... Fique bem! — Amanda beijou a testa da menina. — Você é linda.

— Obrigada! — A menina deu um sorriso acanhado. — Salaam aleikum! — Ela cumprimentou ambos.

Após retribuir os cumprimentos, Luke ainda passeou um pouco com Amanda pelo local; direcionou o resto do dinheiro reservado para outras instituições e finalmente se encerraram.

— Formidável! — Foi o que Amanda disse ao chegarem no carro. — Jamais imaginaria lidar com um evento beneficente tão grande... com tantas pessoas! — riu.

— É sempre muito bonito mesmo. — Ele lhe sorriu. — Mesmo que eu tenha um péssimo ano, visitar esse evento sempre renova as energias.

— Isso porque você é um fofo em série — brincou.

— Estou considerando cozinhar algo para nós.

Dando partida no carro, ambos conversaram sobre o que Luke cozinharia para o jantar; concluíram uma ave qualquer acompanhada de uma farta salada.

Após preparar a refeição, era quase o momento de encerrar o jejum. Luke realizou suas preces, destacou algumas tâmaras e uma jarra com água para deixar à sala.

Sentada no sofá, Amanda apenas o observou.

— Gostei da menina. — A moça sorriu acanhada. — Nem acredito que você não achou ninguém para casar antes.

Luke riu, franzindo o cenho. Olhou para a moça, tentando entender qual era a ligação da menina com seu estado civil.

— É o quanto você pareceu amoroso com ela... até pude imaginar que tipo de pai você será. — A moça fugiu o olhar. — Não mentirei... talvez tenha me deixado com vontade de tentar.

O rapaz suspirou, sentindo o coração errar as batidas.

— É uma sensação bem estranha. — Amanda riu.

— Imagino que o ambiente tenha colaborado para se sentir dessa forma. — Luke tentou ser o mais racional possível. — Não creio ser adequado que conversemos sobre isso agora.

— Não podemos... atropelar as coisas... — A moça assentiu com a cabeça. — Só foi bem estranho... nunca me imaginei pensando nesse tipo de coisa... sei lá.

— Podemos terminar o trabalho por aqui... aguardamos o fim do Ramadan para conversarmos sobre isso... o que me diz?

— Uma boa ideia — assentiu com a cabeça.

A moça sentou mais perto dele e o acompanhou na refeição leve: tâmaras e água. Namoricaram e trocaram olhares, guardando o silêncio do ambiente.

Antes de irem à refeição, cuidaram de parte de sua bagagem. O plano era ir ao Irã e não voltar a Arábia ao fim dos serviços no Irã, acompanhando a comitiva de volta ao Brasil.

Sentados à beira da cama em posições opostas, ambos tomaram suas notas do que não poderiam esquecer ao arrumar suas coisas e depois foram à refeição.

— Saímos cedo? — Amanda perguntou enquanto comiam.

— Prefiro chegar próximo ao fim do jejum... já poderemos descansar, sem muitas preocupações... e nos planejamos para trabalhar no dia seguinte.

— Combinado! Começo a lidar com nossas coisas enquanto você ajuda com as passagens e tudo mais!? — pediu.

Luke assentiu com a cabeça e eles seguiram a refeição.

Subiram para lidar com seu asseio e Amanda seguiu à sua lista primeiramente. Quando Luke terminou, ele se juntou e só terminaram de arrumar tudo por volta das duas da manhã.

Programaram seus despertadores e deitaram, cansados.

Dessa vez, não foi possível para Luke acordar tão cedo sem acordar Amanda no processo. O despertador acabou tocando por longos dez minutos até o rapaz conseguir despertar.

— Juro que estou tentando não me preocupar... mas, você já parece muito mais cansado. — Amanda o abraçou.

— Não mentirei que estou realmente cansado, mas é falta de hábito. Ainda é uma vida bem mais agitada — riu.

— Desculpa! — A moça pareceu muito culpada.

— Não precisa, habibti... eu te amo! — Olhando-a, sorriu ainda mais largo. — Lidarei com a refeição e começamos o dia.

Amanda assentiu e seguiu com Luke ao banho.

Pensando que a vida sexualmente ativa fosse a mudança de hábitos mencionada por Luke, a moça decidiu ajudar e não o procurou durante o banho.

Pela primeira vez, conseguiu acompanhá-lo na refeição antes do sol nascer e, ao lado dele, observou o céu noturno se colorir com os tímidos raios solares.

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