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VII. Memórias de uma Tragédia

 "Droga! Estraguei tudo...", era o que a culpa vivia repetindo na mente de Amanda que não se contentava com a resolução da reunião com o sucessor Nazari.

Enquanto na reunião dos diretores, a moça não conseguiu prestar atenção em absolutamente nada. Estavam todos reunidos e ela estava avoada.

— Amanda? — Luke a chamou.

Estava de pé, falando do que traçou como estratégia do setor financeiro conforme os diferentes cenários que poderiam se apresentar no decorrer do ano.

Hm? — Ela o olhou. — D-desculpa! Não me sinto bem.

A visão da moça embaçou enquanto o olhava.

— O que está sentindo? — Roberto se preocupou.

— E-eu... não tenho...

A moça silenciou, pondo as mãos na cabeça.

Devagar, seu corpo começava a perder forças e ela não pôde fazer nada para combater tal sensação.

Mais jovem, Luke foi quem correu para ampará-la.

Chamou-lhe pelo nome algumas vezes, mas Amanda apenas desfaleceu. Preocupando todos os reunidos à mesa.

Roberto acionou a emergência sendo acompanhado pelo CFO até o hospital. Luke conhecia a prévia história do velho homem com hospitais e ficou preocupado.

Demorou para terem notícias do médico que chamou o ocorrido de mal-estar gerado por estresse. Amanda ficaria pelo resto do dia no hospital em observação.

"Estou no hospital com Roberto e Amanda... ela teve um problema numa reunião... não voltarei para casa!", dessa vez Luke lembrou de falar com a mãe sobre sua ausência.

"Estou a caminho!", a mulher respondeu rápido.

O semblante de Roberto estava aturdido e lágrimas caminhavam pelo olhar do velho homem, apesar de sua postura forte não parecer esmorecer.

— Ela ficará bem, senhor. — Luke o tranquilizou. — Comuniquei à mãe e ela virá... espero não causar nenhum incômodo por comunicá-la do ocorrido.

— Jamais, garoto! — Roberto meneou a cabeça.

— Trarei um pouco d'água! — disse.

O jovem se levantou apressado para comprar uma garrafa d'água mineral, pensando apenas em Roberto.

Ao chegar, Luiza foi até Roberto diretamente. Suspirou ao vê-lo recostado, cobrindo os olhos com um dos braços.

— Não pode se deixar enganar... achando que é o mesmo. — Foi o que a mulher disse, se aproximando do amigo. — Tenho certeza que ela ficará bem...

— Nunca senti tanto medo! — Roberto suspirou e uma das teimosas lágrimas caíram. — Deve ser de tanto trabalhar... eu deveria ter parado... insistido para ela descansar.

— Calma! — Luiza sentou ao seu lado.

Tocando o ombro do amigo, pôde senti-lo trêmulo.

A mente de Roberto estava muito bagunçada. Só pensava quando perdera esposa e filho, sentado naquele mesmo banco, vestindo a mesma miserabilidade.

Foi o dia em que aprendeu não haver dinheiro que o faça ser maior ou mais forte que a vida, o destino. Nada pode impedir que os ventos do tempo continuem a soprar.

Luke não pôde impedir a tristeza da mãe de tocá-lo, mas se aproximou e serviu a água de Roberto, que negou num primeiro momento, mas cedeu à insistência de Luiza.

— E o pai? — Luke indagou a mãe.

— Ficou em casa... tem reunião cedo... Como você está aqui, ele não se incomodou que eu viesse só. — Ela sorriu. — Já têm alguma notícia da pequena?

— Até onde sabemos... estresse. — Luke a respondeu.

— Entendo. Ela é forte! — afirmou com otimismo.

Os três silenciaram para aguardarem pela noite.

Roberto acabou cochilando e Luiza também, mas Luke ficou acordado. Alerta, observava cada movimento próximo.

Em meio a noite, dois médicos correram ao interior do quarto onde Amanda estava; fazendo Luke se levantar para tentar saber o que estava ocorrendo.

Passando rapidamente pela entrada, eles deixaram a porta aberta e Luke avistou o momento em que um dos doutores tentava impedir Amanda de sair da cama.

Sem ninguém atrelado a ele, o monitor cardíaco apenas fazia o constante som de ausência de batimentos — o que causara o alerta para a rápida chegada.

— Teimosia? — Luke perguntou, meneando a cabeça.

Amanda ainda estava aturdida, mas o olhou. Cerrou os olhos para focar a visão, confirmando ser realmente ele.

— E-eu... tenho que... a-avisar... o pai!

— Minha mãe está aqui... ele está no corredor com ela. — Tentou tranquilizá-la. — Deixa os médicos te ajudarem e fica deitada... precisa descansar, habibti.

Decidindo ouvi-lo, Amanda se acalmou. Permitiu que os doutores lhe ajudassem, ambos aproveitaram para realizar uma nova avaliação de sua saúde — que já apresentava melhora.

— E-eu... posso? — Luke indagou os doutores.

— Claro... só não recomendamos o contato íntimo. — Um dos homens lhe disse, presumindo serem um casal.

— C-claro. — Ele assentiu.

Acanhou-se pelo mal-entendido, mas decidiu não aumentar seu constrangimento tentando reparar. Seguindo à cama, ele repreendeu Amanda com o olhar.

— C-como foi a reun-

— Não vamos trabalhar agora, habibti. — Ele meneou a cabeça. — Precisa parar um pouco... seu corpo está pedindo!

— E-eu... — O olhar de Amanda lacrimejou e ela suspirou.

— O que houve na reunião? Não falou ontem, mas não está bem desde então e todos perceberam que não está!

— E-eles não querem... tenho que... — A voz tão trêmula e os muitos soluços simplesmente a impediam de falar.

Compadecido, Luke sentou ao seu lado e segurou sua mão. O corpo de Amanda estava bem trêmulo e ela começou a chorar, como uma criança extremamente frustrada.

Foi um momento de muita aflição para Luke, que sequer entendia o que estava acontecendo. Sua cabeça presumiu muitos absurdos, incluindo um abuso por parte do homem.

Infelizmente, sua preocupação permaneceu sem resposta. Depois de muito chorar, Amanda acabou voltando a dormir e o silêncio fizera o mesmo com Luke.

Nos momentos em que o sono da moça se agitara e ela apertou a mão de Luke, ele despertou aturdido. Não voltou a ter um sono pesado, sendo uma noite muito ruim.

Cedo, os médicos voltaram ao quarto.

Fizeram sua terceira avaliação e concluíram dá-la alta, pedindo que ela fosse mais atenta à sua saúde e buscasse alguns profissionais para ajudá-la.

— Dois dias de repouso absoluto!? — Amanda franziu o cenho, olhando para os doutores quase desesperada.

— Sim, senhora.

— Impossível!

— Posso ajudar com as coisas para o fim de semana... — Luke se ofereceu. — É bom que descansa e consegue estar bem para palestrar. Gosto muito da recomendação.

— Ficamos felizes com isso, mas é para o bem da senhora. — Um dos médicos riu, olhando-a. — Cuide-se!

Os médicos cumprimentaram todos e saíram.

Foram alguns preparativos para Amanda finalmente poder sair. Antes de deixar o quarto, o abraço apertado de Roberto foi o que a fez parar de reclamar do tempo de descanso.

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