I. Uma Vida Agitada
— O que mais tenho para fazer hoje, Mari? — Amanda perguntou enquanto caminhava de volta à sua sala.
Era um dia agitado para a jovem CEO. Quando chegou à reunião com o setor comercial, não esperava demorar tanto.
— Luke quer falar com você. — Mariana a respondeu. — Disse não ser nada sério, mas me pareceu preocupado.
Amanda parou de andar, olhando para a secretária.
— Terei com ele...
— Se me permite sugerir, reservo o almoço para vocês.
— Você é um anjo na Terra, Mari! — Amanda a elogiou.
A secretária apenas lhe sorriu e a cumprimentou para ir aos seus afazeres enquanto Amanda se apressou para a sala.
Observou os documentos da reunião onde estavam estratégias bem traçadas e seus planos estavam a um passo.
"Franco & Silva Exportações", dizia o logo no computador. Amanda o observou, motivando-se a continuar.
"Almoço?", ela mandou mensagem ao seu CFO.
"Mariana já me avisou... posso te buscar", Luke se ofereceu.
"Agradeço... não estou bem para dirigir hoje!"
Indo ao banheiro, retocou a maquiagem. Mesmo que a pele negra não evidenciasse cansaço, era vaidosa e cuidadosa.
Umedeceu seus cachos; ajeitou o terno e pronto! Estava quase nova, pronta para sair e não demonstrar tanto cansaço.
Os pés incomodavam por muito andar no dia anterior, mas era obstinada e não se deixaria abater facilmente.
Deixando o banheiro, Luke já estava no escritório.
De ascendência árabe, ele não era tão alto; tinha barba bem feita e idade aproximada à Amanda. Os olhos tinham cor de mel e o sorriso com covinhas era encantador.
— Cedo... — Amanda falou.
— Pernoitou? — Ele levantou uma sobrancelha, analisando-a. — Deveria tirar uma folga... isso vai te matar, habibti!
— Veio me dar sermão ou almoçar comigo? — Ela deu de ombros. — Não se preocupa! Está tudo indo muito bem.
— Vamos? — Luke optou por não estender o assunto.
Amanda assentiu e eles saíram, rumo ao carro do rapaz.
— Soube da reunião com o comercial... é bem ambicioso. O que seu pai acha? — Ele puxou assunto enquanto dirigia.
— Ele está tão confiante quanto eu! — Amanda sorriu largo. — Quero muito conseguir conquistar novos lugares... novos patamares e tudo parece conspirar positivamente.
— Alhamdulillah! — bem-disse. — Estamos estudando as possíveis expansões... observando o cenário dos próximos cinco anos... e, não mentirei, você ficará feliz com o que verá.
— Assim me deixa mais ansiosa! — A moça o repreendeu.
Luke riu e voltou a se ater à direção. Muito cavaleiro, ajudou Amanda a sair do carro e eles foram à sua mesa.
Mariana tivera o cuidado de reservar um espaço num restaurante que atendia às restrições alimentícias de Luke.
A moça o acompanhou nos pratos, habituada a lidar com a culinária árabe dado o tempo de convivência com Luke, amigo de infância e filho de uma grande amiga de seu pai.
Não o acompanhou com as formalidades pré-refeição, afinal, não era religiosa; mas guardou o silêncio, lhe respeitando. A refeição se deu com muita tranquilidade.
Amanda realmente tinha fome. Teve um café da manhã corrido para não se atrasar à reunião após o pernoite.
— Então... o que está acontecendo? — Amanda o indagou.
— São dois eventos que o pai soube e reverberarão na exportadora. — Luke pareceu preocupado. — Primeiro, Nazari.
Amanda franziu o cenho. Antes que Luke iniciasse sua dissertação, pediu uma taça de vinho para ambos — apesar de ele nunca passar da primeira taça, não negava acompanhá-la.
— Você já sabe que o patriarca deles é bem velho... o pai lidou com um rumor que o segundo filho, Farhad, é quem assumirá os negócios... e provavelmente reverá os contratos.
— Ele está doente? — Amanda se preocupou.
— Não está, mas eles não querem esperar chegar um momento delicado para lidar com isso. Muito sábio! — deu de ombros. — Isso significa que deve se preparar.
— Muitos dos nossos lançamentos estão ligados a eles... — A moça ficou pensativa. — Enfim, estamos prontos para lidar... não imagino que isso será um problema tão grande.
— Pode se tornar.
Preocupada, Amanda deu um gole no vinho.
— Rumores dizem que a Suprema Corte do Irã está revisitando uma matéria que pode afetar o consumo de carnes e exigir mudanças drásticas em toda a indústria halal.
— Hm? Do que exatamente falamos? — indagou.
— Dependendo de sua resolução, podem exigir que outras etapas do processo também sejam halal... o que significaria mudar hábitos nos principais pilares da cadeia de produção.
— Isso é impossível! — A moça ficou nervosa de imediato. — Como fazemos isso? Demissão em massa e recontratação? Educação dos nossos executivos e funcionários? Droga!
— Ainda é só um rumor, mas é bom se preparar. Falei com Amir, do Jurídico; ele ficará atento às novidades sobre e moverá o resto do corpo jurídico, se necessário.
— Droga! — A moça continuou maldizendo.
— Dependendo de como for, para não afetar tão drasticamente, é possível que não sejam tão exigentes... não sei... eles são bem ortodoxos... é difícil presumir!
— Isso ajuda bastante... pela sua experiência, o que acha? — Amanda tentou enxergar uma luz no fim do túnel.
— Pelo que estudei da matéria nos últimos dias, há uma exigência que, além da forma de cuidado e abate, também haja uma espécie de arcabouço halal nas outras etapas.
— Mesmo que atinja apenas o corpo executivo, isso significa... eu, sabe!? — Amanda riu, meneando a cabeça.
— Sim, eu sei disso — riu. — É ainda mais complicado... você é, ao menos considerada por eles, kafir... é muito difícil mudar isso e... eu nem sei como seria.
— Kafir é o passado deles! — incomodou-se.
— Calma! — Luke riu. — Sabe que é assim. Não segue a fé, não é casada... é tudo que um iraniano entende como errado!
Amanda deu um gole mais generoso no vinho e se recostou na cadeira. Colocou uma das mãos na cabeça, extremamente preocupada com o cenário.
— Conta comigo. — Luke tentou tranquilizá-la. — Continuarei te atualizando conforme souber mais. Ainda não falei com seu pai, mas é bem provável que a mãe o faça.
— Poderei conversar com ele amanhã... ou depois, sei lá — deu de ombros. — Pode me encaminhar o que tem sobre?
— Sem problemas. Eu acompanharia para te poupar.
— Amável! Mas, não sossegarei enquanto não entender do que isso se trata. — Só faltaram os olhos brilharem de tanta obstinação. — Isso não pode nos afetar!
— Não quero que se torne uma desculpa para você trabalhar ainda mais... entendeu? — Preocupado, ele terminou sua taça de vinho e a colocou na mesa.
— Impossível, não?
— Fará o quê? Irá até o Irã? Terminará presa e eu não poderei fazer muito para te ajudar! — criticou. — Acalme-se... nós só podemos esperar e orar... Salah! — suspirou.
— Odeio esperar!
— Mas, deve aprender. Se os rumores acertam, devem começar a debater esse assunto nessa semana. Manterei você atualizada sempre que puder. Se precisar, busque Amir.
— Procurarei, procurarei...
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