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XII. Taciturna Armação

 O clássico almoço de domingo na casa de Luke foi um pouco mais agitado que o esperado, afinal, Tariq fora convidado para a refeição e sua filha o acompanhava.

Sua aparência era simples e modesta. De estatura média, tinha cabelos castanhos escuros lisos, cobrindo os ombros.

Os olhos eram castanhos claros e expressivos, transmitindo uma doçura e serenidade quase peçonhentas. Vestia um hijab claro, roupas longas e soltas em cores discretas.

Salaam aleikum! — Tariq sorriu largo.

Luke e os pais o saudaram, retribuindo o cumprimento.

— Essa é minha segunda filha, Samira bin Tariq Al-Ali — apresentou. — Ficamos felizes quando recebemos o convite.

Os taciturnos olhares de Samira alternaram entre os arredores e Luke, avaliando o rapaz com toda sua sutileza.

As introduções seguiram e eles foram à mesa.

— Tomei o cuidado de cozinhar pessoalmente! — Luiza lhes disse. — Espero que consiga agradar seu paladar.

— Impossível não agradar, esposa minha! — Ibrahim a elogiou. — Como estão? — Ele indagou os convidados.

— Razoáveis... Nossa viagem de volta precisou ser adiada.

— Uma lástima. Posso ajudar com algo?

— Agradeço! — sorriu. — Já nos reprogramamos e voltamos na próxima semana, o mais tardar no próximo mês.

— Não se esqueça que pode contar comigo. Enquanto nos resta tempo antes da refeição, podemos adiantar nossos negócios. — Ibrahim disse, sorrindo para o homem.

— Claro.

— Vamos ao escritório. Luiza nos serve o que beber.

Sentada, silenciada, Samira apenas os observou.

Pareceu tímida quando deixaram a sala, mas não tardou para Luiza se juntar, diminuindo o aparente desconforto.

Luke não direcionou o olhar a moça em momento algum.

A ousadia de seu pai realmente começava a beirar a loucura, segundo seu pensamento, e isso seria difícil de lidar.

— Então, Samira... — Sua mãe puxou assunto. — Acostumada com nossas terras ou é a primeira vez que vem?

— P-pude vir... antes... bem nova.

— Entendo.

— A senhora pode... me servir água? — pediu.

Sua voz era carregada de fragilidade.

— Claro, minha linda! — Luiza assentiu, saindo.

A moça olhou para Luke, medindo-o de cima a baixo.

— Isso é inadequado. — Luke a repreendeu.

— Perdão! — Ela voltou a olhar para frente. — O senhor não me parece tão mais velho quanto eu esperava — riu.

Luke apenas sorriu, mas não a respondeu.

— Também não parece interessado em casar...

— Para termos qualquer conversa do tipo, precisamos estar acompanhados de alguém. — Ele insistiu no silêncio.

Quando sua mãe retornou, pôde fugir da conversa sobre casamento, se aproveitando da extroversão de sua mãe.

Todos se reuniram para a refeição e a tarde não foi das melhores para Luke. Tariq tinha muito a conversar, principalmente para enaltecer as qualidades da filha.

Ibrahim pouco se envolveu, não ficou agradado com o comportamento do filho, mas também não o repreendeu.

No cair da noite, um estrondoso som anunciou o pior dos fatos para Luke: Tariq e filha pernoitariam em sua casa.

Um dos pneus do homem furou e o fim de semana não propiciava que conseguissem quaisquer assistências.

Na cabeça do CFO, pareceu orquestrado.

Findada a oração após o noitecer, Luke os cumprimentou e foi ao quarto para organizar sua agenda da semana.

Enquanto fazia suas anotações, seu pai entrou no quarto.

— Trabalho, meu filho? — Foi o que indagou.

— É parte da rotina, meu pai. Entendo que ela é a moça com quem quer me casar... mas, não posso ser irresponsável.

— Não me pareceu nem um pouco interessado.

Ibrahim se aproximou para sentar ao lado do filho.

— Nos últimos dias, Amanda e eu nos aproximamos, falamos disso. Não pude comunicar, mas... c-creio ser ela...

Luke engoliu seco, pedindo perdão em seu íntimo por mentir; mas realmente não queria continuar sendo exposto a possíveis opções de casamento — que nem lhe agradavam.

— Com se aproximando... o que quer dizer? — Ibrahim observou o filho atentamente, muito desconfiado.

— Não ultrapassei limite algum, mas identificamos algo diferente... e estamos conversando sobre — esclareceu. — Sei ser inapropriado fazermos sós, mas... não pude resistir — riu.

— Trabalhando tão próximos é inevitável. Trabalharei para alguém acompanhá-los nos próximos dias... já que não deveriam lidar com isso sozinhos.

— Agradeço, meu pai.

— Não serei duro quanto a sua opção... mas, tenha juízo! Amanda poderia ser uma boa moça, mas já desperdiçou isso no momento em que aceitou o mundo como é — alertou.

Luke apenas assentiu com a cabeça, afinal, aquela era uma reação muito melhor do que ele poderia esperar.

— Não deixe que as impurezas da moça lhe sejam motivo para se sujar também. — Ibrahim terminou seu conselho.

— Se eu tiver dificuldades quanto a isso, o que imagino ser inevitável, lembrarei de ir à mesquita, meu pai. Minha castidade não sofre nenhuma ameaça no momento — sorriu.

Ibrahim assentiu. Observou o filho com atenção em busca dos traços de quaisquer mentiras, mas, não identificando — ao menos com essa fala —, se levantou.

— Sua mãe chamará para o jantar... não se exacerbe!

— Sim, senhor, meu pai.

Voltando ao pouco trabalho que restava, muito mais aliviado, Luke podia sentir até facilidade em respirar. Os ombros já não pesavam e tudo parecia que daria certo.

Com a chegada do jantar, respeitando a vontade de seu filho, Ibrahim não focou em assuntos relativos ao matrimônio e, sem essa brecha dele, já não conversaram mais sobre isso.

Findada a refeição, Luiza e Ibrahim levaram seus convidados aos respectivos quartos de hóspedes e Luke teve seu asseio para poder se recolher.

Conseguiu ter uma boa noite de sono até o momento em que, durante a madrugada, uma forte sensação permeou seu corpo, seu sonho e lhe arrancou um forte gemido.

Acordou ofegante, estranhando o fato de parecer retornar à adolescência lidando com algo como uma polução.

Contudo, em meio a sua visão embaçada, lidou com a bela silhueta feminina sobre seu corpo. O quente contato da pele aveludada sobre seu peito o fez tentar levantar rápido.

— Q-q- — Ele nem conseguiu perguntar.

Focando a visão, Samira era a tentação.

Ainda parecia vestida, apesar de ter as finas alças da blusa caídas nos ombros para exibir os fartos seios.

— O que faz aqui? — Ele perguntou com a voz trêmula.

Acendeu a luz e imediatamente desviou o olhar.

— Quero que case comigo. — A moça o respondeu. — Posso te convencer. — A doce voz tinha muita lascívia. — Você só precisa deitar... posso fazer o resto.

Luke nem a respondeu, apenas deixou o quarto com muita truculência, ainda aturdido pela forma como acordara.

Acabou derrubando um dos quadros no corredor.

— Malik, o que está fazendo? — Seu pai o interrompeu.

Parando de andar, Luke apoiou na parede. Tão aturdido, olhou para o pai, meneando a cabeça — não sabia realmente o que dizer ao velho homem para explicar o que estava fazendo.

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