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L. Aquele Velho Cotidiano

 — Seu pai está muito orgulhoso de você. — Ibrahim disse ao filho após ouvir de Luke sobre os ocorridos na viagem.

Passado o recente anúncio de vitória, Luke foi, como primeira tarefa, visitar seu pai em casa para fornecê-lo ajuda para lidar com os resquícios da tempestade.

Claro, o assunto convergiu para os eventos passados.

— Obrigado, meu pai. — O jovem lhe sorriu, acanhado.

— Precisamos usar crédito no último mês para lidar com tanto caos, mas o rapazinho do financeiro mostrou que isso não será tão negativo para nós.

— Entendo... imagino que seja possível suprir parte de qualquer prejuízo com o diyat... fui um dos que recebeu individualmente, posso ajudar, meu pai — ofereceu.

— Não é necessário, também recebemos ressarcimento e foi mais que o necessário. O crédito foi usado para lidar com os vencimentos com os nossos, sem nenhuma demissão.

— Isso é maravilhoso! — Luke sorriu largo. — A mãe está?

— Sim, deve estar no quarto.

— Vou vê-la. Salaam aleikum, meu pai.

Wa aleikum essalam... — O homem lhe sorriu.

Saindo do escritório do pai, ele procurou a mãe em seu quarto, bateu à porta e a chamou. Demorou, mas Luiza atendeu com um largo sorriso — apesar do rosto amassado.

— Desculpa por acordá-la, minha mãe. — Ele se reparou sem jeito. — Salaam aleikum... como está?

— Ah, estava com saudades! — Ela o abraçou forte. — Como estão você, Amanda? Como foi a viagem? Como está a família? Nem pude falar tanto naquele jantar.

Desvencilhando-se do abraço, Luiza deu o braço ao filho para descer com ele até a sala onde lhes serviram um suco.

— Estamos bem. Já me sinto recuperado da viagem — riu. — A família continua esquentadinha como sempre.

— Nossa! Imagino... — Ela riu. — Cobraram muito? — Levantando uma sobrancelha, ela não quis ser explícita.

— Falaram bastante sobre... — Acanhado, ele meneou a cabeça. — Os tios ajudaram com isso. Masha'Allah!

— Felizmente, é sinal que te amam muito.

— Foi bom revê-los... Fomos à capital e a pequena cresceu, está linda... continua estudando. — Ele sorriu largo. — Fiquei muito feliz em revê-la... sempre fico, 'né!?

— Ainda não foi adotada? — Luiza franziu o cenho.

— Ainda não, ela disse ter medo... é bem complicado desde que a primeira adoção foi um completo fracasso — chateou-se. — Se pudesse, eu não pensaria duas vezes em trazê-la.

— Por que não pode? — A mulher lhe sorriu.

— N-não... sei. — Ele riu, surpreso com a pergunta. — Não acho que devo pressioná-la a aceitar uma adoção... ainda nem tivemos oportunidade de conversar sobre filhos...

— Entendo... Isso significa que já conversarão sobre?

— Lidando com as instituições, ela pareceu mexida e levantou o assunto, mas eu não estava bem para conversar.

— Se meu filho tanto sonhou em casar, também sonhou muito com a paternidade... por que não estava bem? — Luiza se preocupou, observando-o.

— Não quero impôr nada... sabe!? — Ele suspirou. — Imagino ser inevitável que minhas vontades interfiram nas decisões dela e vice-versa... mas, não sei, mãe — riu.

— É uma ótima preocupação, mas não pode exagerar!

— Não é exagero. Lidar com pessoas precisando de ajuda, crianças precisando de um lar é algo que sensibiliza... em meio ao Ramadan, é ainda mais fácil a vontade de ser pai aflorar!

— Não queria se precipitar? — Ela riu.

— É. Imagino que até ela tenha ficado sensibilizada com o lugar, as pessoas... a sabedoria precisa prevalecer. Temos uma carreira, objetivos a frente e, para conseguirmos conciliar, precisamos tomar essa decisão com muito cuidado.

— Entendo... presumo que ela se medique...

Astaghfirullah! — O jovem fechou os olhos e assentiu.

— Não precisa pedir perdão por isso... nem sentir culpa. — Luiza deixou seu lugar para sentar ao lado do filho. — É muito corajoso ao lidar tão bem com essa situação — elogiou.

— Prometi ser o meu melhor todos os dias... e me esforço. Passear com ela em casa me fez entender a necessidade de não impô-la... me fez entender o quanto amo quem ela é!

— Sua mãe fica muito feliz. — Ela beijou a testa do filho. — Imagino que nem ficará para o almoço — lamentou.

— Sim, preciso ir à empresa... planejo trabalhar pela tarde... ao menos para organizar o time e os preparativos finais para os nossos próximos dias. — O jovem se justificou.

— É uma pena... podem vir ao fim de semana? — pediu.

— Consultarei habibti ainda hoje e aviso — sorriu.

Luiza assentiu com a cabeça e novamente beijou a testa do filho para lhe estender suas bençãos. Ele se despediu e tomou o carro para ir à exportadora.

Acordou bem cedo com Amanda e ela foi ao trabalho primeiro. Tinha tudo acertado com o pai para uma reunião, onde debateu sobre o material estudado nos dias anteriores.

"Almoço?", foi a mensagem que Luke recebeu da moça enquanto estava a caminho da exportadora.

"Já estou chegando... aquela churrascaria serve almoços?"

"Acho que sim... podemos dar uma olhada!"

Ele sorriu e não voltou a responder para se ater ao volante.

Quando chegou, a moça estava sentada na recepção, conversando com Mariana. Tinha algumas pastas no colo e sorriu largo ao vê-lo chegar.

Salaam aleikum! — Luke cumprimentou ambas.

— Vou voltar ao trabalho... acabou a fofoca! — Mariana riu.

Amanda gargalhou com a amiga.

Antes que ela perdesse o jeito para levantar com tantas pastas, Luke se aproximou para pegá-las e a moça agradeceu.

— O que houve para querer churrasco? — Amanda perguntou, colocando a mão na cintura.

— Mudar o restaurante é bom, não!? — Ele deu de ombros. — Como você está hoje? Como foi o trabalho, até então?

— Foi tudo ótimo! — A moça suspirou. — O pai e eu não tivemos tanto a falar sobre os últimos dias, o que me deu tempo para apresentar a pauta da reintrodução daquelas moças...

— Isso é formidável! — Luke sorriu largo.

— Pois é. O pai gostou muito da ideia e até me deu algumas sugestões de quem procurar para ajudar com os estudos delas... já anotei tudo e darei uma olhada.

— Obrigado! — Luke sorriu-lhe.

Amanda o ajudou, abrindo a porta para ele colocar todas as pastas nos bancos de trás e eles assumiram seus lugares.

— Esse monte de trabalho de casa é isso? — Luke perguntou, dando partida no carro.

— Sim, vou dar uma olhada nas instituições que ele sugeriu, montar todo o plano bem direitinho para reunir todo mundo e apresentar o projeto — falou empolgada.

— Já te disse que você é linda trabalhando? — riu.

Acanhada, ela nem o respondeu, olhando para a rua.

No almoço, Amanda tinha muito a falar de suas ideias quanto ao projeto e até considerava expandir a ideia para uma organização voltada a esse tipo de reabilitação.

Muito ambicioso e ela sabia, mas algo que não deixaria de estar em seus pensamentos por algum tempo.

Voltando ao trabalho, Luke lidou com os seus — muito organizados, não deixaram que nenhum trabalho acumulasse.

Ao fim, se juntou a Amanda para ouvi-la e até ajudar com o projeto da moça. Ele tinha muito conhecimento sobre a ONG que auxiliava aquelas mulheres e essa vivência foi muito útil.

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