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XLV. Oportunistas, Vítimas e Golpistas

 — Salaam aleikum, senhor! — Luke sorriu amarelo.

Tariq não acreditou que, após tudo aquilo, o garoto apareceria na porta de sua casa. Luke usou da cautela, acompanhado por quatro seguranças bem sisudos.

— Eu teria ligado para marcar, mas não acredito que me receberia em sua casa com tanta facilidade — justificou.

De braços dados com ele, Amanda acariciou o braço de Luke — quase numa tentativa de dá-lo força, dá-lo calma.

W-wa a-aleikum essalam! — Tariq finalmente respondeu.

— Não é minha pretensão causar problemas... apenas gostaria de conversar, senhor. — Mesmo que não quisesse, o tom de voz muito calmo acabava soando ameaçador.

Tariq assentiu com a cabeça e abriu a porta para convidá-los a entrar. Uma bela mulher observava o homem à porta, distante, e foi formal ao realizar seus cumprimentos.

— M-minha esposa. — Tariq a apresentou. — Nura, esses são Luke... se não me engano... e desconheço a moça, perdão!

— Essa é minha esposa, Amanda. — Luke apresentou.

— Posso lhes servir algo? — A mulher sorriu-lhes.

— Aceito água. — Amanda pediu.

— Estou em jejum... dispenso. — Luke lhe sorriu.

A mulher assentiu e deixou o ambiente.

— Sentem-se! — Tariq convidou.

Luke ajudou para a moça sentar, os seguranças ficaram de pé às suas costas e ele também sentou de pernas cruzadas.

— E-eu adoraria dizer que não tenho muita raiva, mas isso não é uma realidade. — O jovem disse, respirando fundo. — Só de lembrar o quão mal me senti, o corpo estremece.

— E-eu... não tinha escolha. — O homem pareceu culpado.

— Por quê? — O tom de Luke ficou decepcionado.

— Negócios que deram errado e uma dívida grande! Eles abateriam a dívida e minha família ficava bem. — Tariq engoliu seco, meneando a cabeça. — Minha esposa acabou de ter filho.

Soando tão miserável, conseguiu comover Luke.

Nura chegou com um jarro d'água. Realmente caminhava devagar e apenas acelerou o passo quando o distante choro de uma criança soou, fazendo-a escusar-se rapidamente.

— Valeu a pena? — Foi a única dúvida que restou.

— E-eu não sei! — lamentou.

— Estamos procurando colaboração jurídica para conseguir processar sua filha pelo dano que ela causou a mim e aos meus. Contudo, eu não preciso do seu dinheiro...

— Samira desapareceu no mundo! — Tariq pareceu decepcionado. — Muito ambiciosa, não aceitaria apenas ficar na minha casa com o pouco que sobrou — deu de ombros.

— É lastimável, mas a justiça de Allah não falha.

O homem se serviu um copo com água, atraindo o curioso olhar de Luke — que não o repreenderia na própria casa.

O choro da criança cessou, não tardando para Nura passar com um pequenino no colo, indo na direção da cozinha.

— Poderia ter sido bem diferente... — Luke se lamentou. — Podemos ir, habibti? — indagou, olhando para Amanda.

— S-sim. — Amanda assentiu, terminando sua água.

— P-pode... — Tariq chamou sua atenção, antes de levantar. — Diga ao seu pai que eu realmente sinto muito.

— Deveria ter coragem e encará-lo para falar isso. — Luke se levantou, estendendo a mão para ajudar Amanda. — É raro tirar uma reação tão melancólica do meu pai... e você o fez.

Quase foi possível observar o peso da culpa sobre os ombros de Tariq, mas ele manteve o silêncio, resumindo sua resposta a outro assentimento com a cabeça.

— Não abandonamos os nossos no deserto. — O tom de Luke entristeceu e ele respirou fundo. — Salaam aleikum, Tariq.

O homem se levantou e retribui o cumprimento, lhes acompanhou à porta e eles voltaram ao carro. O semblante chateado de Luke era meramente pela falta de confiança.

Apesar de saber que o mundo não era tão azul quanto estava habituado, ele aprendeu a ser o seu melhor para esse mundo... lidar com egoísmos desesperados não era agradável.

— Há um evento beneficente que se estende por duas semanas na capital. — Luke disse, olhando pela janela. — Sempre fraciono minha receita anual para distribuir entre algumas das organizações que se juntam.

— Nossa! — Amanda se virou para ele.

— Desde que comecei a planejar o casamento, já ponderei o quanto seria necessário diminuir para conseguir me comprometer conosco... mas, nem fará tanta diferença.

— É formidável. Imagino que tenha algumas causas que tenha maior afinidade... quais seriam? — A moça o indagou.

— Os cuidados dos irmãos que estiveram ou estão em guerra... suporte para vítimas das guerras ou vítimas dos extremismos... esse tipo de coisa. — Ele sorriu amarelo.

— É estranho ver tanta tristeza em seu rosto.

— É estranho estar triste...

Luke respirou fundo e se recostou. Amanda acabou se aproximando para acolhê-lo em seus braços e o rapaz seguiu a viagem quieto, acabou cochilando com o carinho.

— Chegamos... habib... — A moça o acordou devagar.

Luke acordou rápido, apenas assentiu com a cabeça, olhando pela janela do carro e atestando estar em casa.

— Podem nos acompanhar e aguardar o sol cair para voltarem às suas casas. — Luke disse aos seguranças, conforme saíam do carro. — Agradeço pela escolta.

— Sempre pode contar conosco. — O aparente líder deles, mais velho, sorriu-lhe. — Agradecemos o convite, mas dispensaremos. É bom terem privacidade pelo resto do dia.

— Posso pedir que falem da conversa com meus tios?

— Seríamos zelosos e nada comentaríamos.

— Por favor... eles precisam conhecer sobre a conversa. — O jovem lhes pediu. — Salaam aleikum, meus caros.

Eles retribuíram o cumprimento e saíram.

O casal seguiu à sala de estar e Amanda sentou primeiro, gesticulando para Luke deitar a cabeça em seu colo.

— Fiquei preocupada com a tal Samira... — A moça disse, acariciando os cabelos de Luke. — Nem sei bem o que esperar...

— Nem eu, habibti... — Ele respirou fundo. — Pedirei que alguém avalie a situação de Tariq e ofereça alguma ajuda, caso necessário... odeio ser tão bonzinho! — reclamou de si.

— É meu fofo em série! — Amanda gargalhou.

Conseguiu tirar uma risada do rosto melancólico.

— Podemos nos planejar para a viagem à capital... e, em seguida, poderemos nos mover ao Irã. Está pronta?

— Nunca estive mais pronta! — Amanda lhe sorriu.

— A sua confiança é linda — elogiou.

— Não, não... — A moça brincou, franzindo o cenho. — Você não vai conseguir me deixar acanhada... não permitirei!

— Não era bem esse o objetivo. — Luke riu, estranhando.

— Sei que não era, mas eu atingi o meu objetivo... e ganhei outro sorriso! — A moça o beijou. — O mais importante...

— Deve passar... é um período muito solene... acabo ficando melancólico com muita facilidade — sorriu amarelo.

— Tiramos o dia para descansar... você lida com seus estudos, todas as suas reflexões... e descansamos mais para estarmos prontos para a viagem.

— Gosto... mas, precisamos incluir algo nesse plano.

A moça o observou, franzindo o cenho.

— Entramos em contato com os nossos para saber como está a temperatura — respondeu a silenciosa indagação.

Hm... olhei as notícias do grupo Nazari e estão em meio a um furacão! — exclamou. — Mostro tudo que vi... o que acha?

— Será bom... não os acompanhei tanto.

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